‘Brasil deve assumir responsabilidades’

Para diretor de centro de estudos da União Europeia, Assad precisa ser impedido de seguir ‘massacrando’ seu povo.

LOURIVAL SANTANNA
O Estado de S.Paulo

Num mundo “pós-ocidental”, em que os Estados Unidos e a Europa perdem poder, o Brasil, como potência emergente, precisa assumir suas responsabilidades em relação à segurança internacional. O fato de a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ter extrapolado seu mandato na Líbia, sobretudo no momento da captura de Muamar Kadafi em Sirte, não deve servir de motivo para não pressionar Bashar Assad a parar de massacrar o povo sírio.

A análise é do português Álvaro de Vasconcelos, diretor do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia. Em entrevista ao Estado, Vasconcelos adverte: “Assad pensa que tem certo apoio da Rússia e da China, e o Brasil e a Índia não têm uma posição clara.”

O sr. acha que a Otan emerge da experiência na Líbia com um novo papel no mundo?

Não. Esse já não é um mundo ocidental, mas pós-ocidental, em que as questões da segurança e da economia dependem não só das decisões dos EUA e da União Europeia, mas da China, da Índia, do Brasil. Não teria havido a operação na Líbia se o Conselho de Segurança da ONU não tivesse aprovado uma resolução que a permitia. A Rússia e a China não a vetaram com base no princípio da responsabilidade de proteger. A Otan não vai poder substituir o consenso mundial. Se o problema militar e de segurança for na América do Sul ou na Ásia, não me parece que a Otan tenha qualquer papel a desempenhar.

Com a emergência da Rússia, China e Brasil, o mundo torna-se menos intervencionista?

Menos intervencionismo como aquele que vimos no Iraque, eu diria ‘ainda bem’. Ainda bem que hoje é preciso um consenso mais vasto, e os EUA não estão na posição, nem têm a intenção, com o presidente Obama, de ter um intervencionismo militar que não seja legitimado pelas Nações Unidas. Outro problema é o da responsabilidade de proteger. Amanhã poderemos ter uma situação como a de Ruanda ou dos Bálcãs, ou o que se passou na Líbia quando as tropas de Kadafi estavam às portas de Benghazi. Nessa altura, China, Índia e Brasil vão ter de assumir responsabilidades. Não me parece que a Europa e os EUA devam ser polícia do mundo. Mas acho que todos os países do mundo têm obrigação de prevenir o genocídio e de proteger os cidadãos ameaçados por um crime contra a humanidade. No passado, o Brasil, a Índia e a China podiam dizer: ‘Isso é responsabilidade dos americanos e dos europeus.’ Ou então: ‘Eles estão num intervencionismo militar com o qual não concordamos.’ E em muitos casos, como no do Iraque, tinham absoluta razão. Mas no futuro vão ter de pensar bem quais são as responsabilidades que vão querer assumir na segurança internacional. No mundo pós-ocidental, a segurança internacional não vai mais depender nem será garantida pela Europa e pelos EUA. Vai ter se de ser garantida pelas nações com mais peso na ordem internacional. Evidentemente isso põe a questão da reforma do Conselho de Segurança, pois não há participação sem representação.

E no caso da Síria?

Antes de chegar à Síria gostaria de fazer um comentário sobre a Líbia. Houve uma resolução clara, com base no princípio da responsabilidade de proteger, que fazia todo o sentido quando os tanques de Kadafi estavam às portas de Benghazi. Mas a Otan depois atuou por vezes de forma desproporcional. Sobretudo a última operação militar contra Sirte, onde Kadafi estava refugiado, foi além do que o princípio da responsabilidade de proteger exigia. Isso cria dificuldades hoje para um consenso internacional para agir na Síria. É evidente que é necessário conter os massacres na Síria, que seja dito claramente a Assad que a comunidade internacional não aceita que ele continue a matar o próprio povo, que se manifesta pacificamente exigindo a democracia, os direitos do homem, a liberdade. Mas China, Rússia, Índia e Brasil não se mostram muito entusiastas numa resolução do Conselho de Segurança que aumente a pressão sobre Assad, com medo que se repita a história da Líbia. É necessário que o Brasil, a Índia, a China, a Rússia, com a Europa, os EUA e os países da Liga Árabe – que tem posições cada vez mais duras em relação ao regime sírio –pensem o que podem fazer para travar os massacres na Síria sem que isso signifique recorrer a uma operação militar, em relação à qual não há consenso internacional agora, e que no caso da Síria poderia ser extremamente contraproducente. As consequências da intervenção militar seriam mais graves que as da não intervenção. Mas se pode, por exemplo, criar uma zona de proteção para refugiados na fronteira com a Turquia e aumentar a pressão sobre a Síria com uma resolução clara, pois Assad pensa que tem apoio da Rússia e da China, e o Brasil e a Índia não têm uma posição clara.

