Destituição de presidente agrava turbulência na Ucrânia; entenda

Aglomeração na Praça da Independência, em Kiev, neste sábado (AFP)Ucrânia está no centro de uma disputa entre UE e Rússia

A destituição, pelo Parlamento, do presidente Viktor Yanukovych aumentou, neste sábado, a turbulência sociopolítica na Ucrânia, após uma semana de sangrentos protestos na capital Kiev.

Yanukovych recusou-se a abandonar o governo e afirmou que a medida do Parlamento – que prevê eleições em maio – é um “golpe de Estado”. Na prática, porém, a administração presidencial e a própria Kiev já estão fora de seu controle.

Ao mesmo tempo, a líder opositora e ex-premiê Yulia Tymoshenko foi libertada (após ter sido condenada, em 2011, a sete anos de prisão, por abuso de poder) e discursou a uma multidão na Praça da Independência, em Kiev, pedindo a continuação dos protestos.

Os desdobramentos deste sábado se seguem a três meses de protestos antigoverno. Em 18 de fevereiro, a violência dos enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança chegou a níveis inéditos – até o momento, o governo calcula 88 mortos na onda de confrontos.

A crise coloca em xeque o futuro dos 45 milhões de habitantes da Ucrânia, que ficam no meio de uma disputa de poder estratégica entre Rússia e o Ocidente.

A BBC Brasil fez um guia para explicar o que está em jogo:

O que motiva os protestos?

Os protestos começaram quando Yanukovych rejeitou, em novembro, um acordo com a União Europeia, preferindo uma aproximação comercial com a Rússia.

Milhares de pessoas – favoráveis à integração com a Europa – deram início a manifestações pacíficas e à ocupação da Praça da Independência.

Desde então, houve repressão policial aos protestos, a aprovação de leis restringindo as manifestações e a prisão de ativistas – fazendo com que as demonstrações antigoverno se intensificassem.

Muitas pessoas começaram a protestar menos por causa da integração à Europa e mais por temer que Yanukovych estivesse tentando servir aos seus próprios interesses e aos de Moscou.

O que causou a violência de fevereiro?

Yulia TymoschenkoYulia Tymoschenko foi libertada e discursou para multidão em Kiev

O derramamento de sangue de 20 de fevereiro foi o mais grave até o momento. Acredita-se que 77 pessoas tenham sido mortas e 600 feridas em 48 horas.

Vídeos mostram franco-atiradores disparando contra manifestantes. Os dois lados se culpam mutuamente, mas ainda não está claro quem atirou a primeira pedra ou disparou o primeiro tiro.

Governo e oposição fizeram, então, um acordo, que previa anistia a manifestantes presos e a desocupação, por parte dos opositores, de prédios estatais.

A oposição também pedia que o Parlamento discutisse mudanças na Constituição para reduzir os poderes presidenciais. Como isso não foi aceito, opositores promoveram manifestações diante do Legislativo.

Quem são os manifestantes?

Os protestos são mais fortes na região de Kiev e no oeste ucraniano (onde é maior a afinidade com a Europa e o Ocidente) do que no leste e no sul, onde fala-se russo graças à imigração durante o período soviético.

Os líderes de três partidos da oposição – Vitali Klitschko, do movimento Udar, pró-UE; Arseniy Yatsenyuk, do Fatherland, maior grupo opositor; e Oleh Tyahnybo, da extrema direita Svoboda- estão na Praça da Independência, tentando direcionar os protestos e angariar apoio.

Mas parte da população mantém sua desconfiança quanto a eles. O partido Fatherland, em especial, é criticado por seus anos recentes no governo e considerado como parte do establishment político.

Alguns grupos de extrema direita estão na dianteira dos confrontos com a polícia, mas não está claro se eles têm apoio de grande parte dos ucranianos.

O que está em jogo?

A crise na Ucrânia faz parte de um cenário maior. O presidente russo, Vladimir Putin, quer fazer de seu país uma potência global, que rivalize com EUA, China e UE. Para isso, ele está criando uniões aduaneiras com outros países e vê a Ucrânia como parte crucial disso – inclusive pelos profundos laços históricos e culturais entre ambos.

Já a UE defende que a aproximação com a Europa e eventual entrada no bloco europeu trariam bilhões de euros à Ucrânia, modernizando sua economia e dando-lhe acesso ao mercado comum europeu.

