Decolando no Mercado Indiano: Desafios, Oportunidades Brasil Índia e as Parcerias na Aviação Regional

Edilson Moura Pinto


Nota: A imagem de capa, concepção artística do Plano Brasil, meramente representativa.

O mercado de aviação regional Indiano

Um estudo recente encomendado pela Boeing Índia prevê que a região do Sul da Ásia se tornará o mercado de aviação comercial de crescimento mais rápido, com mais de 8% de crescimento anual de tráfego nos próximos 20 anos.

Prevê-se que as companhias regionais quadrupliquem o tamanho de suas frotas nas próximas duas décadas, necessitando de mais de 2700 novos aviões para atender ao crescimento e à substituição da frota, impulsionados pela economia forte e pela expansão da classe média da Índia.

“As companhias aéreas indianas de baixo custo continuam a estimular a procura e a ligar regiões emergentes com tarifas baixas, detendo quase 90% de todos os assentos domésticos na região. Isto reflete o ritmo rápido da recuperação e da atividade econômica da região, uma vez que o tráfego e a capacidade excedem agora os níveis pré-pandemia”, disse Darren Hulst, vice-presidente de Marketing Comercial da Boeing.

Espera-se que o mercado do Sul da Ásia quadruplique a sua frota nas próximas duas décadas para satisfazer a procura de passageiros. A Boeing prevê que a região necessitará de 37 mil pilotos e 38 mil técnicos de manutenção nos próximos 20 anos, impulsionados principalmente pela crescente procura na Índia.

Em sua projeção para um cenário de médio prazo a Boeing estima que ds 2705 novas entregas, 72% apoiarão o crescimento da frota, enquanto 28% substituirão jatos mais antigos por modelos mais eficientes em termos de combustível.

Os aviões de corredor único serão responsáveis ​​por mais de 85% das entregas de novos aviões e é ai que se encontra uma oportunidade emergente para os Turbohélices e até mesmo aeronaves da linha E-jets dos quais a EMBRAER é lider mundial no seguimento.

Segundo as estimativas, cerca de 2320 aeronaves de corredor único podem ser necessárias para abastecer ao crescente mercado indiano e um percentual de mais de 80% destas aeronaves pode estar fixada em aeronaves turbohélices.

Entregas de aviões comerciais para a Índia e Sul da Ásia (2023-2042)
Jato Regional <5
Aeronaves de Corredor único 2320
Widebody 380
Cargueiros 5
Total 2705

O CMO completo está disponível em https://www.boeing.com/commercial/market/commercial-market-outlook/

De olho nestes potenciais mercados as autoridades indianas procuram acelerar seus programas de aeronaves regionais de transporte de passageiros que não conseguem decolar por conta de inúmeros fatores.

Apesar dos esforços, o setor de construção de aeronaves indiana enfrenta inúmeras barreiras, especialmente os projetos ambiciosos como o RTA-70 e o RTA-90, enfrentam uma série de desafios, e a Índia não é exceção.

A filosofia indiana de possuir soluções próprias para suas necessidades reforçando os incentivos para suas indústrias e produção autóctone dos bens de serviço ainda não conseguem surtir efeitos. As dificuldades ão muitas.

A complexidade tecnológica de desenvolver aeronaves modernas requer tecnologia de ponta e expertise em diversas áreas, como aerodinâmica, materiais compósitos, sistemas de propulsão e aviónica. A Índia pode enfrentar desafios para adquirir e desenvolver todas as capacidades necessárias internamente.

Outro ponto sensível é a concorreência internacional pelo financiamento e Recursos para o desenvolvimento de aeronaves o qual é extremamente caro e requer recursos financeiros significativos. Garantir financiamento adequado e alocar recursos humanos e materiais suficientes ao longo do ciclo de desenvolvimento pode ser um desafio para a Índia, especialmente considerando outras prioridades orçamentárias do governo.

Fora isso, a índia possui Capacidade Industrial Limitada e, embora a Índia tenha uma base industrial em crescimento, o país pode enfrentar desafios em termos de capacidade de produção e infraestrutura para apoiar o desenvolvimento e a fabricação em larga escala de aeronaves de grande porte como o RTA-70 e o RTA-90.

