7 de Janeiro de 1835, estoura a Guerra dos Cabanos

A Cabanagem (1835-1840) foi uma revolta na qual negros, índios e mestiços se insurgiram contra a elite política e tomaram o poder na então província do Grão-Pará (Brasil). Entre as causas da revolta encontram-se a extrema pobreza das populações ribeirinhas e a irrelevância política à qual a província foi relegada após a independência do Brasil.

De cunho popular, contou com a participação de elementos das camadas média e alta da região, entre os quais se destacam os nomes do padre João Batista Gonçalves Campos, do jornalista Vicente Ferreira Lavor Papagaio.

A denominação “Cabanagem” remete ao tipo de habitação da população ribeirinha, espécie de cabanas, constituída por mestiços, escravos libertos e indígenas.

Após a independência do Brasil, a província do Grão-Pará mobilizou-se para expulsar as forças reacionárias que pretendiam manter a região como colônia de Portugal. Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacaram-se as figuras do cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Clemente Malcher. Formaram-se diversos mocambos de escravos foragidos e eram frequentes as rebeliões militares. Terminada a luta pela independência e instalado o governo provincial, os líderes locais foram marginalizados do poder. A elite fazendeira do Grão-Pará, embora com melhores condições, ressentia-se da falta de participação nas decisões do governo central, dominado pelas províncias do Sudeste e do Nordeste.

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Em julho de 1831 estourou uma rebelião na guarnição militar de Belém do Pará, tendo Batista Campos sido preso como uma das lideranças implicadas. A indignação do povo cresceu, e em 1833 já se falava em criar uma federação. O presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, desencadeou uma política repressora, na tentativa de conter os inconformados. O clímax foi atingido em 1834, quando Batista Campos publicou uma carta do bispo do Pará, Romualdo de Sousa Coelho, criticando alguns políticos da província. Por não ter sido autorizada pelo governo da Província, o cônego foi perseguido, refugiando-se na fazenda de seu amigo Clemente Malcher. Reunindo-se aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e Antônio) e ao seringueiro e jornalista Eduardo Angelim reuniram um contingente de rebeldes na fazenda de Malcher. Antes de serem atacados por tropas governistas, abandonaram a fazenda. Contudo, no dia 3 de novembro, as tropas conseguiram matar Manuel Vinagre e prender Malcher e outros rebeldes. Batista Campos morreu no último dia do ano, ao que tudo indica de uma infecção causada por um corte que sofreu ao fazer a barba.

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/cabanagem/imagens/cabanagem-1.jpgEm 6 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico. No dia 7, Clemente Malcher foi libertado e escolhido como presidente da província e Francisco Vinagre para Comandante das Armas. O governo cabano não durou muito tempo, pois o novo presidente, Félix Malcher – tenente-coronel, latifundiário e dono de engenhos de açúcar – era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, e é deposto em 19 de fevereiro de 1835, com o apoio das classes dominantes, que pretendiam manter a província unida ao Império do Brasil.

Francisco Vinagre, Eduardo Angelim e os cabanos pretendiam se separar. O rompimento aconteceu quando Malcher mandou prender Angelim. As tropas dos dois lados entraram em conflito, saindo vitoriosas as de Francisco Vinagre. Clemente Malcher, assassinado, teve o seu cadáver arrastado pelas ruas de Belém.

Agora na presidência e no Comando das Armas da Província, Francisco Vinagre não se manteve fiel aos cabanos. Se não fosse a intervenção de seu irmão Antônio, teria entregue o governo ao poder imperial, na pessoa do marechal Manuel Jorge Rodrigues (julho de 1835). Devido à sua fraqueza e ao reforço de uma esquadra comandada pelo almirante inglês Taylor, os cabanos foram derrotados e se retiraram para o interior. Reorganizando suas forças, os cabanos atacaram Belém, em 14 de agosto. Após nove dias de batalha, mesmo com a morte de Antônio Vinagre, os cabanos retomaram a capital.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/17/Bel%C3%A9m_by_Spix_%26_Martius_excerto.jpgVista parcial de Belém, à época do conflito

