Fala de Lula sobre Irã ecoa entre americanos

Gustavo Chacra, correspondente, Nova York
Casa Branca, jornais e analistas dão destaque à oposição do País na ONU

Depois da visita da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, a Brasília e São Paulo, o governo brasileiro transformou-se no foco das atenções americanas para conseguir aprovar novas sanções ao Irã no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Diplomatas, políticos e analistas concordam que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva será fundamental para isolar o Irã, ainda que o Brasil não tenha poder de veto no órgão decisório máximo da ONU.

O peso brasileiro deve-se à credibilidade do País, que não possui armas nucleares por opção própria, e porque a crítica às sanções deixaria a China mais à vontade para vetar novas punições contra Teerã.

A posição brasileira, no dia seguinte à visita de Hillary, dominou o briefing para a imprensa do Departamento de Estado em Washington. Jornalistas estrangeiros insistiram na questão sobre como os EUA conseguirão convencer o Brasil. O porta-voz do Departamento de Estado P.J. Crowley tentou contornar as divergências ao afirmar que os dois países concordam que “há riscos em uma corrida nuclear no Oriente Médio”.

Ao ser pressionado por um repórter sobre o claro antagonismo entre os governos de Barack Obama e Lula a respeito do Irã, o porta-voz respondeu que “o que o Brasil decidir é uma questão deles”, mas acrescentou que o diálogo e o tempo podem levar os brasileiros a adotar uma outra posição na hora de votar a resolução, que já teria um rascunho circulando nos corredores da ONU.

As diferenças entre os EUA e o Brasil também receberam destaque na imprensa. O Wall Street Journal deu manchete na capa para a visita de Hillary ao Brasil, afirmando que os EUA enfrentam um novo obstáculo para aprovar novas sanções a Teerã. O jornal, assim como seus concorrentes, citaram Lula dizendo “não ser prudente colocar o Irã contra a parede”.

Além do Brasil, a Turquia e o Líbano, que também integram o Conselho de Segurança, têm se posicionado contra uma nova resolução. Diferentemente do que diz Hillary, analistas avaliam que esses países adotaram uma posição favorável ao Irã por questões internas e não por influência ou “histórias contadas por Teerã”, como disse a americana.

Os turcos, apesar de serem parceiros militares dos EUA na Otan, mantêm estreitas relações comerciais com os iranianos que remontam aos tempos dos impérios otomano e persa. O laço foi ampliado na atual administração do premiê Recep Tayyip Erdogan. O governo do primeiro-ministro libanês Saad Hariri é aliado americano, mas não tem como marginalizar a posição do Hezbollah, ligado a Teerã, que integra a coalizão governista. Brasileiros, por sua vez, teriam uma posição mais maleável diante do Irã.

EUA, França, Grã-Bretanha e Israel acusam o Irã de conduzir um programa nuclear com fins militares. O Brasil diz acreditar na versão iraniana e Lula vai a Teerã em maio.

É uma forma de o Brasil mostrar sua força, de se transformar em uma força diplomática. Não há como negar que o Brasil está se tornando um líder global”, afirmou Christopher Sabatini, que dirige o Council of the Americas, em Nova York.

Os americanos aceitam o fortalecimento brasileiro e querem que o País se envolva em grandes questões do hemisfério, mas “as agendas dos dois países são diferentes”, afirmou Sabatini ao Estado. Por enquanto, a brasileira tem prevalecido, como no caso do Irã. O professor da Universidade Columbia, Gary Sick, declarou a jornalistas ontem que essa posição brasileira fortalece o regime de Teerã, que não se sentirá isolado. Em recente entrevista ao Estado, o especialista em política iraniana afirmou que o Brasil serve de modelo para o Irã. Isto é, os iranianos tentam buscar a tecnologia para fabricar uma arma atômica, sem necessariamente produzi-la.

RASCUNHO

O Departamento de Estado dos EUA negou ontem a informação de que já teria apresentado um esboço do texto das sanções ao Irã para integrantes do Conselho de Segurança. A informação havia sido divulgada pelo New York Times.

