Sem preparo para guerra assimétrica, Exército sírio mostra sinais de exaustão

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Conflito de dois anos contra rebeldes força Exército planejado para repelir invasão israelense a diminuir suas ambições e repensar suas táticas.

A capacidade do Exército da Síria para combater os rebeldes e manter o controle sobre o território erodiu firmemente, obrigando-o a ceder o trabalho de administrar muitos postos de controle a grupos paramilitares, desistir de uma cidade de província no início de março sem lutar muito e até mesmo alistar como recrutador um clérigo de alto escalão muçulmano indicado pelo Estado.

Embora as forças do governo ainda estejam mais bem armadas e organizadas do que os rebeldes, dois anos de luta fizeram com que os militares diminuíssem suas ambições e repensassem suas táticas. Nos últimos dias, o governo indicou uma crescente ansiedade sobre sua capacidade de renovar grupos de soldados esgotados e exaustos e continuou a consolidar suas forças ao redor da capital, Damasco.

O território da Síria agora parece uma colcha de retalhos, onde o governo mantém pelo menos um controle parcial da maioria das grandes cidades, mas onde os rebeldes expandiram sua autoridade através de uma crescente região do norte e nordeste.

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Dezenas de soldados, encurralados em um posto de fronteira do nordeste, recentemente fugiram para o Iraque, onde os aliados dos rebeldes eventualmente os mataram . Ao redor de todo país, funerais de soldados sírios ocorrem todo dia, não apenas diminuindo o poder de fogo dos militares, mas também enfraquecendo seu apoio e determinação, de acordo com analistas.

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Para o governo do presidente Bashar al-Assad, a insurgência pressiona um Exército concebido não para o combate assimétrico, mas sim para repelir uma invasão israelense.

Alguns na Síria até mesmo relataram que o governo começou a pressionar os cristãos – que infere serem seus partidários – para se alistar no Exército. Ao mesmo tempo, o governo se voltou para o principal clérigo muçulmano do país para pressionar os jovens para o serviço militar, apesar da afirmação de Assad de que defende uma ordem secular.

Em um apelo incomum na televisão nacional em 11 de março, o mufti Ahmad Badreddine Hassoun pediu para que sírios de todas as religiões se alistassem no Exército. “A Síria é o último modelo de uma nação civilizada que converte a diversidade em riqueza em vez de confrontos e fraqueza”, disse.

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A estratégia, disseram analistas, tem como objetivo aliviar os soldados da tarefa pela qual estão mais mal preparado – manter o controle de bairros em uma guerra urbana – e conservar sua força considerável remanescente para proteger o centro de poder do governo.

No entanto, com o Exército forte na região central, analistas disseram que o país está cada vez mais dividido entre o controle do governo em Damasco, o controle de facto dos rebeldes no norte e em alguns subúrbios de Damasco e uma batalha paramilitar sangrenta e cada vez mais sectária em contestadas cidades como Aleppo e Homs.

Desde o início do conflito, um grande número de homens com idade suficiente para servir o Exército pagou milhares de dólares para evitar o serviço militar juridicamente – o número foi tão grande que analistas disseram que o dinheiro arrecadado constitui uma fonte de receita importante para um governo determinado a continuar pagando salários para mostrar que permanece no controle.

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O jornal pró-governo Al-Watan declarou em 12 de março que o Exército possuía “à sua disposição homens e armas suficientes para lutar durantes anos com objetivo de defender a Síria”.

Mas também incitou os civis a auxiliar o Exército. “Os militares cumprem suas funções, e os cidadãos devem agora defender seus distritos, cada um segundo sua capacidade, como fizeram em Aleppo, Hama e Homs, onde os moradores decidiram se armar”, disse o jornal.

Algumas famílias cristãs fugiram de Aleppo em vez de se submeter a uma recente campanha agressiva de alistamento militar, temendo que seus filhos fossem parados em postos de controle e forçados a servir no Exército, de acordo com Aksalser, um site com base em Aleppo que se diz independente.

Em seu discurso na televisão, Hassoun também fez um apelo especial para os sunitas, dizendo que os rebeldes visavam a atacar “a nação árabe e islâmica”.

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Analistas afirmaram que ele não poderia contar com recrutas da região sunita (que compõe a maior parte dos rebeldes antigoverno), onde artilharias e ataques aéreos do governo atingiram bairros, com o discurso parecendo se destinar a reforçar a narrativa do governo de que sua queda significaria a destruição da sociedade síria.

Um grupo autodenominado de Coalizão da Juventude Alauíta Livre se manifestou em 12 de março, oferecendo uma alternativa para alauítas (ramos do xiismo) que não querem se armar. Ele os convidou a fugir para a Turquia, prometendo que, “dentro de alguns dias, garantiremos alojamento gratuito para eles, com um salário mensal que os protegerá da humilhação”.

Ele invocou as bênçãos de Deus e concluiu: “Aqueles que desejam sair, por favor entrem em contato com os administradores da página.”

Por Anne Barnard

Fonte: Último Segundo

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Fotógrafo Brian Sokol percorre campos de refugiados para retratar sírios com alguns dos poucos bens com que conseguiram escapar da violência de seu país natal

Cerca de 1 milhão de sírios abandonaram suas casas desde que a guerra civil explodiu no país, há dois anos . Segundo a ONU, cerca de 400 mil cruzaram fronteiras em busca de abrigo em campos de refugiados na Turquia, no Iraque e no Líbano .

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O fotógrafo Brian Sokol, que vive na Índia, percorreu alguns desses campos. Com ajuda da Acnur (Agência da ONU para Refugiados), ele retratou alguns dos sírios que deixaram o país juntamente com alguns dos principais poucos pertences que os acompanharam.

Os refugiados contam que qualquer um que aparentasse estar deixando o país era parado pelas autoridades sírias. Isso explica por que a grande maioria fugiu com quase nada. Mas o pouco que levaram ganhou um significado grande em tempos de privação de guerra.

Fonte:BBC Brasil via Último Segundo

 

3 Comentários

  1. Nenhum país do mundo está preparado para um confronto civil em escala assimétrica, ninguémq uer pagar o ônus da sbaixas inevitáveis de civis.
    Os próprios soldados que lutam nestes conflitos, não suportam a situação por muito tempo, a onda de suicídios no USARMY aumentou 600 % após a derrota total do IRAQUE e os conflitos que se seguiram levaram a estas tristes estatísticas.
    E.M.Pinto

  2. De fato EMPinto, e também ha o fator do emprego de táticas erradas. Não se vence guerras assimétricas com ataques convencionais, somente com táticas assimétricas. O problema é que isso parece não ter sido bem digerido até hoje pelas forças convencionais, que não parecem ter se adaptado para os novos cenários de conflitos.

  3. na verdade o exercito sirio esta aguendando mais, do que as potencias que financiam os rebeldes pensaram, pois o patrocinio aos rebeldes é amplo e conta com um aparato de primeiro mundo

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