Há alguns dias, um Sargento da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que é também instrutor de tiros daquela instituição, enviou um comentário em um de nossos artigos pedindo que explicássemos a ele quais as diferenças entre o calibre 5,56x45mm NATO e o .223 Remington. Mas antes de respondermos, gostaria de parabenizar este Sargento por buscar mais informações para usar em suas instruções. Infelizmente não vemos tantos profissionais buscando um conhecimento mais profundo para com o equipamento que utilizam diariamente, sejam estes profissionais das forças de Segurança Pública ou não.
Mas para falar sobre as diferenças destes dois calibres devemos voltar um pouco em 1957 quando o calibre 5,56x45mm NATO apareceu para ser usado de testes em fuzis da plataforma AR. O conceito deste calibre era que seria desenvolvido uma munição militar menor e mais leve, e que, a 467 metros (500 jardas), pudesse ainda estar em velocidade supersônica, e isso foi o que fizeram usando um projétil boattail de 55gr.
Mesmo sabendo que este calibre iria matar o .222 Remington e o .222 Remington Magnum, a Remington rapidamente, após os militares adotarem o 5,56x45mm NATO, lançou ao público a versão civil deste calibre, ele foi chamado de .223 Remington. E foi aí que toda a confusão começou.
É um equívoco dizer que os calibres 5,56x45mm NATO e .223 Remington são iguais. Dizer isso, pode levar a algumas situações perigosas aos operadores destes armamentos. Apesar de parecerem idênticos por fora, existem sim algumas diferenças que fazem estes calibres não serem intercambiáveis entre suas armas.
Uma das grandes diferenças entre si é a pressão. É um pouco confuso falar sobre isso, pois a forma de medir a pressão do 5,56x45mm NATO é diferente da forma de medir a do .223 Remington. O .223 Remington é medido tanto em C.U.P (Copper Units of Pressure) ou, mais recentemente, em P.S.I (Pounds-per-Square-Inch), usando um transdutor piezoelétrico na metade da cápsula. Já a versão militar, o 5,56x45mm NATO, é medido também em P.S.I, mas o transdutor é posto na boca da cápsula. As diferentes formas de medição já evita uma comparação direta, pois os números informados na medição do 5,56x45mm NATO são menores, mesmo que a MESMA munição seja usada quando se mede em P.S.I o .223 Remington. Isso acontece porque a pressão é medida mais tarde, após ela ter atingido seu pico máximo. De acordo com Jeff Hoffman, proprietário da “Black Hills Ammunition, a munição militar pode atingir 60,000 P.S.I, se medida pela SAAMI (Sporting Arms and Ammunition Manufacturers’ Institute) da mesma forma que é medido o .223 Remington. Enquanto o .223 Remington pode atingir no máximo 55,000 P.S.I, e quando o 5,56x45mm é medido com o transdutor na boca da cápsula, ele atinge o máximo de 58,000 PSI.
Outra grande diferença é que, normalmente, o leade (espaço entre o início do raiamento no cano e o fim da câmara) de armamentos em 5,56x45mm NATO é de 0,162″ e o leade de armas em .223 Remington é de 0,085. Ou seja, o leade de armas em 5,56x45mm NATO é quase duas vezes maior que as de .223 Remington, além disso a angulação desse leade também é diferente entre estes armamentos, e tudo isso gera um aumento, tanto da pressão em geral em armamento, quanto dos picos de pressão.
Pelo fato do projétil fazer contato quase que completo com o raiamento do cano em armamentos em .223 Remington, que possuem leade curto, uma situação perigosa é criada quando disparada munições em 5,56x45mm NATO. As pressões da câmara podem aumentar de forma dramática e falhas catastróficas podem acontecer.
O contrário, disparar munições .223 Remington em um armamento 5,56x45mm NATO, que possui o leade longo, não é tão perigoso, o que pode vir a acontecer é a perda de velocidade e de precisão nos disparos, mas falhas sérias por conta de grandes aumentos de pressão, não podem acontecer.
As cápsulas de 5,56x45mm NATO possuem paredes mais grossas, isso foi projetado para aguentar o estresse gerado pelas altas pressões dentro da câmara. Isso reduz a quantidade de propelente que pode ser colocado dentro dela. Se uma cápsula de 5,56x45mm NATO for usada para ser carregada com a mesma quantidade de pólvora que é seguro em uma munição .223 Remington, pelo fato das paredes serem mais grossas e do espaço reduzido, ao se disparar essa munição altas pressões também podem ser geradas.
Armas em 5,56x45mm NATO possuem um passo de raiamento de 1:7″ ou 1:6″ para estabilizar projéteis longos e pesados a longas distâncias. Qualquer arma que possua um passo de raiamento de 1:7″ funcionará melhor com projéteis de até 90gr.
Porém, diversos passos de raimento são usados nos canos de armamentos destes calibres, cada um para um certo tipo de projétil. Um passo de raiamento de 1:12″ (a maioria são rifles por ação de ferrolho em .223 Remington) estabilizarão melhor projéteis de até 65gr. Já um passo de 1:14″, será melhor empregado se usar munições de até 55gr. Canos de 1:8, se adequam melhor a munições com projétil de até 80gr. E os com passo de 1:9 são feitos para ter uma melhor performance quando projéteis de até 73gr são usados.
