Africa do Sul e o Cabo da “Nova Esperança”

E.M.Pinto


De um ponto que liga dois “mares”

De águas inquietantes

Movendo por profundezas, acorda o maior dos Gigantes

 

Temor de Barões-suas armas,  esquadras de naus-navegantes

Confronto para quem transpassava

Na rota das “Índias distantes”

 

O  “Cabo de tantas tormentas”

que ao fundo tudo lançava.

De sombra em farol transformava

Na ponte que ao mundo ligava.

 

Agora se torna “esperança”

de um mundo novo e mudança

Comércio, bandeiras e progresso

Das terras longínquas, bonança

 

De ontem “Cabo sombrio”

se torna o de nova “esperança”

E hoje o passado repete

Trazendo de outrora a lembrança

 

Com outras nações de trovantes

No cabo uma nova aliança.

No encontro com o velho destino,

um multipolar mundo avança 

 

A antiga rota das Índias,

de longo passado fecundo

Conecta as  “Índias” às “Chinas”

e a todo resto do mundo.


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Nem me atrevo a competir com Luis Vaz de Camões, e até me desculpo com lígua mãe, porém foi necessário ousar expressar a importância deste evento histórico que embora aconteça de uma maneira completamente diferente, nos parece lembrar que o passado e futuro escolheram a dedo alguns atores.

O trecho do ensaio foi extraído para elucidar o que parece ser a “roda dos tempos” novamente conectando passado e futuro para a África do Sul e o seu importante papel na dinâmica geopolítica do comercio Mundial.

Desde os grandes navegantes portugueses até os nossos dias, a terra que hoje é conhecida como África do sul (denominação lusa) passou por importantes transformações.

Ao escrever este artigo me deparei com a inquietante oportunidade que a África do Sul  se depara e que pode lhe lançar no merecido futuro promissor, agora não apenas por sua importância geográfica, mas também pelas suas capacidades frentes a um novo mundo do qual ela própria já faz parte.

Passado Recente

Desde sua independência em 31 de maio de 1961, quando marcou-se a transição da União Sul-Africana para a República da África do Sul, até sua entrada nos BRICS, a África do Sul passou por eventos significativos, desafios e transformações.

Após a independência o país se tornou uma república e rompeu os últimos laços formais com o Império Britânico. O regime do Apartheid que se estabeleceu em 1948, já havia segregado a população com base em suas raças. Este sistema foi condenado internacionalmente e levou a um período de isolamento diplomático e sanções econômicas.

Porém, foi apenas no fim das décadas de 1980 e começo dos anos 1990, que o mundo assistiria às transformações, quando ganhou voz a resistência interna e a pressão internacional para por fim ao Apartheid.

E foi em 1990 que  após décadas de cativeiro e que o líder da revolução anti-apartheid, Nelson Mandela foi libertado, seguindo-se as negociações lideradas pelo governo de Frederik de Klerk e o Congresso Nacional Africano (CNA) as quais, levaram à primeira eleição multirracial em 1994.

Nelson Mandela foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, marcando o fim oficial do Apartheid e o início de uma nova era, cuja transição para a democracia trouxe consigo desafios significativos, incluindo a reconciliação entre comunidades anteriormente segregadas e a reconstrução de uma nação dividida.

Após o fim do Apartheid, a África do Sul procurou reintegrar-se à comunidade internacional. Participou em fóruns e organizações internacionais, buscando fortalecer laços diplomáticos. O país experimentou crescimento econômico, mas também enfrentou desafios sociais persistentes, como desigualdade, pobreza e desemprego os quais, ainda assolam o país.

Em 2010, a África do Sul tornou-se oficialmente membro fundador do bloco dos BRICS, um grupo de países emergentes que também inclui Brasil, Rússia, Índia e China. A adesão foi vista como um reconhecimento por sua crescente influência econômica e como deveria ser, da política do país no cenário global.

