Ataque que matou 19 em hospital afegão será apurado, diz Obama
Departamento de Defesa americano investiga bombardeio.
Presidente americano ofereceu “profundas condolências” às vítimas.
O presidente americano, Barack Obama, ofereceu neste sábado (3) suas “profundas condolências” pelo suposto bombardeio de forças dos Estados Unidos a um hospital localizado na cidade afegã de Kunduz, que matou 19 pessoas.
“O Departamento de Defesa abriu uma investigação completa, e aguardaremos seus resultados antes de fazer um julgamento definitivo das circunstâncias envolvendo esta tragédia.”
“Continuaremos trabalhando estreitamente com o presidente Ashraf Ghani, o governo afegão e nossos parceiros internacionais para apoiar a Defesa Nacional afegã em seu trabalho para garantir a segurança daquele país.”
Médicos sem Fronteiras fala em ataque com precisão
A diretora-geral dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Brasil, a portuguesa Susana de Deus, disse que os bombardeios que foram direcionados e precisos, em entrevista ao Jornal Nacional.
“Nós repetidamente viemos a informar as forças internacionais de coalizão sobre os locais onde estávamos a operar, não só no Afeganistão, mas em todos países em conflito”, disse a diretora-geral da organização no Brasil.
“Inclusive, durante o bombardeio conseguimos informar, tanto Washington como Kabul, sobre o que estava acontecendo”, completou.
De acordo com o MSF, foram 22 mil pessoas atendidas no hospital de Kunduz em 2014 e 6 mil cirurgias realizadas no local. “O hospital ficou destruído”, disse Susana de Deus. “O impacto sobre a população será muito grande”, afirmou.

(Foto: Médicos Sem Fronteiras / AP)
ONU fala em Crime de guerra
O chefe do escritório de Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra’ad al-Hussein, falou em “crime de guerra” ao comentar o bombardeio.
“Esse evento profundamente chocante deve ser rapidamente, profundamente e independentemente investigado, e seus resultados devem ser tornados públicos”, disse Zeid Ra’ad al-Hussein em um comunicado. “A seriedade do incidente é ressaltada pelo fato de que um bombardeio contra um hospital pode ser considerado um crime de guerra.”
Para ele, o incidente “extremamente trágico, sem desculpas e possivelmente até criminoso”.
“A aviação militar afegã e internacional tem a obrigação de respeitar e proteger os civis o tempo todo, e as instalações médicas e seu pessoal são objeto de proteção especial.”
O MSF disse em nota que todas as partes envolvidas no conflito no país foram informadas sobre a localização precisa de seu hospital e de outras instalações do grupo. Ainda de acordo com o MSF, o bombardeio continuou por 30 minutos mesmo após militares dos EUA e afegães terem sido informados sobre o ataque.
O estabelecimento da MSF em Kunduz é um centro hospitalar importante na região e estava funcionando além de sua capacidade durante os recentes combates entre o exército e os talibãs, que assumiram o controle da cidade durante vários dias.
“O centro de traumatologia da MSF em Kunduz foi atingido várias vezes durante um bombardeio prolongado e ficou muito danificado”, informou a ONG em um comunicado. “Confirmamos a morte de nove membros da MSF durante o bombardei (…) 37 pessoas estão gravemente feridas e se desconhece o paradeiro de muitos funcionários e pacientes”, acrescenta o texto.
No momento do bombardeio, 105 pacientes e pessoal sanitário e mais de 80 funcionários internacionais e locais se encontravam no hospital.
A organização informou na véspera que 59 crianças estavam sendo atendido no centro.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, também condenou o ataque e pediu uma investigação imparcial do incidente. “Os hospitais e pessoal médico são explicitamente protegidos pela lei internacional humanitária”, disse o gabinete de imprensa de Ban em um comunicado. Ele pediu uma “investigação completa e imparcial sobre a ataque, a fim de garantir a prestação de contas”

Possíveis responsáveis
A Otan informou à AFP que um ataque aéreo norte-americano “pode ter” atingido o hospital da organização internacional de assistência.
“As força americanas realizavam um ataque aéreo em Kunduz contra pessoas pessoas que ameaçavam as forças da coalizão, o que pode ter provocado danos colaterais em um centro médico nas proximidades do alvo”, declarou o coronel Brian Tribus, porta-voz da missão da Otan no Afeganistão à AFP.
O chefe do Pentágono, Ashton Carter, afirmou que está em andamento uma investigação exaustiva sobre o bombardeio, apesar de não confirmar que foi realizado pelas forças americanas.
O secretário de Defesa americano assinalou que “as forças americanas em apoio às forças afegãs operavam perto, assim como os talibãs”.
O governo do Afeganistão afirmou que as forças americanas bombardearam o hospital, que ficou “destruído quase em sua totalidade pelo fogo causado após o bombardeio”. “Como resultado do bombardeio americano contra o hospital da MSF em Kunduz, pelo menos três pessoas morreram e 37 ficaram feridas, entre elas pessoal da MSF”, escreveu no Twitter o porta-voz do Ministério da Saúde do Afeganistão, Wahidullah Mayar.
O gabinete da presidência do Afeganistão afirmou que as forças lideradas pelos Estados Unidosofereceram condolências pelo ataque. Inicialmente, de acordo com a Reuters, o escritório tinha dito que o general do Exército John Campbell tinha pedido “desculpas” ao presidente Ashraf Ghani. A informação foi retificada logo depois. Os Estados Unidos não confirmaram o telefonema.
O hospital ficou “bastante danificado” em um bombardeio “prolongado” que aconteceu às 2h10 locais (18h40 de Brasília de sexta-feira) e a imprensa americana citou fontes militares segundo as quais este incidente poderia ser resultado de “efeitos colaterais” de um ataque da força aérea americana.
Talibãs
Os talibãs condenaram “energicamente” o bombardeio, e acusaram os Estados Unidos de “martirizar” o pessoal médico e os pacientes do centro.
“As forças americanas bombardearam um hospital civil na cidade de Kunduz, no qual médicos, enfermeiras e pacientes foram martirizados e feridos”, afirmou o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, em comunicado.
Segundo o porta-voz, “este crime” aconteceu quando não havia nenhum insurgente no interior do centro médico, “já que a situação de conflito não permite que nossos guerreiros sejam hospitalizados lá”.
Mujahid acusou a agência de inteligência do Afeganistão de oferecer informação falsa aos EUA para bombardear o hospital em Kunduz.
Cidade estratégica do norte do Afeganistão, Kunduz foi reconquistada pelo Exército afegão das mãos dos talibãs na quinta-feira passada.
Kunduz foi a primeira grande cidade afegã tomada pelos talibãs desde que foram expulsos do poder, em 2001, pela invasão americana.
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