Reportagem da Globo sobre voos no Brasil é criticada pelo Comando da Aeronáutica

Uma reportagem sobre voos no Brasil veiculada nos programas jornalísticos “Fantástico” do último domingo (7) e “Bom Dia Brasil” de segunda-feira (8), ambos da Rede Globo, foi duramente criticada pelo Comando da Aeronáutica em nota oficial da entidade. Segundo a instituição, a matéria dá respaldo para que o público acredite que voar em céus brasileiros não é seguro.
Em uma análise extensa, na qual diversos erros cometidos na abordagem do tema pela televisão são retratados, se destaca a diferença entre o avião de pequeno porte em que o jornalista embarcou e os aviões comerciais; o espanto do profissional ao ver outras aeronaves próximos ao dele, o que é normal em grandes cidades; e a altitude do voo da reportagem, bastante inferior a de voos normais. Estes e outros aspectos denotariam um “traço sensacionalista e sem conteúdo informativo” da matéria.
Como forma de defesa, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica divulgou o Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira, no qual consta dados sobre a segurança do transporte aéreo no Brasil. Por fim, a entidade ressalta que “este Centro reitera que a questão da segurança do tráfego aéreo no país exige um tratamento responsável, sem emoção e desvinculado de interesses particulares, pessoais ou políticos”.

O Portal IMPRENSA entrou em contato com a Central Globo de Comunicação e aguarda posicionamento da emissora quanto às críticas.

Nota Oficial – Esclarecimentos sobre reportagem do Fantástico exibida em 07/08/2011

O Comando da Aeronáutica repudia veementemente o teor da reportagem do jornalista Valmir Salaro, levada ao ar no Fantástico deste domingo, sete de agosto, e no Bom Dia Brasil desta segunda-feira, oito de agosto.

A matéria em questão parte de princípios incorretos e de denúncias infundadas para passar à população brasileira a falsa impressão de que voar no Brasil não é seguro. A reportagem contradiz os princípios editoriais da própria Rede Globo ao apresentar argumentos com falta de Correção e falta de Isenção, itens considerados pela própria emissora como sendo atributos da informação de qualidade.

O jornalista embarcou em uma aeronave de pequeno porte (aviação geral), que tem características como nível de voo, rota, classificação e regras de controle aéreo diferentes dos voos comerciais. A matéria trata os voos sob condições visuais e instrumentos como se obedecessem as mesmas regras de controle de tráfego aéreo, levando o espectador a uma percepção errada.

O piloto demonstra espanto ao avistar outras aeronaves sobre o Rio de Janeiro e São Paulo, dando um tom sensacionalista a uma situação perfeitamente normal e controlada que ocorre sobre qualquer grande cidade do mundo. Nesse sentido, causa estranheza que a reportagem tenha mostrado a proximidade dos aviões como algo perigoso para os passageiros no Brasil. As próprias imagens revelam níveis de voo diferenciados, além de rotas distintas.

Além disto, o piloto que opta por regras de voo visual, só terá seu voo autorizado se estiver em condições de observar as demais aeronaves em sua rota, de acordo com as regras de tráfego aéreo que deveriam ser de seu pleno conhecimento. Mesmo assim, o piloto receberá, ainda, avisos sobre outros voos em áreas próximas.

Foi exatamente o que ocorreu durante a reportagem, que mostra o contato constante dos controladores de tráfego aéreo com o piloto. Desde a decolagem foram passadas informações detalhadas sobre os demais tráfegos aéreos na região, sem que houvesse qualquer perigo para as aeronaves envolvidas.

A respeito da dificuldade demonstrada em conseguir contato com o serviço meteorológico, é interessante lembrar que há várias frequências disponíveis para contato com o Serviço de Informações Meteorológicas para Aeronaves em Voo (VOLMET), que está disponível 24 horas por dia em todo o país. Além destas, há frequências de ATIS (Serviço Automático de Informação em Terminal) que fornecem continuamente, por meio de mensagem gravada e constantemente atualizada, entre outros dados, as condições meteorológicas reinantes em determinada Área Terminal, bem como em seus aeroportos. Como, aliás, é o caso da Terminal de Belo Horizonte, incluindo os aeroportos da Pampulha e de Confins.