Um ponto que passa despercebido por muitos, refere-se as cada vez mais exigentes certificações e regulamentações. As aeronaves devem passar por rigorosos processos de certificação e regulamentação para garantir sua segurança e conformidade com padrões internacionais. A Índia pode enfrentar desafios para estabelecer uma estrutura regulatória eficaz e obter as certificações necessárias para as aeronaves desenvolvidas localmente.

FInalmente e não menos importante, a inexistência de parcerias internacionais neste setor, uma vez que o desenvolvimento bem-sucedido de aeronaves geralmente requer experiência prévia e colaboração internacional. A Índia pode enfrentar desafios para atrair talentos e estabelecer parcerias estratégicas com empresas e organizações internacionais com experiência em aeronáutica.

SARAS o Embrião do futuro

Ainda nos anos 90 a indústria aeroespacial indiana se lançou num projeto para desenvolvimento de uma aeronave de pequeno porte, cujo objetivo era desenvolver capacidades de sua indústria e capacitar para voos mais ambiciosos.

O Programa que atendia pelo nome SARAS surgiu como um projeto para desenvolver uma aeronave turboélice de transporte regional. que foi iniciado no início da década de 1990, com o objetivo de projetar e fabricar uma aeronave de transporte regional inteiramente local.

O programa passou por várias fases de desenvolvimento, incluindo interrupções e reinícios ao longo dos anos. Em diferentes momentos, o projeto enfrentou desafios técnicos, financeiros e de gestão. Em 2017, o projeto foi retomado com um novo impulso.

Um dos pontos críticos do programa é certamente os seus motores, item tecnológico cruscial e que se desenha como uma barreira para os aspirantes a desenvolvedores de programas no campo da aviação. O SARAS  foi desenhado para ser equipado com dois motores turboélice Pratt & Whitney Canada PT6A, uma escolha comum para aeronaves turboélice de pequeno a médio porte devido à sua confiabilidade e eficiência.

A aeronave foi desenhada para o transporte regional sendo capaz de transportar até 19 passageiros e foi concebida para atender à demanda por conectividade aérea em regiões remotas da Índia e para apoiar o desenvolvimento econômico e social nessas áreas. O conceito é semelhante ao do programa Brasileiro/ Argentino CBA 123 Vector que foi cancelado nos anos 90.

Características Técnicas 

  • Capacidade de Passageiros: Até 19 passageiros.
  • Alcance: Estimativas anteriores sugerem um alcance de até 1200km, adequado para voos regionais.
  • Velocidade de Cruzeiro: entre 550 a 600 km/h.
  • Carga Útil: Além de passageiros, poderia transportar carga leve, como bagagem ou suprimentos.

Como mencionado o SARAS se constitui num embrião tal qual o EMB-110 Bandeirante o foi para a EMBRAER, com o claro objetivo contribuir para a indústria aeroespacial da Índia, fornecendo uma aeronave regional eficiente e adaptada às necessidades do mercado interno.

Apesar dos desafios enfrentados no passado, o governo indiano tem demonstrado interesse em impulsionar o programa como parte de seus esforços para promover o desenvolvimento da indústria aeroespacial no país. Porém, como todo Embrião, este programa visa sustentar a base para voos mais altos., com aeronaves de maior capacidade e níveis de complexidad. o que para alguns analistas é algo que a índia pode ter severas dificuldades de alcançar a menos que trabalhe em conjunto com quem já detém expertise no setor.

Recentemente os projetisats da HAL, estatal indian que desenvolve o programa exibiram um modelo de aeronave diferente, com motores nas asas e que atende pelo acrônimo SARAS MKII  o qual seria uma nova proposta  para a aeronave regional d epequeno porte.

Voos mais altos

Para atender a demanda de aeronaves regionais de maior porte os construtores indianos trabalham em uma proposta de aeronave modular com capacidades maiores, os programas dos turbo-hélices indianos RTA-70 e RTA-90 são projetos de aeronaves regionais desenvolvidos pela Regional Transport Aircraft (RTA), uma subsidiária da empresa estatal Hindustan Aeronautics Limited (HAL).

O programa lançado em 2007 tinha como previsão iniciar as fases de protótipo em 2021 com entrada em serviço estimada para 2026. porém o programa não avançou.

O programa ambicioso visa desenvolver uma aeronave  com redução significativa nos custos em comparação com as aeronaves regionais turboélice existentes, com uma diminuição de 25% nos custos de aquisição, 25% nos custos operacionais e 50% nos custos de manutenção.

