Centro de Guerra na Selva do Exército reforça laços internacionais

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Nas primeiras quatro semanas do Curso de Operações na Selva (COS), os participantes aprendem lições em diversas situações reais, como tiro, deslocamento em selva portando equipamentos, salto de helicóptero de uma altura de até 40 metros na terra e água, e movimentações da tropa. [Foto: Luís Gustavo da Silva/CIGS/EB]

Por Patrícia Comunello

O Centro de Guerra na Selva (CIGS) do Exército Brasileiro (EB) , que já é referência no mundo na formação de combatentes, vai se internacionalizar ainda mais através de dois eventos previstos para este ano sem sua sede em Manaus, capital do Amazonas.

O CIGS está preparando a primeira edição do Estágio Internacional de Operações na Selva (EIOS) e um simpósio com o Exército dos Estados Unidos para fortalecer as relações com o parceiro norte-americano. As edições anteriores do Curso de Operação na Selva (COS) mesclaram brasileiros e alguns estrangeiros, mas o EIOS é exclusivo para soldados estrangeiros.

“O CIGS deixa a condição de mero promotor de um curso para desenvolver uma nova missão, devido ao reconhecimento que temos no exterior”, diz o Coronel de Infantaria Alcimar Marques de Araújo Martins, comandante do CIGS. “Também focamos países que podem nos aportar mais conhecimento nos níveis tático e técnico.”

Além de fortalecer os laços internacionais, o centro começa a adaptar a estrutura e os parâmetros de aptidão física e treinamento para receber mulheres em suas turmas em 2017. Em seus mais de cinco décadas de existência, o COS recebeu apenas três militares brasileiras, e apenas duas foram diplomadas.

A Primeiro-Tenente veterinária Camila Tochetto prepara-se para se habilitar à formação no Curso de Operações em Selva, que pode receber mais mulheres nos próximos anos. Ela acredita que mais mulheres vão querer fazer o treinamento. [Foto: Patrícia Comunello]
A Primeiro-Tenente veterinária Camila Tochetto prepara-se para se habilitar à formação no Curso de Operações em Selva, que pode receber mais mulheres nos próximos anos. Ela acredita que mais mulheres vão querer fazer o treinamento. [Foto: Patrícia Comunello]

Preparação para a mudança

O Major Leonidas Domingues Teixeira Neto, chefe da Divisão de Ensino do CIGS, espera intensa troca de informações, a maioria sobre aspectos técnicos e táticos, no simpósio com a delegação dos EUA, de 17 a 21 de outubro. “Os exércitos do mundo costumam falar a mesma língua em termos de operação. Queremos conhecer técnicas que podem facilitar a ação na selva, vamos anotar e avaliar a aplicação aqui.”

Os instrutores do CIGS estão aprendendo inglês para o simpósio, que foi marcado após conversações entre as duas forças em 2015. A visita ocorre 52 anos após a criação do centro em Manaus (em 1964). O COS teve início em 1966, depois que 16 soldados brasileiros fizeram um estágio no Centro de Treinamento de Selva dos EUA no Panamá, de acordo com o Maj Domingues. O EB espera que alguns dos instrutores do CIGS tenhama oportunidade de visitar o Centro de Treinamento de Operações na Selva da 25a Divisão de Infantaria dos EUA, no Havaí, após o simpósio.

O comandante do CIGS, Coronel de Infantaria Alcimar Marques de Araújo Martins, considera que o maior intercâmbio com outros países, como Estados Unidos, é um reconhecimento ao trabalho do centro e ajudará a melhorar a própria formação. [Foto: Patrícia Comunello]
O comandante do CIGS, Coronel de Infantaria Alcimar Marques de Araújo Martins, considera que o maior intercâmbio com outros países, como Estados Unidos, é um reconhecimento ao trabalho do centro e ajudará a melhorar a própria formação. [Foto: Patrícia Comunello]

O domínio do idioma também ajudará no treinamento durante o EIOS, que será realizado entre 12 de setembro e 26 de outubro, diz o Maj Domingues. O EIOS inicialmente abriu 25 vagas, mas em abril já tinha 55 inscritos. “Como será todo em inglês, o interesse aumentou”, diz o Cel Alcimar.

Outras iniciativas também intensificarão a ida de instrutores do centro situado em Manaus, onde é vinculado ao Comando Militar da Amazônia (CMA), para conhecer a formação feita em unidades semelhantes no México, Tailândia e Guiana Francesa. Os intercâmbios foram definidos a partir de Conferências Bilaterais do Estado Maior do Exército (CBEM).

Na Tailândia, há semelhança da selva tropical e o interesse é ver como os militares fazem a movimentação em áreas inundadas, diz o Maj Domingues, lembrando que entusiasmado com a segunda edição da Competição Internacional de Patrulhas do CMA, que ocorrerá de 15 a 26 agosto. “É uma competição, mas serve para disseminar o conhecimento na selva, e esperamos pelo menos dez equipes estrangeiras”, afirma. A região, conhecida como “Quadrado Maldito”, é a base de formação dos guerreiros de selva. Para cumprir as missões de treinamento, o centro está recebendo melhorias que somarão R$ 550.000 (US$ 160.000) em investimentos entre 2015 e 2016, informou o Cel Alcimar.

