Obama enfrenta revolta de diplomatas por gafes de indicados a embaixador

Alessandra Corrêa

De Nova York para a BBC Brasil

 

Atualizado em  28 de fevereiro, 2014 – 14:48 (Brasília) 17:48 GMT
Foto: AFPTradição americana de recompensar doadores de campanha com postos diplomáticos resiste

Uma série de declarações que revelam ignorância de futuros embaixadores – indicados pelo presidente Barack Obama – sobre os países onde vão atuar vem causando constrangimento à diplomacia americana.

Os protagonistas desses episódios têm em comum a falta de experiência diplomática e o fato de serem grandes doadores para a campanha de reeleição de Obama, no segundo caso, uma tradição no país.

A American Foreign Service Association (AFSA), entidade que representa mais de 16 mil diplomatas de carreira, realizará na próxima semana uma reunião para decidir se manifesta oficialmente oposição a essas nomeações.

Caso decida agir publicamente, será uma atitude rara, a primeira vez desde o início dos anos 1990.

“Vamos decidir se realmente queremos nos envolver e, caso a resposta seja positiva, de que maneira vamos agir, se com uma declaração sobre indivíduos específicos ou um comentário sobre o sistema como um todo”, disse à BBC Brasil um dos diretores da AFSA, Ásgeir Sigfússon.

Requisitos

A associação também acaba de publicar um manual com pré-requisitos que deveriam ser levados em conta na indicação e confirmação de candidatos a chefe de missão.

São qualificações que poderiam ser consideradas óbvias, como ter conhecimento de relações internacionais e do país em questão – além dos principais interesses dos EUA na região -, mas que faltam a nomeados recentes.

Desde o mês passado, pelo menos três casos ganharam manchetes devido ao desconhecimento demonstrado pelos escolhidos sobre os países nos quais deverão representar os EUA.

Ao ser sabatinada pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, a produtora de telenovelas Colleen Bell, indicada para comandar a embaixada americana na Hungria, não conseguiu responder quais os interesses estratégicos dos EUA naquele país.

O futuro embaixador em Buenos Aires, Noah Bryson Mamet, reconheceu que nunca foi à Argentina.

O nomeado para a embaixada em Oslo, George Tsunis, um executivo do setor hoteleiro, demonstrou não saber que o país para onde será enviado é uma monarquia constitucional. Ele também descreveu o Partido do Progresso como um elemento “à margem, responsável por um discurso de ódio”, e afirmou que “a Noruega havia denunciado o partido”, cujo discurso anti-imigração é notório.

Foto: APWalter Mondale é considerado um bom exemplo de indicação política para uma embaixada

Após a declaração, ele foi informado pela segunda vez pelo senador republicano John McCain de que o partido faz parte da coalizão de governo, o que poderia provocar imediatamente um constrangimento entre EUA e Noruega.

Em seguida, Tsunis tentou se corrigir, dizendo que a sociedade norueguesa prezava pelo direito a livre expressão e havia sido rápida em criticar o discurso de ódio do partido.

Tradição

Diferentemente da maioria das grandes potências, os EUA adotam a prática de recompensar aliados e doadores de campanha com postos diplomáticos, em uma tradição que resiste, apesar das críticas.

“Infelizmente, é uma prática comum em ambos os partidos (Democrata e Republicano)”, disse à BBC Brasil o diplomata Ronald Neumann, ex-embaixador dos EUA no Afeganistão e presidente da American Academy of Diplomacy (Academia Americana de Diplomacia).

Ao assumir o poder, em 2009, Obama falou em mudar a prática, dando preferência a diplomatas de carreira.

No entanto, segundo dados da AFSA, diplomatas de carreira respondem por apenas 47% das nomeações feitas em seu segundo mandato – entre elas a de Liliana Ayalde, embaixadora em Brasília, que tem mais de 30 anos de experiência.

Os outros 53% foram nomeações políticas, de aliados e doadores de campanha. Segundo a AFSA, isso representa um aumento em relação à média histórica, que é de 30% de indicações políticas e 70% de diplomatas de carreira.

