Após 5 anos, debate sobre como sair da crise permanece

Economic-CrisisLargeAndrew Walker

Da BBC News

 

Atualizado em  28 de abril, 2013 – 07:14 (Brasília) 10:14 GMT
Ainda não se formou um novo consenso econômico como o que existia antes da crise de 2008

Mais de cinco anos após o início da crise financeira internacional, alguém poderia pensar que os especialistas em matéria econômica já soubessem qual o melhor caminho a seguir para superá-la.

Mas não. Ou, pelo menos, não existe ainda um consenso econômico global como o que existia antes da crise de 2008.

Isso ficou evidente após um recente seminário do Fundo Monetário Internacional (FMI) para repensar a política econômica, organizado pelo seu próprio economista-chefe, Oliver Blanchard, e três especialistas na área.

Um deles, o prêmio Nobel de Economia George Akerlof, da Universidade da Califórnia, ilustrou com uma vívida analogia o estado de incerteza em que se encontra a profissão de economista.

“É como se um gato tivesse subido numa árvore enorme. O gato, logicamente, é a crise. Minha posição é: ‘Meu Deus, esse gato vai cair e eu não sei o que fazer!'”, disse.

Outro dos organizadores, David Romer, da mesma universidade, aproveitou a analogia e acrescentou: “O gato está sobre a árvore há cinco anos. Está na hora de obrigá-lo a descer e a garantir que ele não volte a subir”.

O problema para os economistas, segundo o quarto dos anfitriões da conferência, o também prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, é que “não há uma boa teoria econômica que explique por que o gato ainda está na árvore”.

Um mundo diferente

Joseph StiglitzPara Joseph Stiglitz, crise demonstrou que as economias não se autocorrigem necessariamente

A analogia dos gatos usada pelos especialistas dá uma ideia do grau de incerteza reinante nesse grupo estelar de economistas.

Este é um mundo muito diferente ao mundo aparentemente mais cômodo em que vivíamos antes da crise.

Quais eram as características chave desse mundo?

O principal instrumento de política econômica estava nas mãos dos bancos centrais.

Eles se encarregavam de fixar as taxas de juros, subindo-as para manter baixa a inflação e cortando-as quando a economia estava frágil.

A política fiscal – o gasto público e os impostos – já não era considerada como parte do jogo de ferramentas rotineiras para manter a economia nivelada.

A regulamentação financeira era, na maioria dos casos, relativamente superficial.

O resultado foi a pior crise financeira e a recessão mais profunda na economia global desde a Grande Depressão nos anos 1930.

Controle

Para Joseph Stiglitz, a crise foi a evidência que provou seu ponto de vista de que “as economias não são necessariamente estáveis ou se autocorrigem”.

No seminário, notou-se o apoio a essa visão e a ideia de que diversas agências estatais têm um papel importante para exercer o controle sobre a economia.

Muitos se mostraram a favor de mais regulamentação financeira, particularmente por medidas que tentem estabilizar todo o sistema financeiro, não tanto as que estão dirigidas a bancos individuais.

Eles falaram de algo chamado política macroprudencial, uma ideia que vem ganhando impulso nos últimos anos.

Um exemplo é impor um limite no tamanho dos empréstimos relativos ao preço do bem que se vai comprar, como uma casa.

Soa razoável, mas os participantes reconheceram que ainda não entendiam bem esse tipo de política e seus efeitos.

E David Romer disse que não ter ouvido uma proposta suficientemente grande para produzir um sistema financeiro realmente robusto.

‘Nenhuma ideia’

Impressão de dinheiro nos EUAUma das ferramentas anti-crise, flexibilização quantitativa também é questionada

Por outro lado, está a política monetária.

Antes da crise, a ferramenta principal eram as taxas de juros, mas a caixa de ferramentas se expandiu desde então para incluir a chamada “flexibilização quantitativa”, a prática de injetar dinheiro no sistema financeiro com a esperança de que isso estimule o consumo.

Há apoio para isso, mas não de maneira unânime.

Allan Meltzer, da Universidade Carnegie Mellon, de Pittsburgh, na Pensilvânia, acredita que foram grandes quantidades de estímulos com muito pouco efeito.

Os especialistas debateram também qual deve ser o objetivo da política monetária.

