UE busca saída para o xadrez energético com Ucrânia e Rússia

Viviane Vaz

Não fossem as jogadas atrevidas do presidente russo Vladimir Putin com seus avanços sobre a Ucrânia (anexação da Crimeia) e manutenção de tropas na Moldávia, ambos países da ex-URSS (União de Repúblicas Socialistas Soviética), o tabuleiro do xadrez energético entre Rússia e Europa demonstraria um empate. A gigante estatal russa Gazprom depende hoje da venda de 40% de seu gás aos europeus. Estes, por sua vez, dependem de 31,9% do gás russo, segundo o Eurostat.

Mais da metade do gás russo chega a UE através da Ucrânia (ver mapa), o que dificulta a tomada de decisões atual do bloco europeu em relação ao vizinho do leste. A Comissão Europeia, braço executivo da UE, tem feito cálculos e se prepara para divulgar um informe que revela que, se as exportações do bloco europeu para a Rússia se reduzirem pela metade, o PIB anual dos 28 países-membros poderá sofrer quedas de 0,5% (63,5 bilhões de euros ou cerca de R$199 bi). Por outro lado, a Rússia perderia 115 bilhões de euros se a Europa deixasse de importar seus produtos.

A relação é de interdependência, mas quem tem aparecido como refém da Rússia é o bloco europeu. Para o especialista em política energética do escritório europeu do Greenpeace, Frederic Thoma,  parece que “Putin segura os líderes da UE por rédeas curtas” e os europeus acabam deixando as “torneiras abertas”.

“O dinheiro continuará a fluir para fora da economia europeia e para os bolsos dos oligarcas da Rússia para a Arábia Saudita, até que haja apoio claro para as energias renováveis e eficiência energética”, defende. “Um sistema de energia limpa é a melhor aposta da Europa para a proteção do clima, independência energética, a segurança do abastecimento e os preços da energia a preços acessíveis”, garante o especialista em energia.

No último dia 26 de março, os europeus tentaram mover outra peça no jogo energético, com a primeira visita oficial do presidente dos EUA, Barack Obama, à Bruxelas para uma reunião de cúpula EUA – UE. Obama e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, mencionaram a possibilidade de venda de gás natural liquefeito dos Estados Unidos à Europa.

Nesta quarta-feira, a chefe do serviço exterior europeu, Catherine Ashton, e o secretário de Estado americano, John Kerry, se debruçaram novamente sobre a possibilidade. Kerry defendeu que “nenhuma nação” deveria usar energia como arma.

“Para muitos líderes europeus, o cenário de envio de gás liquefeito por navio parece uma solução mágica para suas preocupações energéticas”, afirma Andreas Goldthau, chefe do Departamento de Políticas Públicas da Universidade da Europa Central, em Budapeste, Hungria, e pesquisador visitante de Harvard.

Goldthau avisa, porém, em um trabalho publicado no fim do ano passado, que a solução tampouco será fácil: os europeus não terão poder de decisão no novo modelo de preços do gás (importado dos EUA) e “globalizar o mercado não significa diminuir o preço do gás”.

Thoma também avalia que, na prática, a indústria americana terá pouco interesse em exportar o gás nacional, visando manter os preços baixos no mercado interno. “Se tiverem que exportar, a Ásia seria um mercado muito mais interessantes do que a UE, uma vez que os preços são mais altos”, avalia o especialista do Greenpeace, que também destaca os impactos negativos da exploração de gás de xisto para o meio-ambiente.

Jogo truncado
Em entrevista ao Terra, Goldthau avalia que, se, por um lado, qualquer passo que os europeus tomarem em relação à Ucrânia refletirá sua forte dependência dos recursos russos, por outro, existe “um certo grau de interdependência”, uma vez que os russos precisam do dinheiro da venda dos hidrocarburetos para a Europa.

“No fim das contas, é uma questão de quem pensa que a outra parte tem mais a perder e isto vai decidir se as sanções energéticas finalmente serão aplicadas ou não pelos europeus, e se a Rússia decidirá usar a oferta ou os preços de energia para fins de política externa”, analisa.

