Porque os grandes do mundo mentem

Marcelo Barros

Monge beneditino e escritor

É o título de um livro (Why leaders lie) que acaba de ser publicado por John Mearsheiner, professor de ciências políticas na Universidade de Chicago (Internazionale, 27-05- 2011, p. 5). O livro elenca mentiras graves proclamadas por Donald Rumsfeld, ex-secretário de defesa dos Estados Unidos (“Sabemos onde estão as armas de destruição em massa”), do premier italiano Sílvio Berlusconi (“A esquerda italiana quer transformar nossas cidades em acampamentos de ciganos, invadidas por estrangeiros) e por presidentes de vários países democráticos. Aliás, segundo o professor, os governos de países ditos democráticos mentem mais, já que os ditadores não precisam de mentir. Não dependem do consenso de seus cidadãos.

As mentiras dos poderosos são de vários tipos. Há as de caráter pessoal, como quando depois de eleitos, os políticos esquecem ou negam promessas de campanha. Há mentiras de conteúdo econômico. E há as que justificam ou provocam guerras, massacres de povos inteiros e lançam países em aventuras inconcebíveis e inconseqüentes, como fez George Bush e agora fazem os governos que coordenam ações militares na Líbia e em outros países. Um bispo católico de Trípoli declarou: “As tropas da OTAM estão jogando bombas sobre alvos civis, destroem hospitais e tornam nossa vida insuportável.

Eram aliados de Gadafi até poucos meses. Agora apóiam os rebeldes para garantir a continuidade dos seus interesses nos poços de petróleo e minérios do país”. Nos Estados Unidos, Nethanhyahu, primeiro ministro de Israel, declarou que é a favor da paz no Oriente Médio, mas, ao mesmo tempo, deixou claro que é contrário a um Estado palestino. O que está por trás desta mentira é: “precisamos vender as armas que fabricamos e não temos contra quem usá-la a não ser contra os palestinos. Por isso, continuaremos a guerra”.

No Brasil, entre outros políticos processados, um vice-prefeito foi preso e um ex-ministro do governo está sob investigações, acusados de corrupção econômica. Como outros povos do mundo, os brasileiros estão cada dia mais preocupados com a corrupção que mina nossas instituições sociais e políticas. Por outro lado, a imprensa e os partidos de direita que não se incomodavam muito quando a corrupção era praticada por seus aliados, agora, aproveitam qualquer chance para atacar o governo.

Nos anos 90, a propaganda oficial era que um remédio contra a corrupção era privatizar as empresas estatais. Privatizaram tudo o que foi possível e a corrupção continua inabalável. Nos anos mais recentes, a imprensa tem denunciado sinais de corrupção, até quando não pode prová-la. A polícia federal atua mais fortemente do que antes. Políticos que antes nunca foram incomodados têm ido para a cadeia e respondem processos.

Mesmo assim, a corrupção continua. Os meios de comunicação e a sociedade em geral vêem a corrupção como uma falha moral de alguns políticos. Não percebem que, no sistema vigente no Brasil e na sociedade dominante, a corrupção é um problema em primeiro lugar político e estrutural. É mais um sintoma de doença do que uma doença em si mesma.

Não adianta combater a corrupção apenas como uma falha moral de alguns políticos e não buscar as causas estruturais. É preciso perceber que sem uma transformação no sistema social e econômico que provoca isso, nunca se resolverá esta epidemia. Um sistema econômico que mantém desigualdades tão terríveis como no Brasil não pode ser isento de corrupção.

A corrupção não é apenas o roubo e a riqueza obtida de forma claramente desonesta. O lucro exorbitante dos grandes bancos, contra os quais ninguém protesta, é uma forma de corrupção do poder. Um político eleito para um tipo de programa de governo que trai seus eleitores e realiza uma gestão contrária àquela para a qual foi eleito comete uma corrupção política.

Para destruir uma praga, é preciso remover as raízes do problema. Só venceremos profundamente a corrupção quando conseguirmos, a partir das bases, organizar uma sociedade participativa que não apenas eleja governos, mas os controle e tenha o poder de, a todo momento, confirmar ou destituir os seus representantes legais. Em outros lugares do mundo isso está começando a se fazer. Os poderosos que mentem e que defendem injustiças estruturais se cuidem.

