LIVRO DIZ QUE ILHAS FALKLAND SÃO URUGUAIAS

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Livro diz que ilhas Falkland / Malvinas são uruguaias

As Malvinas, na verdade, pertenciam ao Vice-Reino do Rio da Prata e foram administradas a partir da estação naval em Montevidéu. Porém, naquela época, tal território pertencia à Coroa espanhola e o Uruguai que conhecemos hoje ainda não existia.”

Ana Ribeiro, historiadora uruguaia

Gerardo Lissardy

BBC Mundo

 

Um livro que afirma que as ilhas Falkland (chamadas de Malvinas na Argentina) podem pertencer ao Uruguai adicionou mais um capítulo à polêmica sobre o arquipélago.

A ideia, entretanto, é refutada por historiadores.

A tese partiu do arquiteto uruguaio John Ackermann e do engenheiro agrônomo argentino-uruguaio Alfredo Villegas e é baseada em um tratado de 1841 mencionado pelos dois autores em seu livro “Las Malvinas ¿son uruguayas?” (“As Malvinas são uruguaias“, em tradução livre).

Segundo eles, o acordo, assinado pela Espanha e pelo Uruguai, teria cedido ao país sul-americano os poderes que o porto militar de Montevidéu tinha sobre o arquipélago do Atlântico Sul.

Para Ackermann e Villegas, o tratado não perdeu a validade.

“Queremos divulgar os documentos que envolvem tal acordo e a história que se sucedeu a partir daí. E, ao analisá-los, chega-se à conclusão de que as Malvinas são uruguaias”, disse Ackermann.

“Estamos fazendo uma reivindicação histórica”, acrescentou ele à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Assunto esquecido

Ackermann lembrou que, 17 anos após esse tratado, a Espanha assinou um acordo similar com a Argentina, mas na ocasião informou que o país não poderia “ceder o que já cedido para o Uruguai”.

Villegas acrescentou que o mesmo pacto hispânico-uruguaio se baseou em um tratado antártico validado pelo Senado argentino mais de um século depois, em 1974, um “documento que ninguém nunca menciona.”

“A pergunta que me faço é o que os senadores argentinos estavam fazendo quando assinaram um documento baseado em um tratado que invalidava o controle do país sobre as Malvinas”.

Villegas negou que o livro contenha um ineditismo histórico e afirmou que intelectuais uruguaios, como Eugene Petit Muñoz (1896-1977), já havia feito menção sobre tal possibilidade há um século.

“O que acontece é que nunca ninguém se aprofundou no assunto”, disse ele.

“Nós simplesmente levantamos uma questão que estava esquecida.”

Contradição

O livro, que foi publicado em 2012 sem levantar polêmica, reacendeu as discussões sobre o assunto durante uma palestra ocorrida na semana passada no balneário uruguaio de Punta del Este.

A possibilidade de o Uruguai ser o verdadeiro dono das Malvinas ocorre em meio a um reaquecimento da longa disputa diplomática entre Argentina e Reino Unido sobre o arquipélago, três décadas após a guerra que opôs os dois países.

A polêmica entre argentinos e britânicos também leva em conta aspectos históricos sobre quem descobriu as ilhas e como elas foram habitadas.

Em março deste ano, os habitantes do arquipélago devem votar em um referendo sobre se querem continuar ligados ao Reino Unido.

O Uruguai, por outro lado, nunca alegou direitos sobre as ilhas, embora Ackermann disse que poderia reivindicá-los enquanto que Villegas afirmou que o país poderia aproveitar para negociar com a Argentina questões comerciais e bilaterais.

O presidente do Uruguai, José Mujica, fez um comentário sobre a reivindicação argentina das ilhas durante uma cerimônia realizada em maio, que contou com a presença do embaixador argentino em Montevidéu, Dante Dovena.

“Não somos indiferentes em relação à possibilidade das Malvinas serem uruguaias. Mas isso é uma questão para depois”, disse Mujica na ocasião, segundo publicou o jornal uruguaio El Observador.

Ceticismo

Questionada sobre o livro, a historiadora uruguaia Ana Ribeiro, uma das mais conhecidas do país e especializada em pesquisa histórica, disse: “Trata-se de um tema que, sem dúvida, que incentiva e provoca certa polêmica”.

Para Ribeiro, entretanto, o Uruguai não tem um argumento de peso para reclamar o controle das ilhas.