Concepção artística do RTA-70 autor Harsha Pal

A aeronave de 70 assentos é projetada para alcançar um alcance de 2500 km e exigirá uma pista de decolagem e pouso com comprimento de 900 metros . Com dimensões de 28,6 m de comprimento e 29,4 m de envergadura, a aeronave terá um teto de serviço de 30000 pés, uma velocidade de cruzeiro de 300 nós e estará em conformidade com os critérios do Estágio 4 em relação ao nível de ruído.

A cabine, configurada para acomodar quatro passageiros lado a lado, apresentará uma largura de 301 ms e uma altura de 3,35 m. O porão de carga terá um volume de 25 metros cúbicos .

O programa considera a utilização de uma fuselagem composta para a aeronave. Esta será propulsada por dois motores turboélice de última geração e contará com um sistema de controle fly-by-wire, aviônicos modulares de código aberto, vigilância automática dependente – capacidades de navegação por transmissão e monitores avançados.

O programa prevê dois modelos de capacidades diferentes, O RTA-70 é concebido para ser uma aeronave regional de médio porte, capaz de transportar cerca de 70 passageiros. Ele visa atender à crescente demanda por conectividade aérea em regiões remotas e pouco servidas da Índia.

Já o RTA-90 que teve o seu desenvolvimento anunciado em 2017, porém carece de informações detalhadas. Estima-se que é projetado para ser uma aeronave regional maior, com capacidade para transportar cerca de 90 passageiros. Assim como o RTA-70, tem como objetivo melhorar a conectividade aérea em áreas remotas da Índia e atender à crescente demanda por transporte aéreo regional e em primeira medida ucompartilha inúmeros itens com o “70” que inclui fuselagem  mais alongada, trens de pouso e asas.

Uma questão cruscial que precisa ser respondida neste processo é, terá a industria aeroespacial indiana a capacidade de projetar, desenvolver e sustentar este programa no mercado internacional, fazendo frente ao poderoso lobie chinês, franco italiano e atpe mesmo ao Brasileiro? uma vez que o seguimento regional de aeronaves para 90 passageiros, ainda que seja a jato, compete diretamente com a EMBRAER .

Ou seria esta uma oportunidade de acordos de desenvolvimentos conjuntos entre nações que poderiam trazer benefícios para ambos. Tempos atrás a EMBRAER Anunciou o seu desejo de retornar ao mercado de turbohélices regionais, apresnetando inclusive propostas de mesmas capacidades que as indianas.

O programa foi suspenso e deixou em aberto a falta de uma proposta da EMBRAER para o mercado. Inúmeros fatores pautam a decisão de enão levar adiante o prohrama, mas não seria ai uma oportunidade de cooperação no setor que tende a se expandir e permitir a capilaridade em mercados emergentes?

Análise de Possibilidades

Para a Embraer, participar dos programas RTA 70 e RTA 90 na Índia pode oferecer várias oportunidades estratégicas que completam a expertise indiana, fornecendo tecnologia e Know-how os quais a Embraer possui frente a uma sólida experiência na fabricação de aeronaves regionais de alta qualidade. Sua participação nos programas RTA poderia envolver o compartilhamento de tecnologia e know-how, ajudando a impulsionar o desenvolvimento das aeronaves indianas.

A EMBRAER pode buscar parcerias estratégicas com fabricantes indianos, fornecendo componentes, sistemas ou serviços específicos para as aeronaves RTA. Essas parcerias podem abrir portas para colaborações futuras em outros projetos e mercados.

Pode oferecer consultoria e suporte técnico durante o processo de desenvolvimento e certificação das aeronaves RTA. Sua experiência pode ajudar a acelerar o progresso do programa e garantir que as aeronaves atendam aos padrões internacionais de segurança e desempenho.

Pode explorar oportunidades para integrar sua cadeia de suprimentos global com fornecedores indianos, aproveitando os recursos locais e reduzindo os custos de produção das aeronaves RTA.

Finalmente, a exportação de componentes e aistemas que além de contribuir para os programas RTA, a Embraer pode explorar oportunidades para exportar componentes e sistemas fabricados no Brasil para as aeronaves indianas, ampliando assim sua presença no mercado de aviação da Índia e da região do Sul da Ásia.

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