EUA querem aumentar forças no Golfo após sua retirada do Iraque

The New York Times

Thom Shankere Steven Lee Myers

O governo Obama planeja fortalecer a presença militar norte-americana no Golfo Pérsico depois de retirar as tropas remanescentes do Iraque este ano, de acordo com oficiais e diplomatas. Este reposicionamento poderá incluir novas forças de combate no Kuwait, capazes de responder a um colapso da segurança no Iraque ou a um confronto militar com o Irã.

Os planos, que estão em discussão há meses, ganharam mais urgência depois do anúncio do presidente Barack Obama este mês de que os últimos soldados norte-americanos voltarão do Iraque para os EUA no final de dezembro. Terminar a guerra de oito anos foi uma das principais promessas de sua campanha presidencial, mas oficiais e diplomatas norte-americanos, bem como oficiais de diversos países da região, temem que a retirada possa deixar para trás uma situação de instabilidade ou algo pior.

Depois de pressionar sem sucesso tanto o governo Obama quanto o governo iraquiano para permitir que até 20 mil soldados permanecessem no Iraque além de 2011, o Pentágono está agora traçando uma alternativa.

Além de negociações para manter uma presença de combate terrestre no Kuwait, os Estados Unidos estão considerando enviar mais navios de guerra para as águas internacionais da região.

Com um olho na ameaça de um Irã beligerante, o governo também está buscando expandir os laços militares com as seis nações do Conselho de Cooperação do Golfo – Arábia Saudita, Kuwait, Bahrain, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Omã. Embora os Estados Unidos tenham relações militares bilaterais estreitas com cada um deles, o governo e os militares estão tentando criar uma nova “arquitetura de segurança” para o Golfo Pérsico que integraria patrulhas aéreas e navais e defesa antimísseis.

O tamanho da força de combate dos EUA que ficará no Kuwait continua sendo tema de negociações, e espera-se uma resposta nos próximos dias. Oficiais da sede do Comando Central recusaram-se a discutir especificidades das propostas, mas ficou claro que planos bem sucedidos de enviar tropas nas últimas décadas poderão ser incorporados nos planos para uma presença pós-Iraque na região.

Por exemplo, na época entre a guerra do Golfo Pérsico em 1991 e a invasão do Iraque em 2003, o Exército dos EUA manteve pelo menos um batalhão de combate – e às vezes uma brigada inteira – no Kuwait durante o ano inteiro, junto com um imenso arsenal pronto para ser usado caso mais soldados fossem chamados à região.

“De volta para o futuro” é como o major general Karl R. Horst, chefe de gabinete do Comando Central, descreveu o planejamento para uma nova posição no Golfo. Ele disse que o comando está se concentrando em envio de forças menores, porém mais capazes e em parcerias de treinamento com exércitos regionais.

“Estamos pensando em voltar à forma como era antes de termos uma presença forte”, disse Horst. “Acho que é saudável. Acho que é eficiente. Acho que é prático.”

Obama e seus conselheiros de segurança nacional procuraram assegurar seus aliados e responder aos críticos, inclusive muitos republicanos, que os Estados Unidos não abandonarão seus compromissos no Golfo Pérsico enquanto se retiram da guerra do Iraque e pensa em fazer o mesmo no Afeganistão até o final de 2014.

“Teremos uma presença robusta e contínua em toda a região, o que é uma prova de nosso compromisso com o Iraque e o futuro da região, que é muito promissora e deveria ser libertada da interferência de fora para continuar num caminho para a democracia”, disse a secretária de Estado Hillary Rodham Clinton no Tadjiquistão depois do anúncio do presidente.

Durante reuniões com militares na Ásia na semana passada, o secretário de defesa, Leon E. Panetta, observou que os Estados Unidos tinham 40 mil soldados na região, incluindo 23 mil no Kuwait, embora a maior parte sirva como um apoio logístico para as forças no Iraque.

Enquanto empreendem este esforço, o Pentágono e seu Comando Central, que supervisiona as operações na região, começou um rearranjo significativo das forças dos EUA, muito consciente das restrições políticas e orçamentárias que os EUA enfrentam, incluindo pelo menos US$ 450 bilhões em cortes nos gastos militares durante a próxima década como parte de um acordo para reduzir o déficit orçamentário.

Oficiais do Comando Central disseram que a era pós-Iraque exige que eles encontrem formas mais eficientes de enviar forças e maximizar a cooperação com os parceiros regionais.

Um resultado significativo dos cortes vindouros, dizem os oficiais, poderá ser uma redução grande no número de analistas de inteligência incumbidos da região.

