Defesa & Geopolítica

O que representa a reeleição de Insulza à frente da Organização dos Estados Americanos?

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Antonio Caño
Luiz Roberto Mendes Gonçalves

José Miguel Insulza é um homem de ofício e experiência que pode ser citado entre a elite da classe política latinoamericana dos últimos 20 anos. Seu manejo, de posições relevantes do governo chileno, da crise provocada pela detenção de Pinochet em Londres no final dos anos 1990 é um exemplo de vontade, intuição e pragmatismo, suas melhores qualidades.

Esses méritos são reconhecidos há tempo por seus compatriotas e por muitos de seus colegas na região. E por isso sua eleição, há cinco anos, como secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) foi recebida como uma boa oportunidade. A oposição dos EUA só se justificava então pela lógica hostilidade de um governo ultraconservador em relação a um dirigente de credenciais socialistas.

Insulza foi eleito na quarta-feira (24) por aclamação para um novo mandato de cinco anos, mas desta vez a decisão não é tanto consequência das virtudes do candidato como a prova das carências da OEA e dos países que a integram. É de supor que Insulza não terá perdido suas habilidades e é possível, portanto, que consiga fazer um bom trabalho. Mas não é por isso que ele se apresentou nem é por isso que foi eleito.

Insulza optou à reeleição porque não pôde cumprir suas aspirações de ser candidato presidencial no Chile, como pretendeu com afã durante boa parte de seu primeiro mandato na OEA. Não assumirá o posto movido, como pela primeira vez, pelo ânimo de demonstrar suas condições de estadista e ganhar prestígio e fama internacionais. Continuará, talvez animado a lavar sua imagem diante de alguns que a sujaram, mas, sobretudo, para prolongar por cinco anos uma vida política que de outra forma teria chegado ao fim.

Além do lugar-comum, Insulza é um animal político. Fora desse hábitat fica tão incômodo quanto um peixe fora da água. Também é um caráter vulcânico para o qual é mais difícil fazer amigos do que perder os que tem. Nem no Chile, depois da vitória da direita, nem em Washington criou alternativas para deixar a OEA. Chegado o momento de decidir, viu-se tão inclinado a continuar na OEA quanto esta obrigada a elegê-lo.

Ninguém apresentou um substituto para Insulza. Os EUA, que desta vez não estavam contra ele por razões ideológicas, mas de justificada discrepância política (Venezuela, Cuba, Honduras), não cuidou disso. O Brasil não se interessava, prefere mandar em outros fóruns. O resto da América Latina vive um cisma entre chavistas e antichavistas, populistas e democratas, que o deixa paralisado.

A reeleição de Insulza é o fruto do infortúnio de todos.

Sugestão: Gérsio Mutti

Fonte: Bol

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