Haiti: Notícias de hoje

http://www.ijdh.org/images/headline6-5-07.jpgExército prepara retomada de favela

Inteligência já tem informações sobre criminosos que fugiram da prisão

Gilberto Scofield

PORTO PRÍNCIPE. O serviço de inteligência das Forças Militares do Brasil no Haiti já começou o trabalho de localização dos cerca de três mil criminosos que fugiram da Penitenciária Nacional de Porto Príncipe depois do terremoto e se refugiaram, em sua maioria, na favela de Cité Soleil (300 mil habitantes) e no bairro bastante destruído de Bel Air, no centro da capital. Segundo um comandante do Exército, a coleta de informações para a localização dos criminosos está sendo feita com discrição entre os moradores, e uma gigantesca operação de retomada da favela e de Bel Air acontecerá “tão logo a situação mais emergencial esteja superada”.

As Forças Armadas brasileiras têm pressa. Afinal, não apenas o comando militar – como também a população dos dois bairros – teme que estes criminosos se reagrupem e voltem a aterrorizar as duas regiões.

– A operação deve ter a magnitude que a situação exige – afirmou o comandante. – Estamos planejando a ação, que deverá ser do porte da retomada de Cité Soleil, iniciada em 2006. Os moradores estão tão temerosos de que volte o terror imposto pelos bandidos que estão nos ajudando com a localização dos criminosos e das armas roubadas dos guardas e escondidas após os tremores.

Cité Soleil foi organizada para servir de moradia para os trabalhadores de uma Zona de Processamento de Exportações (ZPE) e logo virou uma gigantesca favela com a chegada em massa de camponeses. A situação degenerou com a formação de gangues que aterrorizavam a população com brigas constantes.

Em 1991, com o golpe que derrubou o presidente Jean-Bertrand Aristide, a ZPE foi fechada e a pobreza no lugar aumentou. Ali, Aristide tinha sua maior base de apoio. A escalada da violência afugentou a polícia e os serviços públicos da favela, que virou território dos bandidos. Em 2004, a ONU enviou uma missão de paz para estabilizar o país e, em 2006, as forças estrangeiras e a polícia haitiana invadiram a favela, mataram ou prenderam os principais bandidos e permitiram que alguns serviços do governo de René Préval fossem prestados.

– Não podemos deixar que volte ao que era. Os moradores não querem – diz Michel Maria Marcelie, da ONG Movimento de Organização de Cité Soleil e moradora da favela.

A operação de pacificação de Cité Soleil é considerada uma das mais importantes vitórias do comando brasileiro no Haiti e do governo Préval. A inteligência brasileira tem informações de que sete dos mais famosos bandidos que voltaram para a favela foram mortos pelos moradores, alguns com a mesma crueldade que costumavam usar para torturar a população.

– Temos informações de bandidos degolados e queimados vivos por moradores. Alguns policiais à paisana mataram outros a tiros, mas as informações ainda precisam ser checadas – disse o comandante. – O nível de indignação dos moradores é alto e há consenso de que a situação caótica de antes não pode voltar.

Fonte: CCOMSEX

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Brasil “marca posição” em território dos EUA

País organiza megaoperação de entrega de alimentos em frente a palácio presidencial, que virou base de atuação americana; “É muito importante que haja a percepção do trabalho do Brasil”, diz comandante da Minustah, que chefiou pessoalmente a distribuição

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Numa tentativa de responder à crescente visibilidade das tropas americanas no Haiti, o Brasil, que comanda militarmente a Minustah (missão de paz da ONU no país), montou ontem uma grande operação de distribuição de cestas básicas às vítimas do terremoto com objetivos assumidamente propagandísticos.

Pela manhã, 30 carros do contingente brasileiro da Minustah tomaram a avenida em frente ao principal símbolo da ruína do Estado haitiano, o palácio presidencial, em destroços desde o tremor.
É nos arredores do prédio que se reúne parte dos americanos. Helicópteros da Marinha dos EUA pousam e decolam do gramado do palácio a todo momento, recolhendo feridos e os encaminhando a um navio-hospital ancorado na costa de Porto Príncipe.

O Brasil planejava o evento havia alguns dias. Ontem, não economizou em estrutura. Ao amanhecer, nove blindados (sete Urutus, do Exército, e dois Piranhas, da Marinha) foram enfileirados ao longo de uma quadra, como se estivessem numa feira militar. Cerca de 220 militares brasileiros fortemente armados ajudavam na organização da interminável fila de haitianos que rapidamente se formou.
De dentro de caminhões, sacolas contendo leite em pó, açúcar, sardinha, presunto e biscoitos (doação do governo brasileiro) eram descarregadas pelos soldados e repassadas às mãos dos haitianos.
No total, dez toneladas de comida e 22 mil litros de água foram distribuídos durante cerca de duas horas.

http://www.correiobraziliense.com.br/files/app/noticia182/2010/01/23/168538/20100123090544631424u.jpgUma grande bandeira brasileira foi pendurada na caçamba do caminhão que distribuía as sacolas. Alguns metros adiante, um arame foi fixado num Urutu numa ponta e num caminhão na outra, formando uma espécie de varal. Ali foram estendidas, lado a lado, uma bandeira do Brasil e outra do Haiti.

