J-11: China clona e começa a exportar caças russos

Um dos caças J-11B chinês, cópia do Sukhoi Su-27 Flanker da Rússia.

Um ano depois do colapso da União Soviética, o Kremlin, com os cofres vazios, começou a vender à China uma parte de seu vasto arsenal, incluindo o orgulho da Força Aérea Russa, o caça Sukhoi Su-27.

Durante os 15 anos seguintes, a Rússia se tornou o maior fornecedor de armas para a China, vendendo entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões em caças, destróieres, submarinos, tanques e mísseis. O país vendeu a Pequim até a licença para fabricar o caça Su-27 — com peças importadas da Rússia, é claro.

Mas agora a festa de vendas militares russas acabou e a da China está apenas começando.

Depois de décadas importando e fazendo engenharia reversa dos equipamentos bélicos da Rússia, a China atingiu um estágio crucial: agora ela pode fabricar muitas de suas próprias armas avançadas — como caças de última geração ao estilo do Su-27 — e está prestes a construir um porta-aviões.

Não apenas os engenheiros chineses conseguiram clonar os valiosos sistemas eletrônicos e de radar do Su-27, como estão equipando o caça com a última peça desse quebra-cabeça tecnológico: uma turbina a jato de fabricação própria.

Nos últimos dois anos, Pequim não realizou grandes compras bélicas de Moscou.

E agora a China começa a exportar boa parte desses armamentos, roubando mercado da Rússia no mundo em desenvolvimento e talvez até alterando o equilíbrio militar de vários locais de conflito no mundo.

Essa reviravolta histórica ficou palpável no pavilhão russo da feira de aviação Airshow China, realizada em novembro nesta cidade no sul do país. A Rússia costumava ser a estrela do evento, impressionando os visitantes com seu time de acrobacias aéreas “Cavaleiros Russos”, exibindo caças, helicópteros e aviões de carga, e fechando vendas bilionárias nos bastidores do evento.

Este ano, o país não exibiu um único avião de verdade — só um punhado de miniaturas plásticas, cercadas por meia dúzias de vendedores entediados.

A China, por outro lado, fez sua maior exibição comercial de tecnologia militar — quase toda baseada no know-how russo.

As estrelas do evento foram os “Sherdils”, um time paquistanês de acrobacia aérea que usa caças de origem russa mas que agora são fabricados no Paquistão e na China.

“Antes, éramos os sócios maiores nesse relacionamento — agora somos os menores”, disse Ruslan Pukhov, integrante do Conselho de Consultas Públicas do Ministério da Defesa da Rússia, um grupo de civis que assessora os militares do país.

O problema enfrentado pela Rússia espelha o de muitas empresas estrangeiras no momento em que a China começa a concorrer nos mercados mundiais com trens avançados, equipamentos de geração elétrica e outros produtos para o mercado civil baseados em tecnologia obtida dos países ricos.

Mas neste caso há um problema adicional relacionado à segurança: a China está desenvolvendo sistemas avançados, como porta-aviões e caças navais, que podem ameaçar Taiwan e confrontar o domínio americano do Pacífico.

As exportações chinesas de caças e outras armas avançadas também ameaçam alterar o equilíbrio bélico no sul da Ásia, no Sudão e no Irã.

Caça Shenyang J-11B da Força Aérea da China.

O poderio militar chinês ainda é bem menor que o dos Estados Unidos, de longe o maior fabricante e exportador bélico do mundo. A China obteve apenas 2% das vendas mundiais de armamentos entre 2005 e 2009, o que faz dela a nona maior exportadora, segundo o Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Paz de Estocolmo.

Mas nenhum outro país asiático tentou projetar poderio militar — e conta com capacidade própria para isso — desde a derrota do Japão em 1945.

O rápido domínio chinês das tecnologias russas motiva questionamentos sobre a cooperação americana com a face civil dos fabricantes chineses de armamentos.

A Corporação da Indústria de Aviação, ou Avic, a fabricante estatal de aviões da China, é que faz os caças do país, por exemplo. Mas ela também está desenvolvendo um jato de passageiros com ajuda da General Electric Co. e outros fabricantes americanos de produtos aeroespaciais. Um representante da GE disse que a empresa se associou há décadas a fabricantes estrangeiros de turbinas, “sempre com mecanismos elaborados de proteção” que preservaram as patentes da empresa.

A evolução chinesa também tem consequências para os programas americanos de armamento. O Pentágono decidiu cortar os recursos para o F-22, atualmente o caça mais avançado em uso no mundo, em parte porque a China só deve ter aviões parecidos daqui a 15 anos, pelo menos.

Mas o general He Weirong, vice-comandante da Força Aérea da China, anunciou que a versão chinesa do jato estava prestes a passar pela fase de testes de voos e poderá entrar em uso em “oito ou dez anos”.