Viktor YanukovychViktor Yanukovych diz ser vítima de um golpe de Estado; parte do país já não está mais sob o seu comando

No leste, muitos ucranianos que trabalham em indústrias (fornecedoras da Rússia) temem perder seus empregos se Kiev se aproximar da Europa. Mas, no oeste, muitos anseiam pela prosperidade e pelo estado de direito que, acreditam, podem ser alcançados com acordos com a UE.

O país será dividido em dois?

Muito se fala das divisões linguísticas e culturais entre leste e oeste da Ucrânia.

Mapas mostram que áreas onde grande parte da população fala russo votaram em massa por Yanukovych em 2010. Para alguns analistas, isso indica que o país pode rachar ao meio, de forma violenta, caso não se negocie uma saída para a crise.

Outros alegam que essa divisão é improvável – e que, mesmo no leste pró-Rússia, muitos se identificam como ucranianos.

O que fez aconteceu com Yanukovych?

O presidente havia assinado um acordo com líderes da oposição, após conversas com chanceleres de três países europeus (França, Alemanha e Polônia).

Ele ofereceu eleições antecipadas (em dezembro) e a formação de uma nova coalizão de governo, dizendo-se preparado para reformar a Constituição e devolver mais poderes ao Parlamento.

Mas na noite deste sábado, a guarda armada ao redor dos escritórios governamentais sumiu; o destino de Yanukovych também se tornou incerto.

Aparentemente, ele deixou a capital, mas deu uma entrevista de TV insistindo que ainda está no poder.

Só que sua arquirrival Yulia Tymoshenko foi libertada e levada a Kiev, cidade que Yanukovych parece não mais controlar. Muitos de seu partido também parecem desertá-lo.

Qual o papel da Rússia?

A Rússia claramente tem uma forte influência sobre Yanukovych, o qual foi apoiado por Moscou durante a Revolução Laranja de 2004 – quando sua eleição foi considerada fraudulenta.

A Rússia suspendeu empréstimos quando o governo ucraniano renunciou e restringiu o comércio bilateral quando a Ucrânia flertou com o Ocidente. A UE chamou isso de pressão econômica “inaceitável”.

Moscou acusa a UE de tentar fazer o mesmo ao oferecer acordos de livre comércio a Kiev.

Nos bastidores, acredita-se que esteja operando também a grande força de ricos oligarcas ucranianos. O mais rico deles, Rinat Akhmetov, emitiu comunicado apoiando protestos pacíficos. Outros oligarcas parecem apoiar Yanukovych.

Fonte: BBC Brasil

11 Comentários

  1. Faltou habilidade deste presidente (ou ex-presidente) em cancelar o acordo com a UE sabendo de toda a expectativa e tensão interna. Literalmente tirou o doce da boca da criança… Os simpatizantes do ocidente já estavam preparados para “agitar” caso isso acontecesse … e aconteceu! Os países que foram dominados pela antiga União Soviética tem aversão aos Russos (conversem com poloneses e verão o que eles acham) por trauma do antigo regime totalitário comunista e agora fica difícil conseguir a simpatia dos mesmos a Moscou. Se Yanuhovych fosse esperto, teria alinhado (enrolado) uma política que agradasse gregos e troianos evitando este caos que virou a Ucrânia.
    Abraço,

    • Quero ver vc convencer um esquerdopata que é o povo ucraniano quem não quer conversa com os russos… assim como o povo venezuelano não quer mais saber da esquerda mentirosa do masburro… vai cair… vai cair… caiu…

  2. Desconstruindo a traição de Yanukovich (e Yulia vai ser solta!)

    22/2/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker
    “Deconstructing Yanukovich’s treason (and Yulia on her way to freedom!)”
    Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

    The Saker
    Então é isso. Yanukovich capitulou vergonhosamente. Assinou um acordo com os insurgentes, o qual, segundo a BBC inclui os seguintes itens:
    A Constituição de 2004 será restaurada em 48 horas; e será formado um governo de unidade nacional dentro de 10 dias;
    Reforma da Constituição que tornará equivalentes os poderes do presidente, do governo e do Parlamento, a ser imediatamente iniciada, para estar completada até setembro;
    Eleição presidencial a ser realizada depois de a nova Constituição ser adotada, mas não depois de dezembro de 2014 e novas leis eleitorais a serem aprovadas;
    Investigação sobre os recentes atos de violência, sob monitoramento conjunto das autoridades, da oposição e do Conselho da Europa;
    As autoridades não imporão “estado de emergência” e os dois lados, autoridades e oposição cuidarão de evitar o uso de violência;
    Todas as armas ilegais serão entregues a unidades do Ministério do Interior.

