Defesa & Geopolítica

Neri diz que país ideal seria Chisil: mistura de China e Brasil

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republica-de-chisilPaís asiático faz reformas para evitar a armadilha da renda média

Nota do Plano Brasil: Modelo da futura bandeira da “República de Chisil”. Aceita-se sugestões.

 

LUCIANNE CARNEIRO

O ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Marcelo Neri, afirmou ontem que o Brasil está para os indicadores sociais como a China está para os indicadores econômicos. Ao participar do seminário “Armadilha da Renda – Visões do Brasil e da China” , promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, Neri disse que houve forte evolução dos indicadores sociais no Brasil nos últimos anos, apesar de ainda serem ruins.

Na China, por sua vez, esse avanço ocorreu na economia. — O país ideal seria o “Chisil”, com a pujança econômica chinesa combinada com o ritmo de mudanças sociais que se viu no Brasil. Há um paralelo entre o avanço econômico na China e social no Brasil — apontou Neri. Ele destacou que a China tem muito a aprender com o Brasil, principalmente sobre o que não fazer , quando se trata de avanço de renda.

— No fundo, o que a China quer saber é o que não fazer . O Brasil entrou na renda média nos anos 70, mas depois enfrentou duas décadas perdidas. Voltou a crescer , junto com uma redução da desigualdade.

CAMINHO PARA RENDA ELEVADA
Vice-presidente da Academia de Ciências Sociais da China (Cass) e integrante do Partido Comunista chinês, Zhao Sheng xuan defendeu ontem que a grande missão da China no momento é evitar cair na armadilha da renda média. O fenômeno ocorre quando países alcançam o nível de renda média, mas não conseguem avançar em direção à uma renda mais elevada.

— Temos condição de passar para a renda elevada. Esta é a grande missão: evitar cair na armadilha da renda média. Os governantes chineses estabeleceram como meta duplicar a renda da população até 2020 para construir uma sociedade harmoniosa. O desenvolvimento é o caminho. Para Zhao, as reformas anunciadas recentemente na conclusão da Terceira Sessão Plenária do Comitê Central do Partido Comunista — chamadas por ele de “o completo aprofundamento das re-formas na China” — serão percebidas nos próximos dez anos.

E vão ajudar o país deixar a renda média para trás. Na avaliação de Chen Changsheng, diretor do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Centro de Desenvolvimento de Pesquisa do Conselho de Estado da China, os riscos para o país cair na armadilha da renda média são pequenos.

Sua avaliação é de que o país tem vantagens como um crescimento econômico com participação de trabalhadores, a contínua possibilidade de urbanização, uma estratégia de reformas flexível e um custo de mão de obra qualificada em elevação, mas ainda menor que a de outros países. A capacidade de implementar as transformações econômicas, políticas e sociais vão deter-minar esse caminho.

Apesar disso, Chen aponta que o cenário é de uma desaceleração do crescimento chinês e que o país não deve voltar a registrar taxas tão elevadas de expansão como anteriormente: — A versão oficial é que vamos entrar numa fase de crescimento médio alto, de 7%, 8%. (…)

Esta desaceleração chinesa não é vista como cíclica, é de médio, longo prazo. Podemos ver um reaquecimento, mas é de longo prazo. É muito difícil voltar a elevados índices de crescimento — disse. No fim do seminário foi lançado o livro Armadilha da Renda Média, parceria do Ibre/FGV e do Instituto de Estudos da América Latina da Academia de Ciências Sociais da China (Ilas/Cass).

Fonte: O Globo, Economia, Página 40, Sábado, 23/11/2013 via Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) 

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LUCIANNE CARNEIRO

A crescente desigualdade de renda, a instabilidade social, a sustentação do crescimento e a preservação do ambiente são os principais desafios da China, na avaliação de Li Shi, professor da Universidade Normal de Pequim. Li, participante das preparações para a Plenária do Partido Comunista, que anunciou reformas recentemente, esteve no Rio para participar de um seminário organizado em parceria pelo FGV/Ibre e pelo Instituto de Estudos da América Latina da Academia de Ciências Sociais da China.

Entrevista com Li Shi

A China reduziu sua pobreza, mas também teve aumento da desigualdade. O que levou a isso?

Nos últimos 30 anos, vimos grande redução de pobreza, principalmente rural. No início dos anos 80, tínhamos 250 milhões de pobres. No fim daquela década eram cem milhões. Hoje, são 30 milhões de pobres. Mas o crescimento da renda foi maior para os mais ricos, o que elevou à desigualdade. Para o governo, o importante era fazer o bolo crescer.

Isso mudou?

Percebeu-se que a desigualdade poderia gerar um problema social. Então lançaram medidas como busca da educação primária universal e da ampliação de cobertura de serviços médicos e programas de alívio da pobreza. Mas a magnitude e o efeito das medidas não são tão grandes.

Há risco de a China cair na armadilha da renda média e não elevar a renda?

Há muita discussão sobre o assunto. A China ainda deve levar dez anos para ser um país de renda elevada, se mantiver crescimento de 7%. Se compararmos com Brasil e Argentina, há riscos para a China, mas ainda há vantagens: manterá a urbanização, pode expandir o número de universitários, o setor de serviços ainda é pequeno e os novos direitos à terra permitirão que os camponeses consumam mais.

Qual é o maior desafio hoje?

Há muitos: a crescente desigualdade de renda, a instabilidade social, a sustentação do crescimento econômico e o meio ambiente.

O envelhecimento da população preocupa?

A China pode ter que enfrentar problemas, mas não a curto prazo. O governo já está agindo: tenta adiar a idade da aposentadoria e organiza mudanças na política do filho único.

O senhor defende a aceleração da reforma política. Mas o tema não apareceu nas medidas anunciadas após o encontro do Partido…

Não se pode esperar grandes mudanças da noite para o dia. A palavra é gradualismo. No último documento, não falam disso explicitamente, mas mencionam uma reforma política. Acho que o principal objetivo dela é aumentar o combate à corrupção.

O que vê de mais importante no que foi anunciado pelo governo?

O aumento da importância do mercado e a redução da intervenção do governo, assim como as oportunidades iguais para empresas estatais e privadas. As reformas na propriedade rural e a intenção de reduzir a desigualdade de renda também.

Há quem esteja cético quanto às chances de implementação…

Criou-se uma nova organização, o grupo de líderes que será responsável pela implementação das reformas nos ministérios. E é a primeira vez que se fixa um prazo para as reformas: 2020.

Acredita que é possível manter crescimento sustentado?

Talvez este ano se consiga crescer um pouco acima da meta de 7%. E os impactos da reforma devem fazer com que não seja difícil chegar a 7% nos próximos cinco anos. Mas é difícil fazer previsões a longo prazo.

Fonte: O Globo, 2ª Edição, Economia, Página 42, Domingo, 24/11/2013

 

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