Cúpula do G20: Síria num contexto de crise global

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Ria Novosti

Ilia Kharlamov

Os EUA e outros países, caso comecem uma operação militar na Síria, irão se colocar fora da lei, declarou hoje o presidente russo Vladimir Putin na coletiva de imprensa realizada no final da cúpula do Grupo dos Vinte.

Terminaram, em São Petersburgo, os trabalhos do fórum de líderes das maiores economias mundiais. Os dirigentes dos países e das principais organizações internacionais aprovaram uma série de decisões importantes na área das finanças globais, do crescimento econômico e da redução das dívidas soberanas. Um dos temas não-planejados mas importantes das reuniões oficiais e dos encontros informais foi, como se esperava, a situação relativa à Síria. Este país poderá, nos próximos dias, ser alvo de um ataque maciço por parte dos EUA. As divergências de princípio entre Moscou e Washington nessa questão são bem conhecidas. Talvez por isso, a notícia principal do segundo dia de trabalhos da cúpula foi a reunião entre Vladimir Putin e Barack Obama. Como se sabe, anteriormente o presidente dos EUA não planejava ter contatos pessoais com o seu homólogo russo.

Segundo disse Putin, o encontro teve um caráter construtivo e amigável, mas ambas as partes mantiveram as suas opiniões. Ou seja, a possibilidade de um ataque à Síria se mantém. Contudo, Obama não deixou de ouvir em São Petersburgo um “toque de alarme”. Contra um cenário de uso da força se pronunciaram não só os adversários tradicionais dos atos de agressão, mas também os países que antes preferiam manter a neutralidade. No total, a intervenção militar foi vigorosamente condenada pela China, Rússia, Índia, Indonésia, Itália, Brasil e uma série de outros países. Vladimir Putin, ao se dirigir aos partidários da linha dura, apelou a que se reflita sobre as consequências de uma possível agressão.

“Tudo o que está relacionado com os acontecimentos no Oriente Médio se reflete de uma forma muito séria sobre a economia, porque esta é uma região que abastece toda a economia mundial, ou pelo menos uma parte considerável, de recursos energéticos. Nós sabemos que quando aí ocorrem confrontos ou cataclismos, os preços dos recursos energéticos aumenta imediatamente. O que é que isso significa? Significa que esses preços irão inibir o desenvolvimento da economia mundial. Numa altura tão difícil para a economia mundial, desestabilizar a situação nessa região seria, falando de uma forma muito diplomática, contraproducente.”

O presidente declarou que o problema da Síria foi discutido na cúpula de uma forma muito detalhada. Contra uma intervenção nesse país se pronunciou o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon. O Papa Francisco apelou aos líderes dos Vinte, numa mensagem especial, para tudo fazerem por uma regularização pacífica do conflito. Mas Washington acabou por não corresponder às esperanças de todos os que mantêm uma visão ponderada e racional da solução da questão síria e continua se preparando para uma ingerência nos assuntos de um Estado soberano. Nesse contexto, será legítimo colocar a questão da ajuda à Síria por parte de um dos seus parceiros mais importantes – a Rússia. Eis o que declarou a esse respeito Vladimir Putin.

“Se nós vamos ajudar a Síria? Vamos. Já estamos a ajudar. Nós fornecemos armas e cooperamos na área econômica. Espero que aumente a cooperação no âmbito humanitário, incluindo os fornecimentos de ajuda humanitária e no auxílio prestado às pessoas, à população civil, que nesse país se encontra numa situação muito difícil.”

Teria havido a possibilidade de as opiniões dos adversários da agressão à Síria que se ouviram em São Petersburgo poderem alterar radicalmente o ponto de vista de Obama? Provavelmente, não. Em política pragmática, depois de se dizer A, tem de se dizer B. Uma alteração de 180 graus é interpretada como uma fragilidade impensável, coisa que o presidente norte-americano não pode permitir de maneira nenhuma. A sua popularidade já de si é muito baixa, e uma manifestação de fraqueza e “conformismo” irá inevitavelmente afastar de Obama muitos dos seus apoiantes.

Os EUA e seus associados devem recordar que um cenário de força irá colocar os seus autores fora da lei, sublinhou Vladimir Putin em São Petersburgo. Ele recordou uma norma internacional básica: o uso da força contra um Estado soberano é permitido exclusivamente como medida de autodefesa, o que, nas atuais condições, não se verifica de maneira nenhuma: a Síria não planeja atacar os EUA. Assim, Barack Obama terá bastante em que pensar depois da cúpula do G20, onde ele ouviu análises não muito favoráveis à sua iniciativa. Ele também poderá vir a ter surpresas no Congresso, cuja aprovação ele tanto luta por obter. Aí claramente não existe unanimidade relativamente ao envolvimento do país em mais uma aventura militar.

 

 

Fonte: Voz da Rússia