O lado obscuro do auxílio da China a países em desenvolvimento

http://1.bp.blogspot.com/_IzGDYJE7jOs/SBZvTpCaLeI/AAAAAAAAB0U/Mfav38x2BcM/s400/china-africa.jpgSugestão: Gérsio Mutti

Christopher Walker e Sarah Cook*
UOL


Um número crescente de países recebe da China bilhões de dólares ao ano em assistência, empréstimos e investimentos. Já em 2010, Pequim se comprometeu a fornecer US$ 25 bilhões (R$ 45,1 bilhões) a nações da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês). Em março, o presidente de Zâmbia retornou de uma viagem da China com um empréstimo de US$ 1 bilhão (R$ 1,8 bilhão).

À medida que aumenta o nível de assistência estrangeira de Pequim e que as relações da China com países da África, da Ásia e da América Latina aprofundam-de, uma questão fundamental emerge: que impacto terá uma superpotência opaca e repressora sobre padrões de governança no mundo em desenvolvimento?

Uma análise da Freedom House, chamada “Países na Encruzilhada”, aponta os desafios com os quais muitos desses países que recebem ajuda se confrontam enquanto tentam construir sistemas mais transparentes e responsáveis. O combate à corrupção e a garantia da liberdade de expressão e de reunião têm se mostrado especialmente difíceis. O lado negro da iniciativa da China, com a sua ajuda não transparente e condições implícitas, corre o risco de desequilibrar a balança na direção errada.

Para entender o “efeito China” sobre os países em desenvolvimento, é essencial compreender os métodos que Pequim está usando para exercer influência e tolher incentivos à governança responsável.

Primeiro, à medida que as instituições financeiras internacionais e as organizações doadoras procuram encorajar normas de governança mais fortes, a ajuda da China torna-se uma fonte alternativa de recursos. Os governos que recebem ajuda utilizam isso como elemento de barganha para conter as medidas que fortalecem a transparência e o império da lei, especialmente aqueles que poderiam desafiar a elite do poder.

O Camboja é um exemplo disso. O governo em Phnom Penh, que recebeu uma ajuda substancial dos Estados Unidos e de outras democracias, agora recebe quantias comparáveis da China. As autoridades cambojanas usaram essa “competição por assistência” para se beneficiarem. Em vez de combater a corrupção e implementar as necessárias reformas no judiciário e no setor de mídia, o governo do primeiro-ministro Hun Sen reduziu o espaço para vozes alternativas e instituições independentes. Doadores ocidentais, com medo de perderem influência, têm se mostrado cada vez mais hesitantes na hora de penalizar o regime pelas suas falhas.

Em outubro, o governo guineano anunciou um acordo de US$ 7 bilhões (R$ 12,6 bilhões) com o Fundo Internacional da China no momento em que a comunidade internacional estava cogitando sanções contra a Guiné após um massacre de apoiadores da oposição. O caso revela como até mesmo investimentos feitos por uma entidade privada, neste caso uma instituição que tem vínculos com Pequim, podem ser manipulados de forma a minar as tentativas de apoiar os padrões de direitos humanos.

Segundo, embora o termo “sem nenhuma condição vinculada” seja comumente utilizado para descrever a abordagem da China no mundo em desenvolvimento, a realidade não é assim tão benigna. Uma combinação de condições sutis e não tão sutis geralmente acompanha a generosidade chinesa. Entre tais condições está a pressão para que sejam silenciadas as vozes que criticam o governo chinês, muitas vezes enfraquecendo as liberdades básicas de expressão e de reunião nesses países. As autoridades do Nepal, que receberam recentemente um aumento de 50% na ajuda vinda de Pequim, reprimiram violentamente as manifestações tibetanas, o que incluiu a prisão de milhares de exilados em 2008. Em dezembro do ano passado, o governo do Camboja deportou 20 uigures para a China, onde é praticamente certo que eles serão submetidos a prisão e torturas. Três dias depois, Pequim anunciou um pacote de acordos com o Camboja, com um valor estimado de US$ 1 bilhão (R$ 1,8 bilhão).

Nem mesmo países mais democraticamente desenvolvidos estão imunes a tais pressões. Em março de 2009, o governo sul-africano impediu o Dalai Lama de participar de uma conferência de paz vinculada à Copa do Mundo.

Terceiro, as verbas de auxílio chinesas estão frequentemente condicionadas à aquisição de produtos selecionados por autoridades chinesas sem a abertura de qualquer processo de licitação. Na Namíbia, agências de combate à corrupção estão investigando pagamentos suspeitos em uma negociação envolvendo escaneadores de segurança comprados pelo governo de uma companhia que até recentemente era dirigida pelo filho do presidente Hu Jintao. A resposta de Pequim foi esquivar-se das investigações e ativar o seu robusto aparato de censura à Internet, removendo da Web referências ao caso, que os cibernautas chineses poderiam descobrir.