A Agência de Inteligência de Defesa dos EUA agora afirma que vai levar “cerca de dez anos” para a China conseguir mobilizar os chamados caças “invisíveis” a um “número substancial”.

Para Moscou e Pequim, enquanto isso, disputas sobre a patente de caças como esses estão dificultando os esforços dos dois países para superar uma rivalidade histórica e criar uma nova era de relações amigáveis.

“Não prestamos atenção suficiente a nossas patentes no passado”, disse uma autoridade russa da defesa. “Agora a China é que está concorrendo conosco no mercado internacional.”

Poucas coisas ilustram com mais clareza essa questão como o J-11B, o caça chinês que as autoridades russas alegam ser uma cópia direta do Su-27, caça de um tripulante desenvolvido pelos soviéticos nos anos 70 e 80 para enfrentar os americanos F-15 e F-16.

Antes do início dos anos 90, Moscou não fechava um acordo bélico de grande porte com Pequim desde o racha ideológico dos países em 1956, motivo de breves combates fronteiriços em 1969.

Mas depois do colapso da União Soviética, o Kremlim ficou desesperado para obter recursos. Em 1992, a China se tornou o primeiro país fora da ex-União Soviética a comprar o Su-27, pagando US$ 1 bilhão por 24 unidades.

O acordo foi uma jogada de mestre da China, que mudara o foco de seus militares de uma possível invasão soviética por terra e passara a buscar defender áreas que considera seu território, como Taiwan e partes do Mar da China Meridional e do Mar do Leste da China.

As tentativas chinesas de modernizar sua Marinha e Força Aérea foram atrapalhadas pelos embargos de armas impostos pelos EUA e a União Europeia depois da repressão aos protestos na Praça da Paz Celestial, em 1989.

O programa de modernização militar da China ganhou urgência quando os líderes chineses ficaram chocados com a exibição de poderio americano durante a Guerra do Golfo, disseram militares de países ocidentais.

A grande virada de Pequim ocorreu em 1996, quando ela pagou US$ 2,5 bilhões à Rússia para licenciar e montar mais 200 caças Su-27 na Senyang Aircraft Company.

O acordo estipulava que o avião — a ser chamado J-11 — contaria com sistemas eletrônicos, radar e turbinas da Rússia e não poderia ser exportado.

Mas depois de construir 105 aeronaves, a China cancelou repentinamente o contrato em 2004, alegando que o avião não atendia mais às suas exigências, segundo autoridades russas e especialistas em defesa.

Três anos depois, os temores russos se confirmaram quando a televisão estatal da China apresentou uma versão própria do jato de caça — o J-11B.

“Quando a licença foi vendida, todo mundo sabia que eles fariam isso. Era só um risco que foi aceito”, disse Vassily Kashin, um especialista russo em questões militares da China. “Na época foi uma questão de sobrevivência.”

O J-11B era praticamente idêntico ao Su-27, embora a China afirme que ele tem 90% de tecnologia local e recebeu sistemas de radar e eletrônicos chineses que são mais avançados que os originais. Só a turbina ainda é russa, afirmou a China.

Agora, a China também começou a instalar uma turbina própria, segundo Xhang Xinguo, vice-presidente da Avic, dona da Shenyang Aicraft.

“Não dá para dizer que é só uma cópia”, disse ele. “Todos os celulares são parecidos. Mas a tecnologia está evoluindo rapidamente. Mesmo que o aspecto seja o mesmo, nem tudo o que está dentro pode ser o mesmo.”

O J-11B forçou a Rússia a tomar uma decisão difícil: continuar vendendo armas à China e se arriscar a também perdê-las para a imitação chinesa, ou ficar fora de um mercado ainda lucrativo.

A reação inicial da Rússia foi suspender as negociações para vender à China o Su-33, um caça com asas dobráveis que pode ser usado em porta-aviões.

Mas, desde então, o país reabriu as negociações com a China sobre o Su-33, embora tenha rejeitado a oferta chinesa para comprar apenas dois aviões, insistindo num pedido mais volumoso.

A posição oficial da Sukhoi Aviation Holding Co. agora é que ela continua apostando em seus negócios na China.

De fato, muitos especialistas em aviação acreditam que a Avic tem enfrentado problemas para desenvolver uma turbina nacional para o J-11B com o mesmo empuxo e durabilidade que o produto original da Rússia.

A Sukhoi está apostando que a China vai ter de comprar o Su-33 sob as condições russas, já que será difícil para Pequim desenvolver um caça naval próprio a tempo de equipar seus primeiros porta-aviões, previstos para entrar em operação em 2011 ou 2012.

