Frustração é marca histórica da relação Brasil-EUA

CLAUDIA ANTUNES

“Frustração” é a palavra mais usada por historiadores da diplomacia quando se referem à relação entre Brasil e Estados Unidos. Nunca distantes, até pela geografia, os dois países nunca foram íntimos, e tentativas de estabelecer uma “relação especial” não vingaram.

Desde que inaugurou em Washington sua primeira embaixada, em 1905, o Brasil reivindica ser tratado de forma diferenciada pelos EUA.

Do outro lado, houve expectativas de um alinhamento automático que foi raro –e que não deve ocorrer sob Dilma Rousseff, se confirmadas mudanças mais de estilo do que de substância na política externa.

Para especialistas, esse padrão se aplica aos governos recentes, a despeito do aumento do status do Brasil e da boa sintonia de FHC e Bill Clinton (1993-2001) e Lula e George W. Bush (2001-2009).

“A 2ª Guerra foi o único período em que o Brasil ganhou com a relação. O país quer ser um igual. Os EUA o reconhecem como parceiro, mas não como igual”, diz o inglês Joseph Smith, autor de “Brazil and the United States: Convergence and Divergence”.

“Pode ser que a descoberta do pré-sal mude a percepção americana, mas temos que esperar”, afirma. Segundo ele, os negócios e o interesse mútuo na estabilidade regional impedem a implosão bilateral.

Em título parecido –“Brasil e EUA: Desencontros e Afinidades” (FGV)– Monica Hirst também elenca desapontamentos.

Foi o caso do segundo governo Vargas (1951-54), quando créditos esperados de Washington não chegaram, e do período da democratização brasileira, em que Brasil e vizinhos lamentaram a ausência de uma solução política para a crise da dívida externa.

Da parte dos EUA, escreve Hirst, houve “descontentamento” com a resistência brasileira em enviar tropas para seguidas guerras, da Coreia (1951-53) à do Golfo (1991) –a Argentina, então em ‘relação carnal” com Washington, mandou soldados a esse conflito.

FHC, LULA

O viéis autonomista da política externa brasileira, consolidado nos anos 70, descontentou os americanos até sob FHC –quando a “normalização” da economia e a adesão do país às normas internacionais dominantes foram prioridades.

“Apesar da excelente química com Clinton, houve muitos atritos. Diferentemente de México e Argentina, a adesão do Brasil a essas normas foi parcial, negociada. A “Economist” chamava o Brasil de ‘laggard’ [retardatário]’, diz Matias Spektor, da FGV do Rio.

A vulnerabilidade econômica limitava os voos do Brasil. Mas FHC discursava contra o unilateralismo dos EUA, esboçou uma política sul-americana independente e manteve distância de ações polêmicas, como o Plano Colômbia.

Com Lula, as circunstâncias haviam mudado. Tratava-se, diz Spektor, de “gerenciar” a progressiva ascensão do Brasil.

O fato de as diferenças ideológicas serem claras facilitou um relacionamento pragmático com Bush, articulado ainda antes da posse pelo então presidente do PT, José Dirceu, e pela embaixadora Donna Hrinak.

O encontro de Lula e Bush em junho de 2003, em Washington, foi o ‘ápice’ da relação. Mas os acordos assinados enfrentaram entraves burocráticos e baixo empenho político.

Em sentido oposto, os telegramas obtidos pelo WikiLeaks mostram que havia, no Planalto e no Itamaraty, enorme expectativa sobre Barack Obama.

Brasileiros aconselhavam a nova Casa Branca sobre como lidar com Cuba e vizinhos sul-americanos, e queriam ser ouvidos sobre isso. O Brasil se apresentou como possível ponte nas esperadas negociações entre Washington e Teerã.

O tombo começou com o acordo para o uso de bases na Colômbia –Lula não foi informado–, passou por divergências sobre o golpe em Honduras e culminou com a rejeição do acordo mediado no Irã.