Ressalte-se que, a despeito da operação de tais serviços, todos os pilotos têm a obrigação de obter informações meteorológicas antes do voo pessoalmente nas Salas de Informações Aeronáuticas dos aeroportos, por telefone ou até pela internet.

Ao realizar o voo sem, possivelmente, ter acessado previamente informações meteorológicas, o piloto expôs a equipe de reportagem a uma situação de risco desnecessário. Tratou-se, obviamente, de mais um traço sensacionalista e sem conteúdo informativo.

A respeito do momento da reportagem em que o controle do espaço aéreo diz que não tem visualização da aeronave, cabe esclarecer que o voo realizado pela equipe do Fantástico ocorreu à baixa altitude, em regras de voos visuais, uma situação diferente dos voos comerciais regulares.

Na faixa de altitude utilizada por aeronaves como das empresas TAM e GOL, extensamente mostradas durante a reportagem, há cobertura radar sobre todo o território brasileiro. Para isso, existem hoje 170 radares de controle do espaço aéreo no país. Como dito acima, é feita uma confusão entre perfis de voos completamente diferentes. Dessa forma, o telespectador do Fantástico ficou privado de ter acesso a informações que certamente contribuem para a melhor apresentação dos fatos.

No último trecho de voo da reportagem, o órgão de controle determinou a espera para pouso no Aeroporto Santos-Dumont. O que foi retratado na matéria como algo absurdo, na realidade seguiu rigorosamente as normas em vigor para garantir a segurança e fluidez do tráfego aéreo. Os voos de linhas regulares, na maioria das vezes regidos por regras de voo por instrumentos, gozam de precedência sobre os não regulares, visando a minimizar quaisquer problemas de fluxo que possam afetar a grande massa de usuários.

A reportagem também errou ao mostrar que Traffic Collision Avoidance System (TCAS) é acionado somente em caso de acidente iminente. O fato do TCAS emitir um aviso não significa uma quase-colisão, e sim que uma aeronave invadiu a “bolha de segurança” de outra. Essa bolha é uma área que mede 8 km na horizontal (raio) e 300 metros na vertical (raio).

Cabe ressaltar ainda que a invasão da bolha de segurança não significa sequer uma rota de colisão, pois as aeronaves podem estar em rumos paralelos ou divergentes, ou ainda com separação de altitude, em ambiente tridimensional.

A situação pode ser corrigida pelo controle do espaço aéreo ou por sistemas de segurança instalados nos aviões, como o TCAS. Nem toda ocorrência, portanto, consiste em risco à operação. O TCAS, por exemplo, pode emitir avisos indesejados, pois o equipamento lê as trajetórias das aeronaves, mas não tem conhecimento das restrições impostas pelo controlador.

Todas as ocorrências, no entanto, dão início a uma investigação para apurar os seus fatores contribuintes e geram recomendações de segurança para todos os envolvidos, sejam controladores, pessoal técnico ou tripulantes. É esse o caso dos 24 relatórios citados na reportagem. A existência desses documentos não significa a ocorrência de 24 incidentes de tráfego aéreo, e sim uma consequência direta da cultura operacional de registrar todas as situações diferentes da normalidade com foco na busca da segurança.

A investigação tem como objetivo manter um elevado nível de atenção e melhorar os procedimentos de tráfego aéreo no Brasil, pois é política do Comando da Aeronáutica buscar ao máximo a segurança de todos os passageiros e tripulantes que voam sobre o país. Incidentes e acidentes não são aceitáveis em nenhum número, em qualquer escala.

Sobre a questão dos controladores de tráfego aéreo, ao contrário da informação veiculada, o Brasil tem atualmente mais de 4.100 controladores em atividade, entre civis e militares. No total, são mais de 6.900 profissionais envolvidos diretamente no tráfego aéreo, entre controladores e especialistas em comunicação, operação de estações, meteorologia e informações aeronáuticas.

Para garantir a segurança do controle do espaço aéreo no futuro, o Comando da Aeronáutica investe na formação de controladores de tráfego aéreo. A Escola de Especialistas de Aeronáutica forma anualmente 300 profissionais da área. Todos seguem depois para o Centro de Simulação do Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), inaugurado em 2007 em São José dos Campos (SP). Com sistemas de última geração e tecnologia 100% nacional, o ICEA ampliou de 160 para 512 controladores-alunos por ano, triplicando a capacidade de formação e reciclagem.