“As Malvinas, na verdade, pertenciam ao Vice-Reino do Rio da Prata e foram administradas a partir da estação naval em Montevidéu. Porém, naquela época, tal território pertencia à Coroa espanhola e o Uruguai que conhecemos hoje ainda não existia”, explicou ela.

“Um historiador nunca pode olhar para apenas um detalhe. A História é muito mais complicada”, acrescentou.

Na avaliação da historiadora, pela mesma linha de raciocínio, o Uruguai também poderia reivindicar o controle dos Sete Povos das Missões (aldeamentos indígenas fundados por jesuítas espanhóis no atual território do estado do Rio Grande do Sul), que foram ocupados pelos portugueses no início do século 19.

A BBC Mundo tentou contatar o Ministério das Relações Exteriores uruguaio sobre o assunto, mas não recebeu uma resposta até o fechamento desta reportagem.

 

Fonte: BBC Brasil 

 

Releia matéria, acerca do assunto em questão, postada também no Plano Brasil em 2011:

A PROVÍNCIA CISPLATINA (MEMÓRIA DESCRITIVA)

Sugestão: Gérsio Mutti

Título alterado por sugestão do colaborador Gérsio Mutti para:

A história da geoestratégia britânica do século XIX sobre a fragmentação do Império espanhol na América do Sul

A Colónia do Sacramento, de que já aqui falei há semanas atrás, fundada por Portugal em 1679 e perdida para a coroa espanhola em 1777, voltou à nossa posse em 1817, quando D. João VI incorporou toda a região do actual Uruguai no Brasil. A região anexada recebeu o nome de “Província Cisplatina”- prefixo cis – do mesmo lado – e platina de Rio da Prata: portanto, do mesmo lado do Rio da Prata (que o Brasil). Durante um século, Sacramento fora por diversas vezes ganha e perdida nas lutas com as tropas espanholas ou nas guerras diplomáticas, até que o Tratado de Santo Ildefonso, assinado em 1777, a fixou como possessão espanhola.

Como sabemos, em Novembro de 1807, D. João VI, ameaçado pela invasão napoleónica, transferiu a Corte para o Brasil. No Congresso de Viena, em 1815, o Brasil foi integrado como Reino, constituindo o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Por outro lado, a ida da Corte para o Rio de Janeiro, levou o rei a preocupar-se com o engrandecimento daquela gigantesca possessão portuguesa.

Em 1815, a Casa de Bourbon fora banida do trono de Espanha pelas forças napoleónicas. D. João VI temeu que os espanhóis o imitassem, reproduzindo Espanha no novo Mundo, e na região circundante do rio da Prata nascesse um reino poderoso. Por isso, em 1816, a “Divisão dos Voluntários Reais”, sob o comando do General Carlos Frederico Lécor, invadiu a região oriental, tomou Maldonado e ocupou Montevideu em 1817. Carlos Frederico Lécor, Barão de Laguna (1764-1836) foi um militar e nobre português, mas que serviu o Brasil após a independência.

O Vice-Reino do Rio da Prata, que podia ser a base do tal «reino poderoso» temido por D. João VI, fora criado em 1776. Compreendia os territórios da actual Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai (este último dentro do território conhecido à época como Banda Oriental do Uruguai). Foi criado principalmente como aquilo que hoje designaríamos como zona-tampão, defendendo o império espanhol da cupidez britânica e portuguesa.

O plano português não foi mal recebido no vice-reinado em plena revolução independentista, mas falhou por oposição de Lord Strangford, embaixador britânico junto da Corte portuguesa, pois à Grã-Bretanha convinha a fragmentação das colónias espanholas em pequenos países formalmente independentes. Um novo mastodonte como o Brasil e o sistema de comércio vigente na América colonial impunha um monopólio favorável à Espanha e inconveniente para os interesse económicos britânicos. Pelas mesmas razões, apoiar a expansão dos territórios portugueses nas região, também não interessava à Grã-Bretanha.

Assim, com o beneplácito do Governo de Sua Majestade, começara, anos atrás, a gesta da libertação da América Latina. Simón Bolívar ( 1783 —1830), o «Libertador», conquistava Caracas em 6 de agosto e proclamava a Segunda República Venezuelana. Bogotá, na Colômbia caiu em 1814. Em 1816 a Argentina proclamava a sua independência. No território da banda Oriental, desde 1810, o patriota uruguaio José Gervasio Artigas (1764 —1850) dera também início a um movimento independentista que enfrentou os portugueses até 1820 e depois os brasileiros que, proclamada a sua independência em 1822 mantiveram no entanto a colónia.