A ideia de estabelecer metas de inflação era geralmente aceita antes da crise. Agora se questiona se isso é suficiente, mas não há consenso sobre se é necessário mudar.

Romer apontou que essa estratégia pareceu funcionar por uns 20 anos, mas não serviu para gerar demanda suficiente.

Entretanto, Stefan Gerlach, da Universidade Goethe, de Frankfurt, argumentou que “não tem sentido repensar toda a estrutura da política monetária por causa de um evento que ocorre mais ou menos uma vez a cada século”.

Muitos dos especialistas reunidos no seminário não se entusiasmam com o aumento rápido da dívida pública nos países ricos nos últimos anos, mas poucos foram tão longe como o conservador Allan Meltzer.

“Se o que queremos é estabilidade financeira e outras coisas boas, não deveríamos começar restringindo o déficit orçamentário? Formalmente, indefinidamente e para todo o futuro?”, questionou.

O que nos deixa onde? Confusos? Você certamente não é o único a se sentir assim.

Muitas ideias foram expostas, seguramente, mas foi assim que o economista-chefe do FMI, Blanchard, encerrou a conferência: “Não sabemos nosso destino final… Onde chegaremos, não tenho nenhuma ideia”.

Isso pode soar desconcertante, mas a crise tem sido um enorme solavanco para as políticas econômicas, e talvez fosse ainda mais preocupante se não parecesse haver um grande esforço para repensá-las.

Fonte: BBC Brasil

6 Comentários

  1. Realmente a profissão de economista está complicada… o neo liberalismo não ajuda.. alias foi essa a receita da catástrofe da Era Reagan e Thatcher que só explodiu agora!!

    A profissão de economista realmente deve ser revista como já sugeriram no primeiro mundo.. e aqui nesse texto eles confirmam isso!

    Olha só a Heresia pros reacionários do liberalismo de mercado total, que se auto regula e excluí o problema… o neoliberalismo… olha o que o Prêmio Nobel de economia falou aqui nesse texto:

    “as economias não são necessariamente estáveis ou se autocorrigem”

    Ou seja.. a economia de mercado não se auto corrige… precisa do estado pra corrigir.. mas o problema do gato é esse… o estado parece não conseguir corrigir continuando com a economia de mercado… não com esses regulamentos do Neoliberalismo da Thatcher e Reagan… a tal lei do mercado sem leis estatais intervencionistas no próprio mercado…

    E ainda criticavam a BASE DA FILOSOFIA DO NEO-LIBERALISMO tanto propalada por nosso caríssimo Ex-Presidente FHC… onde o estado deve somente regular… mas a realidade é aquela que vemos no PROCON, onde não existem controles suficientes e as empresas privada aproveitam pra prestar desserviços:

    A regulamentação financeira era, na maioria dos casos, relativamente superficial.

    AGORA OLHA SÓ O QUE DIZEM OS ECONOMISTAS PRÊMIOS NOBEL PELO MUNDO AFORA… o contrário de antes… o contrario do Neoliberalismo total do mercado:

    No seminário, notou-se o apoio a essa visão e a ideia de que diversas agências estatais têm um papel importante para exercer o controle sobre a economia.

    Que isso??… agora o estado tem que exercer controle sobre a economia??

    Limitar empréstimos como base do bem a ser adquirido??? Como os planos econômicos do Brasil faziam nos anos 80???

    Mas não era o crédito a base para se ter uma impressão monetária física saudável, onde é o débito que gera o quanto dinheiro pode ser imprimido na casa da moeda e distribuído no mercado com os juros do banco central já descontados pra baixar a inflação derivada da oferta de moeda circulante???

    Isso onde o estado não possuí meios produtivos, que deveriam ser privatizados, como a indústria de base pesada, que é a base de produção de todo o parque industrial, a exemplo as siderúrgicas???

