Opinião: Banho de sangue no estádio de Porto Said não foi puro acaso

Por  Loay Mudhoon – Revisão: Carlos Albuquerque

 

Apesar de todas as falhas, conselho militar se afirma como única garantia de ordem no Egito. Circunstâncias de choques entre jogadores e torcedores deixam muitas questões em aberto, opina articulista da DW Loay Mudhoon.

 

Para o governo militar do Egito, os choques sangrentos entre os torcedores dos clubes de futebol Al Ahly, do Cairo, e Al Masry, de Porto Said, nesta quinta-feira (02/02), não passaram de um “lamentável incidente esportivo”. Porém são numerosos os indícios de que a orgia de brutalidade em Porto Said tenha sido encenada. Seja como for, a violência aberta dos fãs – resultando em mais de 70 mortos e centenas de feridos – se encaixa nos planos dos militares.

Nos Estados árabes sob regime autoritário, as mesquitas e os estádios de futebol são praticamente os únicos locais onde as pessoas podem se expressar de forma relativamente livre, já que essas instituições escapam ao controle do aparato de segurança estatal. E esse é possivelmente o motivo por que torcedores e frequentadores de mesquitas desempenham um papel central nos levantes do mundo árabe.

Suspeitas justificadas

Este foi o caso também durante a revolução egípcia: os fãs radicais do campeão recordista Al Ahly assumiram a linha de frente contra o regime de Hosni Mubarak. Esses assim chamados “ultras” foram os “pontas de lança da revolução”, pois, anos antes, eles já realizavam passeatas e travavam batalhas sangrentas com a polícia.

Mais importante ainda: há exatamente um ano – quando, montadas em camelos, as tropas de capangas do antigo regime invadiam a Praça Tahrir para expulsar as massas –, foram justamente esses “ultras” bem treinados para a luta que defenderam os manifestantes pacíficos, contribuindo, assim, de forma decisiva para que Mubarak caísse.

Mas, apesar da queda do ditador, os fãs do mais popular clube de futebol do Egito seguem em conflito ferrenho com as forças de segurança, sobretudo em face da brutal violência contra manifestantes pacíficos, nos meses que antecederam as eleições parlamentares. Nessas circunstâncias, não é fora de propósito a maioria dos egípcios suspeitar que, por trás do banho de sangue no estádio de futebol, se esconda uma represália dos adeptos de Mubarak contra os torcedores revolucionários.

Culpa sobre os revolucionários

É certo que há muitos anos existe uma rivalidade entre os dois clubes de futebol, do Cairo e de Porto Said. No entanto, não se tratou meramente de um “lamentável incidente esportivo” que saiu de controle. As proporções e as circunstâncias em que ocorreu o massacre justificam a suspeita de que ele teria sido planejado, ou pelo menos tolerado pelos responsáveis.

Pois, como se explica que nem o chefe de segurança nem o governador de Porto Said estivessem presentes? E também como se pode explicar que os 3 mil policiais presentes não só tenham ficado observando passivamente a verdadeira caça humana aos jogadores e fãs do Al Ahly, como também tenham aberto de fora os portões do estádio, possibilitando, assim, que a turba exacerbada invadisse o local?

Claro, é difícil imaginar que o conselho militar tenha ordenado “de cima” tal excesso de violência. Mas cabe registrar que, até agora, o conselho militar tem agido sem plano aparente, na estruturação do governo interino, e que há meses tenta, por todos os meios, desacreditar as forças revolucionárias, apresentando-as como origem da situação caótica e dos ataques armados no país.

Por último: a manifestação aberta de violência no estádio de Porto Said realmente convém aos militares do Egito. Pois, apesar de seu inegável fracasso, os generais que apoiam o marechal Mohammed Hussein Tantawi querem se afirmar como única força capaz de garantir a estabilidade às margens do Nilo.

