Daniel Dombey
Em Washington
Jonathan Wheatley
Em São Paulo
Luiz Roberto Mendes Gonçalves
A pressão sobre Brasília aumenta enquanto Hillary Clinton embarca em um tour pela região
A disputa sobre o programa nuclear do Irã projeta uma sombra sobre as Américas enquanto Hillary Clinton ruma ao sul para pressionar o Brasil a assumir uma posição mais dura em relação ao Irã.
A secretária de Estado americana embarca amanhã em um giro de uma semana pelas Américas do Sul e Central. O Brasil, que está aprofundando seus laços com Teerã e resistindo à pressão de Washington por sanções na ONU, será o principal foco de atenção.
Em uma medida preparatória, William Burns, o membro do Departamento de Estado que lidera o movimento por sanções, viajou para Brasília ontem. “O Brasil é uma potência emergente com crescente influência na região e em todo o mundo, e acreditamos que com essa influência venha a responsabilidade”, disse o Departamento de Estado.
Mas em um sinal de crescente autoconfiança o governo de Luiz Inácio Lula da Silva continua discordando de Washington sobre uma de suas principais prioridades internacionais. O Brasil também está atualmente no Conselho de Segurança da ONU, onde os EUA buscam um consenso para as sanções nas próximas semanas, mas enfrentam nova resistência da China, Turquia e Líbano.
O governo Obama está especialmente preocupado com os pedidos feitos por Lula esta semana para que o mundo não isole o Irã. Os EUA tentam aumentar esse isolamento através de sanções, até que Teerã esteja mais disposta a negociar.
“Eles deram de modo geral um passe ao Irã sobre a questão nuclear”, diz um diplomata americano. “Vemos cada vez mais suspeitas no mundo quanto ao que o Irã está fazendo, mas o Brasil ruma na direção oposta.”
Washington ficou decepcionado ao ver o presidente brasileiro trocar abraços com seu colega iraniano, Mahmud Ahmadinejad, quando este visitou o país em novembro. Lula pretende fazer uma visita de retribuição a Teerã em maio, com crescentes laços comerciais no topo da agenda.
Clinton também enviou uma mensagem cifrada para o Brasil quando manifestou este mês seus temores de que o Irã esteja “avançando para uma ditadura militar”.
Brasília deixou clara sua aversão a golpes na América Latina – e discordou dos EUA sobre o que considera uma avidez excessiva de Washington para aceitar os resultados do golpe em Honduras no ano passado.
Mas o governo Lula está decidido a definir seu próprio caminho diplomático e recusou esforços internacionais no passado para dividir os países em “nucleares” e “não nucleares”, levando adiante um projeto de enriquecimento de urânio apesar das reservas dos EUA e de outros países.
O Brasil também apresenta a esperança de um compromisso sobre a atual disputa nuclear com o Irã, apesar de argumentos dos EUA e de seus aliados europeus de que Teerã rejeitou os esforços de acordo de Washington.
“Nossa opinião é que as possibilidades de negociação estão longe de esgotadas”, disse Roberto Jaguaribe, o responsável oficial pelas relações com o Irã no Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Pedindo uma diplomacia “tranquila”, mais que “estridente”, Jaguaribe acrescentou: “O Brasil não quer um Irã com armas nucleares e o Brasil não quer uma solução não diplomática”.
João Paulo Veiga, do Instituto para Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, disse que a posição declarada do Brasil sobre o Irã faz parte de esforços mais amplos para garantir um maior peso para o país nas instituições globais.
“O Brasil está dizendo que somos um grande país, podemos falar com quem quisermos e não precisamos da intermediação ou aprovação dos EUA ou da ONU para estabelecer as relações que quisermos e seguir nossa própria agenda”, ele disse.
“O Brasil está tentando abrir caminho para um espaço maior no cenário mundial.”
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