Ao mesmo tempo, os oficiais esperam expandir as relações de segurança na região. Horst disse que os exercícios de treinamento eram “um sinal de compromisso com a presença, um sinal de compromisso de recursos, e um sinal de compromisso em construir a habilidade e a capacidade dos parceiros.”

O coronel John G. Worman, chefe de exercícios do Comando Central, observou uma mudança significativa no Golfo Pérsico: pela primeira vez, disse ele, os militares do Iraque foram convidados a participar de um exercício regional na Jordânia no ano que vem, chamado Eager Lion 12, destinado a combater a ameaça de guerrilha e terrorismo.

Outra parte dos planos pós-Iraque do governo envolve o Conselho de Cooperação do Golfo, dominado pela Arábia Saudita. Ele vem tentando cada vez mais exercer sua influência diplomática e militar na região e além dela. Qatar e os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, enviaram aeronaves de combate para o Mediterrâneo como parte de uma intervenção liderada pela Otan an Líbia, enquanto Bahrain e os Emirados Árabes Unidos têm forças no Afeganistão.

Ao mesmo tempo, entretanto, o conselho enviou uma força formada principalmente por sauditas para Bahrain para apoiar o governo na supressão de protestos este ano, apesar das críticas internacionais.

Apesar dessas preocupações, o governo propôs estabelecer uma aliança de multilateral de segurança mais forte com as seis nações e os Estados Unidos. Panetta e Clinton esboçaram a proposta numa reunião conjunta incomum com o conselho em Nova York no mês passado.

A proposta ainda requer aprovação do conselho, cujos líderes irão se encontrar novamente em dezembro na capital saudita, Riad, e o tipo de colaboração multilateral que o governo vislumbra precisa superar as rivalidades entre as seis nações.

“Não será nenhuma Otan do dia para a noite”, disse um oficial sênior do governo, que falou sob condição de anonimato para discutir negociações diplomáticas em andamento, “mas a ideia é passar para um esforço mais integrado.”

O Irã, como acontece há mais de três décadas, continua sendo a ameaça mais preocupante para muitos desses países, bem como o próprio Iraque, onde eles restabeleceram laços políticos, culturais e econômicos, mesmo que isso tenha fornecido um apoio velado aos insurgentes xiitas que lutaram contra as forças norte-americanas.

“Eles temem que a retirada norte-americana deixe um vácuo, que o fato de estarem próximos sempre fará com que qualquer um pense duas vezes antes de fazer qualquer coisa”, disse o ministro de exterior de Bahrain, Sheikh Khalid bin Ahmed Al Khalifa, numa entrevista, referindo-se a oficiais da região do Golfo Pérsico.

Sheikh Khalid esteve em Washington na semana passada para reuniões com o governo e o Congresso. “Não há dúvida de que a retirada criará um vácuo”, diz ele, “e poderá convidar os poderes regionais a exercer uma ação mais aberta no Iraque.”

Ele acrescentou que a proposta do governo de expandir sua relação de segurança com as nações do Golfo Pérsico não “substituiria o que está acontecendo no Iraque” mas é necessária logo após a retirada para demonstrar uma defesa unificada numa região perigosa. “Agora o jogo é diferente”, disse ele. “Teremos de ser parceiros em operações, em problemas, e em vários aspectos deveríamos trabalhar juntos.”

Nos EUA, o Iraque sempre foi uma questão de disputa intensa. Alguns analistas de política externa e democratas – e poucos republicanos – dizem que os Estados Unidos ficaram no Iraque por tempo demais. Outros, incluindo muitos republicanos e analistas militares, criticaram o anúncio do governo Obama de uma retirada final, expressando temores de que o Iraque fique fraco e instável demais.

“Os EUA terão que entrar em termos com um Iraque que é instável para se defender por pelo menos uma década”, escreveram Adam Mausner e Anthony H. Cordesman do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, após do anúncio da retirada.

Vinte senadores republicanos pediram audiências sobre o fim das negociações do governo com os iraquianos – pelo menos por enquanto – sobre a continuação do treinamento norte-americano e dos esforços contra-terroristas no Iraque.

“Como você sabe, a retirada completa de nossas forças do Iraque provavelmente será vista como uma vitória estratégica por parte de nossos inimigos no Oriente Médio, especialmente pelo regime iraniano”, escreveram os senadores na quarta-feira numa carta para o presidente do Comitê de Serviços Armados do Senado.

