Malvinas e a relação não tão especial de Reagan e Thatcher

Ronald Reagan e Margaret Thatcher

Com a aproximação do 30.º aniversário da Guerra das Malvinas, as tensões estão novamente se intensificando no Atlântico Sul: a Grã-Bretanha enviou à região o destróier HMS Dauntless e o príncipe William, o segundo na linha de sucessão ao trono, o que levou a Argentina a se queixar da “militarização” britânica. A resposta americana foi neutra. Washington encorajou ambos os lados a resolverem suas diferenças por meio do diálogo – sentimento herdado da crise de 1982, quando os Estados Unidos fizeram todo o possível para evitar uma guerra e a obrigação de escolher entre aliados importantes.

Hoje em dia, a lembrança que temos daquele momento é um pouco diferente: o conflito é muitas vezes celebrado como ponto alto do elo “especial” entre o presidente Ronald Reagan e Margaret Thatcher, a primeira-ministra britânica. Ainda assim, a resposta dos EUA na época – e as subsequentes tentativas de revisá-la – são exemplo do quanto esse relacionamento histórico era complexo e até difícil, na verdade.

Quando Reagan tomou posse, em janeiro de 1981, Thatcher já governava há mais de um ano e meio. Eles se proclamaram almas gêmeas conservadoras.

“Seus problemas serão nossos problemas”, disse ela ao americano no primeiro encontro em Washington. “Quando precisar de amigos, estaremos ao seu lado.” Posteriormente, James S. Brady, assessor de imprensa da Casa Branca, brincou dizendo que “foi preciso usar um pé de cabra para separá-los”.

Mas, durante a Guerra das Malvinas, parecia mais provável que Thatcher usasse este mesmo pé de cabra para atacar o presidente.

Embora a maioria dos americanos nunca tivesse compreendido de fato a confusão envolvendo as Ilhas Malvinas, para britânicos e argentinos, a invasão daquelas ilhas batidas pelo vento era assunto sério. Thatcher, pressionada a renunciar, esperava receber o apoio decidido de Reagan na missão de retomar as ilhas pela força.

Em vez disso, a resposta dele foi uma estudada neutralidade. “Somos amigos de ambos os países”, comentou o presidente, calmamente. Valeria mesmo ir à guerra por causa daquilo que ele chamou de “pedacinhos congelados de terra lá embaixo”? A afável retórica de Reagan ocultava um dilema estratégico. Os EUA tinham uma antiga aliança com a Grã-Bretanha, mas, em 1982, a junta militar argentina tinha se tornado uma importante aliada latino-americana na Guerra Fria.

Antes da invasão, quando a liderança argentina perguntou a Vernon Walters, itinerante embaixador de Reagan, o que ocorreria se a Argentina tomasse as Malvinas, ele respondeu que os britânicos iriam “se queixar, espernear e protestar – e nada mais”.

É claro que esse cálculo se mostrou equivocado. Thatcher enviou uma força-tarefa para retomar as ilhas e ficou “horrorizada” quando Reagan a pressionou para que não combatesse. Alexander M. Haig Jr., secretário de Estado, viajou milhares de quilômetros entre Washington, Londres e Buenos Aires numa fracassada tentativa de se chegar a um acordo. Para recebê-lo em Downing Street, Thatcher colocou em exibição quadros do Duque de Wellington e de Lord Nelson, dois dos maiores heróis de guerra britânicos, como sinal de que o país estava pronto para o combate.

Thatcher informou a Haig que estava “pasma” diante da atitude de Reagan e da “constante pressão para enfraquecer” sua posição. Quando Reagan telefonou no dia 31 de maio insistindo a ela que “demonstrasse a disposição para buscar um acordo”, a primeira-ministra finalmente perdeu a paciência. “Estamos numa democracia e aquela ilha nos pertence”, vociferou ela. “O pior resultado para a democracia seria se fracassássemos agora.” Ela exigiu saber o que fariam os EUA se o Alasca fosse invadido. Constrangido a se calar, Reagan encerrou o telefonema balbuciando.

James Rentschler, funcionário do Conselho de Segurança Nacional que acompanhou o telefonema, disse que “o presidente acabou transmitindo a impressão de ser ainda mais covarde do que Jimmy Carter”.

Essa atitude contrastou muito com a do presidente socialista da França, François Mitterrand. John Nott, secretário britânico da Defesa, escreveu: “Mitterrand e a França foram nossos maiores aliados”.

A Grã-Bretanha derrotou a Argentina em junho de 1982, mas a vitória não pôde ocultar as fissuras ocorridas entre Reagan e Thatcher. Quando George P. Shultz substituiu Haig como secretário de Estado, no mês seguinte, percebeu que o presidente estava “farto da atitude imperiosa dela”.

Diante das câmeras, o par continuou a apresentar uma imagem de harmonia política e pessoal. “Trata-se de uma relação especial”, disse Thatcher a respeito dos laços entre eles, em 1985. “Simplesmente especial.”

