Enquanto tropas saem, Talibã se fortalece no Afeganistão

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Especialistas receiam que talibãs retomem poder, aproveitando fraqueza do governo e vácuo deixado pela retirada das forças estrangeiras. Táticas de guerrilha e capacidade de adaptação fazem deles cada vez mais temidos.

“Estávamos patrulhando na província de Baghlan quando, de repente, ouvimos tiros de metralhadora, que vinham de uma rua paralela a um assentamento nas proximidades. Nos jogamos ao chão, como aprendemos no treinamento, e disparamos de volta. O ataque terminou tão rapidamente como tinha começado. Em pouco tempo, os atiradores haviam se misturado com os moradores da aldeia, de forma que ficou impossível diferenciá-los dos civis”.

O relato do tenente-coronel alemão Christian B., que serviu no Afeganistão como membro da Força Internacional de Assistência para a Segurança (Isaf), dá uma visão de uma das táticas preferidas dos talibãs: a emboscada. Especialistas acreditam que as táticas de guerrilha e a rápida capacidade de adaptação em sua forma de luta fazem dos talibãs cada vez mais perigosos.

“Suas estratégias estão se tornando cada vez mais brutais e sofisticadas”, avalia Rolf Tophoven, do Instituto de Pesquisa sobre o Terrorismo e Política de Segurança, sediado na Alemanha.

Ataques mortais crescem

Os ataques não ganharam apenas em brutalidade e tática, mas vêm se tornando também mais fatais. Especialmente desde que os talibãs vêm dando preferência a atacar alvos civis, a fim de recuperar o controle sobre áreas que as forças da coalizão vêm deixando, no âmbito da retirada gradual das tropas da Isaf. Um relatório das Nações Unidas aponta que o número de mortes de civis no Afeganistão aumentou nos últimos seis meses em 23%, em comparação com o ano anterior.

Em geral, os talibãs empregam ​​armadilhas com explosivos feitas por eles mesmos. Segundo os especialistas, essas bombas ainda são a principal arma na luta dos talibãs contra a Isaf e as forças de segurança afegãs.

Apesar de usarem os mesmos meios, os talibãs não são uma força de combate uniformemente organizada. Marvin Weinbaum, especialista em Afeganistão do Middle East Institute (Mei), de Washington, explica que, tanto no país como no vizinho Paquistão, eles são geralmente organizados em redes operadas localmente, que são todas classificadas pelo rótulo de “Talibã”.

Basicamente, afirma, são grupos guerrilheiros diferentes, que operam em quase todo o Afeganistão. “Em princípio, no entanto, os talibãs se concentram nas províncias do leste e do sul”, explica Weinbaum. “E não raramente têm refúgios no Paquistão.”

Após a invasão dos EUA, alguns talibãs permaneceram no Afeganistão, outros se retiraram para o Paquistão. Ali, criaram a chamada Quetta Shura, sob o comando do mulá Omar. Ao mesmo tempo, foram criados alguns outros grupos de talibãs paquistaneses, que agora estão frouxamente organizados na rede Tehrik-e-Taliban Pakistan.

Táticas adaptadas

Weinbaum ressalta que os talibãs no Paquistão e no Afeganistão diferem significativamente entre si, embora compartilhem princípios religiosos semelhantes, especialmente no que diz respeito aos objetivos políticos. Os talibãs afegãos querem derrubar o governo em Cabul. Já os talibãs paquistaneses desejam estabelecer uma teocracia no Paquistão, com a sharia como lei. “Enquanto os talibãs paquistaneses apoiam os afegãos, os talibãs afegãos evitam atacar o Paquistão.”

Os talibãs não dispõem de uma estrutura de comando. “Os indícios apontam para rebeldes sem uma organização rigorosa. A maioria das operações é planejada e realizada por comandantes locais independentes”, afirma Weinbau. Somente os talibãs da