Traidor para uns e herói para outros, ex-general aguarda absolvição na Sérvia

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Snezana Stanojevic.

Belgrado, 22 mar (EFE).- O caso do ex-general sérvio Vlado Trifunovic, considerado por uns como traidor e por outros como herói, simboliza que, quase 20 anos após a violenta desintegração da antiga Iugoslávia, as divisões e a falta de confiança entre os diferentes povos não foram ainda superadas.Trifunovic, de 73 anos, espera ser finalmente absolvido pela Justiça sérvia, enquanto a Justiça da Croácia o procura após tê-lo condenado por crimes de guerra.

A Procuradoria sérvia retirou as acusações contra o ex-general, antigo responsável por uma unidade do Exército da ex-Iugoslávia, estabelecida na cidade de Varazdin, no extremo noroeste da Croácia.

Em 1991, ele negociou com o então recém-nascido Exército croata a retirada voluntária de seus homens (dezenas de oficiais e cerca de 220 jovens recrutas) diante da impossibilidade de defender o quartel.

“Em nenhum momento me arrependi nem voltei a cogitar se poderia ter procedido de outra maneira. Me sinto orgulhoso disso”, afirmou Trifunovic esta semana em declarações à imprensa.

Com sua decisão, ele salvou não só as vidas de seus soldados mas também a cidade de Varazdin da demolição total, como a que ocorreria pouco depois em outras localidades croatas como Osijek e Vukovar.

Mas a Justiça sérvia, controlada então pelo autoritário e nacionalista Slobodan Milosevic, o condenou por “minar o poder militar e a defesa” do país.

Até hoje, muitos sérvios acusam Trifunovic de não ter cumprido deliberadamente as ordens militares, por isso o consideram um “traidor da pátria”.

O ex-general passou os últimos 19 anos entre a prisão e o pequeno quarto de um modesto hotel militar de Belgrado, sem direito a apartamento nem pensão decente, e afastado de sua família que também passou por várias humilhações.

Diversas ONGs de proteção dos direitos humanos pedem há anos a plena restituição de Trifunovic e destacam que, com sua retirada negociada, ele salvou a vida de centenas de soldados e civis em Varazdin.

Para essas entidades, ele foi vítima do nacionalismo ex-iugoslavo, pelo qual foi condenado, por exemplo, na Croácia a 15 anos de prisão por “uso excessiva” da força.

Também na Eslovênia foi acusado por responsabilidade na morte de vários civis no início das guerras da antiga Iugoslávia em 1991.

A Procuradoria sérvia retirou há poucos dias as acusações contra ele e resta agora o Alto Tribunal de Belgrado decidir encerrar formalmente o processo penal contra o ex-general.

Após quase 20 anos de espera, Trifunovic expressa certeza de que a cúpula militar iugoslava de então queria transformar sua unidade em um bode expiatório.

De fato, ele era um dos generais mais jovens e promissores do poderoso Exército da hoje extinta federação iugoslava.

“Sabia que pensavam de mim que eu era um profissional, mas não achava que pensassem que era um fanático. Por isso, em princípio não tinha claro que queriam me sacrificar”, lembra o ex-general.

Quando a Justiça sérvia pôr um definitivo ao processo contra ele, o que segundo seus advogados deve acontecer muito em breve, Trifunovic terá direito a uma indenização por parte do Estado.

“Espero não ter que passar de novo por processos judiciais nos próximos 20 anos porque não acho que eu vá viver tanto”, declarou Trifunovic.

Mais de uma década depois da última guerra na região, em Kosovo, continuam existindo tensões e desconfiança entre os povos da antiga Iugoslávia.

A Croácia tenta levar a Sérvia à Justiça internacional sob a acusação de genocídio, enquanto Kosovo mantém sua controversa independência, contestada pela Sérvia, que busca suspendê-la com exigências perante a Justiça internacional.

Sugestão: Gérsio Mutti

Fonte: Bol

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