Atualmente o país africano desempenha um papel ativo nos BRICS, contribuindo para discussões sobre reformas financeiras internacionais, questões de desenvolvimento sustentável e cooperação em diversas áreas. Mas também enfrenta desafios contemporâneos, pois, apesar dos avanços, a África do Sul ainda enfrenta problemas de corrupção, desigualdade persistente e questões relacionadas à terra e à reforma agrária.

A entrada nos BRICS solidificou a posição da África do Sul como uma voz relevante em fóruns globais, ao mesmo tempo em que a nação buscava abordar questões internas para promover um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável.

A África do Sul de hoje, enfrenta diversos desafios que impactam no seu crescimento econômico e, que como no caso do Brasil, estão ligados a sua gritante desigualdade Socio-econômica.

Tanto lá quanto cá, persiste a desigualdade social e econômica, herdada especialmente do período do Apartheid. Disparidades na distribuição de recursos, oportunidades e acesso a serviços básicos são fatores que atravancam o crescimento inclusivo e se tornam “um gigante adamastor” para o crescimento econômico da nação africana.

Não obstante a isso, o país tem enfrentado taxas de desemprego elevadas, especialmente entre os jovens. Dos anos 90 para cá, este fator foi mais ainda agravado pela competitividade contra as indústrias  de nações em crescimento, como as da chinesa, Índia e Coreia do Sul, e a agricultura enfrenta desafios tecnológicos e produtivos de nações de outros continentes.

Paralelos com o Brasil não faltam, a corrupção e problemas relacionados à má governança têm sido uma preocupação para os analistas internacionais, afetando negativamente a eficiência dos setores público e privado. A corrupção desencoraja e muito investimentos e mina a confiança dos potenciais investidores.

A instabilidade política, a polarização e as incertezas políticas afetam negativamente o clima de negócios e os investimentos que em nada diferem do que acontece aqui no “Além mar ao cabo”.

Tal como cá, o país padece de infraestrutura, como energia, transporte e telecomunicações que estão limitando a eficiência dos negócios e o crescimento econômico.

Tanto quanto o Brasil, a África do Sul possui desafios no sistema educacional, incluindo disparidades na qualidade da educação que contribuem para lacunas nas habilidades da força de trabalho. Questões relacionadas à reforma agrária e à segurança da terra implicam negativamente no setor agrícola, que como cá, é demasiadamente importante para a economia do país.

Por outro lado, a África do Sul é uma das maiores economias do continente africano contribuindo com quase um quinto do PIB do continente. A orientação geopolítica do país em um mundo turbulento tornou-a significativa para outras nações africanas, especialmente em relação aos países do bloco dos BRICS.

Além disso o país mantém sólidos laços com o “Ocidente” pois mantém relações comerciais com várias nações em todo o mundo. Alguns dos principais parceiros comerciais da África do Sul incluem China, Estados Unidos, Alemanha e outros países da União Europeia.

A economia do país se centra nas exportações advindas da mineração, agricultura, manufatura e serviços, cujos principais produtos de exportação incluem minerais e metais (como ouro, platina, diamantes), produtos agrícolas (como frutas, vinho), produtos manufaturados e veículos automotores.

Mas e os BRICS?

No texto introdutório sobre “o cabo” que na metáfora do passado representava a nova rota, o novo caminho a nova passagem para o futuro,  as nações europeias captaneadas por portugal desbravaram os novos oceanos e trouxeram riquesas e prosperidade, estabelecendo com seus pares asiáticos uma era de ouro.

O progresso veio a todos, mas muito pouco pode permanecer no “cabo”, e é este o grande desafio da África do Sul na sua nova empreitada agora nos BRICS.  A passagem geográfica, embora importante não sustenta o merecido crescimento desta nação, porém a nova aliança estaratégica com os BRICS pode transforma-la, trazendo-lhe desenvolvimento e prosperidade.

A África do Sul busca equilibrar relações com a Rússia, China, Índia e Brasil bem como, com o dito “Ocidente”, enfrentando desafios diante da polarização global, destacada pelo presidente Joe Biden como uma escolha entre “democracia e autocracia”. Muitos líderes africanos mantêm um ceticismo devido aos históricos eventos como a invasão do Iraque pelos EUA e a desconfiança de padrões duplos, e os governantes Sul Afrincanos não são exceção.

