A GEOGRAFIA POLÍTICA DA ÁGUA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

 Euzemar Florentino Júnior*


Segundo Braga (1979), a região amazônica é uma província fitogeográfica individualizada, com a presença de uma floresta tropical úmida, de ampla biomassa e heterogeneidade. Além desses fatores, esta apresenta variação de tipos vegetais, conforme o local de observação.

Em termos políticos, a floresta Amazônia pode ser dividida em duas regiões: a Amazônia Continental ou Internacional e a Amazônia Legal ou Brasileira. A Amazônia Continental, abarca países como: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Já a Amazônia Legal, abrange todos os estados brasileiros da região Norte, mais o norte de Mato Grosso e o oeste do Maranhão (IBGE, 2024).

Na porção norte da América do Sul, a Amazônia sensu latíssimo (limite em linha vermelha), compreende a sub-região Amazônia sensu stricto (limite em linha branca) e quatro sub-regiões periféricas: Andes, Planalto, Guiana e Gurupi (Fonte: JRC2005)(Fonte para o norte da América do Sul, como fundo deste e dos próximos mapas: pxhere)
Na porção norte da América do Sul, a Amazônia sensu latíssimo (limite em linha vermelha), compreende a sub-região Amazônia sensu stricto (limite em linha branca) e quatro sub-regiões periféricas: Andes, Planalto, Guiana e Gurupi (Fonte: JRC2005) (Fonte para o norte da América do Sul, como fundo deste e dos próximos mapas: pxhere)

Além das amplas reservas em biodiversidade, a floresta Amazônica possui reservas de minerais fósseis, minerais metálicos e água. Dentre os minerais fósseis, destacam-se: o petróleo e o gás natural, já entre os minerais metálicos, destacam-se: o minério de ferro, a bauxita, o manganês, o nióbio, entre outros. Em relação a água, há grandes reservas, que podem ser encontradas em rios, lagoas, aquíferos, na atmosfera (em forma de vapor) e também na vegetação.

Conforme o site AmbientalTurismo (2024), o Rio Amazonas é o maior rio em vazão e extensão do planeta Terra, apresentando 6.992 Km de extensão, com a presença de 1100 afluentes. Este rio nasce na Cordilheira dos Andes, mais especificamente no território peruano, sendo alimentado pelas águas do degelo dos Andes, mais as chuvas intensas da Floresta Amazônica. O seu curso e afluentes passam por vários países da América do Sul, tais como: Peru, Colômbia, Bolívia, Equador, Venezuela e Guiana.

Um dos graves problemas ambientais que a Bacia do Rio Amazonas enfrenta na atualidade é a questão da poluição, notadamente pela mineração, pela agricultura e pelo despejo de esgoto doméstico e industrial. Além da poluição, observa-se o processo de assoreamento do canal principal deste rio e de seus afluentes, devido a devastação das matas ciliares.

Outras bacias hidrográficas de importância estratégica e natural na região Amazônica são as dos Rios Tocantins e Araguaia, apresentando significativa vazão e extensão e sendo consideradas uma das maiores do Brasil. Estas percorrem os estados de: Tocantins, Pará, Maranhão, Goiás e Mato Grosso, além do Distrito Federal.

O Aquífero Alter do Chão, também denominado de Saga (Sistema Aquífero Grande Amazônia), é o maior aquífero em volume de água do planeta, superando o Aquífero Guarani. Essa fonte de água pode abastecer a Terra por aproximadamente 250 anos (ABREU ET AL., 2013).

Imagem BBC Brasil

Assim, para garantir a qualidade das águas do Aquífero Alter do Chão, o governo brasileiro juntamente com os governos dos estados da região Amazônica, devem monitorar as atividades econômicas que poderiam comprometer a qualidade de suas águas, dentre elas: a mineração, a agricultura e as indústrias.

Além das fontes de água em estado líquido presentes na Floresta Amazônica, também observa-se fontes em estado gasoso. Anualmente a Floresta Amazônica libera uma quantidade imensa de água em estado gasoso na atmosfera, sendo responsável pela formação de um fenômeno climático denominado de Rios Aéreos ou Rios Voadores.