    E o que significa tudo isso, em palavras claras?

    Viktor Yanukovich
    O dito “retorno à Constituição de 2004” significa, na verdade, que o presidente entregou todo o controle sobre a polícia e as forças de segurança, ao Parlamento. Assim, de um ponto de vista legal, Yanukovich entregou aos insurgentes o comando sobre as forças antitumulto (Berkut). Os mesmos insurgentes que até ontem espancaram, queimaram, agrediram, torturaram e assassinaram policiais das forças antitumultos hoje estão no comando, com autoridade sobre aqueles mesmos policiais que Yanukovich pôs nas ruas até ontem com ordens para não usar força letal.

    À luz dessa absoluta monstruosidade, só posso aplaudir a sabedoria e visão civilizada dos governadores de Kharkov e da Crimeia, que tiraram das ruas todas as suas forças Berkut.

    O chamado “governo de unidade nacional” significa que os insurgentes passam a governar o país, mas sem qualquer responsabilidade pelo desastre político, econômico e social no qual a Ucrânia será imediatamente mergulhada.

    Quanto à chamada “investigação dos recentes atos de violência” evidentemente absolverá os terroristas e insurgentes de qualquer crime; e culpará os policiais que tentaram manter a lei e a ordem e proteger a presidência eleita.

    É “acordo” que entrará para a história como um dos
    maiores atos de traição nacional dos tempos modernos.

    Yulia Timoshenko
    Desnecessário dizer que os verdadeiros “cabeças” da insurgência, o chamado “Bloco da Direita”, rejeitou o acordo e prometeu continuar na “resistência” até completa “mudança de regime”.

    Esse recente desenvolvimento realmente vira uma página. O experimento de uma Ucrânia como estado unitário claramente fracassou e, a menos que ocorra um milagre, o país mergulhará numa guerra civil, ao cabo da qual o país será dividido em duas ou mais partes, o que já parece inevitável.

    Kiev caiu e o novo “Front Ocidental” andou cerca de 400 km na direção leste. Está para começar um longo conflito.

    The Saker

    PS: Acabo de ouvir que o Parlamento controlado pela “insurgência” acaba de aprovar uma ordem para libertar Yulia Timoshenko. Ótimo! Espero que Yanukovich passe imediatamente a ocupar a cela onde esteve Yulia: ele merece cadeia, muito mais do que ela jamais mereceu.

    http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/02/desconstruindo-traicao-de-yanukovich-e.html

    • O Petralha não tem o que dizer e posta as péssimas linhas de um imbecil covarde que se autodenomina “The Saker” que apenas escreve besteira. Afinal, como levar a sério um elemento que fala em “Império anglo-sionista”Não tem credibilidade alguma!

  3. Na verdade a verdade é que tem muito mais caroço nisso do que se pensa.
    Ocidente e Oriente disputam a Ucrânia e supremacia de quem vai manipular mais e quem vai manipular menos .
    A Ucrania é muito grande, está localizada em local estratégico, ainda possui muito petróleo e gás, possui um terra fértil de nome Chernozen em 65% do território, indústria e tecnologia forte que interessa a China e outros países e que em certo momento interessou ao Brasil mas fomos sabotados pelos EUA .

    http://www.otrabuco.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=59606

    Na verdade mesmo eu quero saber o que seria melhor para o BRASIL.

  4. Esse virada pró Moscou do Yanukovych só prova uma coisa, quem tem C tem medo. Ele que começou sendo anti Russia depois de provar um envenenamento a base do provável elemento polônio, que o levou a longo período em tratamento para descontaminação, mudou radicalmente de posição. Nesse ínterim os Russos, assim como os Yankes, são muito persuasivos quando tratam de manter seus interesses sob controle.

  5. É desse tipo de serviço secreto que o Brasil precisa desesperadamente!!

    Certo que os ucranianos foram muito faceis de manipular…

    A contra informação da CIA agradece e merecem até um champanhe pela eficiência da missão!!!

    Pra quem duvida do real interesse em derrubar o governo liberal eleito democraticamente na Ucrânia, basta ver o mapa dos Oleodutos e Gaseodutos RUSSOS que passam pelo pais…

    Valeu!!

  6. Algumas perguntas:Será q o gás p à Ucrânia vai continuar subsidiado?Quanto $erá dado a Ucrânia p continuar a movimentar e pagar suas Obrigações p UE e será > q os Russos ofereceram? Qual será a reação da população Russa da Ucrânia ? Quem viver verá.Sds.

Comentários não permitidos.