Não há garantias de que os armamentos feitos em 5,56x45mm NATO irão funcionar corretamente se disparadas munições .223 Remington. Estes armamentos são feitos para ciclar com segurança quando a câmara está sofrendo altas pressões e projéteis mais pesados são usados.
Quão perigoso e sério é disparar munições 5,56x45mm NATO em armas .223 Remington? Perigoso o suficiente para a SAAMI, na seção de “Combinação de Armas e Munições não seguras” do livro “SAAMI Technical Correspondent’s Handbook“, considerar não seguro, afirmando que “Em armas feitas em .223 Remington, não use munições militares 5,56x45mm NATO.”
A ATK, fabricante de munições que faz parte do grupo da Federal e Speer, publicou um boletim intitulado: “A diferença entre .223 Remington e 5,56x45mm NATO Militar”, e neste a ATK atesta que usar munições 5,56x45mm NATO em armamentos feitos para .223 Remington, pode resultar em: “… vazamento de gases, munições explodidas, cápsulas explodidas e problemas no funcionamento do armamento.”
Já a ArmaLite não acha que seja tão perigoso quanto a SAAMI e a ATK dizem. Na nota técnica #74 da ArmaLite, eles dizem que “Milhões de munições 5,56x45mm NATO foram disparadas de forma segura em armamentos da Eagle Arms e da ArmaLite com câmaras que cumprem as especificações da SAAMI nos últimos 22 anos,” e não tiveram nenhuma falha catastrófica.
O que tudo isso significa? Se você operar um fuzil em 5,56x45mm NATO, você pode disparar com ele, tanto munições em 5,56x45mm NATO quanto munições em .223 Remington com segurança. Se o passo de raiamento do cano do seu armamento for de 1:7″ você deve usar munições com projéteis de até 60gr ou mais pesados. Se o passo for de 1:12″ você deve usar munições com projéteis mais leves que 60gr. E se você utilizar uma arma feita para .223 Remington, você NÃO deve utilizar munições 5,56x45mm de qualquer tipo.
Fonte: firearmsbrasil
Muito bom!
COMEÇOU ASSIM É um equívoco dizer que os calibres 5,56x45mm NATO e .223 Remington são iguais. Dizer isso, pode levar a algumas situações perigosas aos operadores destes armamentos. Apesar de parecerem idênticos por fora, existem sim algumas diferenças que fazem estes calibres não serem intercambiáveis entre suas armas.
TERMINOU ASSIM O que tudo isso significa? Se você operar um fuzil em 5,56x45mm NATO, você pode disparar com ele, tanto munições em 5,56x45mm NATO quanto munições em .223 Remington com segurança. GOSTARIA QUE QUEM ESCREVEU A MATÉRIA ME EXPLICASSE O QUE SIGNIFICA A PALAVRA INTERCAMBIAVEL
Algo de errado não está certo.
O que se diz aqui é que se utilizássemos a mesma medição na 5.56 como na Remington, a 5.56 teria uma pressão maior. E que por isso ‘uma arma preparada para o calibre 5.56 pode utilizar munição Remington. Mas uma arma com calibre Ramington não pode utilizar calibre 5.56 pela pressão extra que tem”.
Ora, mas na nota a Imbel está justamente isso. Que o calibre utilizado foi Remington. Logo, a arma deveria ter funcionado, ou no máximo, não ciclado.
Ela só deveria explodir se fosse uma arma feita apenas para calibre Remigton e o policial tivesse feito o contrário: carregado cartucho 5.56.
Alguém confirma isso porque está realmente confuso isso.
Entendi a mesma coisa. A Imbel precisa analisar esta arma e o modo de falha, pois o que se viu foi grave. E não me parece causado pelo uso incorreto da munição .223. Mesmo sua utilização não foi confirmada. Gravíssimo, mas quando falamos de estatais quem realmente saberá da verdade?!
………………..ótimo texto….falou e explicou o problema das falhas…….
provavelmente munição ficou presa na câmara e logo em seguida disparou-se outra e fez a primeira munição disparar e explodir. Isto é uma hipótese. ainda prefiro padronização para 7.62mm. há possibilidade de termos versão com munição 7.62x 39 Kurts?
Ótima matéria, manda pora o comando da PMSP que não sabe nem usara arma que tem.
E para os espertos que acham que ter uma arma é só pegar e atirar como se fosse funda e bodoque. Um homem popular em MG foi surpreendido por marginais em sua casa, quando sacou a arma pra se defender , (uma arma nova e conceituada) esta “mascou ” então a família foi exterminados pelos marginais . Mal conservação da arma e da munição é um grande risco, antes não ter utilizado a arma, talvez teria sua vida poupada.
As pessoas completamente amadoras com armas, não sabem a grande diferença entre revólveres e pistolas. Compram as segundas principalmente pela maior quantidade de munição e facilidade de carregamento, acreditando que isso é tudo de bom. Porém, são amadoras, então se lhes dá um desconto, o grave é profissionais da segurança, para os quais armas são suas ferramentas de trabalho diário, desconhecerem as necessidades de cada tipo de arma que usam.