Vale salientar que a ascensão operacional dos profissionais de controle de tráfego aéreo ocorre por meio de um conselho do qual fazem parte, dentre outros, os supervisores mais experientes de cada órgão de controle de tráfego aéreo. Desse modo, nenhum controlador de tráfego aéreo exerce atividades para as quais não esteja plenamente capacitado.

A qualidade desses profissionais se comprova por meio de relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). De acordo com o Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira, dos 26 tipos de fatores contribuintes para ocorrência de acidentes no país entre 2000 e 2009, o controle de tráfego aéreo ocupa a 24° posição, com 0,9%. O documento está disponível no link:
http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/Anexos/article/19/PANORAMA_2000_2009.pdf

A capacitação dos recursos humanos faz parte dos investimentos feitos pelo DECEA ao longo da década. Entre 2000 e 2010, foram R$ 3,3 bilhões, sendo R$ 1,5 bilhão somente a partir de 2008. O montante também envolve compra de equipamentos e a adoção do Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional (SAGITÁRIO), um novo software nacional que representou um salto tecnológico na interface dos controladores de tráfego aéreo com as estações de trabalho. O sistema tem novas funcionalidades que permitem uma melhor consciência situacional por parte dos controladores. Sua interface é mais intuitiva, facilitando o trabalho de seus usuários.

Os resultados desses investimentos foram demonstrados pela auditoria realizada em 2009 pela International Civil Aviation Organization (ICAO), organização máxima da aviação civil, ligada às Nações Unidas, com 190 países signatários. A ICAO classificou o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro entre os cinco melhores no mundo. De acordo com a ICAO, o Brasil atingiu 95% de conformidade em procedimentos operacionais e de segurança.

Sem citar quaisquer dessas informações, para realizar sua reportagem, a equipe do Fantástico exibe depoimentos sem ao menos pesquisar qual a motivação dessas fontes. O Sr. Edileuzo Cavalcante, por exemplo, apresentado como um importante dirigente de uma associação de controladores, é acusado por atentado contra a segurança do transporte aéreo, motim e incitação à indisciplina, e responde por essas acusações na Justiça Militar.

O Sr. Edileuzo Cavalcante foi afastado da função de controlador de tráfego aéreo em 2007 e recentemente excluído das fileiras da Força Aérea Brasileira. Em 2010, também teve uma candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral.

Quanto à informação sobre as tentativas de chamada por parte do controlador de tráfego aéreo, Sargento Lucivando Tibúrcio de Alencar, no caso do acidente ocorrido com a aeronave da Gol (PR-GTD) e a aeronave da empresa Excel Aire (N600XL) em 29 de setembro de 2006, cabe reforçar que elas não obtiveram sucesso devido à aeronave da Excel Aire não ter sido instruída oportunamente a trocar de frequência e não a qualquer deficiência no equipamento, conforme verificado em voo de inspeção. Durante as tentativas de contato, a última frequência que havia sido atribuída à aeronave estava fora de alcance, impossibilitando o estabelecimento das comunicações bilaterais.

Já quando foi consultar o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, a equipe de reportagem omitiu o fato que trataria de problemas de tráfego aéreo. Foi informado que se tratava unicamente sobre a evolução do tráfego aéreo de 2006 a 2011.

Por fim, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica ressalta que voar no país é seguro, que as ferramentas de prevenção do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro estão em perfeito funcionamento e que todas as ações implementadas seguem em concordância com o volume de tráfego aéreo e com as normas internacionais de segurança. No entanto, este Centro reitera que a questão da segurança do tráfego aéreo no país exige um tratamento responsável, sem emoção e desvinculado de interesses particulares, pessoais ou políticos.

Brasília, 9 de agosto de 2011.
Brigadeiro-do-Ar Marcelo Kanitz Damasceno
Chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica

Fonte: FAB.MIL

15 Comentários

  1. Vejam se a globo pos este parecer da aeronáutica no ar? Heuehh, pois é, é o quarto poder em ação! Rasguem aquelas normas de jornalismo que a globo expos no jornal nacional um dia desses.