Thoma admite que os europeus também terão de vencer alguns obstáculos internos para avançar no xadrez energético, devido a “interesses” e lobby das companhias de energia europeias. Ainda assim ele espera que os líderes da UE acertem nas propostas de redução de dependência energética, na cúpula que será realizada em junho.

“Os líderes europeus estão discutindo o pacote de energia para 2030 e têm a oportunidade de quebrar as redes de importação de energia e impulsionar empregos e economia local”, conclui.

 

Fonte: Terra

 

9 Comentários

  1. O BLEFE DO GÁS DE XISTO DOS EUA

    Gás de xisto [fracking] dos EUA: só conversa fiada

    Do “The Saker, The Vineyard of the Saker”, sob o título “The US shale gas canard”. Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu e postado no “Redecastorphoto”

    “Amigos,

    Vários de vocês perguntam minha opinião sobre o artigo de Glenn Ford “U.S. Prepares to Gas Russia Into Submission” [EUA prepararam-se para submeter a Rússia, com os campos de gás (de xisto)]. Não tenho tempo para resposta detalhada, mas digo o seguinte: tudo, na ideia de que os EUA venham a exportar gás de xisto produzido por fracking para a Europa e que assim conseguirão atropelar a Rússia, é pura, pura, puríssima conversa fiada.

    Não apenas toda a infraestrutura para esse projeto terá ainda de ser construída – e é caríssima – como, além disso, a construção demorará muitos anos. E são anos absolutamente críticos, agora que a crise na Crimeia obrigou Putin e seus “soberanistas eurasianos” [1] a “sair do armário” e confrontar abertamente o Império Anglo-sionista, e, agora, é uma corrida contra o tempo:

    – Será que o Império terá o tempo e os meios para separar a Rússia do Ocidente, antes que a Rússia se realinhe com a China e o resto da Ásia? Ou o ocidente continuará a depender da Rússia por tempo suficiente que permita que a Rússia se realinhe?

    Pessoalmente, estou confiante que a Rússia vencerá essa corrida, o que torna IRRELEVANTE todo esse assunto do gás de xisto.

    Esquema de produção de “shale gas” ou Gás de xisto e seus riscos e poluição inerentes (clique na imagem para aumentar)

    Por falar de China e Ocidente: considerem que as necessidades chinesas de energia são imensas, como o são em toda a Ásia; e acrescentem a isso que, durante todo o governo Obama (será que esse sujeito só faz coisas, assim, sempre descomunalmente estúpidas?!) os EUA adotaram abertamente uma nova política antiChina que visa sempre a “conter” a China, quer dizer, a impedir que a China alcance o tipo de influência que a China está fadada a ter na região do Pacífico Asiático.

    Os chineses não são estúpidos. Os chineses sabem que são os próximos na linha da “democracia” e da “liberdade”. Os chineses, portanto, entendem que sem a ajuda da Rússia (energia, armas, apoio político) não podem resistir contra o Império. Resumo da ópera: China e Rússia têm de entrar numa simbiose profunda (não em alguma “aliança” formal) e ajudarem-se uma a outra. Não há nem sombra de dúvida, para mim, de que Putin e Xi Jinping, ambos, estão fazendo exatamente isso.

    Quanto à Europa – é economia deprimida e continente em total bancarrota social; e não passa de protetorado dos EUA. O Kremlin compreende tudo isso, e, por mais que muito agrade aos russos vender energia (e o que mais for) à União Europeia, a Rússia SABE que não pode construir NENHUM plano de longo prazo com aqueles “parceiros”: o Império Anglo-Sionista é ameaça existencial contra a Rússia, e a Europa não passa de protetorado dos EUA sem opinião própria, sem identidade e sem política que não seja de “sim, Mr. President, como o senhor mandar, Mr. President”.

    A China, a Índia, a Ásia, a América Latina e, especialmente, o Norte Russo – aí está o futuro para a Rússia, não no Ocidente. Por tudo isso, as tais sanções só produzirão um resultado: acelerarão esse processo.

