Intitulado “O Que Tem de Ser Dito”, o poema foi publicado no diário Süddeutsche Zeitung. “Porque só o digo agora, com idade e com a minha última tinta”, começava o escritor de 84 anos. “Porque tem de ser dito e amanhã pode ser tarde demais”. A Alemanha, alegou Grass, pode-se tornar um “subcontratado de um crime previsível” num ataque de Israel ao Irão, e o Estado hebraico “pode dizimar o povo iraniano”.
A menção à subcontratação de Grass tem a ver com a venda de um sexto submarino, o sofisticado “Dolphin”, a Israel, num negócio em que a Alemanha assume um terço do preço. Fortes críticas a Israel são mal vistas na Alemanha por causa do Holocausto.
O poema pede ainda um controlo tanto do programa nuclear iraniano – que o Ocidente suspeita ter uma possível vertente militar, ainda que Teerão garanta que o objectivo é puramente civil – mas também do israelita. Israel não confirma nem desmente que tenha armas atómicas, numa política de “ambiguidade nuclear”, mas parte-se do princípio de que dispõe de armas nucleares.
Acusado de anti-semitismo
A reacção ao controverso texto não se fez esperar: o jornal Die Welt comentou, num artigo de primeira página, o poema de Grass (a que tinha tido acesso antes da publicação), classificando o seu autor como “o eterno anti-semita”.
Günther Grass, defensor de causas de esquerda e que se manifestou por exemplo contra intervenções militares no Iraque, foi durante décadas considerado uma espécie de “consciência moral” da Alemanha. Continua a sê-lo, de certo modo – o poema provocou perguntas sobre o negócios dos submarinos em conferências de imprensa, embora não tenha recuperado totalmente da sua admissão, em 2006, que tinha brevemente servido nas Waffen SS de Hitler, aos 17 anos.
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