Manobras da Otan em 1983 quase provocaram guerra nuclear

Emblema da Otan é visto na sede da instituição, em Bruxelas
Emblema da Otan é visto na sede da instituição, em Bruxelas

Washington – Manobras militares realizadas em 1983 pela Otan estiveram a ponto de provocar uma guerra nuclear com a União Soviética, mas funcionários dos Estados Unidos subestimaram a gravidade da situação, revela um documento publicado recentemente.

O incidente ocorreu durante um período que os historiadores chamam de “temor à guerra”, quando a União Soviética estava preocupada com um ataque nuclear repentino de parte dos Estados Unidos e de seus aliados da Otan.

Em novembro de 1983, a Aliança Atlântica realizou durante dez dias as manobras Able Archer, envolvendo as tropas da Otan na Europa ocidental.

Segundo uma análise realizada em 1990 e publicada este mês, o Kremlin reagiu às manobras com medidas de inteligência e militares “fora do normal”, colocando as forças aéreas soviéticas na Alemanha oriental e na Polônia em estado de alerta e realizando voos de reconhecimento extraordinários.

Mas a inteligência dos Estados Unidos não percebeu a gravidade do momento e subestimou a importância destes movimentos, que atribuíram a operações de propaganda soviéticas, destaca a análise.

Posteriormente, os historiadores concluíram que Moscou estava realmente preocupado com as manobras da Otan.

“Em 1983, inadvertidamente quase colocamos nossas relações com a União Soviética a beira da ruptura”, admitiu o Conselho Assessor em Inteligência Estrangeira da Presidência.

A comunidade de inteligência dos Estados Unidos demorou vários anos para perceber que o medo da guerra quase levou a uma guerra real.

Como produto da má avaliação dos serviços de inteligência, o então presidente americano, Ronald Reagan, foi induzido a subestimar o risco para os Estados Unidos da reação soviética, segundo a análise.

As relações entre a Otan e o Pacto de Varsóvia, que reunia os países da área de influência soviética na Europa, passavam por um momento de forte tensão, após a instalação na Alemanha ocidental de mísseis nucleares americanos Pershing II.

Dois meses antes, os soviéticos haviam derrubado um avião comercial sul-coreano alegando que o aparelho realizava uma missão de espionagem.

Em março de 1983, Reagan chamou a União Soviética de “Império do Mal”, enquanto Moscou qualificava o presidente americano e seus assessores de “loucos”, “extremistas” e “criminosos”.

Uma frase do relatório soa estranhamente profética: “os acontecimentos estão transcorrendo tão rapidamente que não seria prudente descartar que os dirigentes soviéticos, por engano ou má fé, ajam no futuro de forma a colocar a paz em risco”.

O documento foi publicado a pedido do National Security Archive, subordinado à Universidade George Washington.

Fonte: Exame

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