O Brasil tem dificuldade de lidar com o funcionamento da política externa dos EUA, na qual o Congresso e a Defesa influem tanto quanto o Departamento de Estado e a Presidência.

O país tem baixa penetração entre os congressistas americanos, que travam o Executivo –vide os impostos sobre o álcool nacional e o atraso da confirmação do embaixador Thomas Shannon, que chegou a Brasília um ano depois de posse de Obama.

“Perdemos um tempo precioso”, disse o chanceler Celso Amorim ao recebê-lo. Segundo ele, as diferenças seriam “administráveis” se houvesse um diálogo “transparente”. Dilma também tocou nesse ponto no discurso de recepção a Obama, ontem.

Fonte:  Folha

17 comentários em “Frustração é marca histórica da relação Brasil-EUA

  1. A nossa relação esquizofrenica com EUA, do Brasil querendo, pedindo, esmolando seu reconhecimento que a Dilma impõe introduzindo uma inflexão atraves do Patriota na diplomacia herdada do Lula.
    Pende a cairmos na antiga politica do FHC (subserviencia), a de um olhar para o Brasil a partir de uma visão de complacencia com interesses nacionais e descaso com as Forças Armadas.

    Para onde vamos??? para o ponto de onde partimos????

  2. Definitivamente os Estados Unidos continua a tratar o Brasil como um ator co-adjuvante.
    Nâo é isso que o Brasil quer.,
    Já sabemos que somos importante regionalmente,
    A Presidente Dilma, falou com todos as palavras das nossos pretensões, quer o fim, das barreira alfandegárias quer o apoio explicito dos Estados Unidos a nossa pretenção ao conselho de segurança, indiferente se México,Argentina ou Chile goste ou nâo.
    Sinceramente acredito que os Estados Unidos vâo continuar a perder espaço para china em nossa pauta de comercio e participação em nosso mercado, que hoje é muito grande quer saiba ou não.
    Nosso visitante ( Barak Obama ) vem ao Brasil de mãos abanado e sem nada a nós oferecer ( sinceramente nâo sei porque veio ), com um discurso pifio vem a nós oferecer dinheiro( financiamentos) para comprar materiais para o Pre-Sal, projetos de construção e infraestruras ( estradas aeroportos e portos)e projetos para as olimpiadas para a Copa e etc…
    Kkkkk… que infeliz, eles (Os Estados Unidos) continuam a nôs tratar como sempre nós trataram.
    Sr Obama, nâo precisamos de seus dolares, temos quantos e quando quiser da China, ( para a sua informação) ela esta sentada em 2.850 TRILHOÊS de dolares (fonte: Jamil Anderlini e Henny Sender (Financial Times, apud Valor,19/01/2011).
    Sinceramente… essa quantidade de dinheiro virou PAPEL PINTADO na mão dos chineses.
    Ou seja se queremos dinheiro pegamos com os chineses que estão loucos para se livrar desses “dinheiro”
    Eles querem troca-los por minas,tecnologia de ponta, comida, empresas, influencia, etc e querem fazer qualquer coisa menos ficar com esse mico ( ou melhor King Kong) na mãos.
    Mr. Obara,please do not be offended, go home, o sr, não trouxe nada para o Brasil!
    E tenha certeza esta voltando sem nada.
    Tenha uma boa estadia em nosso pais.

  3. Pra mim o Brasil tem que parar de querer a atenção do tio do norte, e fazer sua parte, coisa que nunca faz…
    .
    A unica vez que me lembro que o Brasil foi “disputado” foi quando o protótipo de estrategista Getúlio Vargas negociou a siderúrgica e a participação na 2GM.

  4. Enfim vamos voltar a fazer negocios com a China, isso é que vale, isso é que tem dado lucro ao Brasil, os EUA, foram U$7 Bi de prejuízo. E os americanos vem aqui dar uma de salvadores do Brasil, GO HOME OBAMA.