Chefiando pessoalmente a operação, o comandante-geral da Minustah, o general brasileiro Floriano Peixoto, pedia a jornalistas para ser fotografado passando garrafas de água para as mãos de vítimas do terremoto. “Lamentavelmente, a imprensa tem dado pouco destaque à participação brasileira na ajuda humanitária”, declarou. Segundo ele, o palácio foi escolhido por seu poder simbólico. “É uma forma de marcar posição. É muito importante que haja a percepção do trabalho do Brasil”, afirmou.

Enquanto o general dava entrevista, um helicóptero americano lentamente se aproximou, vindo da região do porto, e deu um rasante sobre o gramado do palácio, levantando poeira. Depois, levantou voo de novo pouco antes de tocar o chão. Peixoto minimizou o gesto. “Não é nada, devem estar recolhendo algum ferido”, disse.

Segundo ele, não há competição por espaço. Como exemplo, citou o fato de uma operação de distribuição de alimentos conjunta com os EUA estar marcada para hoje -mais tarde, no entanto, o evento acabaria sendo cancelado.

Se há alguns dias o tom dos brasileiros era diplomático, hoje há sinais crescentes de irritação com os EUA. “É preciso que vocês [jornalistas] coloquem no jornal que o comando da Minustah está sendo feito por um general brasileiro, que sou eu, general Floriano Peixoto. Mais do que isso, estou também fazendo um trabalho político”, afirmou. A justificativa para a grande presença de equipamentos pesados, segundo ele, era a necessidade de organizar a distribuição.

Desde o terremoto, a praça em frente ao palácio presidencial virou um campo de refugiados improvisado. Centenas de tendas se armaram com vítimas em busca de ajuda ou pessoas que temem dormir debaixo de um teto -os tremores, a maioria de pequena intensidade, têm ocorrido todos os dias.

Pelo menos entre esse público, ontem enfrentando filas de mais de uma hora, o esforço do Brasil de mostrar quem é que manda surtiu efeito.

“Os americanos só querem achar mortos. Os brasileiros estão cuidando dos vivos”, disse Rick Rabel, 17. Para Jacob Fleulanvil, os americanos não fazem nada pelos haitianos. “Estão primeiro ajudando quem tem passaporte americano.”

Fonte: Notimp

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Buscas se encerram no Haiti, diz ONU; morte chegam a 111.499

BBC Brasil  —  O governo do Haiti declarou encerrada a fase de buscas e resgate de vítimas do terremoto que devastou o país na semana passada, segundo comunicado divulgado neste sábado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A decisão foi tomada mesmo após o resgate com vida, na sexta-feira, de duas novas vítimas, após passarem dez dias sob os escombros.

Uma das vítimas era uma mulher de 84 anos, retirada em estado grave das ruínas de sua casa na capital haitiana, Porto Príncipe, com uma severa desidratação e ferimentos profundos.

Segundo os membros da equipe que a resgataram, ela mal se mexia, tinha ferimentos por todo o corpo e vermes, que se alimentam de carne em decomposição. Ela foi levada ao hospital principal de Porto Príncipe.

Uma equipe de resgate israelense também retirou mais tarde um homem de 22 anos dos escombros de sua casa. Ele saiu debilitado, mas em condição estável, e contou ter sobrevivido bebendo a própria urina.

Ele ficou preso em um bolsão de ar criado pelos móveis de sua casa que caíram sobre ele quando o imóvel desabou.

111.499 mortes confirmadas
O Ministério do Interior haitiano divulgou nesta sexta-feira o número oficial de 111.499 mortes confirmadas no terremoto de magnitude 7 que atingiu a região da capital do país no dia 12 de janeiro.

Estima-se, porém, que o número final de mortos possa chegar a 200 mil.

Segundo o comunicado do Ministério do Interior, ao menos 193.891 pessoas ficaram feridas com o tremor, que afetou ao menos 3 milhões de pessoas, de acordo com estimativas da ONU.

Cerca de 610 mil pessoas estão desabrigadas e vivendo em campos improvisados na capital, segundo o governo. Na quinta-feira, o governo haitiano havia anunciado a transferência de 400 mil pessoas para campos de desabrigados em outras cidades do país menos afetadas.

Segundo a estimativa da ONU, mais de 130 mil pessoas desabrigadas já deixaram a capital, aproveitando as ofertas do governo de transporte gratuito para cidades no norte e no sudoeste do país.