Sugestão: Gérsio Mutti

Fonte: O Estado de S. Paulo via MRE

10 Comentários

  1. Excelente reprodução do artigo sem destilar veneno contra a atual administração do país.

    Enquanto outros blogs, tentam focar questões políticas da “forma que lhes convêem” e esquecem de ver a verdadeira capacidade da diplomacia brasileira.

    Está custando caro aos EUA não apoiar o Brasil para uma cadeira permanente no CS da Onu.

    T+

  2. Caro Ricardo,
    Não seria o contrário? O Brasil não deveria se alinhar mais com os EUA para ter a sua vaga no conselho?
    Acho a posição Brasileira quanto ao Irã errada, pois está criando um monstro às custas do sonho de ocupar a tal vaga, mas acredito que no fim o Irã terá a sua bomba atômica e o Brasil ficará sem a sua cadeira.
    Sou pessoalmente contra à eterna oposição irracional do Brasil a tudo que se refere aos EUA, pois acho que o país tem que abandonar a dogma anti-norteamericana e aproveitar melhor as chances que os EUA dão ao Brasil para se projetar internacionalmente.

  3. Sou à favor do programa nuclear iraniano para fins pacíficos, como todos os países do mundo tem este direito, mas acho que o Irã não deve provocar mais a ira ocidental, se não estão desenvolvendo artefatos nucleares, liberem as instalações para inspeções de orgãos internacionais e acaba-se logo com a briga, o que me deixa preocupado, é o que o Brasil esta ganhando com tudo isto, indo contra seus maiores parceiros comerciais (menos a China),EUA, UE….

    Tenho absoluta certeza que isto não é por causa do ínfimo comércio entre Brasil-Irã,tem algo escondido nesse tabuleiro, ou ganhamos algo para compensar nosso apoio ou não faz sentido apoiar a república dos aiatolás,só gostaria de saber o que é que eles, o Irã, esta dando em troca.

    Abraço.

  4. Prezados Ricardo e Excel,

    Em primeiro lugar, os EUA apoiam a reforma do CS para ampliação dos membros permanentes ? Eu nunca vi por exemplo o Obama ou a Hilary defendendo este ponto… será que é do interesse deles que isto ocorra ?

    Prezado Lucas,

    Permita-me estimular um pouco o debate, invertendo o seu raciocínio: Se apoiar as sanções planejadas pelos seus parceiros comerciais, o que o Brasil ganhará em troca para compensar as perdas que terá no comércio “ínfimo” de US$ 1,1 bilhão (e em expansão) com o Irã ? Porque EUA, França e Inglaterra não perdem nada em ampliar estas sanções, não é mesmo ? E será que estas sanções serão eficazes ? O custo-benefício valerá a pena ? As sanções aplicadas até agora resultaram em quê ?

    Na realidade, acho que o Brasil está numa difícil posição: por um lado, apoia o princípio de desenvolvimento nuclear pacífico do Irã pois já sofre pressões dos países do CS que dominam o ciclo nuclear e que querem restringir este desenvolvimento por outros países, com o objetivo declarado de evitar a proliferação de armas nucleares, mas por trás, querem evitar a concorrência de outros players neste mercado de aplicações nucleares pacíficas. Por outro lado, se o Irã efetivamente desenvolver a bomba atômica, apesar da posição de diálogo defendida pelo Brasil, vai justamente fornecer munição para a implementação daqueles protocolos de inspeção adicional da AEIA que restringem a liberdade do Brasil (e de outros países) em desenvolver tecnologia nuclear própria.

    Na minha opnião a diplomacia do Brasil vem agindo certo até o momento. O que talvez nos deixe preocupados é que eles não revelaram (por razões óbvias) qual é o Plano B, ou seja, que posição o Brasil tomaria se ficar 100% claro que o Irã está desenvolvendo armas nucleares e qual seria o critério para chegar a esta conclusão. Aliás, eu espero que eles tenham pensado neste plano B…

    Saudações, VN.