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Armas não automáticas a limpeza periódica é importante.
Armas automáticas a limpeza e a lubrificação periódica são importantes e ainda, toda atenção com o uso de munição específica para a arma, usar a especificada pelo fabricante, e nada de recarregadas.
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No caso do cidadão acima, antes de se fazer qualquer crítica é preciso saber que arma era a dele. Porém, fatalidades ninguém está livre.
A grande diferença de um bandido para a vítima, mesmo o bandido sendo um pé de chinelo em qualquer quesito, é que ele se preparou para o fato delituoso, enquanto a vítima sempre é pega de surpresa. Essa surpresa que vira os pensamento de pernas para o ar é uma das coisas que mais prejudica uma reação eficaz de defesa.
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Quanto ao cidadão ter a vida poupada por não ter arma, no Brasil esse argumento é muito duvidoso, pois basta vc segurar até uma havaiana para o bandidinho lhe encher de tiros. Depois ele vai falar que pensou que era uma arma na sua mão.
No caso da carabina que explodiu, nitidamente foi a munição que detonou para dentro da carabina, ou seja, não estava totalmente dentro da câmara. não importa se foi munição 5.56mm ou .223″, a munição detonou fora da câmara, se estivesse totalmente dentro da câmara “talvez” a câmara e parte do cano que explodiria e não a telha da culatra.
Quanto ao texto da matéria, ele é aparentemente confuso (mas não é), pois são informações de várias fontes, são várias afirmações técnicas diferentes de instituições diferentes. A SAAMI determinam os padrões de munição e sugerem os padrões das câmaras (como a ABNT no Brasil), porém, cada fábrica pode fabricar as câmaras e canos nas dimensões que acharem tecnicamente adequadas à determinadas funções (tiro esportivo, uso militar, uso policial, uso civil, caça). A ATK e a Armlite são fabricantes e assim como a Imbel, delimitam os limites e potencialidades de suas armas.
Um militar deve ter seu armamento dentro de um padrão único para uso militar. Um general não quer que seus armamentos possam calçar munições de uso civil, nem esportivo, nem de caça.
Um caçador precisa de uma arma mais versátil, que calce munições de qualquer tipo e preço. Por isso os fabricantes de .223″ norte-americanos fabricam suar armas para calçar tanto o .223″ quanto o 5.56mm.
Um civil (americano) compra sua carabina em calibre 5.56mm, compra munições em 5.56mm, mas treina mais com o .223″ pois este é mais barato.
Os fabricantes de armas em .223″ e 5.56mm escolhem as dimensões de câmaras e passo do raiamento de acordo com o propósito da arma, de acordo com o seu público alvo, por isso que existem fábricas que produzem seus armamentos com dimensões intermediárias para poderem calçar os dois calibres. Para um armamento calçar os dois calibres as dimensões são intermediárias (entre o .223″e o 5.56mm). Infelizmente esse tipo de armamento resulta em imprecisão, algumas munições dispersarão mais do que outras, ou não será “ótima” em nenhum dos dois calibres ou será “menos ruim” em um dos calibres.
Quanto à Imbel, ela escolheu as dimensões do 5.56mm, portanto pode calçar as duas munições (5.56mm e .223″) mesmo a munição mais forte do .223″ não vai chegar ao pico de pressão da 5.56mm.
Portanto, o problema com a carabina que explodiu na mão do policial, não tem nada a ver com a muniçào empregada, mas aponta para uma falha da arma precedida por uma falha do operador, visto que houve uma falha anterior da arma (os policiais sabiam que ela tinha algum problema). explico melhor, a arma tinha um defeito, foi utilizada para o treino, durante o treino ela falhou, o operador continuou atirando. A arma deveria ter ido para o armeiro descobrir o problema e consertá-la. Os policiais não deveriam disparar uma arma que eles sabiam possuir um defeito (no vídeo fica claro que eles sabiam que a arma tinha um defeito).
Se você sabe que o seu carro tem um problema, você deve levá-lo ao mecânico. Se você quiser arriscar sair com seu carro (com defeito), você assume o risco dele quebrar no meio da rua. Se seu carro quebrar na rua e te deixar a pé, a culpa é sua e não do fabricante do carro. Se eu dirijo um carro com defeito no freio e sei que o defeito existe e causo um acidente, a culpa é minha e não do fabricante. Se houver morte, a culpa é minha, se eu morrer, a culpa foi minha
Isso tudo só demonstra e confirma (mais uma vez) que a maioria de nossos policiais são mal qualificados para operarem seus armamentos com o mínimo de segurança. Aqueles policiais sabiam que a arma tinha algum defeito e mesmo assim a dispararam, pois em suas mentes, se a arma explodisse, a culpa não seria deles, mas seria do fabricante.
Esses policiais foram imprudentes ao dispararem uma arma que sabiam possuir algum defeito, e assumiram os riscos quando efetuaram os disparos. Felizmente o operador imprudente não se feriu.
Excelente explanação , parabéns …..