As razões por trás do fiasco da aviação Soviética em 1941

Ilyushin Il-2 – Com sua produção iniciada em Fevereiro de 1941, ao final totalizava mais de 36 mil unidades fabricadas.

Durante os combates recentes na Síria, a aviação militar russa demonstrou que, com exceção dos Estados Unidos, a Rússia é o único país do mundo cuja Força Aérea é capaz de projetar o seu poderio muito além das fronteiras nacionais. No entanto, nem sempre ela foi tão bem sucedida. A conscientização sobre a importância da aviação militar ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial.

Este foi o momento do surgimento da aviação militar russa e, ao mesmo tempo, o período mais difícil de sua história. Em 1941, a Força Aérea soviética sofreu uma derrota arrasadora. Ao longo dos seis primeiros meses da participação da URSS na guerra, ela perdeu quase 70% de seus aviões de combate. Em 22 de junho de 1941, dia da invasão da União Soviética pela Alemanha nazista, as perdas chegaram a 1.200 aeronaves, mais da metade das quais nem teve tempo de decolar.

Ataque soviético como Il-2 sobre uma coluna alemã – Fedor Levshin / RIA Novosti

No mesmo período, os alemães também sofreram sérios danos, perdendo quase 4.000 aviões, o que excedeu em muito as perdas somadas de todas as campanhas anteriores da Wehrmacht, o exército nazista. Apesar disso, as perdas sofridas em 22 de junho provocaram um efeito de choque nos generais soviéticos. Depois de ter sobrevoado os aeroportos sob sua responsabilidade, o comandante da aviação do Distrito Militar Bielorrusso entrou em desespero e se suicidou.

Ataque com os IL-2 aos nazistas na Polónia – Mikhail Kuhtarev / RIA Novosti

A Força Aérea alemã era considerada a melhor do mundo. Devido às suas excelentes qualidades de combate, já no início do inverno de 1941 os alemães acabaram com a superioridade numérica da aviação do Exército Vermelho, conseguindo igualar o número de aeronaves em combate com a União Soviética. Isso, somado à maior qualidade da Luftwaffe, colocou-os no caminho da conquista da supremacia no ar.

Estações de rastreamento que operavam impecavelmente conduziam os pilotos alemães aos seus alvos, o que nivelava até mesmo a superioridade tática da aviação soviética em alguns setores da frente de batalha.  Em toda a parte, os pilotos do Exército Vermelho demonstravam heroísmo, muitas vezes se chocando contra os aviões inimigos, mas nada disso era suficiente para reverter a situação geral.

Bombardeio alemão sobre cidades soviéticos em Junho de 1941 – RIA Nôvosti

Razões da derrota

A frota de aviões do Exército Vermelho era extremamente heterogênea. Nela se encontravam tanto aviões novos, como o Iliúchin Il-2, o “tanque voador”, como equipamentos obsoletos, sendo que o número de aeronaves velhas era três vezes maior. No entanto, mesmo os modelos modernos possuíam deficiências significativas: a qualidade dos motores dos aviões soviéticos deixava muito a desejar, e as aeronaves não tinham uma comunicação via rádio de boa qualidade.

A blindagem dos caças soviéticos era tão vulnerável que era perfurada até mesmo pelas fracas metralhadoras que faziam parte do armamento dos bombardeiros alemães.

O processo de treinamento dos pilotos era apressado e eles mal tinham tempo de assimilar as novas tecnologias. Às vésperas da guerra, as escolas de aviação soviéticas operavam em regime de superação de metas, formando milhares de novos pilotos. A quantidade de formaturas era tal que as autoridades deixaram de atribuir o grau de oficial aos formandos, para não inflar os quadros de pessoal. Nem todos os jovens pilotos eram profissionais. Isso já havia ficado claro durante a Guerra Soviético-Finlandesa (1939-1940), quando a pequena Força Aérea finlandesa trouxe sérios problemas para a força soviética, que apresentava uma esmagadora superioridade numérica.

Montagem da aeronave Ilyushin Il-2 durante a 2ª Guerra – TASS

Males herdados 

No entanto, a questão de como a tragédia do ano de 1941 pôde acontecer com a Força Aérea soviética é mais complicada. É preciso levar em conta que a criação de uma Força Aérea a pleno valor na URSS começou apenas 10 anos antes da guerra. Muitas vezes, as fábricas de produção de aeronaves eram construídas em campo aberto, sem possuírem material suficiente, nem o número necessário de engenheiros e trabalhadores qualificados.

Além disso, em termos técnicos, a aviação é um dos tipos mais complexos de armamento moderno. Sua criação requer o desenvolvimento da indústria química eletrônica e metalúrgica. Na União Soviética, tudo isso também estava sendo criado de forma apressada.

Os designers, em grande parte, estavam aprendendo pelo método de tentativa e erro. As deficiências dos motores das aeronaves restringiam sua liberdade de ação e as tentativas de solucionar os problemas dentro de um curto período de tempo resultavam em graves consequências. A composição do comando era um problema sério, e a repressão de Stálin agravou o problema.

A formação e a experiência de combate dos pilotos soviéticos não se encontravam em um nível suficientemente elevado. Somente poucos anos antes da guerra, eles obtiveram experiência em condições de combate na Espanha. A correção dos erros cometidos antes da guerra foi acontecendo à medida que a Força Aérea soviética erradicava os males herdados.

ALEKSANDR VERCHÍNIN

Fonte: Gazeta Russa

 

1 Comentário

  1. Discordo completamente quando ele diz que a Russia é a única potência com exceção dos EUA com capacidade de projeção de poder além fronteira.
    A Grã-Bretanha, França, China , o Japão, Coreia do Sul, Índia e Turquia são capazes ainda mais com o projeto F-35 em andamento que permitirá aeronaves que decolam em vertical.

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