Fonte: Estadão

16 Comentários

  1. O BRASIL deve assumir responsabilidades,sim com o seu povo que precisa gozar das benesses de ser uma das dez economias do mundo !
    Esse SR. Álvaro de Vasconcelos,só disse bobagens, a OTAN esta expandindo seu poder pelo mundo e atacará quem lhe convier ! Nos mesmos somos uma possível pressa dessa entidade!
    O Sr.Álvaro de Vasconcelos falou da Síria,deveria ter falado do Barhein e das tropas sauditas que se encontram nesse país.
    Agir certo para esses europeus é concordar com a OTAN em tudo,é renunciar a suas opiniões e acatar os desejos da OTAN
    A intervenção na Síria é mais para ajudar Israel que o povo sírio!

  2. O que o Cesar Pereira diz é perfeito. E confirmando sua posição Israel já informou ao mundo que não entregará as colinas do Golan, anexadas depois da guerra com o Arabes. O que ocorre é que Israel lixa-se para a ONU e suas resoluções inocuas por que são apoiados pela sua força nuclear e de seu verdadeiro Israel, os States.

  3. o brasil deve assumir o que lhe intereça e lhe convem assumir, quando eramos so a colonia de terceiro mundo e eles os todo poderosos so nos exploravam, agora que estão com o pires na mão, querem jogar as buchas que arrumaram no nosso colo, fo#@&-se, nos não devemos cometer os mesmos erros que as puuutencias intervecionistas cometeram, a historia ta ai para nos mostrar, temos exemplos melhores a seguir, canada, suecia, australia, e outros que tem forças armadas adequadas para auto defesa e afirmação geopolitica, e não para pratica imperialista>

  4. A análise é do português Álvaro de Vasconcelos, diretor do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia. Em entrevista ao Estado, Vasconcelos adverte: “Assad pensa que tem certo apoio da Rússia e da China, e o Brasil e a Índia não têm uma posição clara.
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    AGORA OTAN PODE FAZER PILHAGEN COM APOIO DO BRASIL,COM
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    MORTES DE MILHARES DE INOCENTES COMO FOI A DO IRAQ .
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    TUDO POR UMA MENTIRA POR TRAS A GANANCIA PELO OIL
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    VAI SER ASIM NA DISENY DA INLUSAO
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  5. O problema é da Síria????…..então que a síria resolva….
    (Enquanto a ONU não se tornar um órgão que represente de fato as nações do mundo, o Brasil deve manter distância destes tipos de conflito)
    (vamos desarmar o cidadão de bem???, a final que mal tem???….espero que tenhamos aprendido a lição)

  6. Khan, o problema da Síria não é só da Síria, é muito maior.
    A Síria é a pedra de toque no Oriente Médio.
    Infelizmente, o exemplo precedente da Líbia não nos leva a acreditar – mais uma vez – nos bons interesses das nações ocidentais.
    *****
    O grande problema das Nações Unidas não é não representar as nações, mas sim o Conselho de Segurança, em que alguns decidem de fato por 200 países.
    E dentre esses alguns, alguns esqueletos de impérios do passado, como França e Inglaterra.
    *****
    A análise do Álvaro Vasconcelos no tocante a assunção de responsabilidades pelo Brasil é correta. Quando fala em posição pouco clara do Brasil e da Índia é porquê, em cima do muro, estamos buscando votos para ingressar no Conselho de Segurança.
    Ora, adotem-se posições claras e firmes, não ideológicas, nesse foro que é a ONU, que certamente as coisas acontecerão ou não acontecerão em definitivo.
    Não podemos nos esconder nessa posição hipócrita, buscando supostos benefícios que o Conselho nos poderá dar.