A Casa Branca tem rebatido as críticas dizendo que ter doado recursos para a campanha do presidente “não garante um emprego no governo, mas não o impede de conseguir um”.

Mas críticos afirmam que esses nomeados, em muitos casos, não têm preparo e acabam envergonhando os EUA e colocando em risco os interesses americanos.

Qualificações

Neumann ressalta que o importante não é que os embaixadores sejam diplomatas de carreira, mas sim que tenham as qualificações necessárias para exercer a função.

Foto: AFPA embaixadora americana em Brasília, Liliana Ayalde, ao lado da presidente Dilma, é uma diplomata de carreira

Ao longo dos anos, os EUA tiveram casos de sucesso entre embaixadores que não eram diplomatas. A Casa Branca ressalta exemplos como o do ex-vice presidente Walter Mondale, que ocupou o cargo no Japão, e o de Robert Sargent Shriver, na França.

Mas há também diversos escândalos, como o caso de um embaixador dos EUA na Dinamarca obrigado a deixar o cargo por manter prostitutas na residência oficial e o de uma embaixadora enviada por Obama a Luxemburgo, que renunciou após um relatório denunciar seus gastos excessivos em bebidas e viagens e seu estilo de gestão “hostil e agressivo” e “sem senso de direção”.

Alguns defensores das indicações políticas afirmam que é uma vantagem ter um embaixador próximo ao presidente.

Neumann, no entanto, discorda. “A maioria dos indicados políticos não são realmente próximos do presidente. Eles doaram dinheiro, mas isso não significa que seus telefonemas serão prontamente atendidos”, afirma.

Segundo o diplomata, é provável que alguns dos nomeados busquem se educar e consigam desempenhar a tarefa com sucesso.

“Mas outros não. É um trabalho de muita responsabilidade”, afirma.

Ele observa que o Departamento de Estado costuma fazer um esforço para que esses embaixadores que não são diplomatas de carreira tenham profissionais qualificados trabalhando a seu lado.

Mas ele faz uma comparação com o setor privado: “Não conheço nenhum negócio no mundo em que você contrata um gerente sem que ele precise ser competente, só porque pode contar com seus funcionários”.

Fonte: BBC Brasil

11 Comentários

  1. Quem disse que lá os esquerdalhas também não tentam implantar seus mensalões ???… só que as instituições democráticas são muito mais sólidas que aqui, na terra dos PETRALHAS…

    • Meu caro, indicações por amizade e parentesco é a via normal, hereditária, de troca de poder nas empresas capitalistas. É muito comum que essa prática deletéria seja transportada para o setor público. No Brasil a confusão entre público e privado começou com as companhias hereditárias, e veio até os nossos tempos. Os golpistas de 64 arrumaram empregos para todos os seus parentes na estrutura de governo, cassando os concursados com uma simples acusação de “subversivo”. O atual governo foi o que mais realizou concursos públicos em todos os tempos. Os TUCANALHAS, DIREITALHAS gostam de privatizar o estado e não é só nos EUA não.

      • Claro que fizeram… infectaram a maquina estatal com parasitas cumpanheiros para poderem ocupar espaços… fizeram isso até no STF… porque iria estranhar que tomassem essa decisão em outras instâncias do poder ???…

  2. “Tradição americana de recompensar doadores de campanha com postos diplomáticos resiste”

    “Ao ser sabatinada pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, a produtora de telenovelas Colleen Bell, indicada para comandar a embaixada americana na Hungria…”

    “A Casa Branca tem rebatido as críticas dizendo que ter doado recursos para a campanha do presidente ‘não garante um emprego no governo, mas não o impede de conseguir um'”

    “Mas há também diversos escândalos, como o caso de um embaixador dos EUA na Dinamarca obrigado a deixar o cargo por manter prostitutas na residência oficial e o de uma embaixadora enviada por Obama a Luxemburgo, que renunciou após um relatório denunciar seus gastos excessivos em bebidas e viagens e seu estilo de gestão “hostil e agressivo” e “sem senso de direção” ”

    “Não conheço nenhum negócio no mundo em que você contrata um gerente sem que ele precise ser competente, só porque pode contar com seus funcionários”.