Ajuda humanitária
O comunicado das Nações Unidas deste sábado afirma ainda que os esforços de ajuda humanitária deverão ser intensificados nas cidades afetadas pelo tremor.

Muitas vítimas do terremoto reclamam que a ajuda não tem chegado até elas. Em muitos campos de desabrigados, falta água potável, e a distribuição de alimentos é difícil.

Apesar disso, a vida em Porto Príncipe começa a voltar à rotina, com lojas abrindo e ônibus voltando a circular.

Mas as preocupações com segurança permanecem. Na sexta-feira, o chefe da polícia na região da favela Cité Soleil, Aristide Rosemont, apelou por ajuda para combater a violência na região, após relatos de saques e roubos.

Cerca de 5 mil prisioneiros conseguiram fugir da principal cadeia de Porto Príncipe durante o terremoto. Muitos deles seriam membros de gangues criminosas de Cité Soleil e teriam retornado à favela.

Sugestão colaboração: Konner

Fonte:  Terra

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Comunidade internacional desqualifica capacidade dos haitianos, diz antropólogo brasileiro

Haroldo Ceravolo Sereza
Do UOL Notícias
Em São Paulo

O antropólogo Omar Thomaz avalia que a comunidade internacional está repetindo, neste momento de emergência no Haiti, erros que já ocorriam desde o início da ação da Minustah (Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti) – o principal deles é desconsiderar as instituições e organizações haitianas. Thomaz é professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e integrava um grupo de pesquisadores brasileiros que acompanhou de perto os primeiros momentos após o terremoto que destruiu Porto Príncipe, capital do Haiti, e provocou milhares de mortes.

“A comunidade internacional é autocentrada. Os personagens no terreno têm dificuldade em se relacionar com os políticos locais. Após o terremoto, ficou evidente que a Minustah não tem canal com a comunidade haitiana”, disse ele.

Um dos exemplos mais radicais dessa separação é o fato de os médicos haitianos não estarem integrados nas ações da ajuda internacional. “Por que as entidades internacionais não entram em contato com os médicos haitianos?”, pergunta.

Para Omar Thomaz, há uma espécie de “presunção” da comunidade internacional de que não há profissionais capazes no Haiti de atuarem como parceiros. “Isso está errado. Há comércio no Haiti, e foram os comerciantes locais que forneceram primeiramente os alimentos para a população. Aquilo que aparece na TV como caos é a comunidade haitiana tentando se organizar”, afirma.

Thomaz cita como exemplos de organização a Fokal, instituição mantida pela ex-primeira-ministra haitiana Michelle Pierre-Louis, que manteve a única biblioteca pública funcionando em Porto Príncipe após o terremoto, as cooperativas de camponeses nos arredores da capital, que mantiveram o fornecimento de hortaliças, e a Fokaze, uma organização de microcrédito, a Zanmi Lasante, organização que reúne médicos haitianos, e a Crose, uma coordenação regional de organizações do Sudeste do páis.

Para Thomaz, há “personagens intelectuais” haitianos agindo, e esses nomes têm de ser contatos e incorporados pela ajuda internacional. Para ele, também, a comunidade internacional não pode transformar o presidente René Préval num “banana”. “Isso não ajuda. Ele não é visto assim pelos haitianos”, diz. “Ele está ‘perdido’ porque perdeu quase todo o ministério no terremoto. Mas ele tem de fazer parte das decisões.”

O antropólogo reconhece que a margem de manobra das instituições haitianas é limitada. Mas afirma que a ajuda internacional só pode funcionar se elas forem incorporadas. “A ajuda chega ao aeroporto, mas não há quem a distribua. As organizações internacionais não conhecem o Haiti, mas os haitianos conhecem. É preciso deixar de ver os haitianos como vítimas passivas, eles são vítimas ativas. Não se pode fingir que não existem elites, que não existe universidade no Haiti. Isso é mentira.

Eleições
Thomaz acha que dificilmente ocorrerão as eleições legislativas que estavam previstas para o fim do mês de fevereiro.

Mas, segundo ele, a política haitiana vai ter de ser reorganizada. Boa parte dos senadores morreu na tragédia, bem como muitos ministros. Ou seja, Legislativo e Executivo foram duramente atingidos pelo terremoto.

“Para os haitianos, há uma percepção de que o cargo relevante mesmo é a Presidência da República”, afirma.

Na sua opinião, o ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, não deve retornar ao país neste momento. Aristide chegou a declarar que gostaria de retornar ao Haiti para ajudar na reconstrução. “Aristide sabe que poderia provocar uma convulsão nesse momento. O país esta em carne viva. E ele sabe disso”, diz Thomaz.
Sugestão e colaboração: Konner

Fonte:  UOL