Observadores como o acadêmico Larry Diamond perceberam que países semi-democráticos, e não autocracias, são os mais promissores para a expansão do número de democracias consolidadas globalmente. Os aspectos patentemente negativos do aumento da influência mundial do Partido Comunista Chinês representam um golpe real para esta aspiração.

A análise global sobre direitos políticos e liberdades civis feita pela Freedom House coloca este fenômeno em perspectiva. No decorrer dos últimos cinco anos, países com apenas algumas características de sistemas democráticos institucionalizados regrediram significativamente – 57 países da categoria “parcialmente livres” experimentaram regressões, e apenas 38 avançaram.

O envolvimento cada vez mais profundo de Pequim nesses casos pode gerar vários efeitos, alguns talvez positivos para o desenvolvimento econômico de curto prazo. Mas a faceta escura do envolvimento do regime chinês – a opacidade da sua ajuda e as condições nada liberais vinculadas a este auxílio – significa que no longo prazo os incentivos para o fortalecimento da governança responsável e dos direitos humanos foram distorcidos, ou mesmo revertidos.

*(Christopher Walker é diretor de estudos e Sarah Cook é pesquisadora da Ásia da Freedom House).

Fonte: BOL

9 Comentários

  1. Imagina só vão escapar da ajuda NÃO transparente dos EUA para uma da China, isso é como sair da frigideira de oleo fervente, para o fogo, em qualquer dos lados o sugeito morre queimado. Sair dos EU para a China é como sair da boca do Lobisomem para o Dragão.

  2. Direitos Humanos, e liberdade de expressão, essas palavras é quase um tabu na China, eles sabem que chegará um momento onde os países ricos EUA, União Europeía, se sentiram mais ameaçados economicamente, e passaram a adotar sanções a produtos chineses alegado que esses produtos são derivados de mão de obra escrava e não só de um cambio manipulado artificialmente a seu favor. Esse auxílio ecônomico ao meu ver nada mais é que uma forma de garantir apoio nas Nações Unidas a seu favor.

  3. A China cada vez mais busca aumentar sua área de influência, garantir fontes de matéria prima e expandir bases de negócios.
    Temos várias empresas chinesas hoje no Brasil. é perguntar pra quem trabalha nelas como é o clima. Gritos, falta de respeito a horário de descanso e mais algumas coisas fazem parte do pacote motivacional dessas empresas….

  4. Arne Nelson, em parte você está certo. Porém, o motivo para os outros países europeus barrarem a China é apenas um, não poderia aceitar outro paí fazendo o mesmo que eles faziam (manipoulando).
    A Europa perdendo força será o primeiro passo para a nova Ordem Mndial.

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    Eu sempre pensei nisso após ver como a China cresce, da maneira que cresce, e de como ela se prota diante do mundo.

    ELa no futuro será sem duvias, pior que os EUA e Europa juntos. SIm, pois eles são mais inescrupulososo e não tem medo de msotrar. E tem gente que ainda aplaude isso.
    O Brasil deve aproveitar e pega carona nessa.

  5. “que impacto terá uma superpotência opaca e repressora sobre padrões de governança no mundo em desenvolvimento?”

    Fala dos Yankees não é mesmo??? Pois são eles que apoiaram as ditaduras na A.L. e atualmente apoiam 80-90% da ditaduras do mundo, principalmente no Oriente Médio, onde a Arabia Saudita é o melhor exemplo disso…

    Hipocrisia com uma pitada de propaganda, Hoje os chineses fazem o que os Yankees fizeram por todas as décadas e os dois Séculos de sua história!

    Valeu!!

  6. para com isso voces acha que os EUA vai deixa ser de manda-chuva pra guarda-chuva ?
    em menos que dois segundos os caras acaba com ele isso a historia ja diz a china j foi invdida varias vezes e nem por isso mostro nada a china tem um grande exercito mais tem grandes inimigos oque tem pra se defender se bota o Tio-san EUA e o Urso Russa esses dois paises tem sim historia de guerra hoje o unico pais que pode bater de frente com os americanos são os russos e diferente os russos não tem muito cobiça é tão que georgia esta ai se os russos quise ja tinha tirado do mapa chunta Russia Eua é dragão com suloço.

  7. Nessa perspectiva nao é de se estranhar o apoio chines ao regime repressivo e fraudulento do Ira, mas ainda acredito no bem, e este vai prosperar.

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