EUA e Brasil no comando

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Barack Obama elogia ação das tropas brasileiras, libera ajuda de US$ 100 milhões e envia 5,7 mil soldados e fuzileiros para socorrer as vítimas do terremoto que devastou o país mais pobre das Américas

Edson Luiz

Brasil e Estados Unidos assumiram a coordenação de uma operação internacional de guerra para socorrer centenas de milhares de haitianos atingidos pelo terremoto que devastou o país na noite de terça-feira e deixou pelo menos 45 mil mortos — estimativa inicial da Cruz Vermelha. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, chegou ao Haiti na noite de terça-feira chefiando uma missão que definirá os próximos passos do governo brasileiro, o primeiro a enviar um funcionário de primeiro escalão, junto com a liberação de US$ 15 milhões. O presidente dos EUA, Barack Obama, reuniu ontem a secretária de Estado, Hillary Clinton, e o de Defesa, Bill Gates. Depois, em emocionado pronunciamento, elogiou a ação das tropas brasileiras e prometeu que os haitianos “não serão abandonados”. O governo americano liberou US$ 100 milhões e deslocou para o Haiti 5,7 mil militares, além de um porta-aviões e um navio-hospital.

Brasília e Washington estão em contato intenso desde a quarta-feira, quando Obama ligou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em seguida, Hillary e o chanceler brasileiro, Celso Amorim, conversaram sobre a situação do Haiti. Ontem, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, fez coro com a proposta lançada por Lula e sugeriu que França, Brasil, EUA, Canadá e a ONU convoquem uma conferência internacional de países doadores, para coordenar a reconstrução. Sarkozy disse que se reuniria com Obama “dentro de algumas horas” e prometeu se deslocar para o Haiti “nas próximas semanas”.

O governo brasileiro vai centralizar suas ações em cinco pontos considerados essenciais: retirada dos escombros, atendimento médico aos feridos, remoção dos mortos, distribuição de suprimentos e manutenção da segurança pública. Os itens principais da ajuda foram definidos em uma reunião que o ministro Nelson Jobim realizou com os comandantes do Exército, general Enzo Peri, e da Marinha, Moura Neto, além do embaixador brasileiro no Haiti, Igor Kipman. Os três acompanharam Jobim no voo para a capital haitiana.

A decisão do governo brasileiro é enfrentar o problema com meios próprios, já que a situação é de emergência e buscar ajuda de organismos internacionais poderia agravar o problema. “Não podemos esperar. Se há problemas, temos que passar por cima”, afirmou Jobim. O ministro da Defesa se reuniu com o presidente do Haiti, René Préval, para detalhar os planos de ajuda e conhecer os pedidos do governo local.

Resgate

De imediato, o país vai mandar 15 engenheiros do Exército e utilizar maquinaria pesada de uma construtora brasileira que realizava trabalhos em Porto Príncipe, para retirar os escombros. As ruas da capital do Haiti ficaram bloqueadas com o entulho dos prédios que caíram durante o terremoto, o que inviabilizou o socorro imediato às vítimas. Além disso, os comandos da Aeronáutica e Marinha vão enviar dois hospitais de campanha e mais de 40 profissionais de saúde, entre médicos e enfermeiros.

Outra preocupação do governo brasileiro é enterrar os mortos, para evitar epidemias. Até ontem, em Porto Príncipe, corpos eram jogados pelas ruas ou amontoados perto de hospitais. Segundo o Ministério da Defesa, muitas pessoas estão sendo sepultadas nas encostas ou são praticantes do vodu, que não aceitam que toquem seus mortos enquanto os rituais não forem concluídos. A solução do problema será a abertura de covas para que as vítimas sejam enterradas.

No pacote de ajuda, o Brasil inclui o envio de mais alimentos e água, mas ainda não há lugar para armazenamento nem pontos de distribuição. Os militares temem pela segurança dos depósitos e comboios de suprimentos. Segundo o Ministério da Defesa, com o agravamento da situação, há o temor de que a população desesperada possa saquear os caminhões, o que paralisaria os trabalhos de socorro. Desde quarta-feira, aviões partiram do Rio de Janeiro levando alimentos e água para Porto Príncipe.

Esforço mundial

No breve pronunciamento que fez na Casa Branca, Barack Obama colocou “toda a capacidade nacional e o poderio militar” dos EUA a serviço do socorro às vítimas e da reconstrução do Haiti. “Quero falar diretamente ao povo haitiano”, disse o presidente americano. “Vocês não serão abandonados. Vocês não serão esquecidos.” Ontem chegou a Porto Príncipe o porta-aviões USS Carl Vinson, que será a base das operações americanas. Além de água, alimentos, remédios e outros donativos de primeira necessidade, os EUA enviaram 3,5 mil homens do Exército e 2,2 mil fuzileiros navais para patrulhar as ruas e remover escombros.

Na Europa, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, anunciou também o envio de navios e aviões militares com tropas e donativos, somando-se à corrente de ajuda que começa a chegar dos cinco continentes (veja quadro). Sarkozy fez coro à proposta lançada na véspera por Lula e propôs que “Brasil, França, EUA, Canadá e as Nações Unidas” convoquem uma reunião internacional de países doadores para agilizar o envio de ajuda e coordenar as ações de reconstrução. O presidente francês disse que discutiria a proposta com o colega americano, com quem tinha previsto reunir-se “nas próximas horas”, e anunciou sua disposição de se deslocar para o Haiti “dentro de algumas semanas”.

Fonte: CCOMSEX