A França vai apresentar uma proposta de resolução ao Conselho de Segurança da ONU para colocar as armas químicas da Síria sob controle internacional com o objetivo de destruí-las, anunciou nesta terça-feira o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius.
O chanceler da França acrescentou que o texto da resolução deve incluir uma ameaça de consequências “extremamente graves” caso a Síria não cumpra as condições estipuladas para entregar o seu arsenal químico.
A iniciativa francesa foi anunciada um dia depois de a Rússia apresentar um plano para transferir as armas químicas sírias para o controle internacional.
O regime do líder sírio Bashar Al-Assad disse que aceita a proposta russa, mas poucos detalhes foram revelados sobre como esse plano seria colocado em prática.
“Nós realizamos uma rodada de negociações muito frutífera com o ministro das Relações Exteriores (da Rússia) Sergei Lavrov ontem (segunda-feira), e ele propôs uma iniciativa relacionada a armas químicas. À noite, nós concordamos com a iniciativa russa”, afirmou o chanceler sírio Walid Muallem, em declaração à agência de notícias russa Interfax.
Segundo Muallem, a medida eliminaria “os motivos para uma agressão americana”.
Resolução francesa
Em Paris, em entrevista coletiva, o ministro das Relações Exteriores da França disse que a proposta de resolução de seu país se baseia em cinco pontos e exige que a Síria revele por completo os detalhes de seu programa de armas químicas.
O texto também prevê a realização de inspeções internacionais e a fiscalização do processo de destruição do arsenal químico.
A resolução proposta pela França seria apresentada sob o Capítulo 7 da Carta da ONU, que prevê possíveis ações militares e não militares para restaurar a paz, segundo o ministro francês Laurent Fabius.
O chanceler francês disse que o plano já havia sido discutido antes, mas agora provavelmente deve ganhar força diante da pressão das últimas semanas sobre o regime sírio.
O correspondente da BBC em Paris Christian Fraser diz que a Rússia bloqueou os esforços anteriores liderados pela França no Conselho de Segurança da ONU.
Agora, acrescenta Fraser, tanto a França como os Estados Unidos estão receosos de que um jogo no estilo “gato e rato”, semelhante ao que aconteceu antes da guerra no Iraque, possa voltar a acontecer. Mas os dois países dão sinais de que estão dispostos a dar uma chance à proposta russa.
O que os franceses querem evitar, de acordo com Fabius, é um plano que possa ser usado apenas como uma manobra protelatória pela Síria. Por isso, acrescentou o chanceler da França, todas as opções, incluindo a ameaça de um ataque, devem ser discutidas.
Nesta terça-feira, a Liga Árabe também sinalizou o seu apoio à iniciativa russa. O dirigente da entidade, Nabil al-Arabi, afirmou que o grupo sempre apoiou uma solução política para o conflito na Síria.
Ceticismo
Apesar da falta de detalhes sobre a iniciativa da Rússia, o chanceler Sergei Lavrov disse em Moscou que está “preparando uma proposta concreta que será apresentada a todos os lados interessados, incluindo os Estados Unidos… um plano concreto, específico e viável”.
“Estamos convencidos de que a posição daqueles que se esforçam pela paz é muito mais forte do que a daqueles tentando alimentar uma guerra”, afirmou o ministro sírio Walid Muallem.
Lavrov disse ainda que conversou sobre o plano com o secretário de Estado americano, John Kerry, por telefone, na segunda-feira.
Segundo o chanceler russo, a proposta não foi “uma iniciativa puramente russa”. “Ela ganhou forma a partir dos contatos que mantivemos com os americanos”, afirmou.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o americano, Barack Obama, discutiram a ideia nos intervalos da reunião do G20 na semana passada, segundo um porta-voz do líder russo.
Lavrov mencionou ainda a declaração de Obama, durante uma entrevista à televisão americana na noite de segunda-feira, na qual o presidente dos Estados Unidos disse que a proposta russa pode ser um “avanço”.
Mas, em sua aparição na TV, Obama também acrescentou que, apesar do aceno positivo à iniciativa da Rússia, ele permanece cético quanto às chances de sucesso da proposta.
A repórter da BBC em Washington Jane Hill diz que Obama deve realizar reuniões com lideranças do Senado americano nesta terça-feira, e o pronunciamento à nação previsto à noite ainda está mantido.
Os Estados Unidos acusam as forças do regime sírio de realizar um ataque químico que matou 1.429 pessoas em Damasco no dia 21 de agosto.
O governo de Bashar al-Assad atribui o ataque aos grupos rebeldes que lutam para tirá-lo do poder, em um conflito que já matou mais de 100 mil pessoas, segundo a ONU.
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