    Esse é o tipo de artigo bom de se ler porque derruba numa só penada vários mitos sagrados que alguns soberbos brasileiros gostam de citar, principalmente se for para depreciar o Brasil.

    Imagine um embaixador brasileiro gastando rios de dinheiro na sua representação. Isso ia virar o “uó-do-forrobodó” por aqui. Seria o fim da linha para o país e as expressões “banânia”, “aquele lugar abaixo do equador”, “enquanto isso no reino petralha” seriam as formas de mostrar como esse país é errado. Só que isso já ocorreu por aqui, com as reformas monstruosas das embaixadas brasileiras na Itália, Suiça e França durante a década de 1990. Um vexame que mal saiu nos jornais locais, mas que contribuiu para aquela imagem de soberba que existe sobre as representações diplomáticas brasileiras. E o Sr. FHC foi um dos que contribuiu para isso na época em que foi Chanceler.

    Aí, quando se tenta mudar o enfoque e modernizar a coisa toda dentro do sistema diplomático brasileiro, surge a expressão orgasmática: APARELHAMENTO.

    A matéria mostra claramente que, em se tratando de qualificação do corpo diplomático, estamos anos luz a frente dos EUA. E não é por conta das ações de Rio Branco.

    Poderíamos então chamar agora os EUA de banânia.

    Ou melhor, de lugar onde quem produz novela pode se considerar capaz de assumir uma embaixada/consulado.

    “Chiquita bacana
    lá da martinica
    se veste com a casca
    de banana nanica…”

    http://www.youtube.com/watch?v=JKs7yPcrsOk

  3. O Obama apesar de sua relativa e esforçada humildade, está mais perdido que o Maduro , só falta ele colocar a Hylary como Ministra da Felicidade, porque é outra que só fala m..da … conspiram contra sí próprioso tempo e sem esforços, igualzinho as esquerdas.

  4. por LUCENA
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    É né…fazer o quê… rsrsr…e tem gente que critica a nossa política externa,e os seus embaixadores de carreira 😉
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    Má se me lembro bem,aqui fizemos algo parecido quando Itamar foi transformado em embaixador em Portugal;más Itamar se comparado a estes tiriricas americanos endinheirados,ele é um Einstein,um Lavoisier ….!!!

    • por LUCENA
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      Lá um corrupto vira embaixador e aqui vira político;lá a corrupção se chama lobbi e é sacramentada no cartório,a suprema corte americana,já a nossa, se não vira em pizza, da cadeia,nem que seja de faxada,más dá.
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      falando na democracia americana;
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      EUA caem em ranking de liberdade de imprensa
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      EUA caem para 46º lugar na liberdade de imprensa
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      “A Administração Obama é a mais agressiva e antijornalística administração dos EUA da história moderna”, declarou James Risen, jornalista do The New York Times, ao apresentar em Washington o relatório da organização independente Repórteres sem Fronteiras sobre a liberdade de imprensa.
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      Num ranking de 180 países, os EUA caíram para o 46º lugar, abaixo da Romênia e de El Salvador.
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      Nenhuma administração dos democratas tinha ainda sido acusada de tão grandes atropelos à liberdade dos jornalistas como a Administração Obama. A organização Repórteres sem Fronteiras se dedica à defesa da liberdade de informação e do direito dos jornalistas de informarem sobre o trabalho das instituições governamentais. Ela elabora o seu índice desde 2002 e tem a sua sede em Paris.
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      O relatório referente a 2013 sublinha que o recuo até aos tempos da perseguição aos jornalistas, por estes revelarem a verdade, está diretamente relacionado com a espionagem global dos Estados Unidos.
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      Em primeiro lugar com as ameaças e perseguições contra os denunciantes e os jornalistas que tentam revelar a escala da vigilância mundial, escutas de conversas telefônicas e a violação da correspondência eletrônica pela NSA.
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      Essa agência tem espiado e continua a espiar os norte-americanos, os líderes dos 35 maiores países do mundo, escutou conversas de diplomatas da ONU, reuniões de embaixadores nas embaixadas dos outros países em Washington e por todo o mundo e nas missões da ONU em Nova York. Anualmente são recolhidos dados de 5 bilhões de assinantes de telecomunicações móveis por todo o mundo.
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      Ouvir dizer que a Administração Obama é agressiva da parte de um jornal que sempre foi favorável ao Partido Democrático, aos seus presidentes e congressistas, nem sequer é uma vergonha. É uma sentença.