Integrando-se neste movimento geral de libertação das colónias espanholas, Artigas juntou-se aos insurrectos, sendo nomeado tenente-coronel pela junta de Buenos Aires. Derrotou os espanhóis na batalha de San José, em 1811, obrigando-os a refugiar-se em Montevideu. Venceu-os também na batalha de Las Piedras e sitiou a cidade. José Artigas, considerado o pai da pátria uruguaia, presidiu ao primeiro governo nacional sendo, no entanto, em 1820 forçado a refugiar-se no Paraguai.

Em 1811, as forças portuguesas haviam ajudado os espanhóis, sitiados em Montevideu, a repelir Artigas e a combater os rebeldes argentinos. Derrotado pelas forças portuguesas na batalha de Catalán, em 1817, Artigas durante três anos remeteu-se à guerrilha. Não podendo mais resistir, após a derrota na Batalha de Tacuarembó em 1820, asilou-se no Paraguai, onde morreu trinta anos depois, sem voltar ao seu país.Com a Independência do Brasil (1822), a Colónia passou a integrar os domínios do novo país até à Independência da República Oriental do Uruguai, em 1828.

Teve então lugar uma prolongada guerra (seis anos) entre o Brasil e a Argentina (que se designava por Províncias Unidas), reivindicando ambos os países a posse do território da Cisplatina. A Grã-Bretanha, a superpotência da época prosseguindo a sua estratégia de fragmentação do império espanhol, obrigou os dois jovens países a assinar um tratado de paz pelo qual reconheciam a independência do novo Estado. Foi em 28 de agosto de 1828 que foi assinado o Tratado do Rio de Janeiro, ratificado em 4 de Outubro do mesmo ano, consagrando a independência do Uruguai. Uma das condições ditadas pelos ingleses era a de o novo estado nunca se unir ao Brasil ou à Argentina.

Comentando o Tratado, um alto responsável britânico, disse: «Pusemos algodão entre dois vidros».

Fonte: Aventar via Plano Brasil em Guerra & Armas 

6 Comentários

  1. Seja como for, o que é reconhecido internacionalmente é que a reivindicação, assim como a posse, do arquipélago sob a bandeira das Províncias Unidas do Rio da Prata ( “embrião” da Argentina ), antecede até mesmo a existência do Uruguai. Aliás, o Uruguai sequer pertencia mais a esse país quando a exploração portenha começou, sendo parte integrante do Império Português formalmente de 1820 até 1821 e do Império do Brasil pelos idos de 1822 a 1828. Ou seja, creio que dificilmente essa alegação uruguaia poderia ser levada a sério… E ela perde sentido quando da conquista desse território por um povo que já se perpetua ali por gerações…

  2. Ou seja, a Argentina nos atrapalhou (mais uma vez) na posse de um precioso territorio que poderia ser nosso agora!

  3. Perdeu, perdeu, deita chora, fica-se revoltado, mas no final se aceita. Vai fazer o que? Guerra a Argentina perdeu, nem Forças Armadas tem direito hoje. O Uruguai idem. Já se passaram tantos anos (quase 200), esse tipo de coisa é o mesmo do Brasil começar exigir a reintegração do Uruguai ao nosso país.
    O mesmo serve para os bolivianos, perderam, acabou.
    Pra ter de volta, só na força e não têm condições. Aceitem logo e vão gastar energia em outros problemas, às vezes até mais importantes e urgentes.

  4. Meu Deuses, é cada uma que aparece!!…Se eu entendi essa salada de frutas direitinho… As Malvinas ficaram sob jurisdição de Montevidéu em 1841, e os argentinos aceitaram esse tal Tratad0 sem chororô. Mas o Uruguai era para ser brasileiro, logo Montevidéu também, sendo assim as Falklands pertencem de direito não é nem à Argentina, nem à Ingraterra, nem ao Uruguai, mas sim ao Brasil.
    E deveriam ser chamadas de Banânias do Sul. rsrsrs!!!

  5. Legal… rssss…
    Então o Uruguai é nosso. Por consequência, as Mavinas também!
    Perdão… Então, é tudo de Portugal (inclusive nós)… raiosss….. rssss…

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