Mais de 6.000 guerreiros treinados

“Se defendendo essa brasileira Amazônia, tivermos de perecer, ó Deus, que o façamos com dignidade e mereçamos a vitória. Selva!”

Essa é uma parte da oração que o guerreiro da selva e Segundo Sargento Fábio Gonçalves Matos declamou trajando a vestimenta e pintura no rosto com as características de camuflagem na parada militar em 7 de abril, na sede do 61o Batalhão de Infantaria de Selva (61o BIS) em Cruzeiro do Sul, no Acre, durante a Operação Traíra . A operação envolveu tropas do Brasil, Colômbia e Peru no combate aos crimes transnacionais.

Em 2003, o Seg Ten Matos concluiu as 12 semanas do CIGS, que se divide nas fases de vida na selva, técnicas especiais e operações na selva. “Precisamos conhecer e saber lidar com a selva para defender o Brasil”, diz.

Durante a Operação Traíra, o 2º Ten Matos e seu batalhão aplicaram as técnicas e táticas aprendidas no curso. Além de ambientação na selva, os alunos participaram de missões operacionais, incluindo algumas na fronteira entre o Brasil e os países que participaram da Operação Traíra.

“Em 2015, os participantes fizeram incursões na porção norte da Amazônia”, diz o Maj. “Afundamos dragas que faziam extração ilegal de ouro e explodimos pistas de pouso clandestinas.O militar é preparado com tudo que precisa saber sobre a Amazônia e pode atuar em um Pelotão Especial de Fronteira (PEF).” Os PEFs são postos avançados que fazem a proteção do território brasileiro.

Mais de 6.000 soldados, incluindo 482 estrangeiros de 29 países, já se formaram no curso desde que foi lançado, em 1966, de acordo com o CIGS. Os países que enviaram mais participantes são França (108), Equador (61), Argentina (56), Guiana (40), Suriname (32) e Estados Unidos (26).

Noventa participantes se apresentaram na sede do CIGS em 3 de abril para começar uma nova edição, sendo que passaram na primeira semana, oito deles estrangeiros. Os 20 que ficaram de fora “pediram o desligamento”, diz o Maj Domingues. “O ambiente operacional da floresta já é um item de seleção natural. O militar chega, olha e vê que não é para ele.”

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Nas semanas finais do curso, os alunos fazem incursões reais na selva, segundo o chefe da Divisão de Ensino do CIGS, Major Leônidas Domingues Teixeira Neto. Os soldados participam de missões de combate a crimes transnacionais, como destruição de pistas clandestinas de pouso e dragas de extração ilegal de ouro. [Foto: Patrícia Comunello]

Guerreiras mulheres

O EB deve inaugurar um novo momento com o ingresso de mulheres em unidades de formação de combatentes, entre elas as Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e Escola de Sargentos das Armas (ESA). “Há três anos que se trabalha com essa meta e estamos visualizando como proceder”, diz o Cel Alcimar.

A legislação federal de 2012 prevê o ingresso de alunas nas escolas, com vagas incluídas nas seleções feitas em 2016. Espera-se maior demanda após as diplomações nas fileiras da EsPCEx, AMAN e ESA. “As duas alunas que concluíram o curso em 2009 registraram em relatórios que as maiores dificuldades foram na questão física”, diz o Maj Domingues. “Um militar sempre leva mais peso, e as mulheres sentem mais. Mesmo assim, as duas alunas se saíram muito bem e foram aprovadas.”

No entanto, todos os soldados inscritos no programa terão de raspar completamente a cabeça para evitar contrair rabdomiólise , uma síndrome caracterizada pela necrose muscular causada pela desidratação e elevado desgaste físico nos treinamentos.

A Primeiro Tenente Camila Tochetto, veterinária no zoológico do CIGS, vai se postular para uma vaga no COS, que segundo ela pode se tornar mais popular entre as mulheres.

Ela afirma que o corte do cabelo é “o menor dos problemas” e concentra sua atenção nas diferenças fisiológicas, que exigem uma preparação diferente da do homem. “Você tem de começar meses antes o treinamento físico para passar nos testes preliminares. Depois tem de compatibilizar os aspectos psicológicos.”

O website do CIGS contém uma tabela mostrando a dieta calórica e as orientações nutricionais para homens e mulheres. “Nossos parâmetros já estão ajustados às mulheres”, diz o Cel Alcimar. “Só não apareceu nenhuma interessada a entrar ainda.”

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Fonte: dialogo-americas

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1 Comentário

  1. Pena que o Amazon SAT, não pega mais na teve aberta, eu assistia muito.
    Um dia eu assistir uma reportagem sobre o SIGS, um comandante falou que sempre que tinha um extrangeiro no curso, eles pegavam mais pesado no período inicial, ate o cara desistir, só depois eles passavam para segunda etapa. Kkk

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