Após ataque de soldado americano, Karzai faz apelo para que tropas aliadas deixem vilarejos e acelerem transferência da segurança.
Em um duro golpe contra a ofensiva liderada pelos Estados Unidos no Afeganistão, o grupo militante Taleban anunciou nesta quinta-feira a suspensão do diálogo com o governo americano, acusando-o de mudar os termos das negociações. O anúncio foi feito pouco depois de o presidente afegão, Hamid Karzai, fazer um apelo para que as tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) deixem os vilarejos do país e limitem-se às bases maiores até o ano que vem.
As duas declarações ocorreram dias depois de o ataque de um soldado americano ter deixado 16 civis mortos em dois vilarejos do Afeganistão. As negociações de paz com o Taleban eram um dos principais objetivos dos EUA e seus aliados e estavam em estágio inicial. Por sua vez, a retirada de tropas de áreas rurais exigida por Karzai representaria uma aceleração do cronograma de transferência da segurança para as mãos das forças afegãs.
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Soldado americano (ao fundo) observa forças afegãs em formação em Cabul, no Afeganistão
O porta-voz do Taleban, Zabiullah Mujahid, afirmou que o Taleban queria limitar as negociações à transferência de presos e à instalação de um escritório político para o grupo no Catar. Além disso, queria manter o governo afegão fora do diálogo. Segundo Mujahid, o governo americano tentou ampliar a discussão. “Por causa das mudanças dos americanos, fomos obrigados a suspender as conversas”, afirmou.
Em seu pronunciamento, Karzai disse que as forças afegãs têm condições de assumir o controle da segurança do país em 2013, um ano antes do previsto pelo cronograma. “Podemos cuidar sozinhos dos vilarejos e áreas rurais”, disse o líder, em comunicado.
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Karzai acrescentou ter comunicado tal exigência ao secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, que visitou o Afeganistão na quarta-feira.
De acordo com o comunicado, o líder afegão disse a Panetta que o ataque do soldado americano aos vilarejos no sul do país motivou o apelo por mais rapidez.
Segundo Karzai, o massacre foi “cruel” e é preciso fazer tudo o que for possível para impedir incidentes similares no futuro.
Mais tarde, autoridades dos EUA pareceram atenuar as declarações. O porta-voz do Pentágono, George Little, disse que o comunicado refletia “o forte interesse do presidente Karzai em direcionar-se o mais rapidamente possível para um Afeganistão independente e soberano”.
Em relação ao anúncio do Taleban, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, afirmou que os EUA continuarão apoiando o processo de reconciliação no Afeganistão e sua estratégia não mudará. “Apoiamos um processo dirigido pelos afegãos para a reconciliação. Não há uma resolução provável do conflito no Afeganistão sem uma resolução política”, disse.
O suspeito pelo ataque de domingo foi transferido na noite de quarta-feira para o Kuwait sob protestos das autoridades afegãs. O soldado, cuja identidade não foi divulgada, é acusado de matar nove crianças e sete adultos. Ele teria queimado alguns dos corpos.
Na terça-feira, Obama ordenou que seu governo investigue o massacre “até as últimas consequências”.
“Os Estados Unidos levarão esse assunto como se (os mortos) fossem seus próprios cidadãos ou filhos”, declarou o presidente americano, classificando o ataque de “vergonhoso e inaceitável”. “Estamos com o coração partido pela perda de vidas inocentes. Isso não é o que somos como país e não representa nossas Forças Armadas.”
O presidente americano garantiu também que o Pentágono “não poupará esforços para conduzir uma investigação completa” sobre o incidente e ressaltou que o órgão de defesa examinará os fatos “até o fim”. O presidente americano voltou a insistir ainda que os EUA não mudarão seu cronograma de retirada do Afeganistão, apesar de lembrar os americanos de que o fim do conflito está próximo.
Com AP, BBC e AFP
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