Fonte: Pravda

11 Comentários

  1. Sim os grandes mentem,mas infelizmente há corrupção em todos os setores desde um funcionário de posto de saúde que nega remédios há um paciente, se achando todo poderoso !
    Até os altos escalões do poder ! todas as repartições públicas estão acometidas por esse mal(DETRAN,POLICIA,SAÚDE,ETC) e devemos combate-las denunciando mostrando oque se faz com as pessoas de bem que pagam imposto,mas são tratadas como párias !

  2. Marcelo Barros, volte para suas orações, como monge.
    Misturar mentiras dos grandes no mundo com corrupção no Brasil é “samba do crioulo doido”.
    No seu artigo, não se chega a conclusão por que os grandes do mundo mentem. Por quê (mentem) (ou não se chega a conclusão alguma)?
    E cá entre nós, a essa altura do campeonato, falar de “a partir das bases”, não está muito para “luta do proletariado”?
    Não está muito déja vu? Ou você quer construir um novo modelo soviético?
    Que os mentirosos de toda sorte que se cuidem, ó correspondente do Pravda.

  3. Em uma coisa concordo, no Brasil a questao e estrutural, o modelo, em boa medida, vem a estimular o descumprimentos de normas, comecando pela base da sociedade, depois, reproduzido no seu topo, retroalimentado-o, fechando e iniciando novo ciclo…

    Nao concordo em relacao a desigualdade ser causa, e sim, um sintoma da ineficiencia, que por vezes, retroalimenta o modelo… O problema e estrutural, como exposto no texto e paragrafo anterior…

    E bem conhecida a frase, na base da sociedade brasileira, que pode valer para muitas outras: ¨Se alguem aqui for santo, fecha as portas em alguns meses¨… Realidade incomoda mas, reconhecida por poucos e de conhecimento de todos, que apropriadamente resume o estado de coisas…

    A corrupcao, nao e apenas questao de instrumental politico per si, ou da natureza de um povo, mas de necessidade de funcionamento de uma maquina, que nao se atualizou devidamente as demandas da modernidade passada e apresenta problemas graves na comtemporanea…

    Povo nao gosta, apenas se adapta, idem muito de seus representantes, apesar que alguns, alem de se adaptarem a demanda, pegam gosto pela coisa… Leva ou solidifica uma cultura que corresponde a tal demanda…

    E o oleo aditivado das engrenagens de um poder opaco, nao pela questao da transparencia per si – publicidade – e sim, pela percepcao e compreensao do funcionamento sistemico, que se tornou hipercomplexo, a uma cidadania multifacetada, porem, de constituicoes simples…

    E necessario atualizar (basicamente o sistema e o mesmo a centenas de anos), pois, apresenta sinais de ferrugens, como diria o poeta… Ou simplifica o modelo (simples nao significa necessariamente, menor), ou instrui seus membros… Na situacao que chegamos, desconfio que sera necessario ambos ao mesmo tempo…

    http://www.youtube.com/watch?v=SSx0qETvcJY

  4. Assino embaixo AJ, comparar as mentiras dos EUA para justificar invadir países, mentiras como a de quem atacou as torres gêmeas (a mentira mais grande da história mundial que o monge não cita), comparar essas mentiras com o caixa2 dos partidos brasileiros é uma aberração.
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    E como vc colocou, “Por que os grandes do mundo mentem?”
    é uma pergunta que o monge deixa sem resposta.
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    Enquanto ao Brasil eu coloquei há poucos dias, que “o dia em que um pai e uma mãe não tenham que pedir emprego pra eles e seus filhos a um político, esse dia se terminam os políticos baseados no clientelismo”.
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    Ou seja para encontrar as soluções é preciso ver as causas. Mas tem que ser específico, não é só falar de pobreza e de pouco acesso à educação, é preciso ver no momento exato onde ocorre a delegação de poder, do povo para o político corrupto.
    Tem outros motivos em que o povo recorre a esses políticos, mas o principal é a procura de emprego.
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    Quando os atuais funcionários públicos que hoje estão em 600 ou 800 reais vejam que seu vizinho aprende mais e ganha mais como empregado de empresa privada ou como empreendedor, aí o cara, o funcionário público, vai se ver a sim mesmo como um pária, e vai tentar se capacitar e conseguir emprego, ou començar seu próprio negócio.
    Mas para isso o país tem que tentar não exportar soja e minério sem beneficiar. Tem que adicionar valor, mão de obra nacional a todo o que o país produz.
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    A respeito do autor, com todo respeito, mas acho não devemos pedir tanto de um religioso, eles não compartilham a luta pela sobrevivência que levam adiante os povos, mas que por identificação, ou seja eles se comovem mas eles são espectadores (ainda nas igrejas onde eles têm trabalhos externos, sempre têm o guarda-chuvas da igreja).