Mas, nos bastidores, os dois líderes se enfrentaram em quase todas as decisões internacionais: a imposição de sanções ao gasoduto soviético, os déficits orçamentários, o controle de armamentos, a Iniciativa de Defesa Estratégica e até a invasão americana de Granada, em 1983, na qual, numa inversão dos papéis desempenhados na crise das Malvinas, Reagan viu-se frustrado com a falta de apoio oferecido por Thatcher.

A tensão entre eles era especialmente alta em se tratando do relacionamento de Reagan com o líder soviético Mikhail Gorbachev, principalmente durante a reunião de cúpula de Reykjavik em 1986, quando Thatcher chegou a pensar que a agressiva busca de Reagan pelo desarmamento nuclear teria chegado a um passo de se tornar uma traição de toda a aliança ocidental.

Tudo parecia apontar para a célebre frase de Lord Palmerston, que foi primeiro-ministro no século 19, com a qual Gorbachev surpreendeu Thatcher ao citá-la no primeiro encontro entre ambos. “Os países não têm aliados nem amigos permanentes”, disse Palmerston, “têm apenas interesses permanentes”.

Tais interesses com frequência obrigavam Thatcher a manter para si aquilo que pensava de Reagan.

Aqueles que conseguiam enxergar além da fachada sabiam que a situação era diferente. Quando sir Nicholas Henderson, embaixador britânico em Washington durante a Guerra das Malvinas, foi indagado nos anos 90 se tinha chegado ao conhecimento dele alguma informação que fosse absolutamente secreta, respondeu: “Se eu lhe revelasse a verdadeira opinião de Thatcher a respeito de Reagan, isso prejudicaria as relações anglo-americanas”.

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Fonte: Estadão

16 Comentários

  1. ;
    ;China investe no Brasil o triplo do que revela
    .
    Aplicações visam a diminuir dependência dos produtos brasileiros e são feitas por meio de outros paraísos fiscais

    BRASÍLIA. Enquanto o mundo está se armando contra a invasão dos produtos chineses, o dragão prepara sem alarde o contra-ataque. Para garantir a sua independência futura, a China está investindo maciçamente em países com recursos naturais abundantes, como o Brasil. Estudo inédito elaborado pela Apex-Brasil, ao qual O GLOBO teve acesso, traz uma radiografia dos investimentos chineses diretos (no setor produtivo) no mundo, mostrando que no Brasil eles são cinco vezes maiores do que mostram as estatísticas oficiais do país. Entre 2009 e 2011, chegaram a US$ 16,7 bilhões, enquanto o Banco Central registra US$ 3 bilhões no período entre 2005 e 2011.

    É que o levantamento também capta investimentos feitos pela China de forma indireta, por meio de Hong Kong e outros paraísos fiscais. Para obter uma radiografia completa dos investimentos chineses no Brasil e no mundo, a Unidade de Inteligência Comercial e Competitiva da Apex consultou todas as fontes de informação reconhecidas internacionalmente. A fonte desses números robustos relativos aos investimentos no Brasil é a Heritage Foundation.

    No mundo, recursos já chegam a US$ 300 bi

    O estudo, denominado “A internacionalização da economia chinesa – A dimensão do investimento direto”, mostra que o foco dos investimentos chineses está na América Latina e também na África. O projeto é, no futuro, depender o mínimo possível das importações de produtos primários (matérias-primas) de um único país.

    O volume de investimentos chineses no mundo impressiona. Os fluxos acumulados no período de 2005 a 2010 excederam US$ 200 bilhões e o estoque atual estaria na casa de US$ 300 bilhões. Esses investimentos estão concentrados nos setores de energia, mineração, metalurgia e siderurgia.

    A China – que hoje depende de vários produtos brasileiros, sobretudo de minérios – intensificou seus aportes no Brasil, a partir de 2009, para garantir as suas minas e reduzir a sua dependência econômica.

    – A China tem uma estratégia bem clara. Precisa de recursos naturais para manter o crescimento econômico e como não dispõe desses recursos busca o controle dessas riquezas em outros territórios – explica o economista Marcos Lelis, coordenador Unidade de Inteligência Comercial e Competitiva da Apex .

    Os investimentos chineses no exterior tiveram um boom a partir de 2005 e não sofreram abalo nem mesmo com a crise financeira global. Pelo contrário, a crise criou a oportunidade de aquisição de ativos depreciados.

    Na visão de Marcos Lelis, as estatísticas que consideram também os investimentos chineses feitos de forma indireta servem para mostrar que o país está muito avançado na estratégia de ocupar espaço em países com recursos naturais disponíveis, como o Brasil e os países africanos.

    – Isso mostra que os chineses avançaram muito nesse processo e aproveitaram a janela de oportunidade da crise econômica, quando os ativos se desvalorizaram – destaca o economista.

  2. Difere em muito do que a história contou sobre os acontecimentos de 1982, onde os Estados Unidos deram o apoio logístico na ilha De Ascenção no Atlântico Sul assim como apoio de inteligência, cedendo imagens de seus satélites a Grã-Bretanha.
    [ ]s

  3. Wolfpack disse:
    04/03/2012 às 12:08 exatamente isso, sem falar no embargo de peças dos EUA para a Argentina, dizem que peças de reposição para os A4 vieram de Israel.
    Mas o fato mais importante de tudo isso é que a Argentina não se preparou para uma guerra, pior que isso usou a guerra para oxigenar um regime falido, são inumeros os fatos que demonstram o despreparo deu no que deu.

