Antes de embarcar, militares brasileiros falam sobre expectativa para missão no Haiti

http://secint50.un.org/av/photo/subjects/images/5231.jpg

Cerca de um mês após o terremoto que devastou a capital do Haiti, Porto Príncipe, neste fim de semana o Brasil iniciou o envio de mais 900 militares ao país. O reforço no contingente, um pedido da Organização das Nações Unidas aprovado pelo Congresso Nacional, colocará lado a lado homens experientes em missões de paz e novatos que nunca representaram o Brasil fora do país.

O major Ângelo Caldas Gouveia Filho, 36 anos, é um dos que vai rever o Haiti, após ter participado da missão de paz no país de novembro de 2004 a junho de 2005. Se na época ele encontrou uma população assustada pela falta de segurança, hoje espera um cenário ainda pior. “Acho que vamos encontrar um povo muito sofrido, com medo e com fome”, afirmou, em entrevista ao iG. “Vamos tentar melhorar as condições de vida e minimizar as consequências da catástrofe.”

Embora o foco da atuação do Exército brasileiro seja a área de segurança, os militares também vão participar dos esforços humanitários. O rodízio de tropas, geralmente semestral, foi antecipado devido à tragédia. Os sete grupos que vão ao Haiti esse mês (o primeiro embarque ocorreu no sábado e o último está marcado para o dia 27) ficarão no país por seis meses, comunicando-se com a família por telefone e pela internet.

“O maior desafio é administrar o cumprimento da missão com a saudade do pessoal no Brasil”, afirma o major. Casado e pai de uma filha de três anos, ele tentou explicou à criança o motivo de sua ausência. “Ela acha que eu estou saindo para um exercício, mas não entende exatamente”, explica, acrescentando que a família “apoiou bastante” a decisão de voltar ao Haiti.

A apresentação para a missão de paz é voluntária, e o subtenente Leonardo César Rodrigues de Souza, 45 anos, afirma que a família o motivou a participar. Casado há 25 anos e pai de quatro filhos, ele representará o Brasil no exterior pela primeira vez. “Todos estão apreensivos, mas muito orgulhosos”, garante.

Souza é membro do Batalhão de Infantaria Leve de Lorena, interior de São Paulo, que perdeu dez de seus militares no terremoto no Haiti. Por trabalhar na área de Relações Públicas do quartel, o subtenente teve a complicada missão de comunicar a morte dos colegas à suas famílias.

“Você precisa avisar as mães e esposas que seus filhos e maridos não vão voltar”, conta. “É muito difícil, porque as pessoas recebem a notícia e ficam sem entender. Elas não acreditam, perguntam ‘por quê?'”.

http://images.ig.com.br/publicador/ultimosegundo/23/23/23/7497488.haiti_mundo_266_399.jpg

Também de Lorena, que envia 40 militares ao Haiti nesta nova série de embarques, o major Gouveia afirma que a notícia da morte dos colegas de batalhão foi recebida com pesar. “Embora tenha sido uma tragédia para as famílias e para nós, temos consciência de que foi uma fatalidade”, explica. “A missão é arriscada, mas o pessoal está preparado psicológico e fisicamente.”

As mortes dos militares causam apreensão nos familiares do subtenente Leonardo. “Eles veem as notícias na televisão e ficam ansiosos”, explica ele, que passou por uma bateria de exames físicos e psicológicos antes de ser escolhido para a missão. “Mas acho que o mais grave já passou. Além disso, o grupo tem muita gente experiente.”

Animado com a oportunidade de participar de sua primeira missão, ele parece tranquilo quanto aos riscos da missão. A expectativa, para o subtenente, é de uma experiência de grande aprendizado. “Os colegas que já foram ao Haiti voltaram dando mais valor ao que temos em Lorena”, afirma. “A gente acha que tem pouco, mas tem muito mais que a população do Haiti.”

Fonte: Último Segundo


2 Comentários

Comentários não permitidos.