Tradução: Eloise De Vylder

12 Comentários

  1. Esses americanos são tao bonzinhos, vão manter tropas la para garantir a “segurança” e a “democracia”, e a “liberdade” desses povos. Eles são verdadeiros herois da humanidade, se sacrificam pelos outros povos, e o mundo é tão ingrato com eles, que peninha deles…

  2. em tempos de crise e com eleições proximas, a industria de armas precisam lucrar senão não sai o ” cafezinho” dos partidos rsrsrs

  3. Engraçado… alguma dessas nações aliadas dos EUA no golfo, me parecem que tiveram revoltas populares semelhantes ás do egito e da síria… lembrarm de bahrem? yemem? e até arábia saudita?
    Mas ta certo…. eu acho que lá não havia esses agitadores infiltrados… esse inflamadores de ânimos, mascarados, acomanhados de arsenais midiáticos potentes….
    Aliança Hipócrita Lesa-Patria do Oriente Médio

  4. HUM…..sei…..”cortar o setor de inteligência”, mas agora pergunto eu: Que inteligência???, se não foram capazes nem de confirmar as armas de destruição em massa do Iraque!!!
    No auge das guerras, cortam-se gastos nos setores menos importantes, sendo assim, só posso concluir que a inteligência do exército estadunidense fabrica dados a medida que são solicitados pelos seus superiores….(como se ninguém soubesse disso)
    Mas o mais importante a saber, é que ninguém no mundo está livre da interferência estadunidense, seja ela militar ou de outra forma (vejam bem, eu disse interferência e não influência, palavras com sentidos completamente opostos).
    Conclusão:
    O Brasil, como grande nação que é, e fadado a tornar-se uma das maiores potências da história da Humanidade (tenho plena convicção disso) deve defender seus interesses de uma maneira mansa, pacífica e contínua. Acreditando nisso como uma verdade absoluta, me revolta a maneira como o Brasil está sendo tratado pelos políticos, principalmente agora, onde a nossa Presidenta insistentemente quer nos empurrar goela abaixo, a fábula de que devemos auxiliar as economias letárgicas e doentes dos países pseudo-desenvolvidos.
    Insisto Senhores, somente com a blindagem de nossa economia, desenvolvimento de nosso mercado interno e investimento maciço na nossa infraestrutura interna e externa (usinas hidrelétricas e nucleares, estradas e ferrovias, portos e aeroportos, hidrovias e uma linha de crédito para a modernização de nossa indústria em caráter de urgência, fomento a tecnologias de ponta, e educação para os nosso jovens), só assim aproveitaremos esta crise e tiraremos o melhor dela…

  5. Pois é! Rorcharch
    Já to até chorando aqui! Dá para fazer mais outro filme drama de guerra! Os nossos heróis! “Meu Deus seria o inferno sem eles!”..

  6. Vocês condenam um país por usar de retórica para defender seus interesses.
    Esse procedimento é mais velho que andar pra frente e todo mundo usa, sejam americanos, chineses, russos, brasileiros, e até o capeta.
    Condenar os EUA por dizer que está “defendendo a democracia”, ou os direitos humanos, quando na verdade busca resguardar seus interesses é direito deles e até o diabo diz que é contra Deus por ele ser um “senhorio ausente” ou por ser extremamente intolerante com a humanidade.
    Até Hitler quando do Holocausto estava cheio de boas intenções.
    Os piores ditadores e carniceiros da história humana estavam cheios de boas intenções.
    Em nosso país tudo é repleto e envolto de retórica e cheio dos mais nobres sentimentos e objetivos.
    Tudo é questão de ponto de vista e essa reclamação constante dos antiamericanos à respeito da retórica americana enche o saco. O musiquinha de uma nota só!

  7. Outra coisa, a WWIII começou em 1945, parem e pensem….
    Mudou de rumo com a pseudo queda da URSS e em 2001, quando se estabeleceu o objetivo de dominar militarmente o OM…agora, em 2011, mirou-se a Africa também…

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    capa preta disse:
    06/11/2011 às 11:57
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    Profunda e clara… é isso mesmo, as vezes eu ainda embrulho o estomago em lembrar de como funciona o sistema politico!! ARGH!
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    Bosco:
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    “”””quando na verdade busca resguardar seus interesses é direito deles””””
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    Resguardar interesses até concordo que seja “Direito”, mas invadir nações para isso não, eles não tem esse direito!!! Existem varias maneiras de defender os próprios interesses sem ter que invadir uma nação soberana ou abrir guerras pelo mundo e matar seres humanos!!
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    E quanto ao jargão “Anti-Americano” ja falei demais a respeito, so retorica do odio… so acho que criticar o que eles fazem não quer dizer que seja um “Anti”, pois o “Anti” é inimigo, mas está somente contrario a uma ação deles sem eu pra isso tenha que combate-los como um “Anti” faz… esse anti ai é somente aquele velho discurso do “Estas Comigo ou Contra de Mim” usado até por Jesus segundo alguns, mas a realidade humana é diferente, a critica não quer dizer inimizade, ou que seja inimigo… a não ser em ditaduras!!

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