Rios Aéreos ou Voadores são imensos volumes de vapor de água que se originam no Oceano Atlântico, precipitam-se sobre a Floresta Amazônica, onde, posteriormente, ganham aporte de umidade pela evapotranspiração, e seguem até os Andes, onde ao se depararem com a barreira orográfica, são direcionados para a região Centro-Sul da América do Sul, trazendo muitas chuvas, especialmente no período do verão (UFRRJ, 2024).

O desmatamento da Floresta Amazônica é o principal fator que diminui a força e a intensidade dos Rio Voadores, podendo contribuir para a diminuição das chuvas na região Centro-Sul do Brasil e demais países da América do Sul.

Finalmente, salienta-se que todos esses recursos naturais presentes na Floresta Amazônica, com destaque para a água, atraem a cobiça de nações desenvolvidas, tais como: EUA, Alemanha, França, China, Japão, etc., havendo a necessidade do governo brasileiro e dos estados da região Amazônica, implementarem políticas que assegurem a proteção dos recursos naturais e a soberania nacional.


Conclusão

A distinção entre a Amazônia Continental e a Amazônia Legal evidencia a complexidade política da região, com múltiplos países compartilhando fronteiras e interesses.

A presença de recursos minerais fósseis e metálicos, bem como vastas reservas de água, confere à Amazônia um valor estratégico para o desenvolvimento industrial e energético dos países da região.

As bacias dos rios Amazonas, Tocantins e Araguaia são fundamentais para a agricultura, navegação e fornecimento de água potável, além de representarem uma fonte de poder regional.

A magnitude deste aquífero destaca a importância da gestão sustentável da água na região, tanto para as necessidades locais quanto para a segurança hídrica global.

A conexão entre a Floresta Amazônica e os padrões climáticos da América do Sul ressalta a influência da região no clima regional e global, com implicações significativas para a agricultura e o abastecimento de água.

O desmatamento ameaça não apenas a biodiversidade, mas também os ciclos hidrológicos regionais e globais, destacando a necessidade de políticas eficazes de conservação ambiental.

A riqueza natural da Amazônia desperta o interesse de potências globais, exigindo do Brasil e dos países vizinhos uma postura firme na defesa de sua soberania e na implementação de políticas de desenvolvimento sustentável.


Referências

ABREU, F. A. M.; CAVALCANTE, I. N.; MATTA, M. A. S.. O Sistema Aqüífero Grande Amazônia–Saga: Um Imenso Potencial De Água Subterrânea No Braisl. Águas Subterrâneas, 2013.

BRAGA, P. I. S. Subdivisão fitogeográfica, tipos de vegetação, conservação e inventário florístico da floresta amazônica. Acta amazonica, v. 9, p. 53-80, 1979.

IBGE. Amazônia Legal. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/geociencias/cartas-e-mapas/mapas-regionais/15819-amazonia-legal.html>. Acesso: 27 abril 2024.

TURISMO AMBIENTAL. Rio Amazonas. Disponível em: < https://ambiental.tur.br/curiosidades-impressionantes-sobre-o-nosso-grande-rio-amazonas-que-voce-vai-gostar-de-saber/>. Acesso: 27 abril 2024.

UFRRJ. O que são rios voadores?. Disponível em: < https://itr.ufrrj.br/determinacaoverde/o-que-sao-rios-voadores/>. Acesso: 27 abril 2024.


  • Sobre o Autor: Graduado em Geografia (Licenciatura e Bacharelado), pela Unesp de Ourinhos (Bacharelado com ênfase em Climatologia); Especialista em “Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas” (Unesp de Ourinhos) e Mestre em Geografia pela UEL, na linha Dinâmica Geoambiental. Professor de Geografia. Pesquisado nas áreas de Geomorfologia, Climatologia, Gerenciamento dos Recursos Hídricos, Geografia Política, Educação Ambiental, Geodiversidade, Geoconservação, Geoturismo e Epistemologia Geográfica.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.