Fonte: dw-world.de

 

 

 

9 Comentários

  1. Escrevi em outro comentario que aula boa custa caro. As massas egipcia tendo engolido a ideologica burguesa de que o exercito de Mibaraki era neutro, acima dos politicos, estao pagando com vida para descobrir que isso nao e o caso. Vai pagar com vida para discutir que os que eles ecolheram como alternativa, a Irmandade Mulssumana tampouco e uma solucao. De massacre em massacre eu creio que um dia terao os olhos abertos, para o realmente deve ser feito, se eles desejarem sair da vida miseravel em que se encontram.

  2. OS EUA E ISRAEL (via AIPAC) ESTÃO APOIANDO O REGIME MILITAR EGIPCIO, COMO FIZERAM COM MUBARAK.
    OS EUA E ISRAEL (VIA AIPAC) ESTÃO A-D-O-R-A-N-D-O.
    O MOSSAD ESTÁ ATÉ NO FUTEBÓÓÓÓLL ???

  3. Desde que o Antigo Egito caiu nessas religiões monoteístas e morreu o último Faraó, sendo este a Cleopatra, acabou-se por vez e hoje não passa de uma múmia em tumba aberta e saquiada.
    Fadrini.
    Com certeza meu caro!!!

  4. Adriano, Egito passou ser dominado por potencia estrangeiras 500 anos antes de Cleopatra, que na verdade usurpou o titulo de “farao”. Ela foi descendentes de gregos/macedonioss que conquistaram o Egito durante o reinado de Alexandre, no seculo III AC. Considerando que religiaso monoteista, primeiro o cristianismo e depois o mulsumanismo somente passaram predominar como religiao majoritaria do povo egipcio a partir do seculo III. no caso cristianismo e somente a partir do seculo VIII no caso mulsumanismo, podemos duzer que nao ha relacao nenhuma entre o declinio da civilizacao egipicia e o surgimento do monoteismo. Nao podemos esquecer que a primeira civilizacao que adotou a religiao monoteista, foi o Egito, durante o reinado do Farao Akhenaton, no seculo XIV Antes de Cristo. Freud escreveu um livro, em que defendia a tese deque o profeta Moises do Velho Testamento, era esse farao. O ponto fundamental e que durante o reinado desse farao, o Egito estava longe de ser considerado uma civilizacao em declinio. Egito dominava o Libano, e Cananeia, mais tarde chamada Palestina e hoje Israel.
    Egito foi conquistado pela primeira vez pelos persas, isto e o Irao antigo, durante o reino de Cambisses uns 500 anos de Cristo. Podemos dizer que o Egito commecou a declinar a partir do momento que asiaticos comecou penetrar, como imigrantes, seu territorio, o que se deu por volta do seculo XI antes de Cristo. Mas tambem nao se deve esquecer que houve mudanca no clima naquela epoca. Seca, forcou muitos povos se emigrarem, muitos sairam do continente europeu e se refugiaram no Egito. Enfim as causas do declinio da civilizacao egipicia sao muitas, mas nao creio que a adocao da religiao monoteista seja uma dela, tampouco o suicidio da grega Cleopatra.

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    E tinha gente que jurava que depois dos protestos viria a democracia… que nada, os militares nos bastidores continuarão reprimindo no Sangue toda forma de liberdade para o povo, mesmo que tenham um lider eleito no país… os militares comandam e basta, quem for governar terá que fazer as contas com isso, e pouco adianta ir com o discurso de democracia para tentar um apoio das nações ocidentais, essas apoiam os militares e suas barbáries, principalmente os USA!
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    Valeu!!

  6. O Farao Mubarak ainda da as ordens,um povo que nao confia na sua condiçao unica biologica,nunca sera´realmente livre,quando nao sao manipulados por milicos,sao manipulados por lideres religiosos,a humanidade so alcançou niveis de conhecimentos exatos e biologicos ,porque quem ousava questionar,nao tinha rabo preso com nenhuma entidade ou autoridade ,mas oque me causa mais espanto eque ainda tem debil acreditando em democracia naquelas bandas e,pior,culpam os viloes de sempre por ela nao chegar naquela area ,bestial ao cubo !

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