  5. Pelo que disse o obama ontem ( que o brasil é o pais do futuro, e o futuro chegou) = logo o brasil é dos eua. Não da pra negociar com eles mesmo não, eles se acham dono da america e agem e tratam os paises da america como se realmente fossem, mas acho que o brasil também não pode ficar negociando so com chineses praticamente , é nescessario diversifica e aumentar o numero de parceiros pelo mundo como africa do sul, fazer parcerias com paises do leste europeu que após algumas guerras esta começando a crescer no mercado de lá.

  6. Serias bom analisar o comercio do Brasil com os gafanhotos do globo, a China. A funcao da China e produzir manufaturados e exportar-los. Nao e sua funcao IMPORTAR nada fabricado em outros paises. Nem o G-7 com toda a sua tecnologia de producao, distribuicao etc etc consegue penetrar as absurdas barreiras de comercio na China. Os que pregam China China nao querem adimitir que o que eles querem e exatamente o que faz o Brasil nao ter cacife; exportador de materias primas e agricultura. O mais interessante que exportamos aos EUA mais manufaturados do que a China, mas nesse blog insistem em falar da China como se tratassem o Brasil de igual a igual. A Embraer que o diga.
    Quando uma China fez algum investimento no Brasil para abrir uma indistria. Quando? Total bullshit to attach brazilian commerce to Chinese unfair trade practices.
    Don’t go home Obama. The pererecas in here do not know what they are talking about. The same anti american crap heard all over the world by uninformed people.

    ja cansei de antiamericanismo barato. Investimento em JOBS vem dos EUA e nao destes fdp chineses.

  7. O Brasil tem que ser o país do produto manufaturado,e não o país da matéria prima.Vi pela tv uma grande quantidade de minério de ferro espalhado pelas praias do Japão após o tsunami ,talvez esse minério veio do Brasil, chegou lá barato e ia se transformar em manufaturas que certamente íamos comprar bem mais caras!
    TODOS SABEMOS QUE MANUFATURAS QUE DÃO DINHEIRO,E SABEMOS TAMBÉM QUE OS EUA SÃO IMPORTANTES PARA NOSSO COMÉRCIO MAS NÃO SÃO OS UNICOS MERCADOS DO MUNDO!
    PRECISAMOS SABER NEGOCIAR E TER PRODUTOS DE QUALIDADE PARA OFERECER!

  8. Referindo-me diretamente ao indivíduo Obama, que pelo seu histórico pessoal de conhecimento público, deve ter muitos motivos para se orgulhar, e por tal portar-se com altivez… No entanto, não me traz simpatia o indivíduo que olha de cima pra baixo, com a pálpebra ligeiramente relaxada sobre o olhos, e que simultânemente projeta seu queixo em direção aos próximos, com uma certa soberba… Da mesma forma que costumo desconfiar daquele que, diante do próximo, move a cabeça sem sincronia, e os olhos de forma furtiva, indo de uma canto ao outro da cavidade ocular… Me simpatizo mais, e tenho tendências à confiar naquele que busca nivelar o olhar, e fixá-lo no outro em momentos tópicos e relevantes de uma pronúncia ou conversa, e sem manter o semblante engessado… Concluindo: Acho que o Sr. Obama foi tomado pela vaidade, e corre o risco de ser engolido pelo próprio ego… Coisa que não percebi na sua honorável esposa.

  9. O problema nosso são os nacionais, que mesmo vendo a realidade, não querem ver. E ainda falam mal da China, oras os EUA sempre fizeram pior que os chineses fazem agora. Nem mesmo nossas comodities estão livres de sobretaxas, então, vamos fazer negócios com quem quer negociar conosco, e não continuar a relação de subordinação, tem gente que ainda fala em anti-amecanismos, quando na verdade estamos apenas cuidando de nossos interesses!

