Defesa & Geopolítica

Líbia: multinacionais dividem fatias do bolo

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Por Anwar Kalil

Um protetorado nas medidas do imperialismo europeu, e não só

Trípoli – O governo britânico anunciou que bloqueará US$ 1,6 bilhão dos ativos patrimoniais da Líbia que mantém congelado como pagamento da “ajuda humanitária” que enviará ao novo regime transitório. A empresa petrolífera italiana ENI já formalizou com o governo transitório novos e mais lucrativos contratos de exploração da riqueza petrolífera, considerando que, também, antes da Segunda Guerra Mundial, na época da “Tripolitânia” (protetorado italiano) já detinha o monopólio da exploração energética do país.

Também os EUA – por intermédio da conhecida, por sua atuação no Iraque, empresa Halliburton, que já havia reaquecido suas relações com o regime de Kadafi – se empenhará na construção de obras de infra-estrutura nas refinarias do país, assim como disputará com a multinacional francesa Lyonnais o monopólio para a exploração das ricas fontes de água potável, calculadas em 35 milhões de metros cúbicos.

Simultaneamente, as petrolíferas Total (francesa) e British Petroleum (britânica) disputarão as maiores fatias do bolo das ricas jazidas de petróleo, aproveitando a conjuntura atual, a fim de registrarem “precedência privilegiada” na divisão das enormes minas de urânio no sul do país.

Todos estes contratos leoninos representam uma pequena amostra da pilhagem planejada pelos “vencedores” da Líbia. Em resumo, EUA, Grã-Bretanha, França, Itália, Turquia, Catar preparam-se para receber seus “honorários” pelos seus esforços na difícil missão de exportar a Democracia.

O esforço dos EUA para militarizar a Líbia com a instalação do Africom (novo comando militar norte-americano no Continente Africano) encabeça a agenda das novas potências garantidoras que exportam a Democracia.

A excelente posição geopolítica da Líbia no centro da África do Norte, no Mar Mediterrâneo e na África Central, proporciona inúmeras possibilidades para o neocolonizador Ocidente para maior penetração militar e econômica. Não é casual a posição inimiga da África do Sul, força líder da União Africana, preocupada com as perigosas perspectivas que pairam no horizonte.

Al Qaeda lidera

A difícil composição populacional – contraditória, social, tribal e religiosa – que trava a difícil batalha para expulsar o regime de Kadafi do país constitui um grande quebra-cabeça político.

A força militar dos insurgentes que invadiu Trípoli estava sob o comando dos melhores e mais experientes combatentes da Al Qaeda. Uma mistura de extremista fundamentalismo religioso.

Por outro lado, eram os líderes mais fiéis ao regime de Kadafi, que mudaram de campo em cima da hora e hoje lideram o governo de transição, enquanto grande parcela da juventude líbia, que almeja por instituições políticas e sociais verdadeiramente democráticas com o elemento da justiça econômica, e as tradicionais alianças tribais continuará representando o recomendável vetor da nova realidade política.

Tudo isso, cria gigantescos questionamentos para o “dia seguinte”. A falta de coesão política e de identidade ideológica deixa grandes questionamentos se a guerra civil continuará.

Uma esquerda internacionalista que tem referência de classes deverá dispor de uma séria análise da histórica mudança de regime de nacionalista libertador na década de 1960 até hoje.

A monomania do poder, a familiocracia, a falta de qualquer instituição democrática e a corrupção não podem tornar-se hoje álibi para a aceitação de uma “selvagem cruzada bélica” do Ocidente, com uma Organização das Nações Unidas emitindo votações com múltiplas interpretações e “leituras úteis” para simplesmente todos considerarem como “cosmopolitas” de que a Democracia “triunfou” e a União Européia “cumpriu seu dever”.

A necessidade de um essencial encontro nas duas margens do Mar Mediterrâneo, para evitar sua transformação em “lago da Otan”, para uma agenda comum de uma nova internacionalização das esquerdas árabe e européia, é necessária como nunca.

A nova internacionalização da época atual só poderá ser antiimperialista solidária, humana e pacífica.

Fonte: MonitorMercantilDigital

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