O Irã comunicou à ONU que ampliará seu programa nuclear a partir desta terça-feira, deixando países do Ocidente em alerta por causa do temor de que o regime de Teerã esteja planejando construir bombas atômicas. A decisão foi anunciada no domingo pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em discurso transmitido em cadeia nacional de TV.
No mesmo dia, o chefe do programa nuclear do Irã, Ali Akbar Salehi, afirmou que o país começaria já esta semana a enriquecer urânio em 20% em Natanz, a principal usina de enriquecimento de urânio iraniana. Ele afirmou ainda que dez novas usinas do gênero seriam construídas no país até o fim do próximo ano.
“Nós enviaremos uma carta à agência de energia atômica das Nações Unidas informando que iniciaremos o processo de enriquecimento do urânio a um nível de 20%”, disse Salehi em comunicado à imprensa.
Atualmente o Irã enriquece urânio em um nível de 3,5%, mas são necessários 20% para o funcionamento do reator nuclear de Teerã, desenhado para produzir isótopos para fins medicinais. Para construir uma bomba atômica, é necessário ter urânio enriquecido em ao menos 90%.
Autoridades iranianas e porta-vozes dos Estados Unidos e da União Europeia não conseguiram chegar a um acordo sobre o programa de enriquecimento de urânio do Irã. De acordo com propostas que vêm sendo discutidas desde outubro, 70% do urânio iraniano seriam enviados ao exterior com baixo índice de enriquecimento (3,5%).
O material iria para Rússia ou França, para ser então enriquecido a 20% e transformado em combustível para reatores. A base para o acordo seria o entendimento fechado entre o Irã, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e o chamado grupo P5+1 – formado pelos cinco países do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, China, Grã-Bretanha e França) mais a Alemanha.
Mudança de planos
De acordo com analistas, depois de idas e vindas nas negociações o governo iraniano decidiu mostrar que perdeu a paciência e, portanto, pretende enriquecer urânio de maneira doméstica.
O chefe do programa nuclear iraniano disse que ainda havia tempo para um acordo com as potências ocidentais se o Irã recebesse urânio enriquecido a 20% do exterior.
O país declarou que estava pronto para trocar urânio de baixo nível por material com alto grau de enriquecimento, mas que exigia uma mudança em algumas bases do plano da ONU e da IAEA.
O Irã expressou preocupação pois o plano prevê que o país ceda grande parte de seu estoque de urânio para enriquecimento no exterior em um tempo que pode chegar até um ano.
“O Irã interromperá seu processo de enriquecimento se receber garantias de que receberá o combustível necessário para seus reatores”, disse Salehi.
O Irã espera produzir 17,5% (ou 20 mil megawatts) da demanda por eletricidade por meio de energia atômica nos próximos 20 anos, segundo relataram as emissoras de TV do país.
‘Paciência no fim’
Estados Unidos e União Europeia temem que o aperfeiçoamento na tecnologia nuclear iraniana colabore para o objetivo de permitir ao país construir sua própria bomba nuclear.
Por isso, poucas horas após o discurso de Ahmadinejad, o secretário americano de Defesa, Robert Gates, pediu “união” da comunidade internacional contra o regime iraniano e disse acreditar que sanções possam ser eficientes para conter possíveis ambições nucleares de Teerã.
“As pressões focadas no governo do Irã, e não no povo iraniano, têm potencialmente maiores oportunidades de alcançar os objetivos”, disse o secretário americano.
O ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, foi mais cauteloso ao falar de sanções, mas fez questão de reiterar que “a paciência” com o regime de Teerã está chegando ao limite.
“Precisamos considerar com muito cuidado que impacto nossas opções podem ter. Talvez as sanções precisem de ajustes”, afirmou o ministro.
“Ao mesmo tempo, é preciso deixar claro para o Irã que a paciência está chegando ao fim.”
Em Londres, o Ministério do Exterior britânico expressou que as declarações de Ahmadinejad são “claramente uma questão para preocupação séria”.