A Rússia está disposta a desenvolver relações com a Ucrânia, mas não com o grupo de pessoas que tomaram o poder em violação da Constituição e outras leis do seu Estado. Assim escreveu no Facebook o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev. Ele ressaltou que, embora “a autoridade de Viktor Yanukovich seja quase insignificante”, ele ainda é o presidente legítimo.
Além disso, as regiões do sudeste da Ucrânia recusam-se a reconhecer o novo governo, na véspera ocorreram lá manifestações em massa. E o número de militares ucranianos que prestaram juramento de fidelidade ao povo da Crimeia aumentou quase o dobro em 24 horas e ultrapassou 3 mil pessoas.
A República Autônoma da Crimeia (RAC) e as regiões do sudeste da Ucrânia que não suportam o novo governo continuam a lutar pelos seus direitos. Na véspera, na cidade de Odessa foi realizada uma marcha de carros com as bandeiras da Rússia, Odessa e da vitória (na Segunda Guerra Mundial). Os participantes apelaram aos militares a não agir contra o povo.
Um comício de milhares de manifestantes contra o novo governo ocorreu em Donetsk, onde o governo local aprovou o russo no estatuto de língua oficial. Agora, está decorrendo a coleta de assinaturas para realizar um referendo sobre o estatuto da região de Donbass.
Agências de aplicação da lei também estão tomando o lado dos habitantes e das autoridades locais. A polícia de Carcóvia coloca em suas fardas fitas de São Jorge como um símbolo da defesa da cidade de radicais e da oposição do novo governo. Na Crimeia, mais de três mil militares ucranianos prestaram juramento de fidelidade aos habitantes da autonomia. Entre eles, o comandante da Marinha ucraniana Denis Berezovsky:
“Eu, Denis Viktorovitch Berezovsky, juro fidelidade ao povo da República Autônoma da Crimeia. Juro cumprir rigorosamente as ordens do Comandante Supremo da RAC e da cidade de Sevastopol, as ordens de comandantes de unidades e formações militares aprovados por ele, as exigências dos regulamentos militares. Juro cumprir dignamente o dever militar, proteger corajosamente a vida e a liberdade dos habitantes da RAC e da cidade de Sevastopol.”
Mais cedo, o presidente do Conselho Supremo da Crimeia Vladimir Konstantinov disse que a liderança da península não obedece a Kiev. Segundo ele, uma nova relação com o governo central será baseada nos resultados do referendo, no qual será decidida a questão de alterar o estatuto da Crimeia de autonomia para Estado. No caso da ampliação dos poderes da autonomia, nela poderá entrar também Sevastopol – como uma cidade de estatuto especial.
Os eventos que estão ocorrendo atualmente na península mostram que na realidade a Crimeia se está tornando cada vez mais independente, acredita o analista político Bogdan Bezpalko:
“Penso que os habitantes da Crimeia nunca irão aceitar as promessas e compromissos de Kiev. Kiev teve apenas uma oportunidade de resolver a situação – tomar o caminho da federalização, concordar com todos os líderes regionais que chegaram ao poder em Carcóvia e na Crimeia com uma condição: que eles mantivessem suas regiões dentro da Ucrânia. Mas o novo governo ucraniano está tomando uma atitude muito dura e com isso está apenas provocando as regiões para novas ações destinadas a reforçar a sua autonomia.”
O primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev chamou o surgimento de um novo governo na Ucrânia de arbitrariedade, salientando que tal ordem será extremamente instável e que isso pode provocar um novo golpe. No entanto, como disse o primeiro-ministro, a Rússia está interessada numa parceria com uma Ucrânia forte e estável, mas não com um “primo pobre, sempre de mão estendida.”
Como disse o vice-premiê russo Arkadi Dvorkovich, Moscou tem esperança de uma rápida estabilização da situação na Ucrânia, porque só neste caso vale a pena esperar de Kiev um reembolso da assistência prestada. Mas de momento a economia do país está numa situação extremamente difícil, diz o diretor-geral do Conselho Financeiro e Bancário da Comunidade dos Estados Independentes Pavel Nefidov:
“Se compararmos a economia da Ucrânia com uma pessoa doente, então agora ela precisa de um analgésico, e depois disso há que começar um tratamento. Agora é necessária ajuda realmente urgente. Ela deve vir daqueles que apoiam o governo de Kiev. Quanto ao “futuro tratamento”, todos reconhecem que sem a Rússia este problema não é possível de resolver. Ou é possível somente através de injeções de grandes volumes de dinheiro da UE, o que é pouco provável de acontecer num futuro próximo.”
Segundo notou o especialista, nas atuais circunstâncias a economia do país pode ser salva somente por ações coordenadas de parceiros externos. As autoridades de muitas regiões da Rússia, em particular de Kaluga, Nizhny Novgorod, Orenburg, Stavropol e das montanhas de Altai, começaram a recolher fundos para ajudar o povo da Ucrânia.
Espera-se que esta semana vai começar a trabalhar em Kiev a missão do FMI, que deverá avaliar as necessidades econômicas do país. Falando do estado atual do tesouro do Estado, as novas autoridades dizem invariavelmente que ele está “quase vazio”.
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