Condecorações secretas são rotina no universo da inteligência

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Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro

No Muro de Honra da CIA, 35 das 90 estrelas em homenagem a funcionários mortos são anônimas, para preservar família e o país.

Ao serem condecorados em cerimônia secreta por terem integrado a ação que matou o terrorista saudita Osama Bin Laden, os 24 Navy Seals do Time Delta 6 devem ter sentido o que muitos agentes de inteligência da CIA (Agência Central de Inteligência) e de outros órgãos de inteligência do mundo já viveram: sua glória profissional deve ser desfrutada em silêncio. Apenas seus comandantes e colegas estiveram presentes à cerimônia.

O recado do comandante da unidade de elite da Marinha americana, almirante Edward Winters, foi claro no e-mail em que cumprimentou os participantes. Sejam discretos e fiquem quietos, porque “a luta não acabou”. As possíveis implicações e eventuais represálias pela sensível operação de assassinato de Bin Laden – até então o terrorista mais procurado do mundo –, são motivo considerado suficiente para não expor os nomes dos soldados, em prol de sua segurança pessoal e de informações relevantes que possam ter.

Mesmo as condecorações em vida são muito discretas no universo das informações. Por causa da natureza secreta da atividade, os funcionários dessa área passam a vida escondendo sua real profissão até para amigos próximos. As premiações são normalmente internas.

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Muro de Honra

No caso mais extremo, a CIA tem um “Muro de Honra”, memorial no salão principal da sede, onde 90 estrelas entalhadas na parede de mármore homenageiam agentes mortos em missões, “que deram a vida em serviço pelo seu país”. Apenas 55 delas têm nome. As demais são anônimas e ficarão secretas, mesmo na morte. Há apenas os nomes e o ano em que morreram – nem o mês nem o local. Secretos, mesmo na morte – por questões de Estado, poderiam causar problemas para os EUA e as famílias.

Alguns eram funcionários declarados da agência, outros tiveram a identidade revelada de forma tão clara que já não tinha sentido insistir no segredo. É o caso de Johnny Micheal Spann, morto no fote Qali-Jangi, em Mazar-e-Sharif, no Afeganistão, durante uma rebelião de presos, em novembro de 2001. Foi o primeiro americano morto em combate na Guerra do Afeganistão. Ele estava fazendo entrevistas com prisioneiros quando foi atacado e morto.

Como Spann, podem receber a homenagem funcionários que morrem enquanto servem no campo da inteligência, necessariamente em uma situação heroica, em razão de um ato de terrorismo ou violência motivado pelo fato de ser da CIA ou pelo fato de estar em uma área de conflito.

Anualmente, desde 1987, parentes de todos os mortos homenageados são convidados para participar de uma cerimônia quase secreta, na sede da CIA. Até 2009, as famílias de todos saíam de lá sem nenhum sinal da homenagem, com o compromisso de manter tudo em segredo. Desde junho desse ano, passaram a receber uma réplica da estrela.

Antes, os mortos eram homenageados em pequenos eventos particulares e reservados, normalmente só com a presença do núcleo familiar, do diretor e de outro integrante da cúpula da agência. As primeiras 31 estrelas foram gravadas em 1974, mas sem cerimônia. Por achar a homenagem silenciosa demais, criou-se o evento simbólico anual, em 86. Nove anos depois, todos os nomes foram lidos em voz alta pela primeira vez.

No Brasil, agentes de inteligência das Forças Armadas podem ser homenageados como militares comuns, em cerimônias, sem chamar tanto a atenção. A Medalha do Pacificador, honraria do Exército, foi muito frequentemente distribuída a agentes de inteligência – assim como a torturadores – no país durante a ditadura (1964-1985).

Fonte: Último Segundo

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