Parceria Estratégica Brasil-Índia: Perspectivas para uma Nova Ordem Multipolar

E.M.Pinto


Uma estratégia de desenvolvimento econômico da Índia que envolva o  Brasil  pode ser uma estratégia econômica bem sucedida. O Brasil deve ser considerado não apenas como um parceiro econômico, mas também como um parceiro geopolítico. Assim como a complementaridade estrutural entre as economias é crucial, observamos um crescente alinhamento geopolítico entre as demais nações dos BRICS, mas e  a Índia e o Brasil?.Uma visão mais pragmática da evolução dos cenários econômicos mundiais denotam a necessidade de se alinhar um objetivo comum e de situar a estratégia econômica dentro do contexto mais amplo dos interesses geopolíticos compartilhados entre muitos blocos econômicos e de interesse nacional, dentre eles o dipolo Brasil – Índia.


O Brasil, tem um importante papel a desempenhar no mundo multipolar e pode se beneficiar mutuamente aos seus parceiros reduzindo as tensões e prevenindo conflitos. Nesse papel, a estratégia de manter relações diplomáticas equilibradas, aproveitando sua posição como país neutro e respeitado internacionalmente para facilitar o diálogo e a negociação lhe qualifica como parceiro ideal e o impulsiona no cenário geopolítico mundial. Como bem disse Henry Kissinger,

“Na geopolítica, a estratégia dos aliados se revela na habilidade de manter coalizões sólidas, promovendo estabilidade e equilíbrio de poder global.” – Autor: Henry Kissinger

Essa citação refere-se à importância da estratégia geopolítica dos aliados na busca pela estabilidade e equilíbrio de poder no cenário global. Neste contexto, o Brasil como mediador de conflitos entre China e Índia, pode ser interpretado como o pilar de uma estratégia que envolve a construção e manutenção de alianças sólidas para promover a paz e a cooperação entre essas duas nações asiáticas.

A estabilidade geopolítica é fundamental para o desenvolvimento econômico e a paz mundial. Portanto, ao desempenhar o papel de mediador entre duas potências como China e Índia, o Brasil contribui para a construção de um ambiente internacional mais estável, fortalecendo suas alianças e promovendo a cooperação global. Essa abordagem está alinhada com a ideia de que a estratégia dos aliados na geopolítica visa criar um mundo mais equilibrado e seguro por meio de ações colaborativas e diplomáticas.

O gigante asiático

A Índia encontra-se atualmente em meio a um reposicionamento geopolítico significativo, abandonando a antiga retórica do movimento não alinhado e buscando uma política fundamentada em interesses nacionais. Isso inclui o fortalecimento dos laços estratégicos com diversos países, incluindo os Estados Unidos e seus aliados na região, especialmente o Japão, mas é um parceiro estratégico militar da Rússia por exemplo.

Em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita da Índia atingiu a marca de US$3,73 trilhões , refletindo um aumento em comparação aos númerosregistrados no ano anterior. Deste modo o PIB per capita da Índia registrou seu ponto mais alto em 2023 e a nação asiática segue rumo a um desenvolvimento econômico sólido.

Uma parceria estratégica Brasil a Índia deve no entanto considerar os impulsionadores da política estratégica indiana para as próximas décadas. Estes incluem o compromisso com a autonomia estratégica, a competição estratégica com a China, a cooperação estratégica com os Estados Unidos e seus aliados, o apoio a uma ordem internacional pautada na pluralidade de poderes, o aumento da capacidade de defesa e a cautela em relação a pressões sobre direitos humanos e promoção da democracia.

A relação estratégica Índia-Brasil exorta à condições inéditas para o Brasil, exigindo maturidade diplomática, econômica, política e militar que deve ser construída com base em seus próprios méritos, até porque exigirá posicionamentos em relação segurança mais ampla da região do indo pacífico, envolvendo, inevitavelmente, a China, devido às estratégias tanto da Austrália quanto dos Estados Unidos, Reino Unido e Japão. Apesar de a China ser um fator na parceria estratégica entre Austrália e Índia, é vital compreender que esses países não abordam a China de perspectivas idênticas. Há diferenças substanciais em suas relações individuais com a China.

Enquanto a Índia vê a China como uma grande potência com a qual compartilha uma fronteira disputada e histórico de guerra, o Brasil adota uma perspectiva diferente e não enxerga a China, a enxerga como a grande potência regional e não a considera uma inimiga, mantendo assim uma relação comercial substancial.

O Gigante adormecido

O Brasil, como membro dos BRICS, busca fortalecer suas relações econômicas e políticas com os outros países do grupo. O diálogo e a cooperação entre os BRICS visam criar uma voz mais influente para essas economias emergentes em fóruns internacionais e instituições financeiras globais.

É importante notar que, embora o Brasil faça parte deste grupo, cada membro tem suas próprias características e desafios distintos. A dinâmica e a natureza da colaboração dentro dos BRICS podem variar dependendo das circunstâncias políticas e econômicas globais.