  2. Tá na hora dos homens ( parlamentares ) do congresso nacional, os brasileiro de verdade,
    chamar a responsabilidade os formadores de opinião, hoje
    intocaveis e protegidos por disfarce na LEI de IMPRENSA, as
    montagens e mentiras vendidas a preço de ouro são tão
    perigoso a DEMOCRACIA quanto as maracutaias do PLANALTO!

  3. Um ataque da Globo ao controle do espaço aéreo exercido pela FAB. Quem sabe visando uma futura privatização, de preferencia com estrangeiros no controle…
    .

  4. .
    .
    A FAB fez muito bem em esclarecer tudo ja de inicio para tentar acabar com boatos e mentiras de uma emissora prepotente e senhora da verdade ja de imediato, pecado que não agiu assim com o FX2…
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    Over disse tudo com os links… faltou o “O “Código de Ética” da Globo não vale para merendeira negra e pobre? “, Onde a emissora atacou a merendeira violando os próprios princípios éticos que disse seguir na mesma transmissão do JN… basta procurar o titulo que postei no You Tube, ou visitar o Blog escrevinhador!
    .
    Valeu!!

  5. Pessoal infelizmente 2014 já começou,quando estivermos em 2013 será um ano terrível para o Governo,o Pig já está a 1000,infelizmente vivemos uma ditadura no qual alguns meios de comunicação querem no melhor estilo Rupert Murdoch de jornalismo,a regra é a seguinte,quando é para falar mal do governo qualquer um vira especialista,não há preocupação em apurar os fatos,ver o outro lado,grande imprensa brasileira ou o PIG transforma o jornalismo sério num simples confronto de torcidas,um Flamengo x Corinrhians em ambito nacional,triste,mas o que move esse povo é que a maoria deles estão com a corda no pescoço e precisam de uma nova classe que os socorra,antes fosse por ideologia mas não é,querem um aumento absurdo da verba de Publicidade do Gvoverno.

  6. Tudo é uma questão de interesse, qual o de uma emissora denegrir a imagem de uma instituição como a FAB? O que ela ganha com isso ?

  7. A Marinha deveria emitir uma nota semelhante sobre a matéria do submarino nuclear de 2004, onde os argumentos dos militares é confrontado por opiniões de um membro do greenpeace e por um estrategista sem noção, inclusive dizendo o que era melhor para o Brasil: guarda costeira (greenpeace) e opinião da população brasileira (o estrategista). Ele quer opinião de um país sem cultura marítima e ingênua.

  8. A Dilma reclamou com o MJ por não ter siso informada da operação de prisões no Amapa e ainda disse que a Policia Federal não deveria ter algemado os COMPANHEIRINHOS DECENTES rsrs rsrs Esse é o Brasil rsrs rsrs

  9. Isso é jogo de interesses economicos focado nos gdes eventos que ocorrerá no Brasil (olimpiadas e copa), tem muito rato esperto do brasil e do exterior querendo vender seus produtos ou seus serviço; então, criam essas matérias pra criar clima de urgência pra que o governo compre bilhões sem licitação ou mesmo sem maiores cuidados!Muita gente que tá dentro do governo também tem interesse nisso, pois ganham comissão e por aí vaí!Esse é o Brasil que vai pra frente, ou seja, o de sempre!Tá na hora de se lançar os gastos do gov na rede, ontime online, tornar publico os gatos de natureza civil pra que nós, os donos do dinheiro possamos controlar, porque o gov. não controla nada, ao contrário faz partilha com o nosso dinheiro…

  10. essa lei de imprensa e uma lei retrogada que garante há globo poder jogar contra o interesse brasileiro eles torcem contra o brasil e os brasileiros fingem de santos apoiam a industria de multas de sao paulo apoiam a impostocologia da controlar sao uns hipocritas

  11. Assisti ontem no fantástico. Apresentaram a resposta da FAB, não sei se foi direito de resposta mas enfim.

    O fato é que o programa foi absurdamente ignorante apontando o que nem sabia em detalhes, como algo berrante e catastrófico. DUVIDO! Que um programa como o fantástico não pesquise antes como funciona as coisas para em seguida poder opinar. E que entrevista foi aquela? Uma sala escura, um entrevistador com cara de defundo, parecendo mais uma ” sala da ditadura”. Vergonha! Como interesses agem no jornalismo brasileiro, jogam sujo de todas as formas.

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