Eduardo Angelim assumiu a presidência. Durante dez meses, a elite se viu atemorizada pelo controle cabano sobre a província do Grão-Pará. A falta de um projeto com medidas concretas para a consolidação do governo rebelde, provocaram seu enfraquecimento. Diante da vitória das forças de Angelim, o império reagiu e nomeou, em março de 1836, o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa como novo presidente do Grão-Pará, autorizando a guerra total contra os cabanos. Em fevereiro, quatro navios de guerra se aproximavam de Belém, prontos para atacar a cidade, tomada pela desordem, fome e varíola. No dia 13 de maio de 1836, o brigadeiro d’Andrea estacionou sua esquadra em frente a Belém e bombardeou impiedosamente a cidade. Os cabanos insurgentes escapavam pelos igarapéscanoas, enquanto Eduardo Angelim e alguns líderes negociavam a fuga.

http://4.bp.blogspot.com/_Wc9QTXsfRoM/TRiRSX60ceI/AAAAAAAABJM/h0V1qs5_r24/s320/Cabanagem%2Bimagem.jpgO brigadeiro d’Andrea, entretanto, julgando que Angelim, mesmo foragido, seria uma ameaça, determinou que seus homens fossem ao seu encalço. Em outubro de 1836, numa tapera da selva, ao lado de sua mulher, Angelim foi capturado, tornado prisioneiro na fortaleza da Barra, até seguir para o Rio de Janeiro. A Cabanagem, porém, não acabou com a prisão de Eduardo Angelim. Os cabanos, internados na selva, lutaram até 1840, até serem completamente exterminados (nações indígenas foram chacinadas; os murámauê praticamente desapareceram).

Calcula-se que de 30 a 40% de uma população estimada de 100 mil habitantes morreu. Em 1833 o Grão-Pará tinha 119.877 habitantes; 32.751 eram índios e 29.977, negros escravos. A maioria mestiça (“cruzamento” de índios, negros e brancos) chegava a 42 mil. A minoria totalizava 15 mil brancos, dos quais mais da metade eram portugueses.

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Em homenagem ao movimento Cabano foi erguido um monumento, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, na entrada da cidade de Belém: o Memorial da Cabanagem.

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16 Comentários

  1. É com espanto que leio o comentário do caze5110 que no Estado do Pará não há comemoração! No Rio Grande do Sul a Revolução Farroupilha é lembrada e comemorada em todos os rincões e até em parte de Santa Catarina. Que pena que no Pará não relembram a história!

  2. Heuheh.. deve ser porque não tinham as ferramentas de controle que hoje possuem. Pois atualmente o problema está em maior grau e número, assim como outros mais à castigar a população. Não imagino ricos como o problema, e sim aqueles que ricos ou não estão em conluio com projetos que vão contra identidades individuais e tb as de caráter nacional.

    obs. Imaginem quantas vigas de aço para sustentar .. e num ângulo crítico!.. onde qualquer mudança no ápice da estrutura tem consequencias enormes na base! aliado à o lago na superfície.. os engenheiros deste grandioso arquiteto são gênios!.. mas pena que a maioria dos projetos do grande Niemeyer possuem caráter ocultista.

  3. Até hoje a elite paraense tem medo dos “cabanos” por isso evitar incentivar o reavivamento dessa memória, o próprio monumento esta completamente abandonado e fechado sem qualquer placa indicativa. Uma pena porque também trata-se da única obra de Niemeyer aqui em Belém. E olha que quem mandou ergue esse monumento foi Jader!

  4. “No Rio Grande do Sul a Revolução Farroupilha é lembrada e comemorada em todos os rincões e até em parte de Santa Catarina”.

    Também é comemorada no oeste e sudoeste do Paraná.