A empresa também espera vender à China o Su-35 — uma versão mais avançada do Su-27 — se o J-11B não se desempenhar bem o bastante.

“Só esperamos que nosso avião seja melhor”, disse Sergey Sergeev, vice-diretor geral da Sukhoi. “Uma coisa é fazer uma cópia de qualidade de uma colher, mas fazer uma de um avião é outra história.”

Nota do  Editor.

A china detém a licença para produção e ecomercialização do J-11.

E.M.Pinto

Fonte: Wall Street Journal – Jeremy Page – Via: CAVOK via Hangar do Vinna

28 Comentários

  1. Os chineses são um grande exemplo positivo para os brasileiros. Com os políticos corruptos que o Brasil tem, não chegaremos a lugar algum. Nenhum político corrupto brasileiro, está efetivamente na cadeia. Quem ?
    O Brasil é o país do mal, só pode ser.

  2. Já ouvirão a espressão, made in china: fiquem com medo, vai cair peça do céu! Não acredito que possão clonar uma aeronave com tanta eficiencia, pois a codigos de segurança em todos os sistemas, pode até parecer o mesmo, mais e por dentro?

  3. guerraepaz, se liga cara.
    O CLONE desse caça não é o CLONE do IPOD que você comprou na Pajé não.
    É feito sob licença, copia é até o nome errado para isso, já que é feito legalmente.

  4. O analista Nelson During, do site especializado DefesaNet, disse à AFP: “Minha impressão é que o F-X2 está morto e enterrado”. During acrescentou que Lula já cancelou uma copetição anterior em 2003, iniciada por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, para utilizar o dinheiro em programas sociais.

    Marcelo Rech, analista do site InfoRel, concorda. Ele afirmou que Rousseff enfatizou a luta contra a pobreza como sua prioridade para o início da presidência: ” Para mim, isso foi um claro sinal de que o programa F-X2 deixou de ser uma prioridade”.

    Os dois especialistas também disseram que Rousseff poderia buscar relações mais próximas com os Estados Unidos, o que aumentaria as chances do F/A-18

    Leia mais (Read More): Poder Aéreo

  5. fABIO DISSE:

    A verdade é que o Brasil não sabe o que quer. O Brasil tá parecendo o individuo que não tem nada pra fazer vai e vai a uma loja de sapatos, faz o vendedor trazer uns 200 pares, experimenta e depois sai sem comprar nada. Politica de “mosca de padaria”… Coisa de país da falácia e da pataquada. Os concorrentes deveriam DOBRAR o valor dos caças para compensar os 10 anos de visitas reuniões, despesas e projetos que até agora não deram em nada. O Brasil não é um país sério.

  6. Francisco AMX disse:

    NG mais barato? quem garante isso? o caça existe? já tá pronto?

    Sobre este Igor Gielow e a Catanhêde, este são mais uns “vetores” da campanha de desestabilização do GF ou são convictos das benéficies do NG…rsrsrs?

    Agora que a decisão parece adiada indefinidamente, eles colocam pressão sobre o governo, por não decidir nada! (na verdade querem o NG – deve ser por convicção, pois são exímios conhecedores de aviação militar – huahuauhursrsrs) dizem que o Gripen é o preferido e o comandante Saito diz que a FAB quer o SH!… coisas conflitantes e paradoxais não faltam na linha deste “reporter”… na verdade ele e a Catanhêde se fazem de cegos… nem explicações dão sobre os documentos do WL, que deixam claro que a FAB quer o SH! se é verdade… não sei, mas que vazou vazou! e as explicações destes “reporteres”??? nada, fazem que nem é com eles… e tem gente que acredita nestas bobagens…

  7. O Brasil não precisa desse exemplo. Já tem o seu, com a fábrica da EMBRAER enfrentando cancelamento de encomendas e concorrente local já em desenvolvimento. O que não poderia ter ocorrido é o reconhecimento do Brasil para a China entrar na OMC. Não respeitam, copiam, e depois vão vender no nosso quintal.
    Mas o “pulo-do-gato” não se ensina.
    Esperemos para ver mais adiante.

  8. Vdd, enquanto o mundo nao se rebela contra os senhores do mundo, nenhum pais vai pra frente, p q a regra e a mesma pra todos, escravidão.
    mas vale lembra, q no exercito brasileiro esta os brasileiros, e quando a população acorda e para de ver futebol e novela, e comeca a grita, eles vão esta do nosso lado, e vamos prescisa de avioes clonados.