    Os que suponham que poderiam “submeter” a Rússia deliram total e completamente, como Hitler em 1945 e suas conversas sobre “contraofensiva estratégica”. Ignorem essa gente.

    Saudações,

    The Saker”

    http://democraciapolitica.blogspot.com.br/2014/03/o-blefe-do-gas-de-xisto-dos-eua.html

    • Nascimento,

      Os americanos não tem somente o gás de xisto… Salvo engano, atualmente os EUA está entre os países com as 20 maiores reservas de petróleo do mundo.

      Quanto a China, creio que seria o contrário… O crescente poder econômico chinês, com uma industria faminta por matérias primas, é que seria o baluarte a segurar a economia da Russia. Contudo, os chineses não teriam nenhum interesse específico em um confronto econômico com os EUA. Afinal de contas, os americanos são seus principais investidores e consumidores… Parcerias tecnológicas podem até se intensificar, mas daí a uma aliança mais profunda é outra história… Se houver algum confronto maior entre EUA e Russia, mais fácil os chineses deixarem os dois se pegarem sozinhos… Não haveria qualquer razão lógica para os chineses entrarem em um conflito que fatalmente arrasaria sua própria economia, caso apoiasse a Russia…

      A economia russa, tal como está, é extremamente dependente da exportação de commodities. E sem grandes investidores internos de peso, necessita de que outros países invistam nela. E o dinheiro está na Europa e EUA…

      A industria de bens manufaturados ( que é onde está o verdadeiro lucro e o desenvolvimento econômico real ) da Russia ainda não tem condições de competir abertamente com o mundo ocidental. Ela importa regularmente serviços e maquinário do ocidente para manter-se. Por tanto, nem que os russos quisessem poderiam se livrar da influência ocidental, sob pena de fazer a sua crescente industria ficar isolada da excelência tecnológica ( e consequentemente sem condições de competir )… E ainda pior: sem a Europa para comprar os poucos bens de auto valor agregado que eles produzem, a situação russa pode realmente complicar-se…

      Em suma, os europeus e americanos podem comprar de outros… Mas e os russos? Estariam dispostos a perder clientes importantes…? Afinal de contas, estamos a falar dos países que verdadeiramente mais consomem…

      Concordo que isolar a Russia realmente é impossível ( o consumo de energia crescente no mundo realmente aumenta a demanda pelo gás russo ), mas o fato é que a própria Russia pode acabar de canto na comunidade internacional, vendo o seu poder econômico ser lentamente retraído, uma vez que o acesso de seus produtos manufaturados aos maiores mercados consumidores atuais terminaria severamente limitado…

      • Quem sabe fazer uma boa análise é outra coisa… parabéns… qnto ao nascimorto, sua delinquência esquerdopata não lhe permite tal empreita… é bitolado demais pela russofilia pelega e pelo seu atávico esquerdismo burro… somente mais do mesmo…

  2. “A Comissão Europeia, braço executivo da UE, tem feito cálculos e se prepara para divulgar um informe que revela que, se as exportações do bloco europeu para a Rússia se reduzirem pela metade, o PIB anual dos 28 países-membros poderá sofrer quedas de 0,5% (63,5 bilhões de euros ou cerca de R$199 bi). Por outro lado, a Rússia perderia 115 bilhões de euros se a Europa deixasse de importar seus produtos”

    É, a Rússia realmente perderia.
    O problema é que a Rússia esta finalizando acordos que somam mais de 1 trilhão de dólares com países asiáticos para fornecimento de gás.
    É muito relativa esta posição de interdependência entre europa ocidental e Rússia no campo energético. Talvez se a Europa procurar uma saída alternativa fora do estofo da OTAN e dos EUA, oferecendo parcerias reais e não vassalagem, é possível estabilizar a atual condição política local. Mas aí é preciso coragem e disposição para abrir espaço político para mais atores, coisa que a Europa não está acostumada.

  3. E os russófilos piram na batatinha… rsrsrsrsrsrs… a pátria deles está cada vez mais isolada… sorry… 🙂

Comentários não permitidos.