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Sugestão: Gérsio Mutti
Claudia Jardim
De Caracas para a BBC Brasil
Depois de quase um ano em cativeiro, o soldado colombiano Josué Daniel Calvo foi libertado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) neste domingo e entregue a uma missão humanitária que contou com apoio do Brasil.
O soldado de 23 anos, chegou ao aeroporto da cidade de Villavicencio (sul da Colômbia) às 13h11, hora local (15h11 em Brasília), e foi recebido por familiares. Visivelmente emocionado, o ex-refém caminhava com a ajuda de um bastão de madeira devido ao ferimento no joelho provocado durante enfrentamento entre o Exército e a guerrilha.
Depois de uma reunião com o Alto Comisionado para a Paz, Frank Pearl, Calvo que chegou vestido com camiseta e calça esportiva, colocou o uniforme do Exército e teria preferido não dar declarações à imprensa, segundo Pearl. No seu lugar, falou o pai, Luiz Alberto Calvo.
” Estou muito feliz agora com o meu filho, que vem deste sequestro que é uma coisa atroz”, disse o pai do soldado. ” A alegria voltou à (nossa) casa”.
Susto
Luiz Alberto Calvo agradeceu ao governo brasileiro, ao presidente colombiano Álvaro Uribe e à senadora a senadora Piedad Córdoba, do movimento Colombianas e Colombianos pela Paz, principal mediadora entre a guerrilha e o governo
Minutos depois da chegada a Villavicencio, Córdoba disse que o resgate esteve ameaçado por sobrevoos militares perto da zona em que o refém seria resgatado.
” Com diplomacia conseguimos superar a situação porque pensamos que ia paralisar-se a entrega, mas conseguimos avançar”, afirmou Córdoba.
O Alto Comisionado para a Paz negou a existência de voos militares na zona de resgate. Segundo ele, foram voos comerciais. “Isso não constitui violação dos protocolos de segurança”, disse Pearl.
A parlamentar disse ter encontrado a Calvo “em melhores condições” do que havia imaginado.
O soldado é o primeiro dos dois últimos reféns que as Farc prometeram libertar entre domingo e terça-feira.
Como ja havia sido antecipado pelas Farc, a senadora anunciou que os restos do corpo do oficial Julián Ernesto Guevara, morto em cativeiro, não serão entregues, como haviam prometido os rebeldes, “por dificuldades de mobilização” na selva.
De Villavicencio, Calvo, será levado ao Hospital Militar de Bogotá para receber atendimento médico.
Resgate
O momento do resgate foi anunciado pelo movimento Colombianas e Colombianos pela Paz por meio de mensagem eletrônica no site Twitter: “Torna-se realidade a primeira das libertações”, escreveram os representantes do grupo.
Pouco depois, o porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Adulfo Beteta, disse ” apreciar” a colaboração do governo do Brasil, do governo e da força pública colombiana, do movimento Colombianas e Colombianos pela Paz e das FARC que “contribuiram para a realização dessa missão humanitária”, disse Beteta, no aeroporto de Villavicencio,.
A bordo do helicóptero brasileiro que foi cedido à operação, a missão de resgate composta pela senadora colombiana Piedad Córdoba, um representante da Cruz Vermelha Internacional, o bispo Leonardo Gómez Serna, além de dois pilotos brasileiros, partiu com duas horas de atraso devido às condições climáticas .
Assim como ocorreu em resgates anteriores e, como parte do acordo com as Farc, a missão humanitária teve de esperar uma hora antes de levantar voo para que os rebeldes que participaram na entrega regressem a suas bases antes de que as operações militares do Exército fossem reativadas.
Calvo, o refém que menos tempo ficou em cativeiro dentre os ainda sob domínio da guerrilha, foi preso em abril de 2009, na zona rural de Vista Hermosa, no departamento de Meta, região central do país.
As Farc afirmam que o militar foi abandonado ferido por seus companheiros do Exército durante um enfrentamento com os rebeldes. O governo nega essa versão e diz que Calvo foi capturado pela guerrilha nesta ocasião.
Novo resgate
Piedad Córdoba confirmou que na próxima terça-feira, a missão humanitária dará início a uma nova operação de resgate para libertar o oficial Pablo Emilio Moncayo, sequestrado há mais de 12 anos.
” Solicitamos às Farc dar continuidade na operação” e “esperamos que o governo cumpra” com os acordos de segurança, disse Córdoba.
Se concretizada a libertação de Moncayo, terá fim um dos mais emblemáticos casos que marca o conflito militar interno na Colômbia.
Desde o sequestro do filho, há mais de 12 anos, o professor Gustavo Moncayo, conhecido como “Caminhante pela Paz” passou a realizar caminhadas dentro e fora da Colômbia com uma corrente presa ao corpo para exigir ações que resultassem na libertação do filho e em uma saída negociada para a guerra que dura mais de seis décadas.
Acordo humanitário
Horas antes do resgate de Calvo, a senadora Córdoba advertiu que esta será a “última entrega” de reféns que as Farc farão de maneira unilateral e incondicional, como vinha ocorrendo desde o ano passado, quando seis reféns foram colocados em liberdade.
O grupo armado busca negociar um acordo humanitário com o governo que prevê a libertação de pelo menos 500 guerrilheiros presos em troca de 22 oficiais – entre soldados e policiais – que fazem parte do chamado grupo de “prisioneiros de guerra” da guerrilha.
Na semana passada, Córdoba pediu ao alto comissário para a Paz na Colômbia, Frank Pearl, que desenhasse uma proposta de acordo para ser concretizada antes do fim do mandato do presidente Álvaro Uribe, que termina em agosto.
“Não é necessário desmilitarização, apenas uma mediação internacional”, afirmou a senadora.
Por enquanto, o governo Uribe resiste a negociar com a guerrilha e insiste nos resgates forçados como saída para libertar os demais oficiais presos.
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