  4. ..e sem falar q por tratado os ianks deveriam dar apoio à argentina, dentro das claúsulas do TIAR…o q ele ñ fizeram, trairam o TIAR , logo a comunidade de países da AS..ñ são confiáveis.Sds.

  5. Parabéns à Margareth Thatcher, que justificou seu apelido: Dama de Ferro, para azar dos estúpidos hermanos. E como a história quando se repete ou como farsa ou como tragédia, a Senhora K está prestes a cometer os mesmos erros dos generais de outrora. Talvez seja efeito da toxina botulínica.

  6. A Argentina foi tola, não se preparou para o que fez. Concordo com o Muttley.
    Isso ocorre novamente hoje.
    —–
    No meu entender, a relação Thatcher x Reagan era “paixão”, que queima, arde, e logo acaba. Mas as relações entre os países foram as mais intensas desde a II Guerra Mundial. Os líderes podiam pessoalmente estar divergindo, mas suas diretrizes eram no sentido do mais amplo apoio. E assim foi que a Argentina, a outra na estória, “dançou”.
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    O TIAR sempre foi uma balela. Serve como arcabouço juridico, atrás do qual os EUA se posicionam, mas sempre será inferior ao relacionamento dos EUA com outros países de maior peso político no mundo.
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    Nós, Brasil, não podemos ser inocentes.

  7. é só ve a midia que publicou isso ou sao ignorantes ou sao discimulados ,querem passar que os ingleses fizeram tudo sozinho mas na verdade tiveram apoio logistico dos gringos .aos argentinos ficou a magoa de acreditar em tratados como esse, isso so prova que os paises latinos tem que se unir pois os anglos saxiao sao muito unidos entre si e fingem descordar mas na verdade sao farinha do mesmo saco.só para completar e hoje empresas americanas querem explorar o petroleo da malvinas ,isso tambem proibido em tratado na onu ,esse tratado de nao proliferaçao de armas nucleares ou que paises que possuem nao podem jogar em paises que nao tem é a maior mentira que colocaram no papel e fizeram esses antigos governos latinos assinarem.depois da perda da esquadra espanhola nos latinos estamos na mao desses anglo saxiao.

  8. A Argentina sabe que hoje seria praticamente impossível tomas as Malvinas à força… a não ser que eles tenham algo surpreendente na manga, o que eu tenho minhas dúvidas.

  9. O pior q estão elevando a tensão no leste do sul do Atlântico e isso e mt perigoso, poderá envolver a td os países da AS e membros da UnaSul, espero estar mt errado…Sds.

  10. Se a Argentina comprasse uns 4 submarinos Kilo da Russia e uns 24 Sukkoy como a Venezuela e os colocasse em base no sul da Argentina, quem sabe a Inglaterra iria pensar em ir a conversar…mas a Argentina nao tem poder militar,entao nao a razao para se preocupar..

  11. ” Os países não têm aliados nem amigos permanentes. Têm interêsses permanentes “. Assim pensam os inglêses e sua cria, os americanos! Acorda Brasil, se não você fica sem a Amazônia Verde e sem a Azul.

  12. “Tudo parecia apontar para a célebre frase de Lord Palmerston, que foi primeiro-ministro no século 19, com a qual Gorbachev surpreendeu Thatcher ao citá-la no primeiro encontro entre ambos. “Os países não têm aliados nem amigos permanentes”, disse Palmerston, “têm apenas interesses permanentes”.”

    …nada a declarar.

  13. A história passada ao público sempre é apenas os 1% da verdade que acontece, e esses políticos ingleses são piores que os estadunidenses.
    A Argentina só perdeu não pela capacidade britanica mas porque não jogou direito o conflito, lutaram com coragem e foram pró-ativos sempre mas não agiram corretos em momentos chaves.
    E presentemente acontecerá o mesmo pois os EUA não dará apoio aos ingleses podendo perder a Argentina para a China pra sempre.

  14. Os generais argentinos calcularam muito mal, acharam que os ingleses não reageriam e que os americanos ficariam do seu lado. Por pertencer a otan, os americanos tiveram que ajudar os ingleses, assim como os franceses que mais tarde tiveram que fornecer os codigos dos mísseis exocet. Na america do sul não contaram com a ajuda de ninguém a não ser o peru. Espero que tenham apreendido, e os governantes atuais não cometam os mesmos erros.

  15. Pelo texto os hermanos acreditaram no Reagan que deve ter cifrado ‘vai que é tua, Galtieri’. Não contavam com o fato de Thatcher estar acuada e o cavalo passar encilhado. Se atirou com a faca nos dentes.

  16. Na realidade as tensões aumentaram porque há uma disconfiaça de que estas ilhas a um grande campo de petroleo. Por isso de tanto aue.

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