Ambos são membros dos BRICS, colaborando em fóruns internacionais e buscando reformas em instituições globais. Brasil e Índia possuem relações históricas amigáveis, com cooperação em áreas como agricultura, defesa e ciência.

Do ponto de vista econômico, possue parceria em comércio e investimentos, com destaque para exportação de produtos agrícolas brasileiros para a Índia. Porém ambos enfrenta muitos desafios que incluem a distância geográfica, mas ambos buscam aumentar a colaboração econômica.

Brasil e Índia estimulam o intercâmbio cultural crescente, com eventos promovendo a compreensão mútua e existe um potencial para fortalecer laços através de iniciativas educacionais e turísticas.

No cenpario político, ambos compartilham  parcerias estratégicas abrangentes, com cooperação em foros como BRICS e G20. O Brasil reconhece a importância da China como parceiro econômico e busca equilibrar relações com outros países tais como a Índia.

Atualmente a China é o principal parceiro comercial do Brasil, especialmente em commodities como soja e minério de ferro. Os chienses possuem aqui investimentos em setores de infraestrutura, embora alguns questionamentos sobre soberania e segurança estejam sempre presentes.
Porém do ponto de vista cultural, Brasile  China que desenvolvem intercâmbio de forma crescente, possuem maiores desafios devido a diferenças linguísticas e culturais. No entanto, partilham significativas cooperações em ciência e tecnologia .

Oportunidades mútuas

O comportamento internacional de um país é moldado por fatores diversos, incluindo geografia, história, cultura e sistema político. O Brasil como aliado dos Estados Unidos e das nações do Bloco europeu, deseja uma China bem-sucedida em suas reformas econômicas, mas também busca um equilíbrio estratégico ancorado no Estado de Direito e na estabilidade regional.

Nesse sentido o Brasil é um aliado conveniente e deveras oportuno para ambas nações, sua posição de neutralidade, capacidades produtivas, agricultura, energia e do seu mercado interno hávido por consumo d emanufaturados que estão se esvaindo dos produtores brasileiros na grande tsnami de desindustrialização que o país mergulhou.

O Brasil tem um papel importnate para desempenhar em nome dos BRICS no Atlântico Sul, isto envolve o litoral da África e suas nações, além do seu entrono estratégico da américa do Sul. Tanto China quanto Índia acompanham isso de forma criteriosa pois identificam aqui as vantagens e potencialidades destas parcerias, mas como vamos lidar com o poder de concorrência entre os dois gigantes asiáticos?

Além de equilibrar a China, a parceria estratégica entre Brasil e Índia também se sustenta nos interesses compartilhados na defesa da ordem internacional multipolar e no desenvolvimento de instituições e ambos os países reconhecem a importância de trabalhar em desafios globais como não proliferação nuclear e mudanças climáticas.

A parceria estratégica Brasil-Índia, não é apenas um mecanismo de amortecimento diplomático e econômico em resposta ao desafio chinês, mas também uma busca conjunta por uma nova dinâmica estratégica para um novo mundo multipolar. Essa colaboração, portanto, deve ser pautada em valores compartilhados e interesses estratégicos convergentes, os quais certamente podem moldar positivamente o futuro de ambas as nações.

 

3 Comentários

  1. Prof Edilson,
    Esse era o artigo que eu esperava que alguém escrevesse. Há tempos vinha me questionando do porquê das relações Brasil-Índia estarem em um patamar muito aquém daquilo que poderia e deveria ser. Sempre achei, e continuo a achar, um desperdício a decisão do governo Dilma Rousseff de ter optado por caças suecos – e aqui não questiono a qualidade dos mesmos -, mas do ponto de vista geopolítico foi uma tremenda “bola fora”, como se diz. Afinal, o que um país com menos de 9 milhões de habitantes pode oferecer de significativo em termos econômicos e geopolíticos como troca pela compra de seus caças. Governo brasileiro perdeu uma grande oportunidade em oferecer à Nova Delhi a compra de seus caças Tejas, por exemplo, em troca de maior abertura de seu gigantesco mercado aos produtos brasileiros de maior valor agregado como aviões Embraer, por exemplo. Fora, é claro, o benefício geopolítico em nos aproximarmos de um país que será a terceira maior economia do mundo até o final desta década. Parece que algo está sendo feito mais recentemente como o interesse brasileiro pelos sistemas de defesa anti-aérea Akash e os mísseis Brahmos, o que, caso se confirme a aquisição e quem sabe a produção destes aqui, aponta para uma mudança importante de paradigma do Brasil, sempre demasiadamente atrelado aos Estados Unidos e União Europeia.
    Abraço.

    • Luis, eu compartilho plenamente do seu pensamento. qualquer análise séria vai demonstrar que em 30 anos o Brasil será o estranho no niho das três maiores potencias econômicas do mundo, EUA, China e Índia e ai vem a pergunta, o que podemos fazer? ou pior, o que deveríamos ter feito?

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