    ” meus pc inteiro e da china, ja tem 3 anos nunca quebro ”
    kkkkk…

  9. Democracia é o que mesmo heim?É ter de aceitar tudo o que essas Ratazanas Trairabóias fazem e venham a fazer porque foram eleitos e insurgir contra isso é antidemocrata né mesmo.A muito tempo estão brincando com nossa paciencia e nos subestimando demais.Do jeito que a coisa vai sei não heim.Que tal derrubarmos esses lesapatrias instituindo uma monarquia-parlamentarista com o Monarca tornando inelegiveis para sempre estas Ratazanas e convocando eleições.Acabando tambem com os previlegios e a estabilidade publica geral onde fica quem produz e se exonera as sanguessugas dando lugar a pessoas capacitadas heim?

  10. pau nos amarelos…
    copiar colher é uma coisa ..já um avião… rs.. bem isso.
    nos próximos enviados a china …que tenham uma black box.. em caso de cópia.. que se esfacele..no ar…rsrsrs

  11. Agora deu para entender a decisão da Rússia de reativar as pressas a produção do SU-27.
    Provavelmente irão entrar com tudo no mercado internacional visando melar as negociações chinesas de exportação do clone.
    Conhecendo a “excelência e a confiabilidade” dos produtos chineses e se lhes fosse dada a opção de escolha a preço similar, comprariam o original ou a cópia?

  12. Clonar por engenharia reversa não é tão simples assim não. Com certeza entregam a eles muitos dados de projeto por debaixo do pano. Pretendem fortificar a China cada vez mais.

  13. BR cai pecinha e Ching Ling também, então vamo na 25 de março comprar alguns!!! ahahahha

    Como seria bom, se o Brasil investissem em ENG. Reversa, infelizmente nem engenheiros nós temos, muito menos em reversa.

  14. Galileu, ITA/IME os estudantes gringos não estudam nem 1/3! do que os vestibulandos brasileiros para tal o fazem, quanto mais na profundidade que somentes livros russos! traduzidos são capazes de expor.. sem falar nos pós-graduados.. os engenheiros brasileiros quanto mais em universidades campeãs mundiais nas diversas competições são absorvidos por quem reconhece seus devidos valores.. ou seja.. no EXTERIOR. E alguns poucos institutos e empresas brasileiras.. considero que é na área federal a questão de prioridade quanto a isto. Realmente não consigo entender.. refletiria em tudo que se possa imaginar.. que tenha como aplicação a tecnologia.

  15. jonnas não disse que não temos engenheiros, de forma pejorativa, em qualidade, mas sim que formamos pouquissimos engenheiros.

  16. Galileu, tens razão! para que o Brasil se desenvolva com taxas de crescimento asiáticas a quantidade de engenheiros é muito pouca. Vlw!

  17. QÜase toda a tecnologia que se vende são feitos na china,sendo sharp,panasonic,lg,nike,puma,etc…,mais con teste de calidade,não nos enganhamos pelas coisas piratas feitas por fabricas clandestinas sin teste de calidade.no paraguai tambem vende coisas falsas que duram pouco,mais se compra algo passado pelo teste dura mais.

  18. E a Rússia ainda quer vender o Su-35S para a China… Eles não aprenderam nada com esses J-11???

    Bem, talvez a intenção seja realmente essa: vender o Su-35 (low) para bancar o PAK-FA (hi)…

  19. A China as vezes me impressionava com seus caças e sua tecnologia,Além disso a China foi esperta sim em ter clonado o O J-11B mais isso prova que eles não tem criatividade.E também muita coisa diferençia uma cópia do original, e além disso acontecerá a mesma coisa com o Su 35BM. E o que a Rússia pode fazer a respeito? Nada..

  20. se alguem acha que os russos são idiotas estão enganados,raramente os chineses conseguem copiar com eficiencia,todo produto chines é barato e de má qualidade,ao contrario do japones qua é caro e de qualidade extrema,espero que um dia que seja breve o mundo abra os olhos e vejam o erro do consumismo,os chineses souberam se aproveitar bem da situação,ja que o mundo quer consumir,ao contrario de tempos anteriores que se optava por bens de qualidade e duraveis,duvido que estes jatos chineses tenham a qualidade dos russos.

  21. ja saiu a muito uma matéria sobre isso no pravda…
    os russos consideram as ‘copias’ chinesas de 3ª categoria…mais aparencia que eficacia…
    so governo pobre de 3º mundo vai comprar essa porcaria… quando menos espera a turbina explode ..a asa solta.. o missil não sai..ou explode na asa..rsrsrs

    ps. claro o mais importate todo o mecanismo de ejetar é russo..hahahahahahaahhahaah

  22. Caro Edu Nicácio,

    Provavelmente a idéia é essa… E os SU-35 de exportação será uma versão degradada das unidades que equiparão os Russos. Portanto, mesmo que os chineses copiem tudo, não terão as mesmas capacidades que a versão russa. A China se quiser ser independente, tem de começar a desenvolver tecnologia própria. Copiar tem um limite.

    []’s

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