O fim da ‘guerra estúpida’

Bandeira do Iraque

Emad Risn, colunista de um jornal de Bagdá, provavelmente resumiu melhor do que ninguém o que significa para os iraquianos o fim oficial da guerra iniciada há quase nove anos pelos Estados Unidos, a pretexto de eliminar a ameaça encarnada pelo ditador Saddam Hussein com seus arsenais de destruição em massa que Washington decerto sabia serem fictícios. “A guerra só acabou para os americanos”, escreveu Risn. “Ninguém sabe se a guerra terminará também para nós.” A invasão do Iraque, de fato, não serviu nem para mitigar a hostilidade ancestral entre as suas principais seitas etnorreligiosas – os majoritários xiitas, os sunitas que os oprimiam sob Saddam e os curdos separatistas concentrados no norte do país. Entregues a selvagens matanças recíprocas, xiitas e sunitas convergiram apenas na insurgência contra os invasores para tornar intolerável a sua presença. Até o fim do mês, os 4 mil militares americanos remanescentes terão partido.

A guerra que começou com uma mentira termina com uma meia-verdade. A mentira: George W. Bush usou desde o início o ultraje de 11 de setembro de 2001 para destruir Saddam – o que o primeiro Bush, George H. W., foi desaconselhado a fazer na Guerra do Golfo de 1991 pela Arábia Saudita aliada dos Estados Unidos. Era o que queriam também os teóricos neoconservadores enquistados nos centros de decisão de Washington, com a sua fantasia de implantar no coração do mundo árabe uma democracia pró-ocidental. A preocupação com a segurança de Israel, os interesses econômicos e geoestratégicos americanos no petróleo iraquiano, os cálculos eleitorais do presidente e o seu ódio a Saddam, que ameaçara matar o seu pai -, eis a origem da catástrofe infligida ao Iraque, sob a capa das suas imaginárias armas químicas e atômicas. A ignorância abissal de Bush fez o resto. Até pouco antes da invasão, ele desconhecia o antagonismo entre xiitas e sunitas.

A meia-verdade: ao ordenar a retirada total das tropas, salvo as poucas centenas de soldados incumbidos de guardar a fortaleza que abriga os diplomatas americanos em Bagdá, Barack Obama estaria apenas sendo fiel à promessa de campanha, que lhe rendeu não poucos votos, de encerrar de uma vez por todas o que chamava de “guerra estúpida” (e passaria a chamar “guerra de escolha”, para diferenciá-la da “guerra necessária” no Afeganistão).

Na realidade, o que deu o empurrão definitivo para a saída foi a recusa do governo iraquiano do primeiro-ministro (xiita) Nuri Kamal al-Maliki de assegurar imunidade às tropas que ficassem por delitos de qualquer natureza. O país não esquecerá as atrocidades de soldados americanos na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá. Nenhuma autoridade iraquiana, por sinal, compareceu na quinta-feira à solenidade de 45 minutos conduzida sobriamente pelo secretário de Defesa Leon Panetta no aeroporto de Bagdá para formalizar o fim da guerra.

As estatísticas são devastadoras. As baixas fatais americanas foram da ordem de 5 mil, sem contar as dos aliados britânicos, australianos e de outras nacionalidades. Cerca de 110 mil civis iraquianos pereceram e 1,5 milhão fugiu para países vizinhos. Não se conhece ao certo o custo financeiro, para os Estados Unidos, da sua imperdoável aventura. O custo oficial é de US$ 800 bilhões, mas estimativas independentes falam em até US$ 3 trilhões. Seja qual for o dado verdadeiro, é impossível dissociar dele o estado crítico das finanças americanas – sem falar que boladas milionárias foram desviadas por empresas contratadas por Washington para prestar serviços no Iraque. A corrupção iraquiana não fica muito a dever. O país está estilhaçado em mais de um sentido. Desde a invasão, em 17 de março de 2003, a população de Bagdá não sabe o que é ter um dia inteiro com energia elétrica. Teme-se que as forças de seguranças treinadas e financiadas pelos Estados Unidos sejam leais antes às suas seitas do que ao governo de turno. O vácuo de poder é palpável.

E os aiatolás xiitas iranianos assistem a tudo, deliciados. Na sua soberba cegueira, os americanos lhes deram o que não conseguiam desde a Revolução Islâmica de 1979: ser uma influência poderosa na política iraquiana.

Fonte: Estadão

9 Comentários

  1. Se os Aiatolas tomarem as redeas no Iraq ainda vai ser bom, pois com o ocidente ou os iraquianos atuais aquilo vai ficar desgovernado sempre…
    É tudo culpa do Ramysfield, Bush I e Bush II, Dick Chanei e Condoliza Rize e alguns outros vampiros que sugam a humanidade por toda parte.
    O discurso de sangue pela liberdade deles é puro vampirismo, no sentido literal da palavra.
    Mas digo uma coisa EU TENHO NOJO DAQUELES AIATOLAS ATÔMICOS PERSAS.

