Militarização da China em águas disputadas pode levar a confronto com EUA

A divulgação, feita pelo centro de estudos americano Iniciativa de Transparência Marítima na Ásia, esta semana de que a China está instalando artilharia antiaérea e outras armas nas sete ilhas artificiais que construiu no Mar da China Meridional está elevando a probabilidade de uma disputa regional em meio a sinais do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de que ele está preparado para um confronto direto com Pequim em questões territoriais.

O centro de estudos AMTI (da sigla em inglês) informou na quarta-feira que imagens de satélite mostram que a China instalou as armas nos últimos meses, apesar da promessa do presidente Xi Jinping de não militarizar as ilhas no arquipélago Spratly, onde as reivindicações de território de Pequim se sobrepõem às de outros países.

O Ministério de Defesa da China, por meio de um comunicado divulgado em seu site, reiterou que toda construção dos recifes foi basicamente para uso civil, embora ele aparentemente tenha enviado também uma mensagem para os EUA. “Sobre as instalações militares necessárias, elas são principalmente para defesa e autodefesa, o que é apropriado e legal. Por exemplo, se alguém estiver fazendo demonstração força em sua porta, você não pode preparar munição?”, afirma o texto.

A construção das ilhas pela China ao longo dos últimos três anos levantou temores nos EUA e entre seus aliados asiáticos e parceiros que Pequim as use para expandir seu poder militar e, com isso, fortalecer suas reivindicações territoriais, passando a controlar rotas de navios que transportam mais de US$ 5 trilhões do comércio mundial anualmente.

O almirante Harry Harris, comandante da unidade americana no Pacífico, disse em um discurso em um centro de estudos australiano na quarta-feira que os EUA “não permitirão que os domínios compartilhados sejam fechados unilateralmente, independentemente de quantas bases sejam construídas em ilhas artificiais no Mar da China Meridional”. “Nós vamos cooperar onde pudermos e estaremos prontos para o confronto quando tivermos que estar”, disse.

Os EUA enviaram aviões e navios militares para a região, às vezes até perto das ilhas artificiais de Pequim, para demonstrar seu direito de navegação em águas que considera internacionais. Depois do relatório desta semana, o Departamento de Estado reiterou seu pedido para que Pequim evite uma maior militarização em águas disputadas, informou a agência Reuters.

Trump tem indicado que adotará uma posição mais dura que seu antecessor com relação à China, sugerindo nas duas últimas semanas que ele revisará os compromissos dos EUA sobre o tema altamente sensível de Taiwan, acusando Pequim de construir um “complexo militar massivo” no Mar da China Meridional.

Esses comentários reacenderam as tensões na região, que pareciam ter diminuído nos últimos meses, principalmente quando o presidente filipino Rodrigo Duterte abriu mão da disputa no Mar da China Meridional com Pequim em troca da expansão de vínculos comerciais.

“Se o relatório for verdadeiro, então é um motivo de séria preocupação porque ele tende a elevar a tensão e prejudicar a paz e estabilidade na região”, disse o porta-voz do Departamento de Relações Externas das Filipinas, Charles Jose.

A ministra australiana do Exterior, Julie Bishop, manifestou o mesmo sentimento. “A construção de ilhas artificiais e a possível militarização estão criando um ambiente de tensão e desconfiança entre os reivindicantes e outros Estados regionais”, disse ela. Canberra assinou um acordo na quarta-feira com Washington para que caças americanos F-22 Raptor fiquem baseados no norte da Austrália a partir do próximo ano, um sinal do compromisso militar americano com a região.

A implantação de armas pela China precede os últimos comentários de Trump e está em linha com a estratégia de longo prazo de Pequim para continuamente atualizar as instalações militares nas ilhas, que alega que são principalmente para fins de monitoramento do clima e busca e salvamento.

“Eu quero ressaltar que a implantação de instalações de defesa necessárias para a China em seu próprio território não tem nada a ver com militarização”, disse ontem porta-voz do Ministério do Exterior, Geng Shuang, ontem.

Mas analistas dizem que novas armas irão elevar significativamente a capacidade da China de controlar as águas circundantes e forçar a criação de uma potencial zona de identificação de defesa área na região como a que Pequim criou em 2013 sobre o Mar da China Oriental, onde ela disputa territórios com o Japão. A China afirma que tem o direito de declarar esse tipo de zona territorial — onde ela se dá o direito de identificar, comunicar-se e interceptar uma aeronave estrangeira que se aproxima — também no Mar da China Meridional.

“Não devemos interpretar isso como sendo especificamente direcionado ao presidente eleito Trump”, diz Ian Storey, especialista em segurança marítima do Instituto de Estudos do Sudeste Asiático em Cingapura. “De qualquer modo, isso vai alimentar o debate em Washington sobre como os EUA deveriam responder às ações de Pequim no Mar da China Meridional.”

Storey diz que os EUA devem enviar navios ou aviões militares para perto das ilhas artificiais da China para demonstrar uma vez mais seu direito à liberdade de navegação, antes de o presidente Barack Obama deixar o cargo, ações essas que se tornaram bastante simbólicas. “Pequim ficará mais preocupado sobre o que pode acontecer depois que Trump assumir o cargo em janeiro”, diz.

O AMTI, operado pelo Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, informou que desde junho e julho tem observado construções de estruturas hexagonais em três ilhas artificiais onde a China construiu pistas de pouso grandes o suficiente para acomodar aviões militares. Essas estruturas são praticamente idênticas às fortificações defensivas construídas anteriormente em quatro ilhas artificiais menores, que parecem possuir artilharia antiaérea e sistemas de armas de aproximação produzidos para identificar e derrubar mísseis de longa distância, de acordo com o AMTI.

JEREMY PAGE

Cris Larano / Rob Taylor

Foto: CSIS/AMTI DIGITALGLOBE – Foto aérea de pista de pouso da ilha artificial Fiery Cross, construída pela China em águas disputadas no Mar da China Meridional.  

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: WSJ

 

2 Comentários

  1. Essas ilhas combinadas com uma boa força naval vão se tornar um oponente respeitável para qualquer força mundo afora. A questão é a dissuasão pois estariam os EUA dispostos a confrontar a China – aqui no PB até ontem estava na primeira pagina o aniversario da entrega de Hong Kong pela Inglaterra – e correr riscos de se atolar em um conflito que vai lhe custar muito. Que Eles tem bala para contrapor a China isso Eles tem, vale lembrar que após a 2WW os seus conflitos foram apenas com Países periféricos e evitando o confronto direto com rivais mais substanciais. Se os EUA quisessem se contrapor a China já o teriam feito a 20 anos atras, quando o Dragão ainda era pequeno apesar de temperamental.

    * Com o Nacionalismo Alemão e Frances batendo as portas da Europa, acho que os olhos dos EUA começam a se fechar para a Asia. Japão e Coreia do Sul que se virem.

    Sds

  2. Alguns meses de fechamento de rotas marítimas e a China pede penico… a China não tem dois calcanhares de Aquiles… tem vinte…

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