“A OTAN destruiu nosso país de maneira sistemática e sem piedade”

belgrad

Operação militar da OTAN contra a Iugoslávia codinome “Allied Force”. Envolvendo 19 países membros da aliança, por 11 semanas de bombardeios constantes, mais de dois mil civis e milhares de militares foram mortos apartir de – 24 de março de 1999. Foram usadas novas armas como, bombas de fragmentação e grafite com urânio empobrecido.

Konstantin Kachalin

Em longos anos de trabalho em Belgrado, eu fiz amizade com a notável família de Zoran Mladenovic. Ele tem uma esposa maravilhosa – Snezhana, a filha Jovana e o filho Vuk. Durante todo o tempo em que a OTAN bombardeou a Sérvia e Montenegro, Zoran ajudou os grupos de filmagem da televisão russa.

Junto com os correspondentes e cinegrafistas, ele esteve nas zonas de conflito e viu tudo o que aconteceu naqueles dias não apenas em Belgrado, mas também em todo o país. Ele, tal como milhões de sérvios, teve de passar por muitos momentos trágicos e difíceis. Em meu diário ficaram suas lembranças:

“Quando em 24 de março de 1999 começaram a bombardear nossa capital, a primeira bomba caiu perto da casa onde eu sempre praticava esporte. As pessoas começaram a correr do edifício gritando: “A OTAN bombardeia Belgrado”. Mas nós não nos assustamos e continuamos a nossa tarefa. Mais bombas e mísseis foram lançados no bairro Strajavitsa. Ali se encontravam unidades de nosso exército. Elas estavam em instalações subterrâneas e, por isso, a OTAN bombardeou esta região sem parar, dia e noite, mas não conseguiu perfurar os túneis. Na época, minha esposa estava grávida e eu temia por ela. Eu levei minha esposa para a casa de parentes na aldeia. Mas a aviação da OTAN bombardeou também essa zona. Por isso eu fui obrigado a mandar Snezhana para Budapeste. Ela não queria sair de Belgrado, mas eu a convenci a ir para Budapeste, junto com a nossa filha de oito anos.

Eu voltei para Belgrado e comecei a trabalhar com os correspondentes da Rússia. Eram jornalistas do Canal 1 e do canal NTV, RTR eu os levei por todo o país. Nós estivemos várias vezes em Kosovo e Montenegro, percorremos toda a Sérvia. Assim que eu vi com meus próprios olhos o que a OTAN fez com o meu país. Quando acabaram os bombardeamentos, eu trouxe minha esposa e filha de volta para a Sérvia. E alguns meses depois ela deu à luz meu filho Vuk.

Nós salvamos a vida e a saúde, mas perdemos um terreno. Eu tinha comprado 2500 metros quadrados no litoral montenegrino do Adriático. Mas justamente nesta região, na ocalidade de Lushtitsa em Montenegro, jogaram urânio empobrecido. Agora todo o solo e água estão contaminados e isto é uma ameaça para as pessoas. Sendo que a aviação da OTAN fez isto várias vezes e toda a região está coberta com o pó de urânio. Há tanto urânio lá que é suficiente para várias gerações. Por isso nós tememos pela saúde de nossos filhos e vendemos o terreno.

Eu sei que vários de meus vizinhos, que não conseguiram vender esta terra contaminada, depois de 1999 começaram a adoecer. Meu vizinho, ele é sérvio, refugiado da Croácia, foi atingido ainda em 1995. Ele, tal como outros 300 mil sérvios, simplesmente foram expulsos da Croácia, tiraram-lhes tudo. Ele, que já era infeliz, teve um filho pequeno que adoeceu com leucemia em 2000. E os médicos não conseguiram salvá-lo. O menino morreu. Parte das pessoas sofreram porque trouxeram para casa partes desses mísseis. Neles havia muito urânio. Depois eles souberam o que eram esses pedaços na realidade. Mas já era tarde. Doença e morte. Há vítimas também entre os militares, que depois descontaminaram esse território. Alguns deles já morreram.”

Perguntei a Zoran: por que razão a aviação da OTAN bombardeou tão impiedosamente o litoral adriático de Montenegro? Será que lá havia alvos militares que deveriam ser destruídos? Zoran respondeu de forma simples, mas a resposta não foi menos terrível por isso.

“Lá havia apenas bosques, montanhas, mar e uma pequena praia muito limpa. Mais nada. Dois aviões A-2 simplesmente lançaram toda sua carga de bombas nesse lugar. Não entendi porquê, talvez eles tenham decidido que voar mais longe era perigoso e livraram-se das munições e depois voltaram para seus porta-aviões.”

 

Fonte: Voz da Rússia

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