  2. Invadiram Falamam que tinham ”armas de Destruição em massa” Mataram Milhoes de civis e qnd e 11 de abril os yankes fikam chorando e se esquecem que MATARAM muito mais no irak do que as vitimas do World Trade Center

  3. Quanta insanidade e idiotice e os piores adjetivos para esse ato dos yankes no Iraque. No word trade center morreu 2753 pessoas + ou -, e nessa guerra, fundamentada em mentiras, como mostra o tópico, morreu mais de 115 mil e com um custo de mais de 1 trilhão, sem contar o que foi desviado do montante total. “Para um comentarista que disse que brasileiro não tem cultura” O fato deixa claro que não basta ser desenvolvido e ter cultura. Em qualquer país o povo é alienado e enrolado pelos poderosos, “e sempre pagam a conta”.

  4. O QUÊ FIARÁ PARA TRÁS COMO LEMBRANÇAS ?
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    O legado dos EUA no Iraque, oito anos depois da invasão
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    Passaram-se oito anos e os Estados Unidos fecharam a porta do Iraque deixando um desastre atrás dela.
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    Durante o conflito, morreram mais de 100 mil civis, 4.800 soldados da coalizão perderam a vida (4 .500 dos EUA), junto com 20 mil soldados iraquianos. Para os iraquianos, o legado da invasão é morte, dezenas de milhares de mutilados, insegurança, desemprego, falta de água potável e eletricidade.
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    “A democracia exportada com bombas ultramodernas não mudou o curso das coisas”

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    (*)por:Eduardo Febbro – Correspondente da Carta Maior em Paris
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    *******(trechos do original)

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    (…)“Os tanques iraquianos dispostos em fila à beira da estrada pareciam latas de sardinha queimadas. Frente a eles, os tanques Abrams norteamericanos tinham o aspecto de mastodontes invencíveis. « Quando começamos a avançar por esse trajeto, os soldados iraquianos saíam dos tanques para nos pedir água e comida », contava com lástima um oficial norteamericano.
    “(…)
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    (…)A guerra começou em 19 de março de 2003. Cerca de três semanas mais tarde, Bagdá caiu nas mãos da coalizão. No dia 1° de maio de 2003, o presidente George W. Bush deu por encerrada essa fase com a expressão triunfalista « missão cumprida ».
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    No dia 6 de maio, Bush nomeou Paul Bremer. O « vice-rei » Bremer chegou a Bagdá e abriu a caixa de Pandora com um projeto político, econômico e administrativo delirante : converter o Iraque em uma representação dos Estados Unidos no Oriente Médio : liberal, democrática, permissiva, um centro de negócios ao melhor estilo dos falcões da Casa Branca(…)
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    (…)Fátima se projetava no filho que restou porque seu presente era um lugar inabitável. Era escombros e a gaveta de uma cômoda miraculosamente intacta de onde tirava, assombrada e agradecida, duas fotos de seu marido e de sua filha morta, esmagada com seu pai nas ruínas, um par de meias e uma caixa de costura.(…)
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    por:cartamaior
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    http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19233

  5. Em 1972 o Iraque nacionalizou todas companhias estrangeiras que exploravam petróleo; o Kuwait foi invadido porque vendiam petróleo mais barato para os americanos, que de tabela impunham a miséria aos iraquianos através de criminosos embargos econômicos,ou seja, foi uma guerra por petróleo, apenas isso, o resto é apenas desculpas.
    Como sempre, quem perde é o povo,pois, ditadura interna ou importada, qual a melhor?
    As milhares de crianças que morreram de inanição, 1,5 milhão de refugiados e as 110 mil mortes parecem responder a pergunta.
    Sem se esquecer é claro, que a exploração do petróleo voltou para as mãos de americanos e ingleses, ou seja repartiram o espólio da guerra.

  6. Adriano..Ramysfield,Chanei e Rize nunca foram empregados do governo Americano..kkk…da mesma maneira a Vilma Roussefa nao trabalha no Brasil.

  7. Relamente uma guerra estúpida q consum,iu + de 2 trilhões de dólares , colocando no buraco os ianks e o resto do planta .Qdo serão presos o bushrro,o tonibaleier e o rumfeldido, qdo?!?!Esse tal de TPI da ONU e sério ou só e válido pa latinos .africanos arabes…sds.

  8. Guerra estupida? que estupidez! Guerra necessaria por isso planejada. Nao ouviram falar do projeto seculo XXI norte americano? Que mais poderia fazer com aquele bastardo Saddan? O bastardo estava querendo criar uma bolsa em Bagdad onde o preco do petroleo seria fixo em ouro, euro e outras moedas, quebrando assim o atual monopolio, onde o preco e fixo em dollar, o que da um privilegio ao Estados Unidos que podem imprimir ou somente digitar dollar. Sem contar,que esses tontos, que Bush consideravam como velha europa, em particular na epoca, Franca, Alemanha e Russia, estavam dando cobertura a Saddan, nesse empreendimento. Nao foi so a questao de apoderar-se dos postos de petroleo iraquiano. Foi a necessidade demonstrar a esses embecis europeus, russos e chines o que significa homogenia norte america. Foi a necessidade de manter os privilegios do imperio, privilegios esses que foram adquiridos pela forca, USA vitorioso na segunda guerra mundial. Nao foi estupidez nao meus amigos, foi necessidade.

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