Novas influências econômicas vindas de Pequim e Moscou na África, por meio de investimentos e acordos, competem com os laços coloniais europeus a África do Sul enxerga nos BRICS a oportunidade de deixar de vez o passado colonial e se dirigir para um futuro promissor. A geopolítica global que está em transformação, com mudanças nas alianças e países como os Emirados Árabes Unidos diversificam as suas parcerias estratégicas e apresentam novos patamares de cooperação.

Ainda que a Rússia tenha sido um aliado na luta contra o Apartheid, este país oferece pouco em termos econômicos. O comércio entre a Rússia e a África do Sul é mínimo em comparação com as relações com a Europa e os Estados Unidos. Porém, o mundo está caminhando para uma configuração multipolar, com a China e a Índia emergindo como potências econômicas e com elas, a importância do não-alinhamento e do investimento em relações sustentadas com países como Brasil, Índia, China,  Turquia e os Estados do Golfo.

A proposta para a África do Sul pode ser a de promover a autodeterminação com boa governação, democracia e direitos humanos, buscando relações equilibradas com os BRICS sem no entanto deixar de fortalecendo os laços econômicos com o dito “Ocidente”.

E os interesses Brasil e África do Sul ?

Ambos os países têm economias significativas em seus respectivos continentes. A colaboração econômica entre estes pares dos BRICS pode envolver comércio bilateral, investimentos e parcerias em setores específicos, como mineração, agricultura e tecnologia.

Já há intercâmbio cultural e social entre os dois países, promovendo compreensão mútua e cooperação em áreas como educação, turismo e intercâmbio de estudantes.

Ambos membros dos BRICS, compartilham interesses em questões geopolíticas globais, buscam reformas nas instituições internacionais e defendem uma ordem multipolar mais equitativa. Os dois países necessitam de colaboração militar que pode envolver acordos de defesa e cooperação em questões de segurança regional no Atlântico sul e até mesmo global.

A participação em fóruns internacionais, como as Nações Unidas, buscando posicionar-se em questões globais, como paz, segurança e desenvolvimento sustentável fortalece os acordos bilaterais em diversas áreas, como ciência e tecnologia, agricultura e comércio. A troca cultural, intercâmbios diplomáticos e eventos conjuntos podem contribuir para o fortalecimento do soft power de ambos os países, aumentando sua influência global.

Estas questões precisam no entato ser tratadas de maneira mais séria e pragmática, por exemplo, a África do Sul e o Brasil compartilham interesses na área de energias renováveis e a cooperação nesse setor pode envolver troca de tecnologias e experiências.

Além disso, a cooperação entre a África do Sul e o Brasil representa uma forma de diálogo Sul-Sul, onde países em desenvolvimento compartilham experiências e colaboram para enfrentar desafios comuns através de colaboração em organizações regionais africanas e latino-americanas de modo a  fortalecer a influência conjunta desses países em suas respectivas regiões.

Em resumo, a relação entre a África do Sul e o Brasil é bastante promissora e pode contribuir para o fortalecimento mútuo em várias áreas, enquanto também promove uma voz conjunta em questões globais e regionais.

Análise

Os BRICS representam para a África do Sul uma nova ponte para o desenvolvimento, paralela à importância histórica da descoberta do Cabo pelos portugueses.

Assim como os exploradores abriram novas rotas comerciais, a participação sul-africana nos BRICS proporciona acesso a acordos econômicos, investimentos e financiamentos estratégicos.

Essa aliança moderna não apenas impulsiona o crescimento econômico, mas também promove a influência política e a colaboração tecnológica, oferecendo à África do Sul oportunidades cruciais para navegar os mares do progresso no cenário global contemporâneo.

Em suma, o “Cabo da Boa Esperança”, além de geográfico, simboliza a esperança de laços econômicos e desenvolvimento, desbravando caminhos, tece-se a trama de comércio, entre destinos. E mais uma vez, a África do sul pode se tornar, parada, apoio e parceiro nas “rotas” entre o Brasil e o Oriente.


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