  5. Amigo Vilas, os EUA tem defendido a nomeação do Japão para a vaga no concelho. Pena que não seja o Brasil, que como todos nós sabemos tem indice de rejeição muito menor que o Japão.
    O Brasil não pecisa ser subserviente aos EUA mas adotar uma aproximação mais pragmática e livre do dogma anti-norteamericano. OS EUA são o satanás? veja o Brasil defendendo um genocida que está prestes a criar um Bomba atômica só por interesses pessoais, e considerando o histórico de sucessos da diplomacia Brasileira que sempre se alinhou com países tidos não alinhados e disso não obteve nenhum resultado prático até hoje, é obvio que o Brasil vai novamente entrar numa furada apoiando um estado terrorista e sair dessa de mãos abanando sem conseguir nada de concreto e fazendo papel de palhaço. O problema do Brasil é querer ser uma alternativa mundial aos EUA sem ter capacidade para isso.
    O Irão vai construir a bomba nuclear e até cego vê isso.

  6. Estamos nos expondo demais! O país na atual administração perdeu toda sua tradição de pragmatismo responsável na política internacional. Mesmo que o atual presidente seja muito bem quisto por suas ´posições politicamente corretas´ em termos práticos estamos nos afastando cada vez mais da Europa (inclusive “nosso parceiro estratégico”, a França) e os EUA. Perdemos nos últimos anos os poucos espaços que tínhamos na burocracia dos principais órgãos internacionais como Banco Mundial, Unesco, OMC, UNCTAD e nos Tribunal Internacional. Infelizmente nossa atual política proativa já nos colocou em situações extremamente delicadas, como o apoio brasileiro a um político egípcio anti-semita para o cargo de diretor da UNESCO; a queixa formal do Parlamento Europeu quanto ao questionamento do governo brasileiro aos procedimentos legais da justiça europeu no caso battisti, dentre várias outras. O último foi o caso do dissidente cubano morto em greve de fome. Depois que o Irã tiver sua bomba atômica nosso presidente certamente vai dizer, como sempre diz, que não sabia de nada, que foi enganado. E muitos tolos, no Brasil, vão acreditar nisso!

  7. Ricardo_Recife

    Você está perdendo o sentido Ricardo, o Brasil não está necessariamente se afastando, e sim criando um lado mais pacifico. O mundo ja ve isso com bons olhos.
    Além do mais, o Brasil defende um mundo com mais liberdade e multi-polar. Isso, os EUA e UE não aceitam né? pois não querem mais um player.

    É amigo, você está ficando cego mesmo.

    O Brasil está fazendo o que os ricos fazem no mundo a séculos, defendendo os seus interesses.

  8. Tem muito brasileiro morando na Europa o nos EUA, e entram em blogs e forums BRs tentando argumentar que o Brasil não “tem capacidade”.
    A realidade é outra: o Brasil é a única alternativa que tem ocidente quando o imperio americano chegue a seu fim.
    Há uns meses na globo falaram que para 2050 ficariam 5 impérios, só dois de cultura ocidental: US e BR.
    O declínio dos states está á vista: estão endividados de tal jeito que no vão ter recursos para manter esses gastos militares.
    Como a Inglaterra foi a herdeira do primeiro império marítimo onde sempre brilhava o sol (Portugal), NÓS já estamos herdando espaçõs que os EUA não têm como manter.
    Brasil é uma potência diferente, tipo soft-power, ou melhor, smart-power, está melhor preparada para lidar com aqueles que já não aceitam a política do big stick.
    Seleção natural: não tem sucesso nem os mais fortes nem os mais inteligentes, se não, aqueles que se adaptam.

  9. Para mim, o Brasil sustentará esta posição por um tempo para resguardar seus próprios interesses nucleares e marcar seu espaço. Mas depois, com um olho no C.S., cederá às pressões ocidentais.

    Sds.

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