  7. AJ..
    *AJ-Khan, o problema da Síria não é só da Síria, é muito maior.
    A Síria é a pedra de toque no Oriente Médio.
    Infelizmente, o exemplo precedente da Líbia não nos leva a acreditar – mais uma vez – nos bons interesses das nações ocidentais.
    *****
    R- O Brasil foi claro: Não irá interferir na soberania de qualquer País que seja…(lembra-se do conflito na Praça da Paz Celestial???,e o Tibet????,,,sabe qual é a diferença entre Coréia/China e Síria???….sim meu amigo….é isso mesmo que vc está pensando)…
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    *AJ -O grande problema das Nações Unidas não é não representar as nações, mas sim o Conselho de Segurança, em que alguns decidem de fato por 200 países.
    E dentre esses alguns, alguns esqueletos de impérios do passado, como França e Inglaterra.
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    R- Nesse ponto concordo contigo, o USA/Europa/Israel não querem o Brasil no CS/ONU,,,pois o Brasil botaria um freio ao imperialismo deles…, o resto vc ja sabe…
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    AJ- A análise do Álvaro Vasconcelos no tocante a assunção de responsabilidades pelo Brasil é correta. Quando fala em posição pouco clara do Brasil e da Índia é porquê, em cima do muro, estamos buscando votos para ingressar no Conselho de Segurança.
    Ora, adotem-se posições claras e firmes, não ideológicas, nesse foro que é a ONU, que certamente as coisas acontecerão ou não acontecerão em definitivo.
    Não podemos nos esconder nessa posição hipócrita, buscando supostos benefícios que o Conselho nos poderá dar.
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    R- Jamais,,,Jamais o Brasil abriria o precedente para que se fizesse intervenções a Países soberanos, sabemos que isso certamente se virara contra o Brasil,,,sempre mantiveram os olhos gordos e invejosos pra estas bandas de ca….
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    Me desculpe as falhas no Portugues, acho que peguei um virus no PC…desconfigurou meu teclado, n’ao consigo colocar a pontuacao….
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    Peco que n’ao leve pelo lado pessoal, e so uma divergencia de ideias….
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    Abracos…
    KHANN….

  8. Khann, nesse nosso conselhinho de segurança podemos ter nossas divergencias, pois, certamente, não iremos invadir o país do outros.
    Gosto mesmo é dessa discussão sadia.
    O episódio da Praça da Paz Celestial foi uma lástima.
    Quanto ao seu teclado, vá em configurações regionais, procure teclado, use o padrão ABNT2, deve resolver (windows XP).

  9. Assad está mais de 10 anos no poder ?
    Então é ditador. O Brasil deve ajudar a retirá-o do poder, inclusive enviando tropas.

  10. Só invadiram ou estão por invadir Iraque,Líbia,Afeganistão, Síria porque não conseguiram os comprar como fizeram com a Arábia Saldita, ou os Xeiques salditas não são ditadores? Que ditadura que nada, petróleo na mão é o que vale, ou por ben ou por mau é a “vítima”quem escolhe. O Brasil com o Pré-sal que abra o olho!..

  11. retificando: é Saudita,não Salditas como eu havia dito. Mas continuam sendo uns vendidos, ou comprados, é ao gosto do freguês.

  12. E tem gente que ainda continua achando que os EUA/OTAN invadem/iniciam uma guerra contra os paises para “salvar o povo do ditador do mal”…Vocês que pensam isso não devem viver no mesmo planeta que eu…ou vivem na Disneylândia…Pequena pergunta…há quantas décadas existe Ditador na África??
    Por que eles não salvam o povo africano dos seu ditadores??
    Só Trouxa não consegue enxergar as reais intenções dos “salvadores do mundo” ou “defensores da democracia”…

  13. Hummmm assumir responsabilidades né e nesse contesto nos auto-intitularmos Poliçinhas do mundo descendo a borduna com intolerancia e xenofobia em tudo o que agrada a Europa não é mesmo.Acalme-se Europa pois o melhor da festa ainda esta por vir “O CAMELO BEBERA AGUA NO SENA” e quando voces arderem em escombros e vossas populações prantearem desespero lembrem-se do passado onde por seculos voces massacraram povos indefesos subjugando-os,pilhando-os,para terem a fortuna e o desnevolvimento que obtiveram as custas das vidas e dos sangues dos outros.

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