    Realmente o gato vai ficar encima da arvore… o Neo liberalismo tirou o estado da economia produtiva, e agora sem o estado, seja aqui que na Inglaterra, a coisa vai sim ficar feia, pois as estatais eram também “Reguladoras do mercado”, pois não existiam com o lucro, mas com o estado, então poderiam sim baixar preços para forçar as empresas privadas da mesma área a baixar sua margem de lucro, e ainda aumentar a oferta… ou senão só a estatal vendia ou prestava o serviço…

    Isso foi muito usado com as telefônicas, que somente aumentavam sua expansão com A VENDE COTAS TELEFÔNICAS, o que fazia as empresas do ramo crescerem somente através DA REALIDADE DO MERCADO, onde os investimentos eram DIRETAMENTE PROPORCIONAIS Á CAPACIDADE DE ABSORVIMENTO DO MERCADO… mas aí veio o crédito fácil para as empresas que poderiam FINANCIAR NOS BANCOS o crescimento, deixando de lado o mercado de quem realmente poderia ter um telefone…

    CERTO FUNCIONOU COM O SISTEMA DE COMUNICAÇÃO, que cresceu muito GRAÇAS AS NOVAS TECNOLOGIAS, mas no setor IMOBILIÁRIO NÃO FUNCIONOU… e isso detonou a crise que só estourou depois de 20 anos do inicio do Neoliberalismo, já que tem vários setores produtivos que TAMBÉM VIVEM DESSE CRÉDITO e não das capacidade reais do mercado em absorver o produto ou serviço… o Gato está ficando mais gordo lá encima!!

    E aí.. chegou o Neoliberalismo… falando que não é assim com empresas estatais regulando setores da economia, QUE O MERCADO REGULA TUDO… basta o estado fazer “A Regulamentação Legal dos direitos dos Consumidores” e o mercado excluíra sozinho as empresas que não agradam ou não tem mais crédito pois não venderam seus produtos ou serviços e faliram… que isso de estatais é comunismo Xiita… agora aguenta!!

    Agora com o Neo-Liberalismo no Brasil com era de FHC, seria o crédito a dizer quanto dinheiro estampar pra regular a economia, pra evitar a Hiperinflação, já que nos anos 80 Hiperinflacionados graças a impressão de moeda sem controle por parte de “Mecanismos de Mercado” QUE REGULARIAM SOZINHOS A ECONOMIA… o estado imprimia dinheiro pra pagar dividas das estatais e até mesmo do estado, já que a lei de tributação da época antes da constituição de 1988 era uma piada e o fisco uma instituição digna de chacota…

    E AGORA NÃO É MAIS ASSIM?? OS NOBEL DE ECONOMIA DIZEM QUE O ESTADO TEM QUE EXERCER CONTROLE SOBRE A ECONOMIA… a coisa está feia mesmo!!

    E olha só… a magnifica “flexibilização quantitativa” onde o banco central injeta dinheiro imprimido na economia, INDEBITANDO-SE DE CONSEQUÊNCIA PRA LASTREAR O DINHEIRO AO PATRIMÔNIO DO ESTADO, e se a coisa ficasse ruim mesmo podia-se privatizar tudo, vendendo até lotes de terras baldias ou confiscadas por contravenções como o trafico de drogas… também parece não funcionar mais no tão perfeito mundo do Neo-Liberalismo…

    O Japão com sua deflação dos anos 90 estava dando dinheiro emprestado grátis, com juros ZERO, ou seja, somente depois de muito tempo tinha intenção de tirar o dinheiro de circulação aumentando os juros sobre o mercado, retirando assim dinheiro imprimido da circulação, certo o que o Japão precisava era de uma pequena inflação pra aquecer a economia… E OS EFEITOS NÃO FORAM LÁ GRANDE COISA.. no mundo já existia precedentes pra esse tipo de situação… e agora até essa técnica não funciona mais segundo grande parte dos Nobel… Esse gato está muito abusado lá encima!!

    E até essa inflação que salvaria a crise deflacionária do Japão nos anos 90 também não é mais aceita como solução do mercado capitalista atual… esse gato é mesmo um problema!!

    SABEM DE UMA COISA.. o que parece mesmo é que a economia BASEADA NA VALUTA MONETÁRIA parece ter alcançado seu limite de ação na evolução da nossa espécie… agora parece que só voltando a “Ser Índio”, onde não existe dinheiro, e a produção é distribuída igualmente para a população … OBVIO QUE SEVEM LEIS… certo… hoje serviriam LEIS ESTABELECENDO DIREITOS AO CIDADÃO SOBRE A QUANTIDADE DE BENS RECEBIDOS, como quantos bens terá direito por mês semanas ou dias em um ano, e SERVIRÃO PRODUÇÕES ROBOTIZADAS DE ALTO RENDIMENTO para suprir toda a deficiência produtiva do capitalismo onde é a escassez que gera valor ao produto, mesmo que seja uma produção em série, pois uma fabrica não é capaz de produzir pro mundo inteiro… servem milhares de fabricas, e QUANTO MAIOR A OFERTA MENOR O PREÇO… menor o valor do produto… mas em economia sem dinheiro em circulação seria a produção o calcanhar de tudo e serviriam leis realmente rígidas e baseadas na realidade econômica, e não nesse artificio do crédito na economia monetária…