  10. Caro Nelore.
    O Real esta sobrevalorizado o custo de nossos produtos tanto manufaturados como os primários perde competitividade, os manufaturados além de tudo sofre concorrência dos produtos da China, Taiwan, Vietnam, Paquistão, Tailândia, produzidos por empresas americanas, européias e japonesas que lá se instalam.
    Os primários e agrícolas como você deve saber são produtos brasileiros competitivos pela qualidade ou tecnologia sofrem menos além do que tem grande demanda do mercado.
    Portanto não é uma questão só Chinesa ou americana ( como alguns dizem), até mesmo porque a China de hoje é a serpente criada pelo EUA, o sistema de produção no mundo esta sofrendo transformações o Brasil tem que encontrar seu caminho.
    Não podemos abrir mão de mercado nenhum, e não vejo como você diz uma campanha do blog de se posicionar diferente de mim ou de você.
    Abs

  11. Eu concordo sim, que os americanos taxem o etanol brasileiro, e taxem mais pesadamente ainda. Porque, gente não é possível o preço altíssimo que os usineiros estão nos empurrando o álcool pela goela abaixo. Um produto da cana, renovável, de produção barata, custando para nós mais caro do que a gasolina, produto fóssil e escasso. E ainda adulteram a gasolina que nos vendem, numa pouca vergonha e imoralidade sem tamanho.

  12. Os Yankes querem petróleo, garantir materia-prima com custo baixo, no resto o mico é brasileiro. Então povo amado, arregassem as mangas e vamos fazer nossa parte. Que se dane o que eles ensam ou querem, o Brasil tem capacidade, vamos investir em tecnologia e educação. Povo culto, educado, com conhecimento é povo rico.

  13. Gente , tanto faz EUA, CHINA. Europa..todos so querem nossas materias primas e nos vender bens transformados..nao existe um pais que ira nos tratar como um igual…isso me parece aquele filhinho querendo elogio do papai…
    Brasil cresca, se valorize, eduque seu povo, trate da saude e da seguranca, escolham e cobrem melhor seus representantes politicos..

  14. O Brasil gosta realmente de bater contra os americanos. Isso tem que acabar, caso contrário nos verão como inimigos.
    Temos que concordarmos com 80% que os americanos dizem, pois eles provaram em mais de 200 anos, que são democráticos e determinados. São imperialistas ? Sim. Reino Unido, China, Rússia, França, entre outros também são.
    O saldo dos americanos é mais positivo do que negativo.
    Eles devem ser o nosso maior parceiro comercial e militar, mas sem sermos subalternos. A relação não pode ser de igual para igual, pois eles são muito melhores do que nós. Um dia seremos como eles, se Deus quiser.
    Antes de tomarmos uma decisão importante a nível mundial, vamos dar ciência aos americanos. Eu faria isso …
    Temos que respeitar a superpotência.

  15. Dandolo, eu tenho vergonha de você. Você é um brasileiro despresível.

    Respeitar sim, concordar com 80% NEM FU******.
    Vai se tornar norte americano então, vai lá morar na nação deles e pedir uma nova nacionalidade. Não serve para ser brasileiro com essa perspectiva.

    NÓS TEMOS MESMO É QUE BARTER NA CABEÇA DESSES LEITÕES ATÉ AFUNDARMOS SEUS CORPOS NAS ENTRANHAS DA TERRA.

  16. Alex Rusenhack

    O mundo inteiro respeita os americanos, menos uma dúzia de países. Não caia na ilusão de achar que há países melhores do que os EUA. Que países você acha que são melhores ?

    http://veja.abril.com.br/noticia/economia/china-admite-tarefa-pendente-apesar-de-superar-o-pib-nominal-do-japao

    Nós seremos iguais aos americanos, na melhor das hipóteses, daqui a 40 anos.

    Vamos olhar para eles e copiá-los.

    Nós não conseguimos, nem colocar um político na cadeia.
    O Brasil regrediu politicamente à década de 20 (minha opinião).

    Aqui é na base da troca de favores: Toma Lá Dá Cá.

    O povo do Oriente Médio está precisando de democracia, ou você prefere os ditadores corruptos ?

Comentários não permitidos.