      James Risen é um dos mais conhecidos representantes do jornalismo de investigação dos EUA. Neste momento está sendo analisado pelo Supremo Tribunal dos EUA o caso “Risen versus Governo dos Estados Unidos”. Ele tenciona confirmar o direito dos jornalistas de não revelarem as suas fontes de informação, quando estas possam ser sujeitas a perseguições políticas. Um dos últimos materiais de James Risen se baseou em dados de um denunciante da CIA dos Estados Unidos.

      “O ano de 2013 irá entrar na história como o pior ano para a liberdade de imprensa nos Estados Unidos”, considera Risen:
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      “Porque digo isso? Porque a Administração empreende todos os esforços possíveis para calar os jornalistas e os denunciantes. Porque o governo e o aparelho dos serviços secretos exercem uma limitação sem precedentes da opinião pública no que toca às informações acerca da sua atividade.”
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      Além disso, a partir de 10 de fevereiro surgiu na Internet um novo jornal digital denunciante. Ele se chama The Intercept (O Intercetor) e foi criado com base no projeto First Look Media fundado pelo criador do leilão online eBay Pierre Omidyar. O The Intercept é editado sob redação de Glenn Greenwald, o antigo repórter do The Guardian que foi o primeiro a publicar o “dossiê Snowden”. A First Look Media tenciona lançar mais sites temáticos de denúncia: sobre a corrupção nos altos círculos do poder, sobre a violação da legalidade e dos direitos dos cidadãos, sobre a ocultação de informações e outros. Edward Snowden, afirma Greenwald, “já não estará só e nós iniciaremos um novo capítulo contra os abusos dos serviços secretos”.
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      A opinião pública deve saber o que faz o governo e os seus serviços secretos, diz o produtor da nova revista eletrônica, o também famoso repórter norte-americano Jeremy Scahil:

      “Nos últimos meses nós assistimos a uma séria escalada nas ameaças contra os jornalistas e os denunciantes por parte da Administração Obama e do Congresso.
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      O diretor da Inteligência Nacional dos EUA James Clapper afirma quase abertamente que os jornalistas que divulgam os documentos de Snowden são cúmplices de um crime e traidores aos EUA. O vice-almirante Michael Rogers, o novo diretor da NSA, entrou simplesmente em fúria e começou a atacar os jornalistas e o próprio Edward Snowden. Neste momento ele faz acusações completamente infundadas que Snowden seria alegadamente um agente dos serviços secretos russos ou que colabora com os mesmos.”
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      (*) fonte: [ ornalggn.com.br/noticia/eua-caem-em-ranking-de-liberdade-de-imprensa ]

  5. O Obaobaobama deveria se dedicar a resolver o rolo dos Palestinos e a devolução de partes de suas terras por trocas de outras c os nefastoss judeuSS.Entraria p à história como o “CARA” q teve peito e resolveu esse embloglio de + de 50 anos…vai ser o mt do mesmo.Quem viver verá.Sds.

  6. Coitado do Obama, além de ser relativamente fraco frente à engrenagem político/financeira de seu país, sofrer sabotagem dos adversários de extrema direita, ainda se cerca de um monte de antas que só pioram cenário. Não é à toa que a Rússia vem crescendo no cenário político mundial.
    Agora, gafes, todos fazem…. já teve chefe de estado que disse que Buenos Aires era nossa capital em pleno solo brasileiro e também ministro brasileiro passeando com cachorrinho na Europa (bancado pelo estado em viagem oficial)…. mas pra ele cachorro éra gente !!!
    Abraços,

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