    Ao que tudo indica, nos próximos séculos realmente teremos uma economia de estampo “Zeitgeist” onde não existe dinheiro como referencia para gerar o bem estar da humanidade.. mas pra isso servem ainda LEIS RÍGIDAS NOS DIREITOS ESTABELECIDOS E PRODUÇÃO ROBÓTICA DE ALTO NÍVEL.. quem gera desenvolvimento é o cérebro humano, não a economia, é a espécie humana que gera tecnologias, não o banco central… mesmo no sistema atual onde é o lucro o incentivo, é sempre o homem a faze-lo fisicamente, e isso muda tudo!

    vamos ver…

    Pelos próximos 3-4 Séculos a economia financeira vai ainda existir, mas NÃO será assim pra sempre.. pense um pouco mais além… você acha mesmo que no Universo estamos sozinhos?? É praticamente impossível vendo os números já conhecidos que temos sobre o universo… e você acha que outras espécies inteligentes do universo tem o dinheiro ou economia monetária como método desenvolvimento da espécie?? Pouco Provável… então… um dia essas técnicas obsoletas de desenvolvimento criadas quando nossa espécie de primatas ainda não era capaz de dividir sua produção entre todos os seres humanos de forma igualitária, e propensa a “Acumular Poder com essa não distribuição de bens, como os grãos da agricultura primordial dos Faraós, que ficavam nas mãos do macho dominante da manada, exatamente como se faz nas tribos de gorilas” , estabelecidas e remendadas nos séculos e milênios do desenvolvimento da exclusão, teremos que voltar ao comportamento humano mais “AVANÇADO SOCIALMENTE” o das tribos de índios como os da Amazônia…

    Deveria ter um parque industrial robotizado pra produzir bens que estimulam.. vou explicar melhor… estimular pessoas a darem o máximo de si em uma sociedade sem dinheiro não é fácil… poderia estagnar como os índios estagnaram vivendo somente o o dia a dia sem ambições materiais… estimular é possível com palavras e prêmios, com reconhecimentos do MÉRITO, e até mesmo com bens materiais, onde fabricas robotizadas existirão somente pra fabricar esses prêmios supérfluos, como um carrão desenhado e fabricado pra servir de exemplo que o trabalho compensa, o estudo compensa, a invenção compensa, e entrega-lo ao trabalhador mais destacado… nada mais justo que premiar os que mais se destacarem na sociedade, e o capitalismo ensinou isso, o materialismo como prêmio de seus esforços funciona… poderia ser feito também em uma sociedade sem dinheiro, pois basta produzir os prêmios!

    Valeu!!

  2. O problema não é mais econômico, mas politico e não há caminho fácil. Muitos primeiros ministros na Europa iram cair, antes de se começar conseguir resolver o problema.

  3. Qual economista disse para aumentar os impostos para tirar dinheiro dos bilionários e criar programas sociais, cursos de qualificação de mão-de-obra, obras de infraestrutura, programas para construção de novas moradias, melhoria do sistema de saúde pública e educação, etc…

  4. A receita para os pessimistas.

    O representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Jorge Chediek, disse que o Brasil conseguirá cumprir uma das principais promessas da presidenta Dilma Rousseff e tirar toda a população da pobreza extrema. Ele falou depois de conhecer o estudo Vozes da Nova Classe Média, divulgado nesta segunda-feira (29) pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República.

    Quero ver essa noticia ganhar primeira página em qualquer um dos jornalões..

  5. O modelo é a China!Capitalismo de Estado e Capitalismo com livre iniciativa!Qdo houver crise, privatiza-se e depois começa tudo de novo!

  6. o FMI e a alemanha manda amputar as pernas os braços e depois manda cortar a cabeça ,ainda quer que os paises saiam da crise
    Só se o lula virar presidente da uniao europeia .

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