  5. Não se pode divulgar essas revoluções separatistas antigas, pois vai estimular os grupos separatistas atuais.
    Essas revoluções, certamente não eram populares como se afirma, mas de brasileiros natos contra o domínio português. Os líderes eram altamente inteligentes e estrategistas. Devia haver países estrangeiros envolvidos (as ONGs antigas). Os portugueses foram uns gênios, por terem conseguido a unificação do Brasil por 400 anos.
    Nessa região não há fome, devido a fartura da terra.
    Os portugueses queriam escravizar o povo da época ? Pode ser …
    No Brasil de hoje está havendo uma revolução armada, mas ninguém comenta. Uma revolução silenciosa.
    Eu perdi totalmente a referência.
    Não sei em que regime político nós estamos.
    É uma espécie de populismocracia, corruptocracia, impunidadecracia, banqueirocracia, impostocracia, traficantecracia e propagandacracia. É uma panela de pressão. Tomara que eu esteja errado.
    Olha, se derem asas ao povão ignorante, eles derrubam as instituições.

  6. DANDOLO….Sua falta de entendimento em classificar o momento atual resume-se em uma unica frase REPUBLICA DAS RATAZANAS

  7. República das Ratazanas ? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Essa foi boa. Ninguém quer saber de Capitalismo, Socialismo ou Comunismo, mas de grana em seus bolsos. Isso é muito triste.

  8. Não poder divulgar revoluções antigas Dandolo é o mesmo que “estimular” a censura. É o mesmo que esquecer daqueles que lutaram por um país livre da colonização imperial visando lucro para o Portugal e desgraça para o Brasil. Avançando um pouco no tempo dessas lutas do século XIX, a revolução da chibata (XX) também foi um protesto contra o regime da superioridade de uma classe contra os brasileiros que viviam sob os resquícios do escravismo. Isto também não deveria ser divulgado?
    Para entendermos todo problema que vivemos hoje precisamos ver como foi o passado, e não regeitá-lo.

  9. 1. A independência do Brasil foi muito bem recebida pelo povo paraense, mas extremamente combatida pela elite do estado (Portugueses), que reprimiram e mataram para manter o Pará SEPARADO do Brasil. Com a derrota dessa elite e a adesão a independência pensou-se que essa elite seria removida do centro de poder, em favor da elite paraense (fazendeiros e comerciantes) mas o mesmo não ocorreu.
    2. Uma das causas da cabanagem se dá exatamente por aí, vivia-se num país que não era seu, o Brasil dos portugueses, daí o sentimento de separação e de criação de um estado governada pelos locais. Mesmo essa visão não era unânime, pois alguns reinvicadavam apenas que o governo fosse exercido por um paraense ou “brasileiro”.

  10. Temos que beijar os pés dos portugueses, pois eles nos entregaram um país continental e multiracial maravilhoso. As guerras antigas eram terríveis,com execuções em massa. Se não fosse desse jeito, os portugueses e brasileiros brancos perderiam o controle. Os Cabanos eram negros, índios e mestiços, ou seja, escravos e selvagens. Só estou mostrando como era a realidade do país em 1835.
    Os portugueses cometeram um grande erro estratégico para manter o Brasil em seu poder: D.P.I. jamais deveria ter saido do Brasil para Portugal. Priorizaram um pequeno país, em detrimento de um país continental.Portugal é que deveria ser o reinado subalterno. Os portugueses nascidos no Brasil, com o tempo, não se sentiram mais portugueses, houve a miscigenação, e acabaram perdendo o Brasil.
    Pessoal,a história tem que ser contada sem distorções, com neutralidade.

  11. Exaltar a tática portuguesa de dividir o Brasil naquela época é perigoso. Portugal não entregou um Brasil, o que fizeram foi uma resistência ao processo de independência que pretendia manter o Brasil divido. Graças as ações da Coroa brasileira que se conseguiu unificar o futuro país.

    Os cabanos, a massa revolucionária queria terra para trabalhar e o fim da exploração dos comerciantes portugueses, estavam se lixando para essa história de Brasil indenpendente. Esse debate não chegava até as classes desfavorecidas. Quem discutia a parte política eram os líderes do movimento: fazendeiros, pequenos proprietários de terras, profissionais liberais, baixo clero e comerciantes brasileiros (paraenses). Poucos queriam separação do Brasil. Um informação para você aqui no Pará tivemos movimentos de apoio a independência brasileira que foram reprimidos pelo GOVERNO PORTUGUÊS. Por favor leia mais história antes de por abobrinhas aqui.

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