Patrick McGroarty /Paulo Trevisani
A disparada da inflação nos mercados emergentes ameaça desestabilizar a economia mundial logo num momento em que a situação nos Estados Unidos e na Europa começa a melhorar.
Moedas em queda na América do Sul, Ásia e África estão exacerbando o problema da inflação e forçando bancos centrais de vários países a aumentar os juros, ainda que suas economias estejam desacelerando.
A África do Sul foi um dos países mais atingidos. Sentindo o golpe, muitos mineiros e operários de outros setores entraram em greve e garantiram aumentos salariais de dois dígitos percentuais que estão corroendo as margens de lucro das empresas.
A Sheffield Manufacturing Ltd., uma fabricante de autopeças e talheres da cidade portuária de Durban, está em maus lençóis. A fraqueza da moeda local, o rand, fez subir o custo do níquel e do cromo importados. Como a Sheffield não pode repassar esses custos aos consumidores para não perder competitividade, seu lucro caiu 7% no ano fiscal que se encerra este mês.
No ano passado, metade dos 90 empregados da Sheffield conseguiu um aumento de 10% depois de uma greve de um mês. “É ridículo. Estou sofrendo para conseguir um reajuste de 5% nos preços”, diz Kevin Buckley, diretor-gerente da empresa.
No Brasil, o Banco Central vem elevando os juros desde o ano passado e deve fazê-lo de novo este mês. Mas isso não tem sido suficiente para controlar a inflação. O governo anunciou na sexta-feira que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, de janeiro foi de 5,6% no acumulado dos últimos 12 meses — abaixo das expectativas, mas bem acima da meta do governo, de 4,5%. O real perdeu 20% do seu valor em relação ao dólar no período de um ano.
Isso está prejudicando empresas como a importadora de vinhos que Adilson Carvalhal Jr. tem em São Paulo. Ele reclama que seus custos saltaram 15%, enquanto as vendas caíram. “Começamos a ficar acima do nível de preços que os consumidores estão dispostos a pagar”, diz.
Os dados da inflação de janeiro na Tailândia, Indonésia e Filipinas também foram maiores que o esperado. Além do Brasil, a África do Sul, a Turquia e a Índia foram outros países emergentes que elevaram os juros nas últimas semanas. Amanhã, a Indonésia pode anunciar um novo aumento.
O risco é que os problemas dos países em desenvolvimento, que respondem por metade da produção mundial, possam comprometer o início da recuperação nos países desenvolvidos. O Japão, que está se recuperando de anos de uma deflação paralisante, tem nos mercados emergentes seus principais destinos de exportação. E também a China vende cada vez mais mercadorias para outros países em desenvolvimento.
“A história do crescimento dos mercados emergentes já não é tão reconfortante como costumava ser”, diz Frederic Neumann, economista do HSBC Holdings HSBA.LN -0.03% em Hong Kong.
Temores de uma crise nos mercados emergentes levaram investidores a vender ações e títulos de dívida desses países este ano, embora o ritmo das vendas tenha diminuído. Segundo o Barclays, BARC.LN -1.33% eles desovaram US$ 18,6 bilhões em ações de bolsas de emergentes desde o início de 2014, comparado com US$ 15 bilhões no ano passado todo. A fuga de capital nos mercados de renda fixa somou US$ 6,6 bilhões este ano, ante US$ 14,3 bilhões em 2013.
O J.P. Morgan Chase JPM +0.21% & Co. reduziu na semana passada sua previsão de crescimento para o Brasil em 2014, de 2,1% para 1,5%, em parte devido à queda nas exportações para a Argentina, que, juntamente com a Venezuela, enfrenta uma inflação galopante. O banco também cortou suas projeções para México, Turquia, África do Sul, Tailândia e Chile.
Alguns economistas dizem que o mundo em desenvolvimento não representa uma ameaça tão grande assim. À medida que os países industrializados se fortalecem, seus consumidores e empresas vão comprar mais produtos da Ásia, África e América do Sul, impulsionando a recuperação global, dizem eles.
O Fundo Monetário Internacional prevê que os emergentes crescerão 5,1% este ano, acima dos 4,7% em 2013, e que os países desenvolvidos avançarão 2,2%, bem mais que o 1,3% de 2013.
Ainda assim, Neumann, do HSBC, calcula que o crescimento mundial pode cair em 0,5 ponto percentual este ano devido à fraqueza dos países emergentes.
Fonte: The Wall Street Journal
“Governos populistas em mercados emergentes ameaça recuperação global”
Desconstrução de uma bobagem…
Então, o Professor Sam está entre os cinco frágeis? Vê se se manca, Dona Janete
17 de fevereiro de 2014 | 14:01 Autor: Fernando Brito
Semana passada, quando toda a imprensa batia palmas para a canhestra declaração da nova presidente do Federal Reserve de que o Brasil era um dos chamados “Cinco Frágeis” da economia mundial, este modesto blog disse que era “muito bonito falar da casa alheia” , quando as contas públicas dos Estados Unidos era muito, mas muito piores do que as nossas, com a diferença – imensa – de que não podemos emitir dólares.
Pois não é que hoje o Valor publica uma matéria dando conta de que, se as economias ricas não se excluíssem da classificação do Morgan Stanley de que Índia, África do Sul, Indonésia, Turquia e Brasil formam aquela lista, haveria um outro integrante: os próprios EUA.
Isso demonstra o quão tola será a política dos governos das economias centrais se ceder à tentação de chamar de volta, como uma manada, o capital que espalharam pelo mundo após a crise de 2008.
Derrubar moedas pelo mundo afora pode ser um bom negócio para os capitais privados que ganham na desmobilização de investimentos locais, mas não é bom para a frágil – sem trocadilho – situação de economias que estão se livraram do excesso de moeda mandando ela passear no exterior.
Por mais que controlem o padrão de valor mundial, os Estados Unidos estão a muitos anos-luz de distância de mostrarem vigor econômico.
A crise, de alguma forma, mostrou que não é preciso depender deles de forma canina.