Atitude autônoma da Inglaterra e Alemanha ameaça a União Europeia

Sugestão: Gérsio Mutti

http://www.estadao.com.br/fotos/merkel_cameron_250610_EFE_Tannen_Maury_cortada.jpgTem se falado muito na crise econômica dos PIGS (Portugal, Irlanda ou Itália, dependendo do momento, Grécia e Espanha) que ameaça a estabilidade do euro e a existência da própria zona euro, formada por 17 países da União Europeia (UE). Na verdade, a coesão da UE está sendo também ameaçada pelo jogo autônomo de dois países importantes, a Inglaterra e a Alemanha.

O caso inglês é conhecido. Londres fez tudo o que pode para reduzir o escopo da União Europeia, evitando associar-se a ela nos anos 1950 e 1960. Quando aderiu, em 1973, exerceu seu poder de veto para travar as instituições europeias, evitando entrar na zona euro e no espaço Schengen, que aboliu os controles entre as fronteiras da maioria dos países da UE.

Há duas semanas, assinalei aqui o reforço das ligações anglo-americanas em detrimento da União Europeia, notando o destaque político que o presidente Obama deu à sua visita ao Reino Unido. Falando no parlamento britânico, privilégio raríssimo concedido a chefes de Estado estrangeiros, Obama enalteceu a “relação especial” entre os Estados Unidos e a Inglaterra, desconsiderando o fato que Londres integra a União Europeia e praticamente ignorando as relações de Washington com as outras capitais do continente europeu.http://sorisomail.com/img/1301582209547.jpg

Na semana passada, escrevi sobre o outro país importante que se isola na UE, a Alemanha. Sem consultar os países vizinhos, Angela Merkel decidiu fechar as centrais nucleares alemãs, enfraquecendo a coordenação da política energética europeia. Da mesma forma, a Alemanha opunha-se ao plano de ajuda aos países mais frágeis da zona euro, decidida pelo Banco Central Europeu. Havia ainda um outro acontecimento que evidenciava o isolamento alemão, suas reservas ao engajamento militar ocidental na Líbia, manifestadas no Conselho de Segurança da ONU e no comando militar da Otan, contra os votos favoráveis de Londres, Paris e Washington.

Assim, a recente visita de Angela Merkel à Casa Branca ganhou um significado particular. Congratulada por Obama com a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta condecoração civil americana, Merkel foi também recebida com um jantar de grande pompa na Casa Branca. Mas Obama aproveitou a ocasião para cobrar um maior engajamento alemão ao lado dos Estados Unidos, tanto na Europa como em outras frentes internacionais.

Desde logo, a Alemanha anunciou que mandaria tropas para manter a paz na Líbia quando Gaddafi abandonar o poder. Como declarou à revista “Time” Josef Braml, um especialista das relações EUA-UE, “Merkel aprendeu que não há jantar gratuito em Washington”, para ele, o fato de Merkel não ter apoiado a intervenção militar na Líbia, constituiu “um grande erro de política externa”.

Postos lado a lado, os encontros de Obama com o primeiro ministro inglês, David Cameron, e com Angela Merkel ilustram a política americana de privilegiar ligações diretas com a Inglaterra e a Alemanha, deixando de lado a União Europeia. Como escreveu o jornal madrilenho “El País”: “Os Estados Unidos, que são um país eminentemente prático, dirigem suas preocupações para os que podem resolvê-las e não para estruturas que são difusas e incompreensíveis”.

Fonte: UOL

10 Comentários

  1. A OTAN e a UE, estão cada vez menos coesa… Agora hipocrisia à parte… são eles que mandam mesmo, fazer o quê? ( USA, INGLATERRA, ALEMANHA, FRANÇA ), sobra o Quê mais? SDS

  2. A Alemanha é um país conciente e sabe bem o que é uma guerra. Por isso ,a Alemanha não quer se meter numa guerra injusta e cheio de interesse por recursos naturais da Líbia.
    Só que os EUA acham que a Alemnha tem obrigação de apoio-lo em qualquer situação por serem aliados.
    Gostei da postura da Alemanha, ela não é pau mandada como é a maioria dos paises da União Europeia.

  3. Os aliados engessaram as forças armadas alemãs e agora ficam aí exigindo ação. As forças armadas alemãs são bem diferentes da inglesa, francesa ou mesmo americanas.

  4. A Europa é heterogenia. Esse é o problema.
    Há muita corrupção nos países, e os alemães e ingleses são mais sérios.
    Se os políticos brasileiros melhorarem, vamos passar a ser dignos e mais confiáveis aos olhos do mundo, mas isso irá demorar muito ainda … Veja o que o Governador Sergio Cabral está fazendo com os nossos bombeiros, e ninguém fala em puni-lo com o impeachment. Desse jeito esse país não vai entrar na linha. Precisamos de ética na política e de punir os maus.

  5. Custa-nos acreditar que países como Itália, Grécia, Portugal e Espanha que no passado eram tidos como potências econômicas, as custas de guerras, invasões e exploração das riquezas alheias, hoje estejam a beira de crises econômicas.
    Qual a real cultura econômica desses povos? o que fizeram com os tesouros espoliados? o que eles tem de bom de fato a nos ensinar? como a Alemanha que foi totalmente dizimada, tal qual o Japão podem ser economias tão punjantes? algo deve estar invertido ou somos todos filhos da hipocrisia?

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