Paquistão acusa EUA de sabotagem às negociações de paz com talibãs

Após ataque de drone americano matar líder talibã, Paquistão teme represália por parte de grupo fundamentalista. Comando radical agora busca consenso para escolher sucessor de Hakimullah Mehsud.

O governo do Paquistão acusou neste sábado (02/11) os Estados Unidos de sabotagem às negociações de paz iniciadas pelos paquistaneses junto aos talibãs. Ataques realizados por aeronave militar não tripulada (drone) americana mataram o líder talibã Hakimullah Mehsud. O Paquistão agora teme retaliações por parte do grupo fundamentalista islâmico.

O conselho do Talibã reuniu-se neste sábado para escolher um novo comandante. O novo nome deve ser confirmado nos próximos dias. Hakimullah Mehsud – cuja captura tinha como recompensa 5 milhões de dólares, oferecidos pelos EUA – foi enterrado na sexta feira. O carro onde ele estava foi atingido dentro de um complexo em um distrito tribal na região do Waziristão, noroeste do Paquistão.

Grande perda

A morte do líder jovem e enérgico representa uma grande perda para a Tehrik-e-Talibã Paquistão (TTP), coalizão de facções extremistas que nos últimos anos assumiu a autoria de alguns dos maiores ataques realizados no país.

A investida americana que resultou na morte de Hakimullah Mehsud poderá atrapalhar a iniciativa do governo paquistanês de iniciar negociações de paz com o TTP, no intuito de acabar com movimentos insurgentes que nos últimos seis anos deixaram milhares de mortos entre soldados, policiais e civis. Os paquistaneses, porém, afirmam estar dispostos a manter o diálogo.

O ministro paquistanês da Informação, Pervez Rasheed, acredita que a morte do líder talibã não deve interromper as negociações. “Podemos dizer que dessa vez um drone atingiu o processo de paz, mas nós não vamos deixar que ele morra”, afirmou Rasheed.

O primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif, pediu ao presidente americano, Barack Obama, que pare com ataques em seu território. Sharif pretende enviar uma delegação para iniciar contato com os militantes, após sua iniciativa ter recebido o apoio de diversos partidos políticos no mês passado.

Política dupla do governo

Este foi o terceiro ataque dos EUA contra os talibãs no Paquistão apenas neste ano. Investidas americanas causaram a morte do número 2 da organização, Waliur Rehman, também em um ataque de drone, em maio, e resultaram na captura de outro líder da TTP no Afeganistão, em outubro.

O alto comandante talibã Azam Tariq acusa o governo paquistanês de manter uma política dupla de apoiar os EUA enquanto afirma querer negociar a paz com os islamistas. “O Talibã não irá negociar com o Paquistão enquanto os ataques de drones continuarem”, afirmou o alto comandante.

Sabotagem ao processo de paz

Partidos de oposição denunciaram que o ataque promovido pelos EUA teria sido uma tentativa de sabotar o processo de paz, antes mesmo do início das conversações.

“Essa é a prova que eles não querem a paz no Paquistão”, afirmou o ex-jogador de críquete Imran Khan, líder do partido paquistanês Tehrek-e-Insaaf (PTI), que controla a província de Khyber Pakhtunkhwa, norte do país. Khan afirmou que o PTI irá bloquear o trânsito de suprimentos da Otan para o Afeganistão através da região.

O ministério do Exterior não comentou a morte de Mehsud, mas condenou o ataque, considerando-o uma violação à soberania do Paquistão e qualificando a investida como “contraprodutiva”.

Há, no entanto, há um grande temor de represálias por parte do TTP, assim como ocorreu após a morte do fundador da organização, Baitullah Mehsud, em 2009, também por ataque de aeronave não tripulada. A morte de Baitullah resultou em uma luta pelo poder da organização, vencida por Hakimullah Mehsud.

Em 2010 sua morte havia sido amplamente divulgada na imprensa, mas Hakimullah reapareceu em um vídeo ridicularizando o Ocidente e fazendo ameaças de novos ataques a alvos americanos.

Nos últimos anos, o TTP tornou-se possivelmente a maior ameaça à segurança no Paquistão, sendo responsável pelo ataque de 2008 ao hotel Marriott em Islamabad e pela tentativa de assassinato da ativista dos direitos humanos Malala Yousafzai, no ano passado. A organização também assumiu a responsabilidade pelo treinamento do autor do atentado à bomba frustrado na Times Square, em Nova York, em 2010.

Controvérsia na escolha

A shura suprema do Tehrik-e-Talibã Paquistão – conselho decisório da organização – chegou a anunciar que havia escolhido o comandante de ações militares Khan Said Sajna como novo líder do grupo. O anúncio, no entanto, teria sido questionado por alguns grupos dentro da TTP. Talibãs no Afeganistão teriam se colocado contrários à nomeação de Said.

Azam Tariq desmentiu que Said seria o novo líder talibã eleito, classificando as notícias como “especulações”. Ele afirmou que a decisão deverá ser tomada nos próximos dias.

Além de Kan Said – que se tornou o número 2 da organização após a morte de Waliur Rehman, em maio passado – também está entre os prováveis substitutos de Mehsud o chefe da Shura central, Asmatullah Shaheen Bhittani.

RC/afp/rtr/dpa/af

Fonte: DW.DE

2 Comentários

  1. mais um pais acusa os estados unidos de sabotagem ,
    com certeza os gringos não querem um paquistao em paz ,querem tumultuar a todo custo

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