Vácuo criado pela saída de Fayyad pode dar novo fôlego aos esforços de reconciliação entre Fatah e Hamas, o que não é visto com bons olhos pela comunidade internacional
Salam Fayyad, o político e economista palestino internacionalmente prestigiado, é conhecido por ter acabado com o caos na Cisjordânia e por ter colocado ordem no governo em seus seis anos como primeiro-ministro. Mas sua renúncia no fim de semana, ocorrida após lutas internas pelo poder, deixou a Autoridade Palestina em situação de ambiguidade e confusão política.
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Analistas disseram que, ao aceitar a renúncia de Fayyad , o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas se colocou em um dilema político, no mesmo momento em que o governo Obama tenta retomar os diálogos de paz entre israelenses e palestinos, paradas há muito tempo.
De acordo com palestinos, isso aconteceu porque o vácuo criado pela renúncia de Fayyad apresenta uma oportunidade de renovação dos esforços de reconciliar o partido Fatah, de Abbas, com seu rival, Hamas, grupo militante islâmico que controla Gaza.
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Embora uma solução para este conflito se mostre popular entre os palestinos, poderia complicar os esforços de paz e fazer com que alguns países ocidentais doadores considerem a retenção de fundos necessários, temendo que sejam utilizados pelo Hamas. O Hamas é classificado como uma organização terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Munib al-Masri, um industrial da Cisjordânia que promoveu a reconciliação da Palestina, disse: “Esperamos que o presidente forme o governo e convoque eleições o mais rápido possível. Isso é o que todo mundo está esperando. Se não acabarmos com a divisão, não teremos um país.”
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Israel se opõe à reconciliação entre a Autoridade Palestina e o Hamas enquanto o grupo islâmico se recusar a reconhecer o direito de Israel de existir e renunciar à violência.
Analistas palestinos disseram que, em qualquer caso, uma verdadeira reconciliação entre Fatah e Hamas parece estar muito distante e que o Hamas não está suscetível a se comprometer com uma data para as eleições ou a uma política comum com Abbas.
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Em Gaza, o Hamas saudou a demissão de Fayyad, mas enfatizou que sua ação não estava vinculada com esforços de reconciliação. Sami Abu Zuhri, porta-voz do Hamas, acusou o Fatah de não estar disposto a cumprir todos os pontos dos acordos anteriores realizados entre os grupos.
Se Abbas for incapaz de chegar a um acordo com o Hamas que o permita tomar posse como primeiro-ministro, terá que nomear um substituto para Fayyad. Possíveis candidatos incluem outro economista – Mohammad Mustafa – que foi educado no Ocidente e trabalhou durante 15 anos no Banco Mundial; Rami Hamdallah, diretor de uma universidade da Cisjordânia; Mazen Sinokrot, bem-sucedido empresário; e Muhammad Shtayyeh, autoridade do Fatah.
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Mas, ao substituir Fayyad, Abbas, segundo analistas, poderia se tornar alvo de críticas por estar, segundo opinião popular, se afastando de solucionar o impasse palestino.
Sob as atuais circunstâncias, continuar com Fayyad por enquanto poderia ser “a melhor das piores soluções”, segungo Ahmed Aweida, o executivo-chefe da Bolsa de Valores palestina, em uma entrevista. “Estou convencido de que continuará sendo o principal ministro interino para o futuro previsível”.
Fayyad, um político independente, disse ter renunciado em grande parte por causa da crítica implacável de suas políticas por autoridades do Fatah que ressentem seu poder e culpam-no pela crise financeira que atinge a Autoridade Palestina nos últimos dois anos. “O problema não é e nunca foi Fayyad “, disse Aweida. “O problema é a ocupação israelense e a falta de qualquer horizonte político ou diplomático.”
“Nenhum governo no mundo consegue planejar o desenvolvimento econômico quando não tem nenhum controle sobre as fronteiras, terras, recursos hídricos e não pode fazer acordos comerciais”, disse. “Esta é a realidade.”

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Fayyad é conhecido por ter introduzido o termo “fayyadismo”, sinônimo entre os palestinos para novas normas de um governo bem sucedido. Aconteça o que acontecer, Ehud Yaari, um pesquisador com base em Israel do Instituto Washington para a Política do Oriente Próximo, disse que a renúncia de Fayyad sinaliza “um sério enfraquecimento da Autoridade Palestina”.
Martin Indyk, diretor do programa de política externa da Brookings Institution e ex-embaixador dos Estados Unidos em Israel, disse: “É um dia muito triste para o fayyadismo”.
Fayyad, segundo ele, “conseguiu construir as instituições do Estado, incluindo um corpo policial e força de segurança eficaz e responsável, que serão seu legado duradouro”. “Mas o processo político não conseguiu criar o Estado, e, infelizmente, não havia nada que Fayyad pudesse ter feito a respeito disso.”
Por Isabel Kershner
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