  5. Artigo tosco! Ou alguém descobriu o porque os grandes do mundo mentem? Eu não. Usou um título e falou de outra coisa.
    Aff, esse não passa nem no vestibular.

  6. Este artigo tenta retratar para a sociedade que A ESCALADA PELO PODER EM PAÍSES DITOS DEMOCRÁTICOS SE SUSTENTA NAS “SAPATAS DA MENTIRA”… E QUE SÓ OS “BONS” MENTIROSOS (Leia-se: INESCRUPULOSOS) ALCANÇAM AS ALTAS ESFERAS DO PODER… Mas a verdade crua é que, uma máquina estatal que move uma sociedade dita democrática, mas fundamentada com base na mentira, é, na grande maioria das vezes, idealizada e construída para “engrinpar”… E só funcionar para aqueles que podem e estejam dispostos à custear o lubrificante e/ou se sujarem para engraxá-la… Então pergunto:
    1- A culpa é daqueles que idealizaram e construíram a máquina defeituosa?!?…
    2- A culpa é da equipe de “engenheiros/mecânicos” que são contratados e pagos pelos usuários da máquina para consertá-la e/ou reformá-la, e mantê-la lubrificada?!?…
    3- A culpa é do usuário que mesmo pagando pelo serviço dos “engenheiros/mecânicos”, sempre está disposto a oferecer uma engrenagem extra ou uma latinha de lubrificante a mais pra que a máquina “desemgrimpe” e/ou funcione mais rapidamente para ele que para os outros usuários?!?
    4- A culpa é daqueles que saqueiam e/ou sabotam a máquina para construir a sua própria máquina particular e que, além de usufruir da mesma, visam oferecer os mesmos serviços que a máquina estatal não consegue prestar com qualidade e/ou em tempo hábil/satisfatório?!?
    … Seja lá qual for a resposta, o fato é que, tudo que começa errado, nem sempre pode ser remendado… Talvez devamos recomeçar do zero… Construir outra máquina… E despedir os engenheiros e mecânicos incompetentes e sabotadores por justa causa e… OPS!… Esqueci!!!… É quase impossível despedir por justa causa; “né”?!?
    Enfim, repito: Esperar pela “figura do salvador” não é a solução mais sensata para se REverter a eVOLUÇÃO do “mal da mentira estatal”…

  7. Sabe o que e mais interessante…

    Com o aumento exponencial da complexidade da sociedade, motivado pelas tecnologias da informacao, ou a maquina estatal, ao menos, se atualiza profundamente (reformas de base), ou vai ser obrigada a se reinventar por risco de obsolecencia e ¨destado¨ (setor privado acaba suprindo as demandas nao atendidas com a logica de mercado, que nao e pro cidadao, em seus objetivos primarios, e sim, pro investidor – nada de errado, uma empresa e um ente constituido para obtencao de lucro, nao e instituicao de objetivos sociais, esse ultimo, cabe exatamente ao estado, ja que o terceiro setor, tem se demonstrado apenas agentes do primeiro)…

  8. como dito no texto cada um que está no poder possui sua linha de interesses e por isso mentem, pois existem coisas prejudiciais que os poderosos querem realizar mas se falasse a verdade nua crua para a sociedade certamente seriam contrariado.

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